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31 agosto 2017

novo capítulo da novela de certa eleição de certo centro de certa universidade

Tem umas parada sinistra na Linguística que me assustava um bocado quando era tratada no processo de alfabetização ou até mesmo em análise do discurso.
Tipo: "Como é que o texto se forma dentro da sua cabeça?"
Ou: "Se houver uma repetição ou ausência de uma palavra em tal texto/fala, já dá pra sacar as nuances de um discurso?"

O que mais me assustava era a tal da expectativa do leitor, que é uma parada meio bizarra que acontece com a gente quando vamos ler/ouvir/ver alguém ou alguma coisa. Pra ter uma conversa informal se pressupõe que tem uma pancada de artifícios da nossa lingua falada pra colocar aquela conversa como informal, os famosos, "tipo assim", "né?", repetir o nome da pessoa que tá conversando contigo em sei lá, apelidos, diminutivos, o nome dela mesmo.

Enquanto em uma conversa formal ou até, vamos dizer assim, oficial em um debate político sobre direção de um centro em certa universidade -que não irei citar o nome, pois mecanismos de recuperação de informação tem em tudo quanto é canto - essas mesmas coisas sinistras podem aparecer.

"Como alguém pode formar uma fala como aquela?"
"Em que posição essa pessoa está falando o quê e para quem?" (Essa é extremamente importante até pra gente saber o que, pra quê, pra quem e porque estamos falando)
E a minha favorita:
"Será que a pessoa tem ideia do que tá falando?!"

Porque em certas falas, desconfio piamente de como o processo de construção da fala dentro da cabeça acaba sendo feito ou se é feito, ou se é assim mesmo que deve ser. E é uma bagunça, é pra ser uma bagunça, mas o buraco do acordo tácito social silencioso das pessoas para nos tornarmos toleráveis entre si e vivermos em sociedade, isso tudo aí pode desmoronar quando a fala não é produzida de acordo com a expectativa daquele que vai ouvir.
(E nada de locutor/interlocutor aqui, pega no meu Chomsky que é nele que vou)

A expectativa é um bicho asqueroso.
Porque na fala ele impacta de uma tal maneira que para uma mesma frase pode ocorrer "Ais" e "Hey!" ou "Eita" ou "Oh!". Ou silêncio. Quando o silêncio aparece é o que mais me surpreende, porque tio Fucô dava uns pitaco que o silêncio era o ato máximo de rebeldia (Rebel, rebel!) e eu concordo plenamente, enjoy the silence...

A expectativa do leitor entra aí com toda uma carga ferrada de "e se...", "poderia ser/ter sido..." e por aí vai. Quer cultivar muitos universos alternativos? Fique no plano das expectativas, é ali que todo o Caos Universal vira caldo pra ferver.

Então tendo essa premissa na cabeça e conhecimento da existência da expectativa do leitor, fui ontem pro debate com algumas palavras na cabeça que esperava e não esperava ouvir.

Esperava muito #Facepalm porque é essa a minha reação quando sinto vergonha alheia e quando a vergonha alheia acaba sendo dirigida para o curso onde eu habito e amo. É como se ofendessem o meu grande amor (Srta. Ornitorrinco Biblioteconomia, de manto roxinho, com anel de ametista no anular e segurando uma lâmpada antiga em uma mão e um livro bem pesado na outra pra tacar nas nossas cabeças?) por tabela.

E foi o que aconteceu. Mas expectativas do leitor, lembram? Nada mais assustador que intenção do discurso.

Debaixo do link, as expectativas de leitor que tive ao ir ao debate de certa eleição de certo centro de certa universidade.


Graduação.
De 2 horas de debate, ouvi pouco e vindo só de um lado.
Porque a plena certeza que são os programas de pós-graduação que sustentam o centro referido fica mais forte quando ninguém fala da ralé, base, mão de obra barata que vai ser egresso algum dia. Pra quê falar de graduação? A gente nem presta pra muita coisa né? A não ser se sua intenção é ir pro Mestrado, aí vale alguns trocados.

Essas falas foram emendadas com protagonismo, mas uma coisa que achei interessante ao juntar as duas palavras "Graduação" e "protagonismo" vi a reação característica de um nicho se remexer nas cadeiras. Sim, amigolhes docentes, incomoda um bocado quando tratam do objeto de estudo ou passatempo de vocês, né? Eu sei, também me incomodo bastante por não ter voz alguma em lugares privilegiados como vocês. Mas a gente aprende, a vida é uma escola, não é assim que acaba uma grande paixão.
(E citei pagodão dos anos 90 na tora, porque se não entenderam o último parágrafo, era puro sarcasmo, tá?)

Ainda bem que não falaram sobre a Invasão, ops Ocupação. Até porque nós pastéis da Biblioteconomia não iríamos chiar muito, não aderimos totalmente e achamos um estorvo ficar sem aula no prédio que virou lenda urbana (E sobre ele, mais a frente!). Veremos no próximo debate de manhã com a galera da Pedagogia, aí sim teremos barraco acontecendo geral.

Quebrando a seriedade com um gif tosco de um pastel
assando marshmallow numa fogueirinha
Eu esperava que falassem mais dos Técnicos-Administrativos da Educação, os nossos queridos TAEs. Em um balanço anual de tipos de greve formuladas e efetuadas na universidade que não irei citar o nome, eles ganham em disparada. Por quê? Oras, pessoas lindas, por que as pessoas fazem greve? Pra não trabalhar ou para reivindicar seus direitos sendo abusados por instâncias maiores?
(Se você escolheu a 1ª opção, vá para o final dessa postagem, tem uma parte especialmente escrita pra você :*)

As 30 horas e flexibilização que eles tanto batalham por anos foi tratada por uns 2 ou 3 minutos, com respostas assim tímidas. Algo como: "Sim, apoiamos, mas sei lá, fala com a reitoria." Tenso.

Eles como sendo os mais prejudicados durante anos por trocentas ações vindas de tudo quanto é lado e seguridade alguma em sua carreira profissional, fiquei espantade de não ouvir muito sobre pontos importantes que merecem ser discutidos com eles, para eles e com a presença dos estudantes para entenderem WTF acontece nessa universidade quando os TAEs param. 

Afinal de contas, quando tem corte brutal de verba do governo, a gente continua estudando. Porcamente, com péssima qualidade, sem tantos subsídios e sendo reprimidos psicológicamente de o quanto não valemos nada pra sociedade como pessoas. Os TAEs perdem a mesma coisa, junto o emprego, a dignidade e ainda são julgados pelo restante de que eram um bando de vagabundos. We know the feeling dudes, sentimos isso na Ocupação. 

Fazer greve parece ser algo que mexe com o inconsciente reaça das pessoas.
Ter direitos básicos de trabalhar/estudar também parece mexer com esse mesmo nervo.
O que nos leva ao próximo tópico que se tornou o meu favorito e de demanda imediata na noite fatídica!

White people problem!!

Achei que não iria surgir isso tão escandalosamente - oras, séculos de prática, óbvio que poderiam ter velado tudo em falas mais sutis de sua hegemonia dentro do Centro - mas olha só, white people problems... Ou "Problemas de pessoas brancas" traduzido no literal, pode ser interpretado como aquele típico discurso de problematizações que parecem ser algo horroroso e revoltante para a pessoa que fala (E que sofreu o problema inédito), mas que não faz ideia que boa parte de uma população passa por isso TODOS os freaking dias. E essa população não está ali para reivindicar fala. E essa população são de hierarquia menor no balaio universitário e estão ali todos os dias e possivelmente esse "probleminha" é a rotina de uma pessoa ali do teu lado. Só que a pessoa dando o show de white people problem não vê durante 364 dias de convivência com essa população AND THEEEEN quando passa pelo o sufoco, humilhação, degradação, desvalorização, "OH QUE COISA HORRÍVEL DE SE ACONTECER!".

Mais empatia. E mais empadinhas também, porque de coxinha nesse centro que já estragaram o conceito.

Essa parte tocou na questão Segurança (patrimonial, óbvio. Tava esperando em reeducação, conscientização e campanha solidária? Por favor, pessoas! Expectativas do leitor!), o que é algo que nos leva pro próximo tópico batido, mas vamos nos ater aqui. Segurança no campus é algo delicado a se tratar, porque há regras estranhas que comunalmente são quebradas de vez em quando. Aquela história de que a universidade tem autonomia para decidir sobre a segurança do campus, tem até um departamento para isso, maaaaaas é só para bens materiais. Pra caso de acidentes infelizes com pessoas, chame a Polícia (Ou vá na Ouvidoria, kek), e aí tem um megazord da Polícia Federal na frente da reitoria, vazio, um monumento disputando com o Boitatá do laguinho - que se diga de passagem, os gansos protegem o patrimônio e as pessoas ali perto com mais eficiência. Sério.

Movimento Escola sem Partido não é um white people problem, logo não é pauta para se discutir em um ambiente higiênico em que vivemos. Passemos para o próximo tópico diferentão, porque tem que desconstruir sem parecer esquerda demais. Mesmo havendo posicionamento contra a reitoria, mas não dizendo na medida em que...?

E o white people problem entrou também na questão da Diversidade. Não entenderam a pergunta direito pelo jeito. Não é só diversidade sexual, diversidade departamental, é diversidade política, étnica-racial, diversidade de gênero, sabe? É de colocar medidas educativas de reensinar as pessoas que todo mundo aqui é igual. TODO MUNDO. É fazer entender que existe uma minoria esmagadora de pessoas negras em nosso Centro e que deveriam ter mais espaços para se projetarem e terem perspectivas dentro dos cursos. É ter mais professores negros, indígenas, asiáticos, de tudo quanto é canto do mundo e saber que ali é um ambiente que NÃO VÃO diferenciar camarada pela cor da pele, pelo que veste, se gosta de Ney Matogrosso ou o que faz na vida privada. Nem me importo se é padre e nem é formado no meu curso, fazendo o seu trabalho com o interesse de ajudar o bem comum e ter o mínimo de didática, empatia e ética universal de que somos iguais, awesome. Pronto, estrelinha na testa.
(E se não tiver essa noção de que todo mundo é igual, eu não vou precisar mais consultar o Lattes de ninguém pra ver se é qualificado ou não!)
Aí alguém emenda com pluralidade e não sabe argumentar, pronto. Fechou, garçom traz a nota que... não dá...

Sobre Gestão Democrática.
Lembram do silêncio que é o ato de rebeldia mais precioso do tio Fucô?
Perderam a oportunidade de praticarem isso.

Aliás, apareceu uma expressão repetida por ambas as chapas: "Política de balcão". O que sinceramente aqueceu meu coraçãozinho burocrata dos Ínferos que tento o máximo possível guardar bem longe do meu campo de trabalho. De acordo com a teoria de ambos, a prática da política de balcão é exercida na universidade como forma de assegurar espaços de disputa sobre coisas e alguéns. Nada diferente do mundo real, creio eu.

Muito parecido com o que somos impelidos a fazer todos os dias enquanto estamos atuando como bibliotecários, educadores e afins. Aliás se a gente não começar a fazer política de balcão no mercado de trabalho vai dar vazão pra um bando de zés manés enfiarem o discurso de que "bibliotecário é profissão que vai se extinguir!" pro pessoal que entra no Núcleo Comum. Mas aí a gente tenta se apropriar de metodologias de outras áreas pra essa política de balcão ser legitimada com legislação de gente séria. Tipo a 12.244/2020, pra mim sempre foi praticada como política de balcão com vereadores, deputados até um fidideoz ter a brilhante ideia de transformar isso em Lei pra poder ganhar voto. E dá pra fazer como ganha-voto, acredite, tem gente pra tudo nessa vida.

O legal é que a política de balcão é a mais propagada em empresas privadas por conta de diversos fatores culturais e organizacionais. Essas mesmas empresas que vários e vários dentro do meu curso querem tão avidamente competirem para entrarem. Então seguindo a essa lógica, a Política de balcão já efetuada na universidade e especialmente dentro de um departamento poderia ser um bônus no nosso currículo, não como algo ruim no funcionamento geral da maquinaria meritocrática.

O que eu quis dizer foi: "Se é pra ter uma lógica, tente ser coerente. Não desconexo ou ético."
Foi essa a síntese que consegui tirar dessa expressão por ambas as chapas.

O tópico batido é o de sempre.
A lenda urbana da Reforma do Bloco A.

Quer uma solução ótima pra isso: façam uma compilação de estórias sobre a lenda urbana da reforma do bloco A, participem de um crowdfunding, ganhem denheros com o livro, revertam para realmente fazer algo naquele prédio, porque o assunto é pauta em eleição do centro há mais de 20 anos. É tipo falar da revitalização da Hercílio Luz! E já que virou lenda urbana, bora tirar proveito com isso! Vender camiseta, bottom, inventar uns causos, chamar a Murta-que-geme do banheiro do térreo,fazer documentários, escrever zines, mandar roteiro pra Globo pra ver se eles copiam a ideia pra Malhação. Tudo vale aqui no capitalismo universitário! 

Ne non monamu?!
E o tópico final que me fez sair do auditório antes de terminar, porque além de estar com uma turminha da pesada ali junto comigo, o meu level de #Facepalm tinha ultrapassado o máximo e tava no modo "WTF?" o tempo todo.

Empresas Júnior AND Empreendedorismo.
Se um lado tava acertando nas expectativas por 1h45, errou feio nos últimos 15 minutos. Por falta de informação, por acúmulo de informação, por não sacar bem o que pode ser aproveitado, mas concordamos em partes: mão de obra barata além de estagiário, sem retorno para o Centro no todo. É o que vemos.

Mas me senti ligeiramente aborrecide ao ouvir a depreciação quanto ao Empreendedorismo dentro dos cursos de graduação do centro, não só porque tou me enveredando pra esse lado - lembram do negócio de se apropriar de tudo e não saber nada? Bem isso, bibliotecário faz isso de certa forma - mas também porque eu tinha essa ideia sobre uns anos atrás, até entender que o que eu fazia era intraempreendedorismo, as pessoas não gostavam por ser "pra frentex demais", mas mesmo assim dava certo quando o objetivo era para ajudar quem não tinha condições. Quando se coloca os pontos nos is e mostra que certas práticas podem funcionar em algumas áreas e outras não, dá para se projetar algo que englobe um centro com 5 cursos e fazer a interdisciplinaridade funcionar.

Algo que NÃO FUNCIONA por causa do tamanho dos Currículos Lattes e dos egos inflados de muitos de noss@s queriduns naquele centro. Isso também não ouvi falar, a interdisciplinaridade sendo planejada com mais solidez do que a política de balcão. Na verdade, o que senti naquele debate todo foi passar a mão na cabeça de alguns nichos, invisibilizando um outro nicho, para depois irmos lá dar uma balinha pro outro.

Mas é minha humilde opinião de escriba na graduação. Algo que nem foi tratado à sério durante esse todo, logo...

E é isso que a gente faz quando quantifica as palavras (435 ao todo que consegui escrever na hora) em discursos falados.  Se vai servir pra alguma coisa mais lá pra frente, não sei, mas rendeu uma postagem, parabéns pra mim.

AH! As lições tiradas do debate!
Se não gostar, vá na Ouvidoria.
Diálogos Republicanos.

Duas expressões que realmente me fizeram querer fazer meu sangue parar de circular por um tempo dentro do meu corpo e entrar em hibernação.

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