Perfect Sense é aquele tipo de filme escrito e dirigido para dar um mindfuck nos espectadores, moderado, moroso, bem devagarinho, mas está lá, pronto para te tirar da cadeira/poltrona/cama e dizer um sincero: WTF CÊ TÁ DE BRINCADEIRA?!
Produzido em 2011 na Escócia e Inglaterra e traduzido em nosso idioma lindo como "Sentidos do Amor" - obrigada UBV novamente pela contribuição em títulos básicos para narrativas tão complexas - tem em seu elenco a nerd Eva Green (Sim, Vanessão Ives) e o eterno Obi-wan-Renton-Kenobi, Ewan McGregor. A direção vai para David Mackenzie e o roteiro para o desconhecido dinamarquês Kim Fupz Aakeson.
Tudo começa em uma capital qualquer de alguma cidade - parece Edimburgo, mas poderia ser Londres, sei lá, tem british accent no meio e ônibus de 2 andares vermelhos - em que pessoas normais levam suas vidas normais, fazendo suas coisas normais e nada de anormal acontece.
Só que acontece, e é bem feio.
Um caminhoneiro é atendido num Pronto-socorro reclamando sobre sua vida ser miserável e que nada poderia fazer melhorar o seu estado depressivo. Em poucas horas ele perde o olfato. A prodígio cientista epidemiologista Susan (sem sobrenome e todos os personagens do filme não tem sobrenome) é chamada por seu professor Stephen para saber o que raios acontece. Testes, exames e muitos diagnósticos, se descobre que nada é descoberto, não é vírus, não é bactéria, não parece ser contagioso, não parece ser obra de terrorismo, e muito menos se sabe onde começar a fazer vacinas de contenção. Uma maravilha.
Enquanto a frustração vai crescendo no enredo com a evolução da doença - que nem parece ser doença, de tão rápida, imperceptível e sobrenatural que é - vemos o chef de cozinha Michael começando a flertar com Susan. Michael tem seus problemas para dormir, seus tiques nervosos de chef tipo Master Chef (Não de Halo, mas vocês entenderam...) e ser mulherengo. Seu melhor amigo da cozinha, James (Oi Spud!) faz a profecia:
Ótimo! Otimismo nota 10 em um provável outbreak de doença misteriosa que até agora não matou ninguém - só tirou o olfato.
O bonito de ver a evolução da coisa toda é como Susan percebe a Humanidade se adaptando conforme os sentidos vão desaparecendo. O olfato faz com que milhares de lembranças que nós temos vá para o limbo cósmico sem fim, pois é um dos gatilhos principais pro cérebro fazer a síntese de memória para as coisas.
Tudo bem até aí. Estado de luto profundo/chororô = perda de olfato.
Tudo bem até aí. Estado de luto profundo/chororô = perda de olfato.
O problema é quando a coisa vai pro paladar.
Isso sim já me deu calafrios (E não, não foi por conta da flawless Eva Green em cada take *se abana*), mas pelo fato da fome voraz atacar todo mundo AO MESMO TEMPO e de forma imparcial. Então se pessoas atacaram aqueles peixes fresquinhos no mercado e o tiozinho do açougue resolveu comer o cordeiro exposto no refrigerador, o que será que aconteceu quando teve o fade-out to black quando o companheiro de laboratório de Susan catou um coelhinho cobaia da jaula? Quem garante que alguém não deve ter cometido algum ato de canibalismo nesses longos minutos de I wantz nomnomnomnomnom?
Creepy as fuck!
Nessa hora eu já tinha colocado as mãos na cabeça e dito: "Frodeu, Apocalipse Zumbi em 3... 2... 1..." mas não, o filme foi bem além disso. Beeeeeeem mais!
O casal vai se entendendo, com seus medos, dramas, segredos, banhos compartilhados na banheira em que espuma de barbear e sabonete em barra são nomnomz convidativos devido a textura e o barulho que fazem ao se mastigar. Mas tá tudo bem, ninguém entrou em pânico, tá tudo beleza, dá para reconstruir... e assim vai.
Essa cena é fofa, nenhum dos dois tá sorrindo verdadeiramente. |
Essa é a foto durante e a foto depois. É um modo muito realista de se ver o quanto a vida não faz muito sentido sem os seus sentidos.
Próximo na lista? Audição. Alguém aí pediu um prato cheio de completo caos e desordem? Faça a população mundial ficar surda! E é o que ocorre, com uma explosão insana de fúria e rancor que daria inveja aos deuses do Olimpo para o total silêncio da existência de uma pessoa acometida por surdez. Agora se vocês querem chamar o pânico agora, pode chamar. Ele se instala geral no mundo devido a isso.
Uma declaração de amor feita por telefone que não é escutada, a separação do casal, lalalalalala, os avanços sobre as pesquisas (Não, nada ainda), o mundo se readaptando aos poucos - e isso sim é a beleza do filme, o de ver como as pessoas se comportariam em adversidades como essa. Muitos se preparam para o que virá, gente já aprendendo a andar de muleta, sendo guiados por cegos aprendendo linguagem de sinais, melhorando a caligrafia para escrever notas (hahahahahahaha piada interna!) e a doença parece ter estacionado.
Vejo no cursor do player: está terminando o filme, ainda restam 2 sentidos: visão e tato. Qual vai ser o próximo? Vai dar tempo de construir a narrativa para esses dois? Posso? Posso mesmo dar spoiler? Não, só vou deixar uma foto da Eva de óculos, porque nunca a vi com um desses em nenhum dos filmes dela que empilhei para ver antes da UFSC começar. E é AWESOME!
*suspiros lânguidos e pompons agitados no ar* |
O meu lado survival-horror pediu por alguma coisa mais gore ali no meio - principalmente após a cena do cientista no laboratório e o coelhinho, não é justo! - então achei que depois do paladar a coisa ia piorar pra extremos mais violentos. Mas hey! Não, que bom, como somos civilizados em crises mundiais de epidemia desconhecida!
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