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19 novembro 2016

[os escorregadios] in manus dominum

Título: in manus dominum (por BRMorgan)
Cenário: Original - os escorregadios.
Classificação: PG-13.
Tamanho:  palavras.
Status: Incompleta - 1/?
Disclaimer: A escrita de EngeL começou há muito tempo atrás e como um elemento de ligação fez a união entre os cenários (a Morte de Triciclo), resolvi juntar tudo no masterpost de Feéricos [x]. EngeL agora foi rebatizado de Os Escorregadios. Quem acompanha o que escrevo sobre Feéricos vai ver algumas alusões aqui. Sim, é de propósito lol
Personagens: Morgenstern, Micaela, Catherina "estrangeira pintora", Abraham "Bram-bram", enfermeira Carlson, enfermeira Woöls, zeladora Todd



“Just one medicated peaceful moment.” : A Perfect Circle – Orestes.


CAPITULO 1 – “IN MANUS DOMINUM”


Parte 1: O Hospital.


A Metrópole era uma cidade de negócios, o maior aeroporto da região. Linda cidade. Separada por dois rios que subiam e entravam na cidade. Em outros tempos, aqueles rios eram limpos e cristalinos, aproveitados pelos habitantes locais com suas choupanas, seus sonhos simples, seu cultivo de grãos para sobreviver. Não havia prédios altos e antenas de tv. Nem barulho de carros e fumaça das fábricas de automóveis. Era tudo quieto e passarinhos voavam por aí.
- Assim como eu... – disse Micaela, a paciente nº 416 perto da janela blindada e com grades de ferro em seu quarto.
- Micaela, saia dessa janela, por favor? – ela nem ouviu a enfermeira do centro psiquiátrico – Da última vez não foi uma boa você ficar aí até mais tarde lembra? – a paciente jovem (Aparentava ter quase 21 anos) virou na cama de limpos lençóis e murmurou algo para si. – Vamos querida... Hora do chá... – disse a enfermeira com um sorriso cansado, tão cansado por estar trabalhando quase 20 horas ali que mal pensava que teria que enfrentar mais duas horas de trem para ir para casa cuidar de seus dois filhos homens e aguentar mais uma noite com o marido insensível.

No corredor da ala feminina, ela passou por alguém que insistentemente desenhava nas paredes, era a estrangeira que ninguém conseguia pronunciar o nome. Era de origem russa e tinha pouca paciência com quem a atrapalhasse em seu trabalho. Para precaver que a adolescente muda não rabiscasse por todo lugar, instruíram uma enfermeira para vigiá-la e lhe dar boas levas de papel para que ela desenhasse sem prejudicar a tinta do recinto. Em seu quarto, era coberto com papel de parede especial (E que eram seus pais que pagavam por qualquer dano que ela causasse ali) que era retirado frequentemente quando ela completava todas as quatro paredes até a altura que sua mão alcançava.

- Cat-cathy... Aqui... – disse a enfermeira que cuidava dela, dando um pote de giz de cera. A menina pegou com um rápido gesto da mão e voltou ao seu trabalho, a enfermeira observou ela fazer um circulo perfeito para pintar o Sol de laranja. Abaixo dele havia um gramado verde cheio de flores de diversas cores, uma árvore solitária em um morrinho perto de dois rios que se encontravam no final do papel.

Ao seu lado estava a mulher aficionada por música. Sabia de toda programação de cabo a rabo, mudava as estações com cuidado e informava as horas das notícias e músicas favoritas às enfermeiras. Seu nome era apenas Mo, ninguém a visitava nos feriados e muitas enfermeiras mal percebiam na presença da menina grudada no rádio de pilha laranja que ganhara de alguém que não se lembravam. Mo era quieta e sorria muito para os outros, gostava tanto de ouvir música que ficava horas com o rádio na orelha direita e cantarolando as músicas baixinho enquanto movia a cabeça no ritmo da música. Nas sessões de recreamento, ela apreciava ficar perto do piano velho que nem usavam na sala. Ficava olhando o velho instrumento como se esperasse que ele tocasse para ela, mas nada acontecia e ela não fazia exercícios como as outras, apenas sentava e observava o piano intocado.
- Enfermeira Carlson... – ela disse baixinho para a enfermeira que cuidava da estrangeira. – Vai começar o programa do Jëss na TWD, 97,9. – a enfermeira agradeceu e ligou o radinho da sala de enfermeiras para as colegas de trabalho escutarem, todas adoravam a voz sensual do locutor e como ele mandava abraços e beijos e declarações de casais apaixonados para os ouvintes. A estrangeira chiou algo em sua língua natal e olhou irritada para a sala das enfermeiras. Mo sorriu para a garota e apontou para o céu que ela desenhava em outra folha. – Bonito... Céu amarelo... Como se o Sol estivesse, ahn... iluminando tudo...? – tentou começar uma conversa, mas a estrangeira voltou a desenhar sem dar-lhe ouvidos. Voltou sua atenção a outra estação que gostava de ouvir, era a 107,1 que era o canal de notícias.
- Micaela, saia dessa janela já! – gritou outra enfermeira já correndo para aparar a jovem paciente 416 que abria a janela pesada e olhava para baixo como se quisesse pular.
- Por Deus!!! – disse a chefe das enfermeiras e fechou a pesada janela com a ajuda de uma enfermeira bem forte, seu nome era Zildi e ela era um doce de pessoa, tratava todos como seus amigos e dava balinhas macias para as meninas mais novas. 
- Mas eu preciso aprender a voar, enfermeira Woöls... – disse a garota inocentemente.
- Que voar o quê? – disse a mulher indignada pelo susto. – Coloquem ela no quarto separado... Só sairá para o banho, Micaela...
E todas ali ficaram caladas. Todo mundo sabia o que significava ficar no quarto separado.


Parte 2.

Hora do banho. Eram grupos de 5 em 5, pois as 2 enfermeiras encarregadas vigiavam as pacientes nos banhos. Os boxes de banho eram abertos na frente, mas separados por divisórias de acrílico temperado. Mo sentia vergonha por tomar banho vigiada, mas sabia que as mulheres ali não tinham receio nenhum, todo cuidado era pouco, já que na última terça, a viciada conseguiu fugir do banho e sair pelada pelo corredor. Houve só uma vez em que Mo se sentiu inteiramente enojada e medrosa, quando uma das enfermeiras da noite, vigiou todas as meninas sozinha. Como era alguém de olhar frio e dominador, ninguém se atreveu a fazer nada errado para não sofrer conseqüências. A enfermeira era bem perfeccionista e chamava atenção de quem estivesse fazendo algo fora do comum (mas era só um banho, oras! Pensou Mo depois.). 

A estrangeira foi a que sofreu mais, pouco entendia o idioma e pouco se interessava como a enfermeira falava para ela fazer. Mo soube depois que a estrangeira foi para o quarto separado, mas desta vez foi à noite. Melhor seria não perguntar, tomou seu banho de uma vez, lavou os cabelos curtos quase rentes ao cocuruto com destreza e saiu se enxugando.
- Muito bem, Mo... – disse Carlson com um sorriso, aparando a estrangeira de pular a parte de se secar e depois pentear os cabelos. Mo viu Micaela entrar com alguns tremeliques característicos de uma sessão. Deu um breve aceno para a garota e não recebeu nada em resposta. Ficou ao lado dela.
- Micaela... Empresta seu creme de cabelo...? – ela pediu apenas para puxar conversa. A garota mais velha deu o pote pequeno com as mãos tremendo. Apontou para o pente e Mo entendeu, a ruiva começou a passar o pente disfarçando com um ar de despreocupada. – Amanhã terá o jogo de perguntas na 92,8. Nós poderíamos tentar a sorte, não? – Micaela virou para Mo e murmurou perto dela.
- Eles tentaram arrancar minhas asas...
- Eles quem...?
- Aqueles... aqueles seres malditos... – dizia a garota baixinho. – Invejam a gente por termos asas... Eles não têm mais asas e nem sabem como voar... Quando eu voltar a voar aí eles irão ver como é que...
- Meninas, se apressem! O jantar está esfriando! – disse outra enfermeira. A expressão de Micaela mudou e ela agarrou o pente de Mo com ferocidade e a empurrou para longe, o chão escorregadio fez Mo desequilibrar e cair de costas no chão frio, sua cabeça quicou várias vezes no chão e ela sentiu que algo quente estava escorrendo em seu pescoço. Grande alvoroço aconteceu minutos depois, Micaela gritava sem parar que haviam tentado cortar suas asas, que não a deixavam em paz porque ela era um anjo escolhido por Deus.

Mo não ouviu a gritaria, desmaiara no chão e ganhou um corte perto da orelha.

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