Era uma bela manhã de começo de semana. Tudo estava certo e sob controle. Os passarinhos cantavam, o sol brilhava pálido em um céu coberto por grossas nuvens de uma possível chuva para a tarde. Dava pra ouvir o ruído incessante do mundo revolver a terra, o ar. Com uma banana já machucada do tempo guardada e deixada em cima do tampo da bancada, não percebeu que o dia começaria com vida. Seis na verdade. Pequeninas vidas cobertas de pelos, da mesma classe mamallia, ordem primates, pequeninos em suas constituições, vorazes no devorar a pequena banana meio amarela, meio preta. Comida afinal.
O menorzinho era o que arrancava mais pedaços, ávido pelo alimento, por não querer passar mais fome, não se sabe o que se passa na cabeça de primatas irracionais com um nome científico tão diferente. Era manhã ainda, as cascas detonadas retiradas, despojos do banquete dos seis atentos a qualquer outra oferta de alimento. Melhor fechar a janela para não entrarem em lugar que não pertence a eles.
A cada janela fechada, um olhar curioso. Os cinco maiores em volta do pequeno, como uma proteção na couraça daquele que deveria receber mais atenção para seu crescimento.
Todos nós crescemos algum dia.
Uns com proteção de cinco poderes.
Outros com a repreensão de cinco carrascos.
Era para ser uma manhã normal, café passado, mágoas internas a remoer, aquela frase mal escrita que ruminada várias vezes causa indigestão em sua entoação. Tudo funciona maravilhosamente do lado de fora, esse sistema de fingimentos tão elaborado.
Um belo teatro de tragicomédia que ninguém quer admitir que também já foi ator.
A primeira pedra no teto de vidro é jogada por seres racionais, nada de micos em busca de bananas meio apodrecidas. O que chamam de gatilho entre os meios de proteção, se torna vergonha, humilhação, doença. Onde foi que o erro começou?
É assim que nos observam na maior parte do tempo.