Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador projeto feérico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador projeto feérico. Mostrar todas as postagens

22 fevereiro 2014

[conto com angie] tagarelando com moribundos

[cenário: porta dos fundos de algum hospital público instalado ali perto do Posto 2, entre a praça dos bombeiros e a avenida enorme da Metrópole.]

Um senhor varria devagar o pátio cheio de ambulâncias pegando poeira e fuligem, carros de marca importada e cestos de lixo hospitalar, quem ouvia era uma menina vestida como um acidente de carro, toda ao avesso, maquiagem pesada em uma máscara disfarçada para a noite urbana naquele lugar tão disputado pela boêmia. Ela o ouvia atentamente porque sabia que o senhor de estatura baixa - ombros curvados pra dentro, barriga saliente em um corpo magérrimo, de uniforme azul desgastado pelo uso e vassoura de piaçaba nas mãos de dedos longos e fortes - falava a verdade. Pela primeira vez em sua curta vida, alguém que falava a verdade sobre uma Realidade que ela imaginava que todos estavam usando truques para desafiá-la.


02 fevereiro 2014

[projeto feéricos] arquétipo: O Devorador de Sonhos

[postando os rascunhos lá do Evernote para uma fonte de segurança - nunca se sabe quando aquele trem vai engolir teus escritos]

Para montar o cenário de Feéricos, tive que fazer o básicão de qualquer autor: distribuir arquétipos. Enquanto os personagens estão crus e na forma antes de entrar no forno mesmo, me orientei com esses tipos de arquétipos para futuras averiguações.

Arquétipo: O Devorador de Sonhos

Nota criada em: 30/08/2013 21:28
Nota atualizada em: 30/08/2013 22:45

Ganchos:

  • Um feérico sombrio anterior ao tempo da Corte atual - mais de 1.000 anos - oferecia perigo para a Corte da época;
  • Possivelmente um Juiz ou Alto Clero ou Carrasco - atuava pelas Cortes como conselheiro dos Reinos, mas também como Arquivista;
  • Também conhecido como O Coletor, O Carrasco, O Jurista - procurar expressões sobre cargos da época.

Traços de aparência:
  • Kith Eshu;
  • A lenda da Mórrighan - a simbologia do corvo e da foice.


Feats e poderes:
  • Seu poder era de "esvaziar sonhos", punir feéricos transgressores maiores - crimes hediondos ou subversivos comprovados. Ao esvaziar o Sonhar dos feéricos, o punido era exilado para o mundo dos humanos sem os poderes e sem as memórias da vida anterior.
  • O Devorador pode se mover livremente entre os Trods sem sofrer penalidades do trajeto.

O bom disso tudo?
  • Se fundir com as sombras;
  • Visão do Futuro (efeito dominó de acontecimentos);
  • Dom da Sorte e da Sina (funcionamento parecido com a Arte Chicana no livro de Changeling);
  • Leitura corporal avançada;
  • Leitura de auras;
  • Ofícios aprimorados: o Tear (ler a Tellurian como os Magos, algo parecido);
  • Dom Raro: esvaziador de auras e memórias (poder acumulativo e natural).


O ruim disso tudo...
  • Quimera primordial: algum objeto que contenha as Leis dos Feéricos que está imbuído as lembranças do Devorador. Sem esse objeto, o Devorador perde a referência de seu eterno serviço;
  • Nômades;
  • Mau agouro - não são bem vistos pelos feéricos, muitas histórias de terror foram introduzidas na sociedade feérica para transformarem o Devorador em um ser sombrio e envolto em sombras (descrever melhor o conceito de ver e perceber dos feéricos);
  • Má fama;
  • Glutão - comem o dobro ou triplo do que seus estômagos suportam (isso tem a ver com o poder do esvaziamento);
  • Juramento a Hierarquia Maior - desconhecida, mistica e de tendência caótica neutra.

31 dezembro 2013

[conto] rootless tree

Quantos rascunhos de contos deixei na inbox? Tou apavorada! Bem, postando sem terminar!
Sim, em inspirei na homônima música de São Damião dos pseudos-irlandeses pra escrever essa.

===xxx===
Abriu os olhos, pequenos olhos, de perninhas curtas e dormentes, de respiração ofegante já no começo da manhã, do retumbar ecoante dos passos no assoalho de madeira forte, mas que às vezes parecia frágil. Seguiu em passos trôpegos até a mesa do café, não havia nada para seu estômago: "Uma pena" pensou sem sentir as palavras, mesmo que sua Fome estivesse ali presente ao seu lado (Como um espectro amarelado cutucando seu corpo), a diversão lá fora era mais atraente.

Desceu as escadinhas de madeira, deu uma última olhada para a casinha tão humilde que habitava em suas horas de não-vigília e suspirou fundo. Hoje iria saber como era ser grande.

Em muito segundos incontáveis cruzou o quintal dos fundos, tênis surrado nos pés já grandes para prender com cadarços, calças amassadas pelo tempo que passou dormindo na cama improvisada da casa humilde, a blusinha de tecido fino balançava solta em seu corpo miúdo que não engordava nunca - falta de nutrientes, falta de tudo, falta de nada - ajeitou a touca rasgada entre os cabelos negros tão desgrenhados pela falta de banho e se aprofundou na Grande Floresta da Adultice.

[conto] parada pra breja

Comecei a escrever, não terminei, vou postar assim mesmo.
(Aí sou obrigada a terminar porque postei, lalalalala)

===xxx===
A criaturinha miúda arrastando os pés descalços, vestida como um acidente de carro, totalmente de preto e maquiagem pesada, parou na frente do balcão do trailer, deixando seus sapatos de salto agulha impossíveis no chão e pousou o queixo redondo na superfície de madeira pintada.
 - Baixa uma breja, monsenhor! - pediu ela levantando o dedinho mindinho e fechando os olhos com um longo suspiro. O homenzarrão que atendia dentro do trailer, alternando entre a preparação de um cachorro quente e uma leva de batatas fritas virou-se para ela com um hambúrguer lotado de recheio.
 - Chica, você sabe muito bem que não sirvo bebida alcoólica pra criança... - e batendo os dedos na travessa de alumínio com condimentos, ele chamou: - Mesa 42... - Angie pensou que o hambúrguer era para ela, mas levou um belo tapinha repreensivo do cozinheiro, indignada em seu estado de exaustão no meio da madrugada ela o olhou com revolta.
 - E-eu não sou criança! Tenho mais de 18 anos! - Emilio virou-se de novo para a chapa e continuou o preparo de mais um prato rápido para os poucos clientes da madrugada.
 - Apresente um documento de identidade válido e aí libero a bebida... - ela procurou nos bolsos inexistentes de sua saia frufru em fiapos e cheia de cintas de couro, rolou os olhos para o lado. A mesa 42 estava vazia. - Mesa... - Toby chegou esbaforido, ajeitando o pano de prato no ombro e sorrindo largamente para a cliente de sempre.
 - Boa noite, Angela...
 - Buenas noches, doguitozito... - ela disse sorrindo cansada para ele e o cumprimentando com o toque de mãos que haviam ensaiado tanto durante as reuniões no Clube de Caça. Toby pegou o hambúrguer e foi para a mesa 42. - Oh seu Emilio Santiago, não tem ninguém na 42, posso comer no lugar do cidadão faltante?
 - Tá maluca, anjinha? - questionou Emilio olhando para a mesa e acenando seriamente.
 - Tou vendo ninguém ali... - e realmente não havia ninguém sentado na mesinha de plástico barato com banquinhos de alumínio, o sanduíche entregue sumiu assim que tocou a mesinha. - Eeeeeeeita, o que é isso?! - exclamou a menina acordando de seu estado letárgico, seu corpo reagiu na hora com o sumiço do sanduíche. Toby veio andando com um gingado diferente no andar manco. - Tá soltinho aí por quê, oh Toddynho? Cê acabou de ver...
 - Os parentes do Toby finalmente estão frequentando o lugar...
 - O quê?! - Angie perguntou boquiaberta.
 - Alguns não gostam de aparecer para os humanos, então só dão um pulinho rápido por aqui e somem pro outro lado do véu... - explicou o menino-lobo endireitando a postura dela com uma puxada de leve nos ombros dela para trás. A garota feérica o olhou entediada.
 - Alguém pode explicar para eles que isso não é elegante? Tipo, confraternizar com a comida é algo sagrado nas minhas bandas... E não fazer sanduíches sumirem não é lá... muito... perigoso para um filho mais novo ver? - a pergunta foi feita para Emilio, mas quem estava ao lado de Angie era o mendigo do Arges, devorando silenciosamente as batatinhas fritas e sorvendo todo o refrigerante escuro que Angie detestava colocar na boca. - Okay, aparições como essa também assustam os clientes... Por isso você não tem caixinha no final do turno, Emilio. - ela tentou desconversar, olhando o mendigo de cima abaixo.
 - Bom ver você, Willian... - o mendigo grunhiu uma resposta positiva e continuou comendo sem parar.
 - Por Danu, olhe só você... Mal saiu lá do subterrâneo e está engordando com comida saudável e o líquido corrosivo do capitalismo... Parabéns...






29 novembro 2013

[conto] conversações com alguém em particular


Os biscoitos delicados se esparramaram do pratinho decorado com entalhes prateados para o chão de cascalhos, pétalas de ipês roxos e areia fina e perfumada. As mãos desajeitadas que deixara cair o complemento daquele chá costumeiro antes do anoitecer não conseguiram alcançar o chão e limpar a bagunça feita, o nervosismo aparente da pessoa mais alta, suja e de aparência maltratada pelo tempo não deixava sua coordenação motora muito boa.

Quem apanhou os biscoitinhos delicadamente foi sua eterna musa, donzela tão afável e fagueira que o acompanhara desde criança quando ainda era uma pequena criança inocente no velho Eire. As mãozinhas delicadas da ninfa recolheram os fragmentos dos biscoitos finos e os colocaram de volta ao prato de onde haviam caído. Após um breve momento de silêncio constrangedor, o gesto convidativo da ninfa para o pratinho decorado foi aceito com um rápido gesto, mãos desajeitadas que trituravam o alimento, levando todos os biscoitos diretamente a boca. De boca cheia e mãos descoordenadas por muito tempo atadas às costas, mãos que não serviam mais para fazer absolutamente nada que prestasse quando era vivo, apenas o agarrar grotesco e trêmulo em cima do alimento que o serviam para aliviar sua doença.

A ninfa, graciosa em seu jeito de ser, perfumada naturalmente com uma fragrância de morangos e vinho branco, sentou-se a frente dele, serviu uma xícara de chá para si e em um pote de madeira entalhada serviu o de seu convidado inesperado. O suspiro satisfeito dado pela linda filha da Grande Floresta chamou atenção do mais alto - desconfiado do jeito que sempre fora - agora tentava se lembrar como era o comportamento de um gentleman que fora antes. Seu rosto quadrado e muito desfigurado dos séculos de castigos corporais, sol, tempestades de areia e destroços tombou para um lado, decifrando aquele suspiro vindo dela, a pessoa que mais confiava dentro de seu coração.
 - Não seja tímido... Vamos, beba... - ela anunciou indicando o chá servido no pote. Ele titubeou na resposta corporal, poderia estar delirando novamente como muitas vezes delirara em sua prisão. Poderia ser uma armadilha e aquele pote fosse o seu passaporte para o tormento temporário de muitas dores infligidas e que seu corpo cansado jamais se acostumava. - Ou poderia ser só chá de morango, Annami... Vamos... Beba…
 - O nome é Willian... - ele resmungou pegando o pote como conseguia e surpreso ao ver a mágica feérica tomar conta daquele objeto emadeirado se encaixar exatamente nas curvas nodosas de suas mãos atrofiadas. O segurar na mão esquerda estava firme pela primeira vez em 125 anos, um sorriso surgiu debaixo da barba espessa e irregular, lábios ressequidos alcançaram a borda do pote e beberam todo o conteúdo sem derramar uma gota fora, um risinho amigável vindo da ninfa encheu seu coração de novas energias.
 - Você pode mudar de nome, de rosto, até de corpo, mas para mim sempre será Annami... - ela bebericou o seu chá com uma fineza impecável, ele recuperando um pouco das forças, forçou os ombros para trás para ficar ereto na postura, mas os ossos doloridos de estar sempre nessa posição no cativeiro, o fizeram mudar de ideia. Curvado ficou, mas entendeu que deveria se portar como um moço de família, como um cavalheiro, estava na presença de uma melíade, não poderia se envergonhar com suas maneiras primitivas. - Você pensa demais... - ela disse pegando um morango açucarado e retirando um pedacinho da pontinha. Com a destreza de uma elemental da terra (E mais por ser uma criatura travessa), apontou o fruto no nariz do homem turrão a sua frente e o acertou em cheio.

03 julho 2013

Trilha para Feéricos: How to sleep in a stormy boat

Descobri essa moça de Nashville (Antro perfeito para artistas folk/country lá nos estaites) e fiquei completamente apaixonadinha pelas músicas dela. Amy Speace contribuirá ótimamente com a trilha sonora de meu projetinho lindo, ainda mais nas partes em que há muita calmaria para divagar no universo de Feéricos.



Red sky ahead, of the morning sun
And I've heard it said, that's when trouble comes
Have been blown by this wind, and I know this eve
I've been out here before, it's not a math that I need

Show me how to fly in the starless sky
Help me to hold on when there's no guiding light
Teach me how to sleep, how to sleep in a stormy boat.

I've been blown by this love
And I know these ways
There's no compus on earth
Could guide my way
I still don't know
but at the end of the day
Is it as simple as this, I want you to stay

Show me how to fly in the starless sky
Help me to hold on when there's no guiding light
Teach me how to sleep, how to sleep in a stormy boat.

And I've been out here too long,
Where it's dark and deep
Not waiting on words, it's not words that I need.

Show me how to fly in the starless sky
Help me to hold on when there's no guiding light
Teach me how to sleep, how to sleep in a stormy boat.
How to sleep in a stormy boat,
How to sleep in a stormy boat.

04 abril 2013

[Projeto Feérico] Trecho nº 1 - Kittie/Kristevá

[trecho perdido do Projeto Feéricos. A personagem LabGirl Kittie foi engavetada para o melhor fluir do enredo, aqui nesse pedaço há um pouco de como ela silenciava as vozes que ouvia quando entrava em crise de realidade vs o Sonhar]

A cadeira era confortável, a coceira atrás da orelha não. As vozes iam e vinham em intervalos longos como um eco de algo que não estava ali, ou talvez estivesse. Ela apenas não conseguia mais saber o que era real ou não.
- ...Orgulhoso de você, segundo-tenente... Orgulhoso.
" - Pode me dizer o que aconteceu com a minha esposa?"
" - Quantas pessoas você atende aqui embaixo? É difícil assim?"
" - Você sabe que é especial, não pode ir lá fora ficar mostrando o que faz. Eles vão saber."
" - Eles nunca sabem."
" - Eles vão saber."
" - Quem sabe de coisa alguma. Mude, destrua, reconstrua, continue."
" - Você poderia ficar bem aqui. É melhor para todos."
" - É melhor para mim que nós não conversamos mais."
" - É melhor para o mundo se ninguém souber o que você faz."
" - Você não faz nada, menina!"
" - Quantas vezes tenho que dizer para fazer o que eu peço???"
" - Tenente, isso não é coisa que se faça..."