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21 junho 2018

o se cuida

Com a idade vem a ruminação. 
Aprendi essa semana ao fazer o processamento de um livro ensaio sobre uma das teorias do Nietzsche que esse termo traduzido condiz ao se remoer um conceito até a exaustão para dali regurgitar algo. 

Não muito longe do verbo ruminar, a ação que os ruminantes bovinos fazem para completar seu ciclo de alimentação, a ruminação aqui se deve a uma constatação besta de ordem repetitiva. 

Pode ser uma pessoa motivada por um zelo extra ou por não saber o que falar mesmo, mas deparei-me com essa de desejar sempre pra todo mundo que passa por mim e/ou trava algum tipo de diálogo comigo com o "Se cuida.". 

Esse "Se cuida" não está mais reservado a quem tem meu apreço, mas com alcance até quem nem conheço, com a idade vem o peso das besteiras e às vezes, às vezes a gente precisa se cuidar. Ou ser lembrado disso. 

O cuidado consigo mesmo vai em diversas esferas de preservação. Ao dizer "se cuida", espero mesmo que a pessoa tenha cuidado consigo e não se exponha a nada que a tire de um estado normal de status quo. 
Porque o status quo mata, ainda mais quando são pessoas que não estão acostumadas a serem cuidadas, nunca cuidaram de nada ou que cuidaram de todo mundo menos de si mesmo.

Esse cuidado, devo admitir, foi algo que tive por muitos anos e arruinou algumas oportunidades e também me detiveram de fazer bobagens federais. O se cuidar para cuidar do Outro é o que mais pesa na minha balança quando chegar lá no Maat, com a pena e o coração. 

O se resguardar para não afetar ninguém é algo precioso que eu não repetiria fazer se tivesse uma TARDIS e pudesse voltar ao tempo. Há certas lições que devem ficar forévis no nosso subconsciente, martelando um bocado tanto pela culpa ou a recusa para não serem repetidas. 
Afinal de contas, loucura não é repetir o mesmo padrão várias vezes para resolver o mesmo problema? Ou será o contrário? De qualquer maneira. 

Voltando ao se cuidar... 

O cuidar influi em diversos aspectos de como se pode entender o outro. Infelizmente como sou muito tátil, preciso ter uma certeza sensorial de que quem espero que se cuide estará mesmo se cuidando. Parece bobo essa mania agora, mas ontem recebi uma chamada de mãe, preocupada, por eu ter literalmente parado meu banho, nesse frio horrendo, porque ouvi um barulho de queda de alguma coisa dentro de casa e não ouvir dela depois. 
Minha mãe costumava xingar muito nesses casos, a idade veio e meio que diminuiu o repertório de palavrões pelo jeito. Constatei depois, tremelicando de frio e já com um "pelamoooooor se cuida molieeeeer!" para um "você me assustou com isso!" 
Minha mãe já é uma senhorinha, e foi o varal que caiu. Ela não entendeu o porquê me alertei com isso, também não tou compreendendo o porquê de já visualizar o pior cenário possível. 

Porque até onde sei, eu tava bem. A cuca tava melhor nos pensamentos nada agradáveis sobre mim mesme e os outros. Até onde posso julgar, a sanidade está em um limite aceitável. A semana de pesadelos não veio ainda, mas já tive susto pra mais de metro na vida real. 

O se cuidar talvez seja eu tentando me relembrar constantemente que preciso me cuidar. Prestar mais atenção no que faço, falo, sinto, com um olhar mais centrado naquilo que não posso deixar de cuidar: minha mente. 

E escrever aqui faz parte disso, porque não tava atentando de estar repetindo demais esse modo de despedida em conversas, fechamento de email e mensagens instantâneas, dentro da minha cabeça em outras vozes. Talvez eu esteja precisando mesmo de um especialista e medicação.

Tá muito foda distinguir alguns pensamentos aleatórios de "cuidado" - do tipo, não faça/diga tal coisa porque *insira a consequência aqui* com o cuidado de me manter em proteção. Quando você passa sua vida toda prestando atenção nos detalhes pra não escapar nada pra não prejudicar o funcionamento das coisas, descuidados acontecem. Ou o cuidado demais pode ser mais trágico. 

Quando resolvi cuidar de minha pessoa, ir ao psicólogo, fazer o máximo para ocupar a cabeça, voltar a escrever, encontrar algo que amasse a cultivar e fazer (vide Biblioteconomia) esperava que o cuidado viria com essa versão de realidade que é possivelmente a terapia menos danosa. 

O me cuidar se tornou em um escudo novamente, a conchinha de Gary 3.0 pelo jeito. E por um momento decidi que deixaria alguém cuidar de certos aspectos, mas vamos lá novamente para a reação do varal caído e alerta total? 

Isso é paranoia ou zelo em excesso? 
Ou não sei se quero que alguém cuide de mim, porque é automático eu querer cuidar de alguém? 
(E não ter mais pernas e emocional pra fazer isso com o mínimo de decência) 

Afinal esse querer cuidar é o mesmo que desejo quando digo "se cuida" para outrem? 
Pensando demais? Adivinha, pra isso não tem limites e cuidado algum. 

Se for paranoia, colocando na equação com episódios depressivos, altos e baixos, pensamento suicidas e um problemão de insegurança emocional, já sei onde isso vai dar. O estranho foi estar andando no meio da universidade e do nada ter essa linha de raciocínio que beirava a papo de louco na sarjeta: "Tá tudo bem? Tá, agora tá. Será que seria mais fácil fazer tudo errado e não seguir regra alguma e ver o que acontece? Pra quê? Depois não vou ter pernas pra levantar direito, então qual sentido? Se tá tudo certo, então não tem como dar errado, né?

Aí tive que atravessar a rua e prestar atenção no chão, porque onde ando não tem calçada direito. O fluxo de pensamentos foge dessa maneira e por um bom tempo tava no "Beleza, tá ok. "

Mas agora, nesse exato momento, não tá bem. Tem algo errado. Já senti esse errado antes, mas não tou lembrando de onde ou o que fiz pra ele ir embora. Talvez seja porque tá tudo certo e a cabecinha cisma que vai ter algo ruim nisso. Ou que tá calmo demais, fácil demais, sendo do jeito que o planejado. 

Fatalismo é um treco chato de se conviver. 

Então vou continuar a pensar que ao dizer "se cuida" é para desejar que haja um cuidado posterior. Ou sei lá energias boas. 

Com a idade vem mais paranoia é isso? 
Que sacolinha viu?

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