Artwork by: Igor Kieryluk |
O cenário favorito meu no Mundo das Trevas (Storyteller, antiga White Wolf) sempre será Múmia: a Ressurreição. Os verdadeiros Imortais e também os mais angst over9000.
(Tá pensando que viver eternamente trocando de corpo é legal???)
Na quote que ilustra essa figura acima de Jennifer Niven, "All the Bright Places":
Não consigo pensar em algo mais deprimente do que ser um sumo sacerdote egípcio em exibição ao lado de um conjunto de rodas de carroça vintage e uma galinha de duas cabeças.
Múmia: a Ressurreição mexe com muitos temas que a galera ocidental não esteve e nem está preparada para encarar em suas vidas, como o alcançar um conjunto de preceitos e comportamentos morais que possam levar a alguma edificação de si mesmo.
Os personagens de Múmia são um misto de uma alma antiga com a missão única de consertar uma corrupção inerente do ser humano e proteger a Humanidade em um corpo mortal de alma destruída por algum tipo de moléstia do mundo moderno (Capeta-lismo? Acertaram!). É uma dualidade na essência desse novo ser que muitas das consonâncias entre o que era antes e o que se tornou agora não são ajeitadas nunca - e tá aí o papel do jogador de Múmia, ir colocando esses pingos nos "is".
O que é vida eterna? Como as antigas religiões e as atuais enxergam esse conceito? Há vida após a Morte?
Para quem joga no Mundo das Trevas por anos sabe bem que a Morte é algo trivial e costuma ser o começo de uma outra existência, mas isso em uma ótica ocidental que percebe esse "espaço" da morte como castigo ou redenção. Em Múmia: a ressurreição a pessoa ressuscitada pelo ritual da vida (É galera, não é tão fácil assim se tornar eterno) tem um caminho longo para cumprir sua missão e ela passa longe do que estamos acostumados aqui herdeiros da cultura helênica.
Muito do livro destaca Múmias Egípcias, Sumérias, de povos do Oriente Médio, Asiáticas e uma pequena nota para as de povoados Ameríndios como Incas e Chichorros (Chile), cada uma com sua especificidade, guarda e memória de suas culturas e transição para o mundo moderno.
Temas como adaptação ao mundo moderno, luta contra preconceitos anteriores (Na vida da alma antiga, da vida anterior à Morte da pessoa), a busca pela própria identidade, se livrar de tudo aquilo que atrapalha a missão - as Leis de Maat (Deusa egípcia que personifica a Verdade e a Justiça) - para proteger a Humanidade seja lá do que seja - no Mundo das Trevas tem vampiros, lobisomens, fadas, fantasmas, demônios e gente tipo o Blade e a Buffy, logo é necessário algum ser sobrenatural pra botar essa bagunça cósmica no Equilíbrio.
O que me chamou atenção para esse cenário de RPG que amo tanto?
Transição.
De uma alma antiga para uma moderna, o se adaptar, se acrescentar, se moldar para criar essa nova pessoa disposta a se arriscar para manter um certo Equilíbrio no mundo em que habita.
E porque foi o único jogo que me deu possibilidade de mexer com os papéis de gênero com tanta aproximação a minha realidade.
A seriedade com as culturas antigas orientais também me pegou de jeito, pesquisar intensamente sobre o Egito e todo o panteão de deuses, personalidades e formas de se enxergar a Vida, a Morte e o Pós-Morte foram fundamentais para eu não ter mais parafusos soltos com algumas questões terrenas aqui da vida real.
Recomendado apenas para pessoas acima de 18 anos e com um discernimento de que é um jogo interpretativo e que pode sim levantar reflexões mais profundas - afinal é esse o papel da Literatura e da Ficção, não é meus amores?
Alguns seriados/filmes que encontrei traços dessa proposta do RPG e que recomendo:
📺 Forever, uma vida eterna - Morgan, o legista protagonista é um Imortal muito parecido com as características que o jogo coloca.
📺 Penny Dreadful - John Clare/Calibã e Dorian Gray são um dos exemplos já na cara, mas eu sempre vejo Vanessa Ives como uma sefekhi fodástica de poder inigualável.
📺 American Gods - deuses antigos interagindo com o mundo moderno? Tudo que Múmia se propõe para discutir Imortalidade, relevância e poder.
📺 Daredevil - Sim, consigo ver um tiquim dessa dualidade gritante, as duas almas, as duas convicções do que é "certo e correto a fazer" no diabão da Hell's Kitchen.
📺 Doctor Who - preciso dizer algo? TODOS os protagonistas do seriado REGENERAM o tempo todo!!
📺 Wynonna Earp - o personagem Doc Holliday é um exemplo bom de múmia em transição
🎥 Assassin's Creed - ao conceito do game TODO passa por memória, lembranças escondidas no DNA dos descendentes de pessoas lá das antigas (Grécia Antiga, Egito, Itália Renascentista, Caribe Pirata), coo não matutar que o cenário de AC é um imenso e virtualizado mundo de Múmia encontrando Mago: a Ascensão (Outro título do Mundo das Trevas que é fooooooda!!). Aquele aviso básico: Fazzie é um ator awesome, mas a adaptação é péssima.
🎥 O Corvo (1994) - eu tenho total certeza que a equipe que escreveu o livro de RPG de Múmia: a ressurreição terminou de ver esse filme e "OMFANÚBIS PRECISAMOS ESCREVER UM CENÁRIO SOBRE ESSE FILME!!" - é o mais perfeito exemplo para o cenário e é isso.
🎥 Highlander - Eis aí a explicação para o verdadeiro Imortal do McLeod e aquela contenta com o carinha lá. Só pode haver um? Sei não, tio, acho que é preterimento demais querer ser a única Múmia da Escócia e achar que tá bem na fita.
🎥 Múmia (1999) me faça um favor e esqueça dos outros filmes, esqueça da única múmia que aparece (Imotep, sua gloriosa história toda ferrada em um único filme) e apenas fique atento à ambientação de um Egito da década de 20/30.
Nenhum comentário:
Postar um comentário