"Sou muito irresponsável, mas faço a coisa certa." |
Primeiro porque a Chelsea não tá nem aí para o que os outros falam e muito menos os famosos, a proposta do programa era fazer sketchs de assuntos polêmicos no começo, depois pular para uma mesa redonda com outros comediantes menos esquisitos que ela - Whitney Cummings de "Whitney" é de lá, assim como o fofo do Ross Matthew (s2), oh oh! Margaret Cho já apareceu por lá também! - e jogarem conversa fora com as celebridades que a própria emissora E! idolatrava. Depois um momento de talkshow com algum convidado, o que rendeu muitas aparições inusitadas. Chuy "Little Nugget" Bravo foi o escudeiro de Chelsea durante os 7 anos e trazia mais nonsense para o cenário do talk show.
O humor era do sarcástico/ácido pra cima. Chelsea não precisava usar palavrões para deixar alguém sem graça, porque as tiradas dela são da mais pura ironia que fura o concreto. É isso que admiro na criatura. Ela é extremamente Boss Bitch over 9000 e sabe como isso ao seu favor. É o tipo de humor que não te deixa desconfortável com a rudeza dela (Tá certo que às vezes ela pega muito pesado com certas pessoas, mas hey! Lembrar que todo mundo é igual é sempre legal!), mas de esperar qual é a próxima coisa que ela vai falar para desconstruir todo uma situação. E não é uma desconstrução com argumentos pautados na situação, ela simplesmente vai jogar na cara do emissor o quão babaca e ilógico que ele é.
"A única pessoa que realmente estou tentando divertir é eu mesma" |
Uma das coisas que me cativa nela é o quanto ela aproveita do discurso ilógico e incoerente do mundo do entretenimento e das aparências sociais e joga de volta uma bola de questionamentos diretos e nada convencionais. É mais ou menos estar no modo "Fuck the Police!" 24 horas por dia e não sei como ela consegue manter o ritmo - mais outra para o pote de admiração. Sendo judia, white-upper class e mulher, ela aproveita essa forma de se expressar (Ser comediante) e também questionar os seus colegas de profissão, volta e meia ela dá a real de ser uma minoria dentro da indústria da comédia e esfrega com prazer na cara de todo mundo que ela só conseguiu algum sucesso sendo uma completa bitch.
"Pessoas são tão irritantes." |
Sim, tem vezes que assisto alguns programas dela e fico: "Holy sheep, como essa mulher é egocêntrica e sem coração!", mas aí lembro que se é um papel que ela está a desempenhar como comediante, está fazendo bem ao confrontar o status quo da maioria de homens no politicamente correto ou no extremamente mau-gosto da comédia americana. Em nenhum episódio de Chelsea Lately que assisti a vi sendo sexista, racista ou proclamando preconceitos tão enraizados na sociedade americana (Ela faz parte de uma minoria já avacalhada pelos comediantes, poxa), e quando ela tocava nesses assuntos era para simplesmente pegar o argumento e jogar no fundo da lata do lixo e chamar quem fosse de idiota por não saber fazer piada direito. Porque para Chelsea Handler o mundo parece se resumir a essa frase aí acima.
Continuo querendo ser como ela, porque o jogo de palavras, a manipulação do discurso, o sarcasmo inerente a situação me atrái como mariposa na lâmpada da varanda, é um modo de ver a vida numa crueza que a única alternativa é rir ou fazer piada com isso. Porque vamos ser sinceres aqui? A vida não é fácil, as pessoas tornam o que já não é fácil, pior ainda e se não aliviar isso com comédia nua e crua é pedir para ir pro poço com a Samara...
"Você deveria sempre falar o que passa na sua cabeça e ser ousado e detestável e fazer o que seja que você queira e não deixar ninguém te falar que não pode fazer isso." |
Após ler alguns textos e divagar com algumas pessoas sobre como é essa sensação de não me sentir à vontade com meu próprio corpo (ainda o probleminha de não me reconhecer no espelho, tá diminuindo) é que fui vendo como é o processo de se desapegar do mundo cotidiano e de certos comportamentos tóxicos pra sanidade (E Cthulhu já faz um bom trabalho, gente, não preciso de uma forcinha extra, tá?) funciona. Recalcular algumas atitudes e procurar um bocado dentro do inventário interno nosso é uma tarefa bem difícil de se manter com certa frequência, mas quando vejo que há uma fagulha de reconhecimento em em alguém ou algum lugar - reconhecimento aqui como me sentir segura, confortável e sem medos - mantenho contato para verificar até onde posso aprender com tal lugar/pessoa, etc. Faz parte do crescimento, a gente acaba se espelhando nas outras pessoas para delimitar a nossa própria evolução.
"Você apenas seja honesto sobre quem você é, e se no final não fica sem amigos então bom para você." |
Mesmo que seja na figura da loirona mercenária, sarcasmo ao último level, citada nesse texto.
Por ser deveras honesta, ela já levou uns processos jurídicos - ela é proibida de entrar na Sérvia após declarar que não gosta de lá, várias e várias vezes - e também arranjou uns probleminhas no canal onde atuava, mas aí como qualquer pessoa que "I don't give a fuck!", ela decidiu fechar o Lately e ir fazer o que quer lá no Netflix. Esse ano vai estreiar seriado novo dela - já teve um baseado no livro dela chamado "Are you there, Vodka? It's me, Chelsea." de 2008 que estou tendo o prazer de ler e entender melhor a figura - e estou esperando ansiosamente pelo o que vai vir.
Obrigada tia Handler!! Minha vida no lolz não seria a mesma sem sua sabedoria!
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