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15 agosto 2017

[eu não sei fazer poesia] soltas cobra-ideias

Menos mais um dia
Menos inspiração
Deuses não deram as musas o privilégio
De serem donas de seus próprios desejos
A mão inútil que não escreve
Não cria
Não-vida
Acorda nervosa, punho de ódio de noite
Sonâmbula, distraída de dia
Rabisca um verso ali e aqui, pragmatismo
Arrasta a caligrafia, determinismo
Garrancha alguma hipocrisia, mimetismo

Os deuses não deram asas as cobras por ser uma péssima ideia.
Já ideias soltas foram uma ótima solução.
Às vezes tocando em nossos rostos como veludo, para depois
Ah depois no rasgar pele-carne-osso com suas escamas porosas.
Asas felpudas não são garantia de bondade
Ideias soltas são como anjos disfarçados dos piores demônios que guardamos num dedo
De prosa ou outra
(Um dedo não)
Outra mão

A mão que não escreve
Que não produz
Que cheia de dedos cerra um punho
Serrar meu punho seria um alívio em horas como essa
De ideias soltas
De anjos felpudos
De demônios guardados

Cobras essas que cobram por mais vítimas
Em suportes de papel, barro ou telas lúcidas em plasma
Entupidas de veneno, a respingar, no alto de nossas cabeças,
Esperando as próximas vítimas
Infligindos pequenas mordidas
Lacerações de intensa agonia
Menos mais um dia
Um pulo, um bote, uma constrição

Deuses não deram aos homens a graça
Desprovidos de entender as musas
Roubaram o fogo e trouxeram a desgraça
A caixa com os males do mundo não é aberta por ninguém
Não há caixas, não há faixas, apenas cobras
De asas felpudas, ideias soltas de demônios guardados

A mordida parece leve no começo
Como anestesia aplicada direto na dor
Não se cria nada sem destruir o Outro
Não se consegue prosseguir no caminho sem tropeços
Tropeçamos
Tropegamos
Trepassamos

Os deuses não deram asas as cobras por ser uma péssima ideia.
Já ideias soltas, ah essas cobras-ideias, foram uma ótima solução.

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