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15 novembro 2016

[os escorregadios] apegos e afetos

Título: Apegos e afetos (por BRMorgan)
Cenário: Original - Projeto Feéricos.
Classificação: PG-13.
Tamanho: 2.985 palavras.
Status: Completa.
Disclaimer: Esse conto faz parte de algum rascunho perdido meu do Projeto Feéricos que vocês podem ver os pedaços sendo costurados aqui nesse post [x]
Personagens: Raine (aqui chamada de Myrna Reyners), Kristevá Todd



O afeto não era de agora, o conforto de ter um corpo tão perto do seu era familiar, como se aquele momento ali já houvesse disso escrito em algum lugar. Acariciou de leve os cabelos revoltos da pessoa a sua frente, esparramada no sofá maior, ressonando a respiração calma e pausada de sempre. Se acostumara a ouvir esse ritmo desde muito tempo, quando a vira pela primeira vez, dormindo como pedra dentro do vagão de metrô do Arges. O rosto havia mudado muito, a aura tão caótica e confusa também, uma criança domesticada com remédios, tratamentos psiquiátricos, rasurada e esquecida em algum quarto daquele maldito lugar que sugava os sonhos de quem entrava.

Como deixara isso acontecer?

Ela, ou ele, não sabia como denominar mais com quem lidava ali a sua frente, não parecia ser daquela época, alguém deslocado do tempo-espaço, colocado em um corpo que às vezes mostrava que não encaixava na normalidade. Muito confuso para a lógica tradicional de Raine.

Em seus lindos anos em Hibernia, Raine achava que sua vida fútil e cheia de caprichos na Corte a deixariam anestesiada quanto as frivolidades emotivas das donzelas medievais. Acostumada a fugir de qualquer aspecto romântico de sua vida - coisa essa inventada por malvados deuses desordeiros para atrapalhar a vida dos seres vivos - se refugiava solitária nas florestas densas de sua terra Natal ou em incursões nas cavernas de gelo abaixo da grande costa congelada no litoral das terras afastadas do Clã do Profundo Inverno. Estar sozinha era a opção mais acertada em sua vida milenar, e também a mais divertida. Trocar essa sensação de liberdade - o espírito livre de uma folha que se solta da árvore mais frondosa e segue um rumo sem destino - era uma heresia em sua conduta pessoal de viver no mundo dos humanos. Não trocaria isso por nada e nem ninguém.

Até ver que não era necessário trocar sua ética a favor de algo ou alguém. Era apenas se deixar sentir.

Os companheiros de caçada entendiam seu lado aventureiro, sua veia estratégica, sua liderança nata, mas não compreendiam que debaixo das camadas que acobertara pra si residia aquela menininha feérica que adorava ouvir música dos menestréis e apreciar o nascer do sol. O de respirar fundo a atmosfera em uma lua cheia, corpo aquecido por uma fogueira tímida e um jarro de vinho. O dançar sozinha debaixo da torrencial que assolava as divisões entre os reinos sei e o deles.

Kittie sorriu rápido em seu sonho pesado, isso distraiu seu pensamento dos tempos de outrora. Às vezes isso acontecia quando Raine estava por perto, mesmo quando acordada. Prince havia advertido como Kittie a observava quando ninguém prestava atenção, como isso era corriqueiro, pois ninguém se importava com pessoa esquisita que acordava todos os dias em um banco dos fundos do hotel sem saber como chegara ali. Depois foi Angie, explicando que a vida era uma imensa balança de pesos diferentes. E que a paz no sono de Kittie era o pior dos pesadelos no mundo real. Óbvio que entender o que a menina eshu falava era perda de tempo: Angie nunca entregava informações sem haver uma negociação de valores (No caso dela: comida).

Seus dedos caminharam cautelosos pelos cabelos revoltosos, impregnados com grãos de areia da última aventura, rosto não mais transparecendo a dor interna. Kittie parecia ser mais feliz dormindo e sonhando. E isso deixava Raine particularmente infeliz.

Pois se era nos sonhos que Kittie encontrava paz, era exatamente lá que Raine não queria mais habitar. Estar no Sonhar era se sujeitar as regras esquisitas da Corte, das ordens dos elderes, de ter que fazer seu papel odioso de futura monarca mais importante de todo mundo feérico. De ser quem as pessoas queriam que ela fosse, não quem ela realmente era.

Mas Kittie era feliz dormindo. Único lugar de paz e segurança. Com o que ela sonhava, Raine já sabia de cor, mas viver uma ilusão permanente é mais doloroso que acordar para uma vida de sofrimento.

- Eu gostaria de te livrar dessa dor...

10 outubro 2016

[conto com angie] - alantakun (trecho)

Título: Alantakun (poBRMorgan)
Cenário: Original - Projeto Feéricos.
Classificação: PG-13 (Algumas palavras ofensivas).
Tamanho: 1840 palavras.
Status: Incompleta.
Disclaimer: Esse conto faz parte de algum rascunho perdido meu do Projeto Feéricos que vocês podem ver os pedaços sendo costurados aqui nesse post [x]
Personagens: Angela, Quentin, OC: prodígio.


A minha cabeça dói.
Não chegou a explodir, porque isso é lá do outro lado. Tá difícil compreender os esquemas desse Principado.
(Ops, rimou.)

Oh ótimo, estou fazendo versinhos enquanto soterrada numa montoeira de rolos de fita cassete. Pra que mexer com prodígios afinal?! Deixa os cabras quietos e finge que nunca viu. Bem fácil assim, ninguém se machuca, ninguém se atrasa. E eu tou mais que atrasada.

Atrasada duas horas se deixar, mas hey! Rolos de fita cassete, é quase irônico ver em como estou até o pescoço enrolada nessas coisas. Esse mago deve ter um senso de humor ótimo pra planejar essa antes de bater as botas. Queria ter conversado mais com ele, mas já que Quentin levou a porrada maior, tou tranquila. Aquele ogro precisa aprender que há sempre espaço para a linda diplomacia em casos assim. Não necessitava chutar o traseiro do velho enquanto fazia as perguntas.

Quentin é um bundão. E eu sou covarde. Que dupla dinâmica.
(Quede nossos uniformes? Exijo um collant lotado de paetê e purpurina! Sambar na cara da sociedade feérica!)

Uma coisa que aprendi com aquele maluco foi que ter paciência é tudo na vida, tou praticando isso agora, literalmente soterrada por material nostálgico dos anos 80 manjando dos entrelaçamentos. Paciência é uma virtude, monamu, paciência te leva a lugares inesperados.
(Meu traseirinho machucado que leva sim.)

O maluco não disse pro Q que ele deveria se manter calmo o tempo todo, a consequência é essa agora, nesse exato instante, em que no canto do olho vejo o aprendiz original de Stardancer sendo chutado, bem certeiro no rosto.

Yep, botas com bico de metal frio.
Yep, ele deve estar vendo estrelinhas agora. Ou patinhos de borracha.
Depende do nível de delírio que aquilo deve causar.
E yep, eu devo ser a próxima a sentir aquele treco gelado sendo pressionado na minha cútis de neném. (Não quero estragar a maquiagem, estava tão linda quando saí!)

O som da bota fazendo outro baque, dessa vez nas costelas do Q.
Velhote burro, todo mundo sabe que um ogro aguenta ser sovado até virar mingau.

O que muitos não sabem que o ogro do Q é uma versão melhorada e mais cheirosinha que aquele dos desenhos animados (Sim, aquele do pântano em lugar nenhum e que casa com uma princesa que vira ogra também e são felizes para sempre com um quadrúpede tagarela? É bem legal essa história, morro de rir com as piadas internas, sinceramente acho que vou ver o filme de novo quando sair daqui. Quando eu sair daqui. Se é que dá pra sair.).

Diferente dos contos-de-fada que o mainstream adora colocar na rodinha, Q continua sendo canibal (Nunca deixou de ser!). E com uma leve obsessão por cabeças. Tipo, para penduricalhos. Ou para encolher. Acho engraçadinho cabeças encolhidas e colocadas em garrafas, elas ficam com essa expressão risonha e imagino se falam fino e talz... 

[conto com angie] os poucos que choram


Título: os poucos que choram (por BRMorgado)
Cenário: Projeto Feéricos.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 1037 palavras.
Status: Incompleta - 1/?
Resumo: no começo tudo era diferente, e continua sendo mais confuso ainda quando se cresce.
Disclaimer: Esse conto faz parte de algum rascunho perdido meu do Projeto Feéricos que vocês podem ver os pedaços sendo costurados aqui nesse post [x]

Trilha sonora: The Cure "Boys don't cry".




===xxx===
O almoço inexistia, nem o chá das cinco, aquele lanchinho da tarde esperto, muito menos alguma coisa entre a manhã e a noite. Era como manter vigília por tempo demais, seu corpo infantil não aguentaria muito tempo, com certeza aquele médico do posto estava certo, sentir o estômago corroendo algo dentro do seu próprio corpo fazia parte de sua rotina desde criança, mas aquele dia estava tenso, muito tenso.

Sentou no meio-fio olhando o que conseguira no caixote perto da lixeira do restaurante chique do centro de uma cidade qualquer, um pedaço feio de carne com arroz e feijão encrustado em uma placa meio congelada em volta. Era tentar ou tentar.

Verificou o cheiro da carne, passável, tocou a textura da mistura, comível.

Abriu a sacola de supermercado que pegara no Posto 2 e depositou seu tesouro do dia ali. Se tivesse sorte - e o sol forte ajudasse - chegaria debaixo do viaduto e esquentaria uma marmita com o que conseguira hoje.

Agora era passar um tempinho na rua pedindo para ver se alguém liberava umas moedas para comprar refrigerante morno no barzinho do outro lado do Posto 2.

Era um dia especial, oras! Conseguir carne na lata de lixo era difícil, tudo bem que a gororoba acompanhada não parecia tão feliz, mas agradecia muito a Sorte por conseguir finalmente pegar um naco mais parrudo de carne.

Hoje era o dia. Um grande dia!

16 agosto 2016

[contos] a moeda, a balança e a foice

[escorregadios - a moeda, a balança e a foice] por: @_brmorgan.
Cenário: Múmia - a Ressurreição (Mundo das Trevas).
Classificação: 16 anos (morte, distorção de convenções morais, violência)
Resumo: O primeiro alarme foi dado, sutil, com um leve vibrar, logo as marcas na areia, a presença esmagadora, o silêncio, a sombra escurecendo cada pedaço daquele local, a foice, o manto, o corte, o peso, a pena, o coração, o julgamento, tudo em poucos segundos.

Trilha sonora para esse capítulo:



O clube estava lotado, som reverberando em todas as superfícies, giros de feixes de luz, incontroláveis no pulsar da música de baixo grave, a voz arrastada do vocalista levava a melodia, a pista, corredores e bar cheio de gente espremida, cada um em um universo individual de prazer momentâneo e simultâneo.

O som do tiro não foi ouvido, ou o baque do corpo esvaindo de vida. Os passos apressados, a corrida em fuga pelo delito maior, a respiração fraca de quem deixava a paz da eterna amiga encontrar seu semblante.

Morrer não era novidade para um escorregadio. Eles costumavam levantar dos mortos como se nada tivesse acontecido e faziam o que tinham que fazer. A poça de sangue e fluidos manchava agora o tapete caro da gerência. A arma usada caída ali perto, única testemunha da atrocidade feita. Um único tiro no meio do peito, furando um pulmão em poucos segundos inundando vias aéreas e cobrindo órgãos internos com a viscosa substância que ditava a vida e a morte de qualquer ser no universo.
Ninguém ouvira ou sabia o que acontecera e pelo jeito como a noite estava agitada lá fora daquele escritório, as chances de se encontrarem o cadáver frio ali era mínima até o dia seguinte na manutenção.

O cano da arma ainda se encontrava quente, cartucho da bala perdida em algum lugar do espaço, gelado pressentimento de que se mexesse seria esforço demais. E nas atuais condições não poderia arriscar. Deixou o morno virar frio, coagulado, podre, ter a certeza de que sua vida escapulia de sua percepção aguçada era comum. E quando não era?

Olhos sem vida que agora enxergavam o infinito das areias de Duat. Não acreditava mais nessas baboseiras egípcias de "vida após a morte" - apenas se incomodava por não poder entrar no portão da cidade bonita. Gostava de olhá-la de longe, quando ainda era pequena, escondida entre o céu e o Mar cristalino de onde morava, entre um passeio e outro na neblina. A cidade bonita estava ali, sempre a esperar, com seus habitantes silenciosos e o porteiro sombrio.

A tempestade nunca a deixava entrar. A tempestade sempre estava em seu caminho entre o corpo caído ao chão, quase transparente por não ser visível ou palpável para sua alma (alma, sério isso? Os cristãos estavam certos?) alcançar. As alternativas era juntar o que tivesse por perto, socar uma alma perdida qualquer e conseguir a restauração do corpo físico que precisava. Às vezes demorava quando era algo sério (aquela vez do 9° andar e as lâminas afiadas de um sanguessuga foram as mais demoradas. As outras, essas não lembrava mais), mas nesse caso era apenas saber a palavra certa, a entoação certa, e pronto. Novinha em folha.

Bala no pulmão, certo. Estudara fisiologia como doida na faculdade, sabia que calibre de 9mm causava ferimento fundo, mas não deixava bala atravessar. O ruído ensurdecedor da tempestade, logo ali perto dela, não atrapalhava sua concentração, fechou os olhos por um momento e tentou visualizar todo seu sistema respiratório, a bala estava entre a pele e o tecido grosso da jaqueta, o tiro fora perto para obrigar o projétil cortar carne, tecido, músculo. Ótimo, menos tempo de espera.

Ao abrir os olhos viu o que costumava acontecer quando um dos seus - os escorregadios - aparecia perto da tempestade. Algum bicho-papão espreitava o corpo físico lá do outro lado para arrastar para dentro do turbilhão de areia, vento, destroços e almas (sério mesmo que esse papo metafísico era realidade? Ainda não conseguia entender como aquela coisa de juízo final, Apocalipse e inferno e paraíso poderiam se concretizar naquele lugar). A oportunidade estava bem perto, a criatura desengonçada, humanoide, disforme e contorcida em seu próprio sofrimento primitivo farejava a carcaça deixada lá do outro lado do véu, mais um pouquinho e teria a chance de...

- Puta que pariu, que merda que cê fez pirralho???? - ouviu a voz estridente do outro lado e conhecia a droga da voz. - Cê matou ela!!!!
- E-eu n-não sabia que...  Ela chegou cobrando a moeda do Bispo!! E a ordem é não...
- Foda-se o Bispo, cê sabe com quem cê mexeu, seu merdinha?! Quando essa porta levantar vai vir direto no teu pescoço!! No nosso pescoço!!
- Foi mal chefia, eu não sabia!!! Atirei porque ninguém chega perto das relíquias do Bispo sem levar chumbo!!
- Merdamerdamerda!! A gente tem que se desfazer dessa coisa antes que...
- Alguém pode me dizer a demora pra pegar uma simples moeda? - essa voz também conhecia e sorriu para si mesma ali atrás do véu. Daria tempo para pegar carona com a criatura, roubar a moeda, recuperar o corpo, mamão com açúcar. - Ah não... Não-não-não-não.... Vocês não fizeram isso...
- Foi culpa dele!! Esse idiota atirou!
- Eu não sabia, porra!! Ela tava com a mão nas coisas do Bispo!! - um grito histérico anunciou o fim da desculpa que o rapazinho de mãos trêmulas e alto por cocaína estava tentando dar.

A criatura disforme tentava vasculhar seu corpo pelo coração, não acharia nenhum nem que se pedisse muito, já o segundo corpo decomposto e coberto de raízes sufocantes chamou sua atenção, a distraindo do verdadeiro banquete. Essa era a hora. Retirou de dentro da boca, puxando lentamente o cordão dourado de grilhões antigos alojado em algum lugar na garganta, um souvenir que aprendera usar para casos como aquele. Quando terminou de regurgitar a ferramenta, enlaçou no pé do cadáver recém chegado, e com um puxão bem dado levantou a "alma" do pobre coitado. O garoto de menos de 20 anos levantou num susto, cuspindo areia e gritando tão alto que o ruído da tempestade não sufocou o eco. Era sempre assim quando um novato chegava. A criatura grunhiu de prazer, um novato era mais apetitoso que uma alma antiga como ela, esperou a isca se recompor e deixou que a criatura pulasse em suas costas para parasita-la como sempre faziam.

A garra aprontava adentrar no peito do jovem morto, o coração seu destino, o tesouro mais cobiçado naquela terra maldita do Além. O primeiro alarme foi dado, sutil, com um leve vibrar, logo as marcas na areia, a presença esmagadora, o silêncio, a sombra escurecendo cada pedaço daquele local, a foice, o manto, o corte, o peso, a pena, o coração, o julgamento, tudo em poucos segundos. A criatura disforme da Dja-ahk foi ceifada de sua existência, deixando para trás um pedaço daquilo que fora anteriormente, um pequeno frasco prateado de relíquia que nas mãos certas (as suas) seria de grande valia para retornar sem ter que passar pela balança.

O seu duplo tenebroso, uma versão pálida e ossuda com mesma aparência surgiu por trás daquele que nem deveria dirigir o olhar. O Porteiro sempre olhava de cima para baixo, e nesse caso seus olhos pousaram no frasco, no duplo, na balança em sua mão. Eram duas opções, deixar o maldito fazer a pesagem ou pegar o frasco e barganhar. Como era péssima nesse tipo de negociação, fez o que sua mente afiada mandava, jogou o frasco na direção do duplo, atraindo a atenção do julgamento para ele (Por todos os deuses profanos, essa era a sua parte ruim? Sua triste existência enjaulada em um ritual macabro dos antigos para viver e reviver para todo o sempre? Era mesmo aquela coisa ali, sem motivação, poder, felicidade, amor? Como poderiam deixar que...).

 - A moeda, Kittie... - murmurou alguém em seu ouvido. E era tão cristalino que pensou por um segundo que estava sonhando com tudo aquilo. Um horrível pesadelo que parecia não ter fim. O porteiro levantou a foice e a balança simultâneamente, indo em direção de seu duplo, a Sombra que todos os escorregadios temiam que controlasse finalmente suas consciências. O ceifador era o Guardião de todas as almas, mas com os duplos Ele era implacável. A mão da balança pesava o coração e a pena, e a garota que fugiu de seu próprio funeral não tinha coração algum para ofertar ao Porteiro.

Os segundos entre o movimento da balança e da foice foram longos, uma ideia veio de muito muito longe, algo de alguma vida anterior a qualquer uma de suas vidas, com o cordão dourado se atreveu a fazer um delito (Já estava sendo punida por tantas coisas que esquecera mesmo o que mais poderia ser danada nesse circo de horrores do Além-túmulo): laçou um dos braços do Porteiro e esperou que ele derrubasse a balança nas areias, o puxão brusco do cordão atrasou o movimento do corte em seu duplo, e também fez com que o cretino se afastasse como o covarde que era, correndo em direção da onde estava o que realmente queria.

Se bem conhecia a si mesma, o seu maior medo era de ser pega pelos monstros de sua imaginação, aquele ser majestoso e sombrio em sua presença era um deles, povoando seus sonhos desde pequena e cercando sua cama no Hospital onde se encontrava em coma há anos. O Ceifador aguardava sua nova aquisição nas tropas, mas ela, oh não, ela não se deixaria levar. Não quando sabia o que o Destino reservara para sua pessoa.

Enquanto o seu duplo se perdia nas areias, o Ceifador notou o deslize, a traição, o delito. A balança em sua mão não caíra, a foice na outra estava mais firme. O silencioso carrasco deu dois passos em sua direção e com um leve bufar quente de seu focinho canino, ele a pegou pelo pescoço e a içou até ficar na altura de seus olhos impiedosos. Não havia como escapar do Julgamento. Não mais.

Esta seria uma boa hora para o timing perfeito da velha bruxa. Se ela realmente sabia o que estava acontecendo ali embaixo, por que não agir logo?

A não ser que ela havia desistido da moeda.
A não ser que ela havia desistido do pacto.
A não ser que aquela impressão estúpida de que finalmente encontrara alguém que pudesse se abrir era apenas... ilusão?

A mão da balança agora a esganava, espremendo seja lá o que fosse de sua essência, uma agonia horrenda de se descrever com palavras, uma dor que superava qualquer coisa que seu corpo já sentira, a balança pesaria seu coração que não estava ali. Não havia mais escapatória.

Antes de sucumbir a escuridão, ao silêncio e ao final de sua existência como uma pária entre os escorregadios, ouviu o arfar suave ganhando seus lábios, soprando ar quente para dentro de sua garganta, enchendo seus pulmões, a enganando mais outra vez que a Vida era maior que a Morte, não adiantava o que o ceifador fizesse, era sua sina voltar e voltar e voltar até o final dos tempos. o tilintar de uma moeda pesada de cobre perturbou seu crânio, sua língua seca sentiu o formato do objeto, redondo, em auto-relevo, coberto de uma fina camada de poeira e terra úmida. A moeda estava ali agora, onde jamais deveria ter saído.

Seu duplo tenebroso, acovardado, voltara a ficar atrás do Porteiro. Temendo para o resto de sua existência patética o Julgamento, a balança, a pena e o coração. Babaca: que continuasse ali. Não era de grande serventia em sua vida terrena.

Seu corpo frio e rígido deu uma guinada para frente, em um espasmo brusco, contraindo e relaxando todos os músculos de seu corpo recém acordado para a Vida. Odiava ter que sentir isso. Por que ao morrer era tão sereno, calmo e gostoso? Mas ao se acordar para a Vida era como receber uma injeção de todas as desgraças daquela caixa de Pandora? Havia algo de errado nessa sensação.

Encolhendo em si mesma, cuspiu a moeda de cobre com um salivar excessivo. O gosto metálico perdurava em seu paladar, sua cabeça explodia de dor com as novas sensações de ter todos os nervos e estímulos ao mesmo tempo. A dor do peito era imensa, a obrigando se contorcer para livrar do estiramento de músculos e dar lugar a sua respiração falha. Como odiava voltar.

Mãos quentes seguravam sua cabeça e um corpo delicado se encontrava acima do seu, palavras de poder faziam o restante do caminho de volta. Por que viver era tão difícil?

 - Pela deusa! Pensei que tinha te perdido! - reconheceu a voz novamente, a mesma que a advertira da moeda e sua missão. Um abraço apertado foi ofertado, colocando todos seus ossos no lugar onde pertenciam. O rosto que roçava seu pescoço suado pelo esforço de voltar estava febril, os lábios murmuravam preces e orações para que a proteção fosse feita. Como se precisasse desse tipo de magia em sua vida. O encontro de olhares, o sentimento mútuo de dever cumprido. A missão acabara inesperadamente, mas a parceria parecia estar perdurando. Teve seus cabelos afastados do rosto cansado, pequenas mechas atrás das orelhas, o encostar de testa com a outra, o suspiro de alívio. - Não faça mais isso, por favor... - pediu a velha bruxa (Que não aparentava ser tão velha assim), seus murmúrios agora se tornando soluços de choro incontido.

Abraçou-a de volta para não deixá-la chorar. Era demais para ela ver a velha bruxa chorando. Suas mangas de jaqueta e blusa ensopadas com seu próprio sangue, encolhidas uma na outra, esperando o momento entre o Acordar e o saber que se está sonhando. Um breve beijo em seu rosto. Era a primeira vez que a velha bruxa demonstrava afeição com alguém.

 - Eu disse que ia conseguir... - disse com a voz embargada pela falta de uso por semanas.
 - V-você conseguiu... - a moeda estava ali, depositada ao chão, úmida de saliva.
 - Tente não duvidar... - riu-se de sua falta de humildade. Mas estranhou o porquê de ser abraçada novamente com mais força.
 - Prometa que jamais faremos isso novamente!
 - Não dou garantia alguma de gente atirando pro meu lado, oras... - riu-se novamente e sentiu um nó na garganta subir sem saber o motivo. Não tinha mais o coração, mas tinha outros órgãos para fiscalizar suas emoções. A velha bruxa (Não tão velha na aparência assim) apanhou a moeda cuspida do chão, colocou em suas vestes e se direcionou para a porta de saída do escritório no clube lotado e barulhento.
 - Vamos, vamos para casa... - a mão ofertada para ela levantar foi aceita, suas pernas não falharam como achava que iriam e caminhou lentamente ao lado da talentosa feiticeira. Apenas alguém com um imenso poder e conhecedora da Vida poderia trazer uma morta-viva no cativeiro do Além de volta.

Não sabia se era sortuda ou mais amaldiçoada ainda por desobedecer novamente as Leis que regiam a cidade bonita no meio da tempestade de areia. Apenas sabia que seguir aquela velha bruxa havia sido a coisa mais acertada que fizera em todas suas vidas.


05 julho 2016

[contos] defiance: o grupo sem nome - capitulo 2


[o grupo sem nome - capitulo 2] por: @_brmorgan.
Cenário: Defiance - jogo e parcialmente alusão ao seriado.
Classificação: 16 anos (morte, distorção de convenções morais, violência)
Capítulos: 2/?
Resumo: Na nova Terra de 2046, um grupo distinto e sem nome vaga pela Paradise (Antes território de San Francisco, EUA) combatendo o Exército Mundial de Coalisão - EMC - por motivos não tão nobres assim.

Trilha sonora para esse capítulo:
Capítulos: [1] - [2] - [3] - [?]


CAPITULO 2

Esfregou as pálpebras até retirar o sono que ali se instalara. 46 horas sem dormir. Mais uma dose para aguentar mais um tempo até a "tropa" chegar. Ajeitou os ombros para trás, não tocou na arma para não desfocar a mira, bocejou para dentro e estalou o corpo devagar em movimentos circulares no pescoço. Mais algumas horinhas e eles chegariam, não tinha nada de surpresa nisso.

Quando uma Arca despencava lá de cima, era prelúdio para o caos naquela parte remota de São Francisco. Junto dos pedaços cobiçados da Arca, vinham centenas de ambiciosos arkhunters atrás de espólios que a maioria desconhecia sua origem, mas que valia muito no mercado negro e nas vendinhas clandestinas de beira de estrada. Junto deles vinham os sabotadores, os 99ers e ótimo... deu um longo suspiro e voltou a se posicionar no coldre adaptado do rifle de longo alcance que montara sozinha. Raiders também estavam à caminho da Arca se desmanchando em sucata e curto-circuitos há uns 600 metros à frente.

Entre ela e a preciosa fonte de lucro fácil tinha apenas um probleminha: um acampamento abandonado e jogado ao léu de antigo abrigo científico. Ali dezenas de corpos putrefatos jaziam inquietos em espasmos regulares devido a decomposição, mudanças de clima, e principalmente a reanimação. A maldição de se mexer com nanotecnologia ou biogenética votanis era justamente isso: nunca se sabia o que raios aquela merda iria fazer com os corpos dos humanos.

Sua missão era simples: montar guarda o mais afastada possível, avistar a Arca que iria cair na próxima lua nova, sinalizar para a "tropa", esperar o reforço e atirar em qualquer desgraçado que viesse de bico no tesouro deles. Se é que era "um deles", tava sendo paga há 1 mês por um cara que nem via os olhos devido ao capacete, mas que garantia a boa comida e a adrenalina do dia. Só não gostava muito de esperar, mas do jeito que a "tropa" era lenta, resolveu sossegar o facho e atirar em zumbis para se distrair. guardar a posição para a Arca? É talvez, mas já tinha gasto algumas balas a mais nos corpos reanimados que se atreviam a chegar mais que 200 metros dela.

19 abril 2016

[contos] entre os livros

Provavelmente será entre os livros.
Assim, final da tarde, recinto vazio, muita bagunça, pouco tempo, invisível atrás das estantes, entre os livros.

Como qualquer dia que seja, vai chegar um belo dia (como sempre belo e será um dia) em que a porta da frente abrirá, a sineta sinalizara a chegada do belo dia, talvez o barulho inconfundível de sapatos sob o piso liso e intocável, ou o rangido esquisito de borracha de solado em contato com a cera do chão, talvez venha descalço (por que não?), o belo anúncio do belo dia no dia mais lotado de sua vida.

Entre os livros, escondida atrás das estantes espiará, descrente, desconfiada, sem muita vontade devido o final do dia, das tarefas acumuladas, das estantes desorganizadas, dos livros espalhados, entre eles olhará sem muita atenção e o belo dia de pés barulhentos na calmaria do caos anunciado (e quantas vezes irás amaldiçoar essa parte do trabalho de final de dia) se apresentará.
Uma vez, com voz tímida, de quem está invadindo território neutro pela primeira vez, sem mesmo saber que aquele local já é demarcado.
(e é, sempre será, espreitar aqueles que ultrapassam as linhas imaginárias entre o balcão e a cadeira de atendimento, das estações de trabalho, dos livros mais preciosos, da área de leitura infantil, do canto da sonolência, entre as prateleiras das estantes para os livros, tudo tem uma marcação bem acertada nesse palco onde atua desde sempre.)

O olhar estreitará sem miopia alguma, espiando a intrusão, desta vez sem medos ou rodeios, ultrapassou a linha imaginária entre o bom senso e a emoção, tá marcada no caderninho de ocorrências. A voz irá ressoar pela segunda vez, mais decidida, mais inquieta, mais inquiridora. Óbvio que estar invisível atrás das estantes não fã com que todos não saibam que você existe.

Por um momento, você discutirá entre a ética profissional e o dever bibliotecário. Irá arrumar argumentos válidos para tentar escrever alguma coisa que pareça plausível, realístico, seguro. É bem provável que seu coração vá descompassar por breves segundos, suas sinapses identificarem a voz como única em toda sua vida letárgica e todo jazz envolvido em amor à primeira vista.

Ou reconhecimento a primeira impressão, sim, esse termo fica melhor no imenso tesauro feito especialmente para separar você do restante da humanidade (estantes, lembra?). A agonia durará poucos segundos, afinal: trabalho é trabalho e sempre vem em primeiro lugar.

O pedido de informação, a busca calculada como é de costume, o papo estritamente acadêmico para não dar muita bandeira. A sensação de euforia ficará lá, pulsando em alguma veia da jugular, as extremidades dos dedos implorando por apenas um toque. E a voz, essa será a primeira e última a ser captada pelo cerebelo, esse órgão tão primitivo.

Entre os livros isso acontecerá, tão rápido e sem chances de repetição (para aperfeiçoar a técnica, não?), quase num improviso, sem idéia alguma do que irá acontecer. E entre os livros ficará para ir a lugar algum,como um título de obra rara será preparado com muita atenção e deixado com todo cuidado em alguma prateleira mais alta.

Assim como num belo dia, o Amor aparecerá em estado puro, pedindo informações sobre qualquer coisa, e você, ah você pessoa tão enraizada nas tuas leis, legislações e normativas: e se será o Verdadeiro, não os testes de antes.

Tudo fará sentido.
Tudo será explicado.
Tudo terá um selo de aprovação em todas as instâncias que estão envolvidas.
O Amor irá pedir informações e você atenderá da maneira mais sociável possível talvez uma piadinha aqui e ali, ouvir mais informações seria perfeito, a voz que encantou também tem o poder de trazer as experiências passadas de volta.

Em um recolher tenso, o fluxo de palavras cessa, a informação conectada, serviço do dia feito.

Assim como o belo dia entrou pela porta, ela sairá também, talvez com uma palavra agradecida, uma promessa por mais visitas ou apenas sair sem dizer nada.

Você, oh você tão chocada com a Sorte do Universo, voltará para atrás das estantes, invisível para todos, entre os livros. Não há nada o que temer, não há nada o que fazer.

A sineta toca no dia seguinte, mas com menos força, com menos determinação, sem a voz, sem os passos barulhentos, sem motivos para se exaltar.

(tiazinha do café? Sim, sim claro)


26 março 2016

[contos] supermercados à noite

Crédito da foto: Alamy
Título: Supermercados à noite (por BRMorgado)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 14 anos. 
Tamanho: 2695 palavras.
Status: Completa. (Ou não)
Resumo: atropelos com carrinhos de supermercado, dietas diferentes e o gosto musical parecido.
Disclaimer: sem nenhum adendo pra esse, provavelmente eu voltar para escrever mais. Como sempre, trilha sonora para essa escrivinhação?



O encontro foi casual, um corredor aí de algum lugar em comum entre elas. Os meio sorrisos de quase reconhecimento, afinal já haviam trombado em algum outro corredor da faculdade, nada muito corriqueiro, horários diferentes, funções diferentes, degraus diferentes. Enquanto uma ficava no térreo procurando as salas de aula do curso do semestre, a outra já tinha sala reservada, uma no quinto andar com todas as comodidades que alguém como ela poderia ter.

Por que não?

Batalhara tanto desde o térreo para conseguir um lugar ao Sol, para quê prestar atenção nos que começavam como ela? Apesar disso causar um tipo de revolta bem na boca de seu estômago quando via os interesses dos mais afortunados - aqueles com bolsas de pesquisa, salário garantido com mais de 5 dígitos - estarem acima dos iniciantes, ela resolvera fazer de conta que essa separação absurda existia. Era melhor assim. Era mais confortável.

21 novembro 2015

[contos] Feéricos - fios emaranhados

[FYI: estava um pouco alta ontem com cerveja de abóbora no sistema circulatório. Saiu isso. Agora relendo, vejo que há um futuro para o rascunho, mas vou arrumar as arestas fora de esquadro aqui, eita... Ps: a cerveja é até gostosa, tinha gosto de canela + cravo + abóbora + pimenta]

Arte: Parisian Cafe/Le Petite Rolleback por S. Sam Park

Título: Fios Emaranhados (por BRMorgado)
Cenário: Projeto Feéricos.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 4230 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Angie recebe um convite para um encontro com velhos amigos. O que ela não esperava eram as novidades serem além do que planejava originalmente.
Disclaimer: Esse conto faz parte de algum rascunho perdido meu do Projeto Feéricos que vocês podem ver os pedaços sendo costurados aqui nesse post [x]



Encontros formais me deixam com vontade de dormir. Escutar a Realeza sempre me deu sono. Os ricões não sabem contar boas histórias, aquelas que deixam a gente sem pregar os olhos por dias imaginando os desdobramentos dos acontecimentos. A magia do contar histórias tá meio mortinha entre eles. O contar dinheiro e posses, beleza, fábulas para a quiançada? Nope.

Bem, são poucos que me fazem sair da Metrópole às 7 da madrugada para aparecer em alguma viela sei lá aonde nesses trods da vida bem na frente de um café com arzinho parisiense. Tou sabendo da agitação esses dias aqui nas quebradas, não gosto de me meter com política feérica, muito menos dar pilha para hobgoblins só esperando uma oportunidade para mastigar os crânios da gente. Sinceramente, entre a brutalidade dos hobgoblins e acordar antes das 7 da manhã, fico com a primeira opção.

(Deuses sabem o quanto é um pecado fazer uma nômade como eu sair do quentinho de debaixo das cobertas em um dia particularmente frio e chuvoso na Metrópole, após dias de intensa investigação furada com os Caçadores de Quimeras. Heresia, eu diria. Mas quem sou eu para professar alguma coisa? Sou só a garotinha do Caminho Prateado, ninguém tem que prestar atenção em mim não.)

Aqui estou eu, me arrastando sem meus saltos 15, mas de chinelos. Não custa nada ser um pouquinho de casa aqui nesse canto do mundo, até porque essa cidade é o ícone do relaxamento fofo do romantismo barato. Eu que não acredito mais nesse tipo de coisa faz tempo, vou preparando as caraminholas da cachola para ouvir o que eles têm a dizer.

Seja lá o que for, deve ser muito urgente.

09 outubro 2015

rascunhos processados - uma menina (era para ser um conto)

Ideias para estórias que acabo deixando para trás. Essa é de fevereiro do ano passado (2014) e ficou mofando nos rascunhos:

Menina amaldiçoada em vidas anteriores.
Toda pessoa que ela demonstrasse amor ou paixão teria uma morte coincidente e engraçada.
Ela não percebe nisso, nem em como é responsável.
Vida passada - amou profundamente um jovem aprendiz, mas não deixou os preceitos de seu covenant influenciarem em seus sentimentos.
Revoltado com a decisão dela, o aprendiz foi morto em uma batalha de feiticeiros, mas antes proferiu as palavras que desencandeariam a maldição.
Jovem aprendiz será a mentora da menina quando ela completar 21 anos.
Tipos de Morte:
# gato na árvore
# crachá preso em caixa
# ser esmagado por estante móvel


Detalhe, última morte listada foi inspirada em uma bela conversa sobre as possibilidades da estante móvel de correr de quase 1 tonelada do arquivo onde eu trabalhava, cair em cima de mim enquanto eu estivesse procurando caixas.

Provavelmente a guria em questão é uma Eutanato.
Com certeza daria um background pra personagem muito bacana em Feéricos.

31 julho 2015

[contos] I ain't leaving

Com prometido há 1 semana atrás - e minha cabeça nem lembrou desse detalhe - a nova fanfiction que ando montando aos poucos.

I ain't leaving (3766 words) by brmorgan
Chapters: [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] /?
Fandom: Original Work
Rating: Mature
Warnings: No Archive Warnings Apply
Additional Tags: Original Character(s), Nova Orleans, Fluff and Smut, Brasil - Freeform, Português Brasileiro
Summary: Sarah escapou por pouco da tempestade que inundou Nova Orleans (EUA) em 2006, já Cassandra tenta ajudar a família que perdeu tudo no furacão em Xanxerê (Brasil). Recebendo a visita inesperada da mãe de Cassandra, as duas são obrigadas a enfrentarem os dilemas de eventos tão parecidos em suas vidas.
Disclaimer: Conteúdo da história pode ser fofuxo, meigo, mas algumas partes NÃO são apropriadas para menores de 18 conforme as tabelinhas de classificação indicativa de filmes/seriados/livros e tudo mais. Então já sabe, foram avisadxs!



27 julho 2015

e enquanto o modem não funcionava

Então isso aconteceu enquanto o meu modem estava batendo um papo com o Barqueiro e não tive receio algum em postar uma história tão normal assim desse tipo. Talvez era o que eu precisava antes de voltar aos projetos extensos - sinceramente já tou perdendo a paciência com o que idealizo e o que realmente foi para o papel, é frustrante!

Essa história foi meio que mastigada enquanto estava dando uma revisada em um velho conto meu chamado Felicidade Adormecida - já devo ter mencionado ele aqui antes - e havia um bloco de notas com os "what ifs" ou "e se" de como a história iria pra frente, mas essa era a pegadinha do conto todo, ele não ia ter final e ficaria pela metade não devido a minha autoflagelação em não terminar, mas de estar comprometida em fazer a personagem principal ter essa interrupção de narrativa, seja lá qual fosse. A Sarah já passeou como secundária em algumas histórias minhas, tanto com a Jojo Ulhoa (A médica-legista hipocondríaca?), tanto em alguns cenários de RPG e afins, ela sempre volta porque está ligada a um fato interessante de se pesquisar - ainda mais minha experiência nada feliz com os derivados do que ela tomava.

Três coisas a se destacar aqui: 1 - Furacão Katrina e em Xanxerê - 2 - Heroína - 3 - Sotaque Sulista.

Foi como juntar todos os ingredientes de dramallama que mais gosto em fics lotadas de angst e jogar aqui. Só espero conseguir ir escrevendo de boas, pelo menos um capítulo por semana, então...


Depois faço uma postagem a parte com a história anexada aqui. Por enquanto é esse trem aí embaixo.

===xxx===

I ain't leaving (3766 words) by brmorgan
Chapters: 1/?
Fandom: Original Work
Rating: Mature
Warnings: No Archive Warnings Apply
Additional Tags: Original Character(s), Nova Orleans, Fluff and Smut, Brasil - Freeform
Summary: Sarah escapou por pouco da tempestade que inundou Nova Orleans (EUA) em 2006, já Cassandra tenta ajudar a família que perdeu tudo no furacão em Xanxerê (Brasil). Recebendo a visita inesperada da mãe de Cassandra, as duas são obrigadas a enfrentarem os dilemas de eventos tão parecidos em suas vidas.
Disclaimer: Conteúdo da história pode ser fofuxo, meigo, mas algumas partes NÃO são apropriadas para menores de 18 conforme as tabelinhas de classificação indicativa de filmes/seriados/livros e tudo mais. Então já sabe, foram avisadxs!

15 julho 2015

[interlúdio] então eles diziam...

Era uma vez alguém que acreditava demais no Amor, mas não confiava nem a pau no bendito cujo.  Originalmente feito para ludibriar os pobres mortais do grande esquema do Universo, também confundia os deuses. Não houve encontro aleatório, não houve "era para ser" ou algo do gênero. Também não existiu afinidade com o desconhecido, nada de Tempo que curava, saudade a ser morta, nada, nada disso. O mais importante, esqueceu de mencionar em seu último suspiro, dez segundos revendo sua vida passar por seus olhos que perdiam a cor:

Não há final feliz.
Apenas isso.

26 maio 2015

[Projeto Reverso] Má Reputação

Título: Má Reputação - parte 2/12. (por BRMorgado)
Cenário: Original - Projeto Reverso.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 1915 palavras
Status: Incompleta.
Resumo: O laboratório está muito cheio para se fazer Ciência.
N/A: Projeto novo na área, Reverso será uma compilação de 12 contos pequenos sobre uma mesma situação, ambientada em um mundo atemporal ao nosso com um grupo de pessoas tentando escapar de alguma catástrofe eminente, o básico de sempre, sabe? E viva os universos paralelos que os sonhos nos proporcionam! Sim, a ordem dos contos está toda embaralhada \o/

SEM TÍTULO [1] - MÁ REPUTAÇÃO [2] - SEM TÍTULO [3] - A GELADEIRA [4]
SEM TÍTULO [5] - SEM TÍTULO [6] - COMO ANDAR DE BICICLETA [7]
A CONTRABANDISTA [8] - SEM TÍTULO [9] - SEM TÍTULO [10]
SEM TÍTULO [11] - SEM TÍTULO [12]

Trilha sonora:



Muita gente. Muita. Estão tocando nos tubos de ensaio que sobraram, tem um escorado na única mesa cirúrgica, rastros de lama por todo chão, se fosse sangue eu suportaria a bagunça, mas reuniãozinha de clubinho justamente no meu local de trabalho?!
 - ... não podemos confiar nos muros do Sul, reforçaram com arame farpado e uma barricada, mas mesmo assim não tem como conter caso façam uma entrada maciça.
 - Pessoas usando vocabulário bonito, parabéns... - eu comento no meu tom menos usual (Aquele cheio de sarcasmo, mais aproximado pra um grunhido de depreciação).
 - Podemos fazer rondas a cada 2 horas, diminuir o tempo à noite.
 - Temos pouco pessoal, não há como fazer isso sem... Ai! Qual é o problema, maluca? - o tapa bem dado com a minha única luva de cirurgia pesada deu conta do recado, o idiota saiu de perto da mesa.
 - Ignore ela, diga-me, como estão as entradas para o metrô.
 - Bloqueadas até então. Tem um túnel transversal que era usado pelos trabalhadores na manutenção de lâmpadas...
 - Mas é apertado e não se sabe onde vai dar. Pode haver...
 - Tá rindo do quê, maluca...?
 - Nada, só uma piadinha infame que ouvia no colégio... - disfarcei a frustração de ter um pensamento insano sobre metáforas de tunéis apertados e a pessoa que me dirigiu o insulto de "maluca" novamente.
 - Mande os catadores lá, dois deles, três dos nossos. se o Russo quiser enviar algum deles, pode deixar. - ouvindo essa conversa me dá um sono imenso de acompanhar, preparo uma cartada boa para afastar aquele grupinho de revolucionários sem noção do meu laboratório, abro o freezer de bom uso e tiro um pedaço daquilo que a gente tanto luta desde o começo dessa bagunça toda. Até onde sabemos, noss país foi literalmente pro saco por culpa desse pedaço desgraçado que seguro com força para não escorregar e jogar na mesa cirúrgica. O cheiro é o primeiro a chamar atenção. Estou protegida com a máscara, avental e luvas, mas eles? Bem, não tou nem aí se eles não estão.
 - GUARDA ESSA PORRA NO CONGELADOR, MALUCA!! - gritou um deles, o mais perto do pedaço e colocando a mão no rosto para tapar o nariz. Os outros instintivamente se afastaram, mãos no nariz ou cobrindo com os tecidos de suas roupas maltrapilhas, a líder da revolução dentro do laboratório não piscou ou saiu do lugar.
 - Pessoal, tudo bem. Não é o que pensam... - ela disse firmemente não tirando os olhos da coisa, um brilho assassino atrás daqueles olhos escuros tão distraidores dos meus pensamentos de dias e infestando meus sonhos à noite. - Ela faz isso pra me evitar sempre quando pode.
 - E sempre funciona. - respondo tranquilamente metendo a faca de cozinha afiada rusticamente pra tentar causar mais desgosto ao grupo. Eu quero ficar sozinha com minhas coisas, preciso do meu tempo sozinha e eles não andam respeitando muito bem as placas ameaçadoras que faço na porta lá fora.
 - Não mais. E então senhores?
 - Catadores, Esquilo, Parafuso e eu podemos ir de boa. Vou ver se o Russo vai querer alguém no grupo.
 - Quanta coragem pra entrar num beco apertado na principal via daquelas coisinhas nojentas... Boa sorte...
 - Vai se danar, maluca... - alguém disse, não sei identificar quem com quem, depois da pancada na cabeça da queda da bicicleta o cérebro não registra mais faces. Ótimo mesmo, não quero lembranças desse povo nem que a vaca tu...
 - Coelho, fora daqui. - a "líder" disse, parece que a coisa ficou feia pro lado deles. os outros que arrastaram os pés do laboratório murmuravam coisas que não me interessavam, estava mais preocupada com o fluxo viscoso saído do centro do pedaço enorme da coisa. Já tinha visto isso uma vez na viagem a campo lá de Agosto e pelo que testamos com os braniacs de lá, é porque finalmente o tempo de manter guardado pra testes e análise havia acabado. Cubro a coisa com plástico usado de outras cirurgias e me desfaço do embrulho colocando dentro do freezer que não funciona. Se começar a feder, é só jogar o caixote ladeira abaixo. Vai fazer diferença alguma.

18 maio 2015

[contos] cobertas e regras - NSFW

Título: Cobertas e regras (por BRMorgado)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 18 anos. (Cenas insinuantes entre mulheres, f/f, menções de BDSM).
Tamanho: 1407 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Algumas regras são acertadas entre as cobertas.
Disclaimer: Conteúdo abaixo do link NÃO É apropriado para menores de 18 conforme as tabelinhas de classificação indicativa de filmes/seriados/livros e tudo mais. Então se não gosta dos temas acima, esqueça, vá ler outra coisa, pule de postagem. Não me culpe de corromper vossa mente ou que fui uma má influência


(Voltando a escrever algumas coisinhas, isso é um bom sinal...)


26 dezembro 2014

[conto] parceiros de crime

Título: Parceiros de crime (por BRMorgan)
Cenário: Original.
Classificação: PG.
Tamanho: 734 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Em uma noite improvável, dois estranhos encontram algo em comum.
Personagens: A menina e um senhor de meia idade.

===xxx===

Começa com um pequeno piscar de olhos, o foco obscurecido pela sala cheia de gente, luzes hipnóticas em todos os tons, o retumbar das caixas de som reverberando junto as batidas cardíacas, a ansiedade toma conta de suas mãos, o andar é apressado entre a massa de pessoas desconhecidas, logo não há escapatória, se isolar em um canto menos povoado é a única chance de se manter bem na saída à noite.

Muitas vezes tentar visualizar o público que a rodeava, como uma completa estranha no ninho, prestar atenção no ritmo das pessoas virara seu passatempo. Ninguém exatamente sabia o porquê de estar tão espremida a parede, bebida na mão, olhos fixos no chão. Às vezes não dá para aceitar as condições em que se vive.

Puro medo de viver? Ou medo de algo mais comum?

Um breve gole na bebida gelada talvez subisse mais rápido que a sensação conhecida de sempre. Já haviam recomendado algumas dicas para se manter em vigília, mas o relógio no celular que sempre vibrava marcava onze e dezessete. Não, não, não... o show nem tinha começado. Seus amigos de palco nem haviam chegado, não faria isso de novo, faria?

Fez um plano dentro de sua mente, esperaria até meia noite. Meia noite era a deadline. Meia noite poderia dar alguma desculpinha esfarrapada e escapulir para um táxi e ir embora o mais rápido possível. Meia noite era a hora. Checando seu celular a cada 5 minutos, o tempo não parecia passar, na verdade achava que tudo havia parado às onze e quarenta e dois. Exausta, sentindo os primeiros sintomas da fadiga, procurou um lugar para se sentar, mas não poderia fazer isso, pois obviamente cairia nas graças de algum deus menor. Praguejou internamente, virou a bebida já não mias gelada de uma vez só. Quase cuspiu parte por ver que o resultado de subir pelas suas veias e ir para a cabeça foi mais acertada desta vez.

Praguejou mais um pouco, certa de que nem deveria estar ali. A banda que prometera dez horas em ponto começar o show estava atrasada cerca de duas horas por motivos de: "Quanto mais tarde, mais enche a casa.", "Não dá tempo pra beber", "O povo precisa tá ligado quando começar, dançar e tal." e outras a mais. Ela apenas estava a lutar contra seu demônio favorito particular. Todo, santo, dia.

Ao seu lado, sentado em uma poltroninha fajuta estava um senhor, vestido para a ocasião, com uma mesma bebida como a sua na mão esquerda, o celular na outra, o olhar apreensivo para frente, o pestanejar inconfundível. O demônio favorito também gostava de aplacar outros poucos infelizes. Onze e cinquenta e três.

 - Esses caras não vão tocar não? - ele resmungou colocando um alarme para soar vibrante em seu bolso. Como uma lâmpada acendendo acima de sua cabeça (E subitamente caindo quase no mesmo segundo), ela entendeu.
 - Cê tá com sono também? - a pergunta dela não foi estranhada pelo desconhecido, mas uma confirmação triste acertou tudo.
 - Isso aqui faz acordar? - ele disse apontando para a bebida.
 - Não, não, já tomei dois desses e nada.
 - E esses caras marcaram dez, né?
 - É... - ela concordou tentando focalizar o palco, uma de suas pestanas estava cedendo pelo sono excessivo.
 - Hey, senta aqui. - ele disse apontando um lugar para ela ao lado.
 - Se eu sentar, você sabe.
 - É, eu sei... - ele retrucou afundando mais na poltrona. Ambos suspiraram ao mesmo tempo. A banda finalmente foi par ao palco, a amiga deveria estar ali na frente do palco, prestigiando os músicos, mas a troca de olhares foi única. Ela finalmente sentou-se pesadamente ao lado do senhor de meia-idade e barbudo.
 - Se um dos dois dormir... - ela sugeriu, ele completou:
 - Cutuca o outro?
 - Arram, isso aí. - os dois apertaram as mãos.

A primeira música estava já no fim, a plateia entoava o coro de músicas já bem conhecidas, o vozerio de conversas altas, a potência dos instrumentos, as luzes. Sentados, um ao lado do outro, um casal de completo estranhos, em sono alto, sem defesa ou tempo de se cutucarem para salvarem a noite.

O demônio favorito ganhara novamente.

Mas antes de seguir para o profundo sonho, a moça deliberou entre muitas imagens entre seus olhos e pálpebras fechadas: parceiros de crime

Sim, encontrara um parceiro de crime.


25 dezembro 2014

[Feéricos - contos para sonhar] os escorregadios: Kristevá Todd

Título: Feéricos - contos para sonhar os escorregadios: Kristevá Todd (por BRMorgan)
Cenário: Original - Projeto Feéricos.
Classificação: PG.
Tamanho: 471 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Diálogo entre alguém e a Morte de triciclo.
N/A: Um pequeno rascunho que veio e acabei deixando de lado. Mas aí depois ao pensar nele, fiquei: hmmmmm acho que vai me servir para a posteridade. [Editando: Atualizado 11/09/2016]
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Eis um corredor extenso de uma instituição qualquer.
Poderia ser de uma escola, universidade, hospital, escritório, o que for.
Antigo é o prédio, velhas são as edificações, enferrujadas são suas portas e janelas, há muita areia acumulada em muitos cantos e rastros por todo chão.
Nesse corredor extenso há uma única porta aberta.

Atrás dessa porta há um armário de limpeza qualquer, com estantes improvisadas com produtos de limpeza, algumas vassouras, esfregões e rodos já desgastados pelo Tempo. Uma enceradeira velha e descascada, galões de desinfetante de cheiro forte de limão, luvas de plástico amarelas penduradas em alguma estante. Sentada ao chão está uma pessoa que podemos identificar como "Visitante".

Do lado de fora desse espaço pequeno, no corredor sem porta alguma a não ser essa, está a Morte, personificada como a famosa ceifadora, vestida de grosso manto escuro, o capuz cobrindo a caveira angular, de protuberantes ossos em alguns lugares da bochecha e mandíbula projetada para frente com grossos caninos, não como uma caveira humana, mas de animal exótico. Sem olhos, ela observa, com sua foice pendurada nas costas, sentadinha em um triciclo infantil de cor rosa choque, encarando a porta como se estivesse ouvindo atentamente a pessoa visitante.
 - Você colocando dessa maneira parece bem mais fácil de entender... - continuou a pessoa visitante para a Morte de triciclo. Sua voz estava abafada por estar no fundo do closet de limpeza, mas isso não impedia do diálogo seguir normalmente. - Desculpe-me, mesmo... Tá tudo bem... O importante é que sei agora, né? - a Morte concordou com o seu capuz movendo para cima e para baixo no rosto cadavérico. - Agora sei o que fazer com o restante do meu tempo.
 - Apenas não se precipite. - avisou a companheira das últimas horas.
 - Não, não irei. Quero fazer direito, eles confiam em mim.
 - Não quer nem pensar em uma escapatória?
 - E por quê eu faria isso? Tem jeito? - a Morte de triciclo deu de ombros, a foice pendurada em suas costas mexeu um pouco.
 - Talvez dê certo. Alguns tentaram.
 - E foram felizes?
 - Infelizmente não sei. Apenas sei que tentaram.
 - Difíceis de pegar?
 - Escorregadios.
 - Não quero te dar trabalho. - um fio prateado escorregou do cabo da foice e foi serpenteando devagar até o fundo do armário, enlaçando calmamente a perna da pessoa visitante. Ela estremeceu sem entender o porquê ter tal laço frio.
 - Nem eu. - estremeceu a pessoa visitante sem saber o que falar. Suas memórias estavam ficando falhas novamente. Tinha pouco tempo agora. A Morte pega impulso em seu triciclo rosa-choque e pneus de plástico desgastados, mas antes que pudesse arrancar, a menina se moveu dentro do armário de limpeza no corredor de extenso de uma única porta.
 - O que acontece se um dos escorregadios conseguir?
 - Fica difícil de prever. Muitas coisas mudam, novos horários, pouco tempo para adaptar a carga-horária.
 - Se precisar de alguém... - a pessoa visitante deu de ombros ao dizer isso.
 - Com certeza não irei te chamar. - respondeu a morte de triciclo, apertou bem as mãos no guidão do triciclo, pedalando algumas vezes no extenso corredor de uma única porta. A menina colocou a cabeça para fora da porta, assistindo a ceifadora ir esvoaçante pelo corredor. Suspirou de cansaço, de tristeza, de impaciência.

Olhou para aquela porta que dava acesso ao corredor. Tudo parecia tão diferente agora que sabia o que fazer. Poderia tentar mais uma vez, não é?

Ser um escorregadio não estava nos planos dela.

Fez uma lista mental do que deveria fazer ao acordar:
Encontrar a bruxa solitária.
Conversar com a ninfa das árvores.
Socar o rosto do marinheiro.

Ia colocar algo a mais na lista, muito importante, não poderia esquecer, algo a ver com alguém que vinha das cavernas geladas quando sentiu a fisgada leve. O fio prateado em sua perna era puxado aos poucos, apertando seu tornozelo, aquilo estava certo? Era para ser... assim?

Seu corpo foi derrubado ao chão com violência e bruscamente, o fio prateado estrangulando o que tinha por dentro, levando o que tinha que levar, deixando apenas um invólucro vazio e sem memórias do passado, de sua missão e de seu futuro.

...

Kristevá Todd teve sua admissão no Hospital da Metrópole aos 9 anos de idade com um diagnóstico inconclusivo entre amnésia retrógrada e forte trauma infantil. A dosagem de remédios aumentou quando completou 13 anos de idade.

Esqueceu da lista.
Esqueceu da companheira das últimas horas.
Esqueceu de saber quem era.

Não sonhava mais.

27 novembro 2014

[conto] ode ao desmemoriado sonhar


Tão cansada desses pesadelos.
Cansada pra caralho.

Dá para manter a concentração depois dessa? Sonhar no loop de imagens que NÃO se precisa realmente relembrar. Bem que poderiam inventar aquela pílula de dissolver memória, não me importaria nem um pouco em tomar um pote inteiro e esperar ficar babando em algum canto por aí.

Tão estressada.

Às vezes eles vêm, como sonhos comuns, diários, triviais, disfarçados daquele arzinho de que são inofensivos e então quase no final, BAM! uma palavra, um som, um cheiro, um registro detalhado de cada falha efetuada na sua miserável vida.

É assim que tem que ser, criança. Fez aqui, se paga aqui.
Bobagem do cacete.

Não vim pra pagar coisa alguma, vim pra aprender.

02 novembro 2014

[Projeto Reverso] Como Andar de Bicicleta

Título: Como andar de bicicleta - parte 7/12. (por BRMorgado)
Cenário: Original - Projeto Reverso.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 1007 palavras.
Status: Incompleta.
Resumo: Alguém se deixa levar por muitos pensamentos em uma varanda de madeira de algum esconderijo do grupo.
N/A: Projeto novo na área, Reverso será uma compilação de 12 contos pequenos sobre uma mesma situação, ambientada em um mundo atemporal ao nosso com um grupo de pessoas tentando escapar de alguma catástrofe eminente, o básico de sempre, sabe? E viva os universos paralelos que os sonhos nos proporcionam! Sim, a ordem dos contos está toda embaralhada \o/

SEM TÍTULO [1] - MÁ REPUTAÇÃO [2] - SEM TÍTULO [3] - A GELADEIRA [4]
SEM TÍTULO [5] - SEM TÍTULO [6] - COMO ANDAR DE BICICLETA [7]
A CONTRABANDISTA [8] - SEM TÍTULO [9] - SEM TÍTULO [10]
SEM TÍTULO [11] - SEM TÍTULO [12]

Trilha sonora:

----------------------
Como é sentir que vai morrer?
É como andar em uma bicicleta após anos sem praticar.
Sério, não é tão difícil assim. Apenas sentir que todas suas forças se esvaem de seus poros, deixando marcas no chão, nas coisas em que toca, nos outros que estão ao seu redor, tudo retorna ao pó quando se vem do pó. Extrema-unção nunca fez tanto sentido para mim.
O pequeno livrinho preto de capa rasgada está em meu bolso do jaleco, não atingido pela torrente suave que vai tomando conta do deck de madeira, o que importa agora as palavras sábias de antigamente? Quase nada, a não ser que minha mão tremendo está involuntariamente querendo alcançá-lo desde que me deixei vencer pelo cansaço, pela fome, pela hemorragia interna sistêmica.
" - Vai melhorar, você só está cansada" - eu convenço o meu corpo dolorido com essas palavrinhas mágicas, logo delibero o porquê não sentir mais meus dedos dos pés e minha visão estar turva. Algo errado está ocorrendo e eu só consigo sangrar até morrer aqui nessa varanda.

03 outubro 2014

[conto] Projeto Feéricos - Nomes

Título: Nome (por @_brmorgan)
Cenário: Original - Projeto Feéricos.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: One-shot ( + 3K palavras)
Status: Completa.
Resumo: Às vezes nomes não fazem diferença na vida das pessoas.
Personagens: Mirela Gauthier, Monique (Mona) Gauthier, mendigo do Arges, Walter McDougal, Philippe Gauthier, Christopher Gauthier.
N/A: Quis imaginar um pouco do cotidiano da família Gauthier da querida feérica Mona e veio dessa forma. O primeiro encontro entre família e enamorados.

Estranho era essa, a criatura humana.

Sentiam pena de si mesmos o tempo todo e quando pecavam à mostra dos outros, precisavam de permissão para conseguir atravessar a humilhação. Indivíduos de todos os tipos de pensamento, conceitos e credos, às vezes lembravam que existiam coisas além deles mesmos e o visitavam na estação.

Os poucos hóspedes de grande risco.

18 agosto 2014

[conto] arrumando o quarto


Título: Arrumando a cama (por @_brmorgan)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: 18 anos. (Angst & sorta of Pain, como sempre, um bocadim de insinuações, linguagem inapropriada).
Tamanho: 2.552 palavras
Status: Completa.
Resumo: Diálogo simples ao se arrumar uma cama.
N/A: Fui embalada pelas vibes Nova Orleans e aproveitei o cenário que já tenho (Felicidade Adormecida, em breve um link prestável) para colocar essa pequena peça de diálogo.

===xxx===
A festa de "reinauguração" foi um sucesso.
Bem se sucesso pudesse ser descrito como um bocado de gente entulhada no andar debaixo, com música improvisada com qualquer coisa que estivesse a disposição, então sim: a festa foi um sucesso.

Motivos para chorar todo mundo tem, para sorrir bastava ter essa turma por perto. No meu caso para me lembrar que eu poderia viver mais um dia debaixo daquele teto sem ter um ataque de pânico fodido e me atirar da ponte da interestadual pra terminar de logo de vez com essa vida de merda que vivia.

(Bem, se pensar melhor, todos nós vivíamos uma vida de merda, sem exceção.)