[opinião expressa sem efeito de professar qualquer coisa ou alguém, apenas estou deliberando o papel da linguagem em nossas vidas e como algumas pessoas insistem em estragar esse exercício bom de se expressar linguísticamente]
Garoto: Não tente entortar a colher. Isto é impossível. Ao invés disto tente perceber a verdade.
Neo: Que verdade?
Garoto: Não há colher.
Neo: Não há colher?
Garoto: Então você verá que não é a colher que entorta, e sim você mesmo.
Sabe aquela passagem de 1984 que o coleguinha de biombo do Winston comenta que a próxima edição da Nova Gramática da Novilíngua/Novafala poderia vir com menos páginas que a anterior?
Então, é como vejo como os
grammar nazis operam. Impedem sua manifestação oral e escrita - enchendo o saco que é errada, feia, não adequada, sem cabimento, e lalala - reduzem como podem todas essas para um grupo de "erro hediondo massacrante" e depois dizem que é pro nosso bem. Vide o ENEM com aquelas pérolas que todo mundo gosta de sacanear no final de cada prova. Não é uma questão de não saber ler e escrever,
darling, é uma questão de extermínio silencioso de uma expressão individual que todos nós temos a capacidade de ter devido o tamanho anormal de nosso crânio comparado a outros primatas: a linguagem.
Predizer regras é dar um chute na reflexão da língua, qualquer uma que seja. Dizer que está errado e pronto (E tendo o costume bobo de apontar pra um livro de Gramática e dizer que a Verdade está ali) não é a forma mais eficaz de se instigar a reflexão da linguagem nas pessoas, todos sabemos disso. Passamos cerca de 8 ou 9 anos dentro de um sistema educacional que fica apertando essa tecla até o infinito, com raros casos de formar leitores e produtores de textos que têm algum tipo de consciência crítica sobre a linguagem e os modos de usá-la em diversos contextos sociais.
Poucos se esquecem que muitos não tem o mesmo privilégio de poder entrar em contato com um filosofamento mais aprofundado sobre a nossa língua materna e suas variações. Logo, os poucos preferem ou deixar baixo, ou serem chatos pra caramba (
grammar nazi) ou tirarem proveito disso (religiosos, vendedores do Polishop ou políticos).
Para aqueles que escolhem ser tão ferrenhos com a questão da norma culta contra a linguagem formal, uma boa sorte, camaradas. O trabalho de vocês é penoso e nunca vai terminar ou melhorar. Já quem tem pelo menos o bom senso de ser solidário e ajudar quem não compreende a complexidade da Língua Portuguesa é um abençoado (E com certeza vai pros Campos Elísios e tudo mais). Esses poucos entre poucos costumam ser taxados de liberais demais com a língua e frequentemente são chateados por
grammar nazis. Tentar fazer um
grammar nazi se colocar dentro dos sapatos dos muitos que não tem os mesmos privilégios sociais que os poucos que instituem a lingua como padrão e tudo mais é tarefa difícil e muitas vezes sem resultado algum. Melhor estratégia: ignorar e prosseguir a vida sem se prender demais nas regras de um
grammar nazi. Eles não sabem o que é se divertir com as palavras, brincar com as possibilidades e desvendar os mistérios de entrelinhas presentes em qualquer texto.
A linguagem não é estagnada, não é imutável, está em constante transformação porque ela não é um objeto cronológico de vida própria e externa, ela depende de nós, seres humanos, para evoluir. Quanto mais faço uso da língua, mais estarei a modificando em uma situação de nossa Realidade. Dizer que a Verdade Absoluta está em um compêndio organizado por pessoas que não fazem questão de acompanhar as pequenas mudanças sociais em cada santo dia é o mesmo que ler uma bula e acreditar piamente que vai sofrer de TODAS as contra-indicações. É absurdo, inviável, questionável e violável.
SIFALA COMO SISCREVI me é delicioso, invejável e extremamente desejado, mesmo que seja tão anárquico e imprevisível quanto o pensamento único de cada indivíduo. Padronizar é preciso, mas cristalizar a fórmula por quase 200 anos de República e ignorar os novos tempos é tontice. Não aceitar outras formas de linguagem é pedir pra ser ermitão em um mundo tão influenciado socialmente e linguisticamente por tantas fontes, o belo dom de se comunicar é
o único bem privado que temos a chance de fazer o que quiser de forma espontânea e sem culpas. Legislar que sua linguagem é errada e inadequada é matar esse sentimento de pertencimento de si mesmo, é condicionar uma identidade em constante construção em um conjuntinho de regras feitas por poucos para muitos. Catar erros de ortografia para se sentir superior aos outros é babaquice, manipular o mundo com uma Gramática debaixo do braço é mais babaquinha ainda.
Preste atenção ao seu redor, todos nós somos únicos, assim como a linguagem que cultivamos desde pequenos. Trabalhar as diversas formas de manifestações linguísticas em nosso cotidiano é necessário, mas não obrigatório. Ser
grammar nazi não te traz vantagem alguma, ser um questionador da língua sim. Mesmo que nossa sociedade prefira obedientes cumpridores e não formuladores de leis, mesmo que o mundo atual esteja lotado de chatinhos de galocha que gostam de dizer que você coloca vírgulas demais em períodos ou que sabem conjugar o verbo haver no pretérito-mais-que-perfeito. Mesmo que defendam que a Norma Culta é o Português Correto, mais adequado, mais entendível para todos, não quer dizer que seja a Verdade Absoluta.
Não há colher alguma.
Ps¹: E dude, os
Grammar nazis. Esses são dignos de risadas acima de tudo (Porque não gostamos de sua extrema direita na política e no jeito de falar/escrever).