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22 fevereiro 2014

[conto com angie] tagarelando com moribundos

[cenário: porta dos fundos de algum hospital público instalado ali perto do Posto 2, entre a praça dos bombeiros e a avenida enorme da Metrópole.]

Um senhor varria devagar o pátio cheio de ambulâncias pegando poeira e fuligem, carros de marca importada e cestos de lixo hospitalar, quem ouvia era uma menina vestida como um acidente de carro, toda ao avesso, maquiagem pesada em uma máscara disfarçada para a noite urbana naquele lugar tão disputado pela boêmia. Ela o ouvia atentamente porque sabia que o senhor de estatura baixa - ombros curvados pra dentro, barriga saliente em um corpo magérrimo, de uniforme azul desgastado pelo uso e vassoura de piaçaba nas mãos de dedos longos e fortes - falava a verdade. Pela primeira vez em sua curta vida, alguém que falava a verdade sobre uma Realidade que ela imaginava que todos estavam usando truques para desafiá-la.


30 agosto 2013

[Projeto Feérico] Trecho nº 3 - Estrelas estão no chão

A conversa não era tão amena como costumava ser. Havia aquela sensação de urgência disfarçada, às vezes palavras escapavam sem poder se conter. Na maioria das vezes era melhor respeitar o maldito silêncio que pregavam do que ter uma conversa amigável.
 - Andas muito quieta. Aprontando alguma? - a voz ao seu lado a fez sair dos pensamentos difusos que tinha para o próximo plano. Não era tão arriscado, mas precisava ter certeza que nada sairia errado. Não desta vez. Havia muita coisa nas entrelinhas para alguém perceber no que realmente aquela caçada a quimera-ônibus-escolar realmente significava. Ela fora o começo, e pelo jeito seria o fim.
 - Não que eu saiba... O clima não tá muito bom pra travessuras... - respondeu apenas abanando a cabeça com uma das mãos enluvadas.
 - Perdes um pouco do brilho quando o Inverno chega.
 - É esse vento frio chatonildo... Não gosto de ficar tremendo que nem vara verde... - o homem ao seu lado riu baixo, como se estivesse esperando aquela exata resposta. Tudo com ele parecia ser tão esperado e constatado, ele sabia de absolutamente tudo sobre ela, e ela apenas sabia que seu Dom da Sina não adivinhava nada sobre ele. Deu de ombros, não poderia reagir de outra forma. Quando criança ainda tinha fôlego para discutir sobre os encantos e adivinhações enigmáticas do Mestre, agora que passava para a vida adulta aprendera a escolher bem as palavras com algumas pessoas. Os dois mirando a escuridão do céu limpo do Inverno na Metrópole era como um ritual de entendimento solidário e solitário. Cada um em sua forma de se expressar carinho. A aprendiz cobriu a cabeça com o capuz felpudo de seu casaco, soltou um suspiro de frio e viu a condensação do ar formando em volta de seu rosto pálido, gostou do que viu. - Cê acha que vai nevar?

04 abril 2013

[Projeto Feérico] Trecho nº 2 - O Caminho do Fio de Prata

[começo da saga dos Eshus Ângela e Stardancer - para uma breve apresentação da interação dos dois viajando em um Trod desconhecido, esse foi um exercício de escrita muito bom para mostrar os lados emocionais e racionais de cada um. Angie tem no máximo 11 anos e Stardancer está cuidando dela por 2 anos]

A trilha no meio do nada era escura e nevoenta. O calor que subia da terra escura e fina fazia com que seus passos ecoassem de maneira assustadora. A mão que pousava em suas costas miúdas demonstrava que era para ela seguir a frente, mesmo que não houvesse luz alguma para orientá-los. O fio de prata que surgia aqui e ali era a guia temporária para que pudessem fazer um percurso seguro e sem problemas e sempre havia problemas em caminhos como aquele.

A cada barulhinho diferente, um chiado esquisito, uma pedrinha que era chutada sem perceber, tudo era razão para que seu Mestre Stardancer sair do modo enigmático para desferir um olhar feroz para a escuridão. Mas nada acontecia de fato, apenas o fio de prata, a estrada vazia e os dois caminhando cuidadosamente. Ângela se sentia inquieta. Não por estar na presença de alguém tão sábio e aventureiro como Stardancer, mas sim por estarem tanto tempo em silêncio. O Mestre não falara nada para onde iriam e como chegariam seja lá qual fosse o destino, Ângela não estava acostumada a isso, não em sua pouca idade quando era a Fome que se encarregava de guiá-la em praticamente tudo em sua curta vida.

Outro olhar feroz para o nada quando ouviram um arrastar na terra escura. Um escorpião quase transparente, de cauda pulsante passou por eles como se nem os visse. A curiosidade infantil e inocente fez o corpo de Ângela trocar os passos e seguir o caminho do escorpião. A mão antes guiava a deteve com uma força sobrenatural. Ela não exprimiu a surpresa e a pequena dor que sentiu ao ser puxada de volta para o caminho do fio de prata, mas lançou um olhar de estranhamento e questionamento para o Mestre.
- Não desvies de teu caminho, little girl... Somente os teus passos é que desvendam o Caminho de Prata... - após isso o silêncio se restabeleceu novamente, mas agora a sensação era diferente da confusão de não saber para onde estavam indo: Era a notória provocação que a impulsionava a perguntar coisas que não deveria.
- Para onde vamos?