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31 julho 2015

[review] Perfect Sense - Sentidos do Amor (2011)

Perfect Sense é aquele tipo de filme escrito e dirigido para dar um mindfuck nos espectadores, moderado, moroso, bem devagarinho, mas está lá, pronto para te tirar da cadeira/poltrona/cama e dizer um sincero: WTF CÊ TÁ DE BRINCADEIRA?!

Produzido em 2011 na Escócia e Inglaterra e traduzido em nosso idioma lindo como "Sentidos do Amor" - obrigada UBV novamente pela contribuição em títulos básicos para narrativas tão complexas - tem em seu elenco a nerd Eva Green (Sim, Vanessão Ives) e o eterno Obi-wan-Renton-Kenobi, Ewan McGregor. A direção vai para David Mackenzie e o roteiro para o desconhecido dinamarquês Kim Fupz Aakeson.



Tudo começa em uma capital qualquer de alguma cidade - parece Edimburgo, mas poderia ser Londres, sei lá, tem british accent no meio e ônibus de 2 andares vermelhos - em que pessoas normais levam suas vidas normais, fazendo suas coisas normais e nada de anormal acontece.

Só que acontece, e é bem feio.

Um caminhoneiro é atendido num Pronto-socorro reclamando sobre sua vida ser miserável e que nada poderia fazer melhorar o seu estado depressivo. Em poucas horas ele perde o olfato. A prodígio cientista epidemiologista Susan (sem sobrenome e todos os personagens do filme não tem sobrenome) é chamada por seu professor Stephen para saber o que raios acontece. Testes, exames e muitos diagnósticos, se descobre que nada é descoberto, não é vírus, não é bactéria, não parece ser contagioso, não parece ser obra de terrorismo, e muito menos se sabe onde começar a fazer vacinas de contenção. Uma maravilha.

Enquanto a frustração vai crescendo no enredo com a evolução da doença - que nem parece ser doença, de tão rápida, imperceptível e sobrenatural que é - vemos o chef de cozinha Michael começando a flertar com Susan. Michael tem seus problemas para dormir, seus tiques nervosos de chef tipo Master Chef (Não de Halo, mas vocês entenderam...) e ser mulherengo. Seu melhor amigo da cozinha, James (Oi Spud!) faz a profecia:


Ótimo! Otimismo nota 10 em um provável outbreak de doença misteriosa que até agora não matou ninguém - só tirou o olfato.

O bonito de ver a evolução da coisa toda é como Susan percebe a Humanidade se adaptando conforme os sentidos vão desaparecendo. O olfato faz com que milhares de lembranças que nós temos vá para o limbo cósmico sem fim, pois é um dos gatilhos principais pro cérebro fazer a síntese de memória para as coisas.

Tudo bem até aí. Estado de luto profundo/chororô = perda de olfato.
O problema é quando a coisa vai pro paladar.

Apatia seguida de uma fome voraz: lá se foi seu paladar. tchaaaaauzinho! Hasta la vista! No vuelve jamás! Weeeeeeeeeee see ya later aligator!

Isso sim já me deu calafrios (E não, não foi por conta da flawless Eva Green em cada take *se abana*), mas pelo fato da fome voraz atacar todo mundo AO MESMO TEMPO e de forma imparcial. Então se pessoas atacaram aqueles peixes fresquinhos no mercado e o tiozinho do açougue resolveu comer o cordeiro exposto no refrigerador, o que será que aconteceu quando teve o fade-out to black quando o companheiro de laboratório de Susan catou um coelhinho cobaia da jaula? Quem garante que alguém não deve ter cometido algum ato de canibalismo nesses longos minutos de I wantz nomnomnomnomnom?

Creepy as fuck!

Nessa hora eu já tinha colocado as mãos na cabeça e dito: "Frodeu, Apocalipse Zumbi em 3... 2... 1..." mas não, o filme foi bem além disso. Beeeeeeem mais!

O casal vai se entendendo, com seus medos, dramas, segredos, banhos compartilhados na banheira em que espuma de barbear e sabonete em barra são nomnomz convidativos devido a textura e o barulho que fazem ao se mastigar. Mas tá tudo bem, ninguém entrou em pânico, tá tudo beleza, dá para reconstruir... e assim vai.

Essa cena é fofa, nenhum dos dois tá sorrindo verdadeiramente.
Essa é a foto durante e a foto depois. É um modo muito realista de se ver o quanto a vida não faz muito sentido sem os seus sentidos.

Próximo na lista? Audição. Alguém aí pediu um prato cheio de completo caos e desordem? Faça a população mundial ficar surda! E é o que ocorre, com uma explosão insana de fúria e rancor que daria inveja aos deuses do Olimpo para o total silêncio da existência de uma pessoa acometida por surdez. Agora se vocês querem chamar o pânico agora, pode chamar. Ele se instala geral no mundo devido a isso. 

Uma declaração de amor feita por telefone que não é escutada, a separação do casal, lalalalalala, os avanços sobre as pesquisas (Não, nada ainda), o mundo se readaptando aos poucos - e isso sim é a beleza do filme, o de ver como as pessoas se comportariam em adversidades como essa. Muitos se preparam para o que virá, gente já aprendendo a andar de muleta, sendo guiados por cegos aprendendo linguagem de sinais, melhorando a caligrafia para escrever notas (hahahahahahaha piada interna!) e a doença parece ter estacionado.

Vejo no cursor do player: está terminando o filme, ainda restam 2 sentidos: visão e tato. Qual vai ser o próximo? Vai dar tempo de construir a narrativa para esses dois? Posso? Posso mesmo dar spoiler? Não, só vou deixar uma foto da Eva de óculos, porque nunca a vi com um desses em nenhum dos filmes dela que empilhei para ver antes da UFSC começar. E é AWESOME!

*suspiros lânguidos e pompons agitados no ar*

Veredicto para o filme? Bem montado, bem articulado, não fugiu da treta pior - que é a epidemia da doença sem nome - e conseguiu se manter no ritmo. O trem do relacionamento deles é que ficou um bocadinho forçado, mas gostei do modo narrativo sendo feito pela Susan e como isso afetava o restante da história. Gostei também do final, surpreendeu e realmente me fez pular na cadeira, não era o que eu esperava.

O meu lado survival-horror pediu por alguma coisa mais gore ali no meio - principalmente após a cena do cientista no laboratório e o coelhinho, não é justo! - então achei que depois do paladar a coisa ia piorar pra extremos mais violentos. Mas hey! Não, que bom, como somos civilizados em crises mundiais de epidemia desconhecida!

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