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14 setembro 2018

Updates do experimento de manspreading

Novidades, com essas duas semanas de intensa percepção e contato com manspreading - bem são 30 anos nessa, mas tou fazendo um esforço de olhar pra essas pobres criaturas com um olhar científico já que não inventaram o chá de simancol pros marmanjos - tenho alguns resultados nada surpreendentes.

O Buzzfeed UK fez um vídeo sobre 1 semana de 3 mulheres praticando tal afrontosa forma de sentar.



Vamos as contas, né? 
Pego 6 ônibus por 4 dias da semana. 
3 para ir, 3 para voltar. 
Isso dá 24 viagens em 1 semana normal. 
Como estou percebendo nesse fenômeno há cerca de 2 semanas, fica 48 viagens. 
Mais 2 sábados que necessitei sair para um destino que eu precisava pegar apenas 2 ônibus, logo 4 viagens para cada sábado. Coloca mais 8 viagens aí. 

No total tá 56 viagens de busão e 56 oportunidades de verificar o manspreading acontecendo. 

Meu local de sentar é sempre no banco final, do lado esquerdo - oposto a porta traseira - ou no banco do meio quando tenho muita coisa na mochila, pois dá pra deixar a mochila no chão, debaixo das pernas e xuxada debaixo do banco pra não atrapalhar ninguém. 

Cerca de 3 ou 4 vezes não tinha lugar atrás e peguei os bancos da esquerda, sempre janela, nunca me aproximando do meio do carro. Com essa metodologia que sempre segui, percebi alguns fatos:

(Debaixo do link, mais constatações)



- Homens costumam ocupar esses lugares com mais frequência. 
- Os bancos do meio da última fileira são seus favoritos por não terem barreira do banco da frente e caber as pernas. 
- Crianças também gostam das últimas fileiras e escutam quando você dá um toque de que tá sendo esmagado contra o banco ou que estão invadindo o seu espaço pessoal.
- Em 2 situações perguntei se era um problema de testículos, pois mesmo após fechar as pernas quando insisti com um cutucão de joelho, camaradas abriram novamente quase um espacato. Não obtive respostas em ambos os casos. Em um deles o sujeito de pesquisa acabou mudando de lugar (busão tava vazio). 

Durante o trajeto, cerca de 80% dos passageiros ao meu lado eram homens - podemos inferir aqui como pessoas que foram assinalados como masculino ao nascer AND que perpetuam a mania babaca do manspreading que a sociedade patriarcal introduziu nessas pobres criaturas OU a desculpa biológica de que estão amassando o pintinho e as bolas. E precisa de 2 assentos para isso. 

Verifiquei o conforto dos assentos dos carros, pois há alguns ônibus (como do primeiro trajeto) que são mais antigos e o espaço entre os bancos é bem pequeno. Quando o manspreading acontecia nessa situação (e me prensava contra a parede do carro) minha reação imediata era arrumar a mochila enorme que tenho desajeitadamente e refazer meu espaço no banco. Isso automaticamente dava a dica pro sujeito de pesquisa fechar as pernas um pouco para eu conseguir me acomodar com mais facilidade sem encostar nele. 

Pisei em alguns pés. 
Sim, porque havia dias em que os sujeitos de pesquisa tinham todo o espaço do banco, tanto pra frente quanto para os lados - os sentados no banco do meio - e insistiam no manspreading, consequentemente eu verificava como as pessoas ao lado dele ficavam. Surpresa! Jovens e mulheres - ou identificadas assim - nada de homens. 

Os sujeitos de pesquisa podem não gostar de encostar em outros homens. 
Compreensível. 
Alô Cristina, aqui é o patriarcado dizendo que macho não encosta em outro macho, porque é bichice?! 

Então há os casos especiais que fiz um rascunho especial com dados incompreensíveis, porque ônibus lotado, digitar isso e ter alguém do teu lado te esmagando não parece legal. 

Caso especial 1, excepcionalmente tive que sentar do lado direito, segundo banco depois da janela. Busão lotado. Manspreading intencional de quase 1:30 no trajeto mais longo. Esse me obrigou a tirar a chave de fenda que sempre guardo na mochila para urgências informáticas e cutucar de leve enquanto dou o cutucão com o joelho. O pisar no pé foi bônus, pois o busão passou por um trecho esburacado da BR e plim, até minha mochila pesada resolveu colaborar. Creio que esmagar o camarada contra a janela foi um dos feelings mais revoltantes que já tive por mim mesme, pois estava largando o método científico de lado e apelando pro desconforto. 
Esse foi o primeiro a me atrever a perguntar de problemas nos testículos. A resposta foi um grunhido e um fechar de pernas fingido. Logo ele voltou a abrir e forçar a perna pra que eu fechasse. A tática foi chamar o serzinho miserável e pseudo irlandês que carrego dentro de mim (ele é acionado com muita tequila, Nutella e piadas insinuantes particularmente ruins) e pratiquei o manspreading
Resultado aparente: um cara p00taço do meu lado, suspirando alto de insatisfação, dor na perna minha e dele - aquela pontada de chave de fenda não foi de leve - e meu humor estragado por passar muito tempo em contato com a perna de alguém que nem tava a fim. 

Nem quem eu tou a fim quer ficar pressionando perna comigo, diga lá com desconhecidos sujeitos de experimento científico? 
(Isso foi uma indireta sim, porque quem eu queria estar esfregando pernas não lê esse blog, GRAÇAS A RANGS!! Ou lê ainda...? Anyway! Não estou falando de você, lalalalala, não estou escutando, lalalalala) 

Caso especial 2: esse foi fofo. Fofo, porque não foi intencional e por estar em um esforço de perceber TUDO que essa experiência esdrúxula pode me ensinar, foi perceber que a gente é pouca porcaria no grande esquema de coisas. 
O sujeito era enorme, pernas longas, uniforme de alguma empresa de segurança. Coincidentemente esteve do meu lado no trajeto ida, muito muito cedo (busão das 06:45) e continuou no próximo ônibus e plim, nos encontramos na plataforma do último ônibus para a ida. 
Ele estava sentado no banco da parede, visivelmente desconfortável, e eu no do meio. Tinha um banco entre nós dois, quando alguém entrou - uma senhora igualmente alta, cedi o lugar para ela, mas perguntei a ele se não queria trocar, já que estava todo encolhido. Ele recusou e continuou de boas. Fiquei entre ele e a senhora. Ele às vezes deixava escapar, porque realmente tava encolhido e sonolento, a senhora se segurava também, pois percebeu que o ônibus encheu muito rápido e se encolheu no lugar. 
Resultado aparente e fofo: o sujeito caiu no sono e me prensava contra a senhora, que me olhava com uma carinha de "Me desculpa mesmo!" - como o trajeto mais longo durou mais de 1h consegui cochilar, e estava frio, então todo mundo ficou no lucro naquela hora. 
Calor humano às vezes é legal. 

Na plataforma do último busão para meu destino, ele perguntou se eu tava bem, se não tinha pisado no meu pé e eu disse que não. Sorri cansada (já tava sentindo as dores nas costas a voltarem pela posição torta na viagem por muito tempo) e papeamos um pouco sobre a situação dos assentos. Ele disse que sempre ficava espremido e quando sentava no meio e dormia, acabava escorregando no banco e nos solavancos não tinha apoio nenhum.

I feel ya dude!! 

Concordei com ele sobre a falta de espaço e que era uma tortura acordar tão cedo pra chegar em um destino quase 2h depois em uma cidade sem mobilidade alguma. Sentei no banco da parede, ele no do meio. Os dois cochilaram. Não houve solavancos. Graças. 

Aliás quero agradecer a senhora do banco do meio por estar com um perfume exageradamente muito bom aquela hora da manhã e ter a paciência de aguentar minha mochila escapando pro lado dela. E o kawaii metal urrando nos meus fones de ouvido que com certeza vazaram pro lado dela. 
Pra essa semana botei mais música folk e calminha para desencargo de consciência. 

Lição aprendida: evitar de sair nesse horário assim como diabo foge da cruz. Não sou um ser matutino gente. Produção zero. 

Caso especial 3: crianças indo ou voltando para a escola. Essas são minhas favoritas para travar diálogo e ver as impressões. 
No horário mais atrasado, por volta das 11h é que elas aparecem com mais frequência, todas espalhadas nos bancos finais. Umas tem mania de deixar a mochila no banco e ficar em pé. Para isso costumo pedir licença pra mochila e espero se o objeto inanimado me responde. 
O simancol se dá ali. 
Outra ocorrência é o 2 por 1, duas crianças ocupando um banco só e a mãe em pé, aí não tem jeito e eu peço pra carregar a mochila deles de alguma maneira pra quiançada se acomodar sem espremerem ninguém, se machucarem e não terem apoio para segurar quando o busão dá os solavancos básicos. 

A pesquisa continua...
Em breve mais coisinhas a acrescentar.


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