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29 maio 2017

[Projeto Reverso] a contrabandista

Título: A contrabandista - parte 8/12. (por BRMorgado)
Cenário: Original - Projeto Reverso.
Classificação: 18 anos (violência, linguagem imprópria).
Tamanho861 palavras.
Status: Incompleta.
Resumo: (sem resumo).
N/A: Projeto novo na área, Reverso será uma compilação de 12 contos pequenos sobre uma mesma situação, ambientada em um mundo atemporal ao nosso com um grupo de pessoas tentando escapar de alguma catástrofe eminente, o básico de sempre, sabe? E viva os universos paralelos que os sonhos nos proporcionam! Sim, a ordem dos contos está toda embaralhada \o/

SEM TÍTULO [1] - MÁ REPUTAÇÃO [2] - SEM TÍTULO [3] - A GELADEIRA [4]
SEM TÍTULO [5] - SEM TÍTULO [6] - COMO ANDAR DE BICICLETA [7]
A CONTRABANDISTA [8] - SEM TÍTULO [9] - SEM TÍTULO [10]
SEM TÍTULO [11] - SEM TÍTULO [12]

Trilha sonora:


Coçou entre os seios com certo prazer. Havia essa cicatriz chata que a incomodava, mas quando coçava do jeitinho certo, tudo ficava incrível. Os mercenários das fronteiras gostavam de se vangloriar de seus feitos mostrando as cicatrizes de batalhas, nem lembrava como ganhou aquela. Nascera daquele jeito pelo que sabia. 


Se espreguiçou para espantar a letargia da manhã, tinha que voltar a rotina com o velhote Adrian pra conseguir sintetizar uma bactéria modificada pra matar as algas venenosas que cresceram na única fonte subterrânea de água que tinham por ali (constantemente filtrada, tratada, reutilizada, testada). Aquele trabalho intelectual não era lá mil e uma maravilhas. Não tinha educação suficiente pra saber resolver as equações quilométricas do velho louco, mas sabia bem como testar os efeitos dos experimentos. Quando o velhote precisava de uma cobaia, ia mais que feliz até a colônia dos cornudos, passava horas na espreita e caçava um deles que desse mole. 

Alienígenas eram descartáveis para ela, assim como tratavam os humanos na segunda invasão. 

Quando o velhote saía pras conferências com os grandões na tenda da vila, chamavam isso de reunião de Ágora, o velho explicou certa vez que os antigos faziam palestras e educavam os cidadãos em praças como aquela. Se o velho se sentia orgulhoso com aquele tipo de civilidade, não a interessava. O mais importante de visitar a vila era escapar do olho vesgo do velhote, ir até as barracas alojadas nos escombros da caravana anterior e foder gostoso com uma tia que estivesse disponível e aceitasse o pagamento em troca de mercadoria. 

Às vezes a troca nem era precisa, tinha tia que só queria ser fertilizada pra não sofrer com climatério - era assim que chamavam os ciclos bizarros que certos indivíduos passavam em certas épocas do ano. O velhote explicara que climatério era outra coisa no tempo de garoto dele, era o que as mulheres mais velhas tinham depois que paravam de sangrar pelo canal vaginal (e isso rendera uma discussão sobre o que o velhote sabia de anatomia e o que já tinha experimentado). O negócio é que pra esse pessoal, ela era perfeita para acalmar os ânimos. Fosse só pela presença, um papo furado qualquer ou entre as pernas de alguém. 

Agora que a humanidade tinha ido pro espaço literalmente, haviam poucos genuínos ali para distinguir dessa nova forma de homo sapiens. Os estudiosos tinham morrido pra poder dar novo nome aqueles que evoluíram (Ou voltaram a ser primitivos?), mas estavam ali, não tinha o que fazer. 

Soltando um suspiro, investigou bem os arredores da janela obstruída por pedaços de madeira podres, o toque de acordar ainda não tinha sido dado. Nua e totalmente a vontade com seu corpo diferente dos demais, continuou a coçar a cicatriz que não lembrava da onde conseguira (e nem se vangloriar dela pra ganhar algum tipo de reconhecimento), caminhando de volta para o leito tão finamente ajeitado para a elite desgraçada das províncias. Entre os lençóis caros e macios de uma luxuosidade rara naqueles tempos, estava a figura da contrabandista mais requisitada pelos grandões. Ela dormia encolhida ao travesseiro improvisado com o próprio vestido de cortesã (algo que alegava fazer quando era nova e corpo nem amadurecido, atualmente apenas para clientes que precisavam de um convencimento a mais para cederem nos negócios). 

Sentou-se ali e ficou a admirar as curvas das poucas genuínas que restavam nas fronteiras. O que os mercenários chamariam de "corpinho dos anos 50", já que os últimos genuínos nasceram entre 2140 e 2150. O resto que veio dali era da Fábrica ou modificados geneticamente por Engenheiros do Diferencial - que habitavam o subterrâneo das capitais que conseguiram ficar de pé - com seus laboratórios macabros.

Em seu peito sentia aquele comichão que não derivava da cicatriz que não lembrava, mas de saber que uma genuína se deitava com ela mesmo sabendo de sua procedência. Era um misto de orgulho com territorialismo, seguido de euforia da dominação de um ser geneticamente mais fraco e de diminuí-lo a um estado de êxtase que nenhum outro genuíno faria. Balançou a cabeça várias vezes, as cenas da noite anterior com fantasias nada apropriadas para os costumes mundanos passavam pelos seus olhos. Não ceder ao monstro interior era a tarefa desde que nascera, nada de entregar as pontas por culpa do cérebro primitivo entre as pernas. 

Respirou fundo para conter um pouco de sua natureza animalesca e os odores do quarto não ajudavam muito na concentração. Muitas impressões para um nariz só encontrar um ponto de equilíbrio. Preferiu se refugiar dentro dos lençóis luxuosos e se ajeitar em volta dos contornos da mulher que lhe dava migalhas de esperança de uma vida normal enquanto estavam juntas naquela cama. 

- Você precisa parar de me acordar tão cedo... Já não basta o que fizemos o dia inteiro ontem? Não cansa? - murmurou a genuína com a voz arrastada e embargada de sono. Pensou em ter já ouvido aquela frase alguma vez na vida, em algum lugar do passado. Resolveu dar a primeira resposta que passou pela cabeça. 
- É que já me acostumei a ti... É como andar de bicicleta... 
- Você está delirando, só pode... 

[continua em 9/12]

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