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04 junho 2017

como aumentar sua produtividade científica com playlist trash anos 90

Sério.
Tentei 6 playlists diferentes, a única que funfou para botar a cabeça para trabalhar a favor da Ciência foi a famosa Pop Nostalgia.

Viva o Trash dos anos 90!!



Oh Brian, Brian, e eu achando que ia casar contigo...

como desqualificar sua ansiedade


Ferramentas de gestão da qualidade estão elucidando uma velha estratégia minha de escape (Ou como meu corpo reage a situação desastrosa): transformar a ansiedade em números ajuda horrores em lidar com isso. 

Então é um movimento de repulsa e de desmoralização da ansiedade que está sendo a terapia alternativa da vez (violão quebrou, ukulele não dá, minhas mãos estão sempre tremendo, então...) - aí bora lá fazer matriz de prioridades ou sacanear o feeling de esmagamento estomacal com conceitos que não compreendo bem, mas que precisa saber pra poder ir pra frente nessa vida... 

Então esquematizando um fluxograma da minha ansiedade dentro da minha cabeça (Porque tá sendo impossível fazer isso no mundo concreto) temos:

Estou ansiose? 
Sim - uma situação que não costumo enfrentar me pegou em cheio e fiquei sem ação 
Não - Então curte esse tempinho sem neurar

Ficou sem ação (apatia)? 
Sim - se concentra em algo, urgente, nada de ficar moscando
Não - euforia, não consigo parar no lugar

Euforia e está demorando passar a empolgação? 
Sim - se concentra em algo, urgente, nada de deixar a adrenalina subir. 

É suportável?
Sim - sem momentos de angústia
Não - para tudo que tá fazendo, peça ajuda

Seu corpo está sentindo a ansiedade vir? 
Sim - respiração rápida, estômago virando, dor nas costas, perdendo foco dos olhos. 
Não - apenas estou com pensamentos funcionando a mil por hora. 

A Mente está a mil por hora? 
Sim - Não consigo me concentrar em nada
Não - continua respirar fundo e procurar pontos de sustentação - teste de realidade 

Teste de realidade funcionou? 
Sim - agora procura um lugar pra descarga energética e dormir 
Não - tenta outro teste e começa respirando fundo

Cataplexia e sono profundo? 
Sim - arranja um lugar seguro para dormir por uns minutos
Não - arranja um lugar seguro mesmo assim

Dá pra resolver sozinhe? 
Sim - respirar profundamente ajuda, ouvir música, ler também, ter uma parada em tudo que tou fazendo e botar a cuca pra descansar 
Não - para tudo que tá fazendo, peça ajuda

Tem alguém pra ajudar na hora? 
Sim - Não precisa sair expelindo tudo, apenas informe pra pessoa que não tá bem
Não - escreva sem parar, pegue o busão pra casa, tome um banho e durma

A ajuda foi boa, acalmou? 
Sim - Ciclo PDCA pra fazer manutenção da calmaria
Não - para tudo que tá fazendo, peça ajuda

Posso incluir um 5 porquês aí no meio, porque fazer um Shikaua não vai rolar, fica explícito demais e a sutileza da minha pessoa prefere usar a linguagem como escudo pra mais trauma. 

Por que tanta ansiedade? 
Porque sou uma bolinha de emoções reprimidas 
Por que emoções reprimidas? 
Porque me expressar corporalmente nunca fez parte da minha disciplina quando criança. 
Por que a disciplina infantil não contemplou o se expressar maia facilmente? 
Porque minha vida girava em torno de não cometer os mesmos erros dos outros da família. 
Por que não cometer os mesmos erros familiares? 
... Porque não era legal fazer as mesmas besteiras...? 
(Pode responder com uma pergunta?) 

Se estou melhor após escrever essa postagem? 
... 

Bora voltar pro fluxograma...

03 junho 2017

como uma palavrinha muda tudo

A primeira vez que ouvi a palavra "dyke" (sapatão) em inglês foi nesse filme aí embaixo, nessa exata cena:


O ano era 1999, Garota Interrompida era um filme cotado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz Coadjuvante com Angelina Jolie (Lisa Rowe, a lorona mercenária) e na cidadezinha vilarejo brejeiro onde eu morava apenas uma locadora de vídeo cassete (Urrum VHS, isso mesmo) disponibilizava o filme para alugar.

Detalhe, o filme ficava perto do balcão, aos olhos da atendente, porque a classificação etária do filme era de 14 anos pra cima, o que numa cidadezinha brejeira católica tradicional mineira quer dizer 18 anos.

Para locar o filme foi um custo, tive que esperar todo mundo que era cinéfilo naquele buraco pegar para então colocar entre tantos outros títulos que eu gostaria de ver, o filme que a Winona Ryder conquistou meu coração, mas cometeu uma gafe incrível em romantizar o livro (Fui saber disso anos depois, tá?). Filme locado, hora de esperar o momento certo para assistir, não poderia ser com a presença de minha mãe ou junto da melhor amiga de infância, haveria de ser um filme para se assistir solo, porque muita coisa tava me levando a entender que aquele roteiro ali serviria para alguma coisa na minha vida.

E serviu. Garota Interrompida mudou a minha vida aos meus 13 anos e meio.

29 maio 2017

[Projeto Reverso] a geladeira

Título: A geladeira - parte 4/12. (por BRMorgado)
Cenário: Original - Projeto Reverso.
Classificação: 18 anos (violência, linguagem imprópria).
Tamanho945 palavras.
Status: Incompleta.
Resumo: A viajante acidental no tempo pensou que havia parado no presente, mas uma surpresa a aguarda na porta da geladeira.
N/A: Projeto novo na área, Reverso será uma compilação de 12 contos pequenos sobre uma mesma situação, ambientada em um mundo atemporal ao nosso com um grupo de pessoas tentando escapar de alguma catástrofe eminente, o básico de sempre, sabe? E viva os universos paralelos que os sonhos nos proporcionam! Sim, a ordem dos contos está toda embaralhada \o/

SEM TÍTULO [1] - MÁ REPUTAÇÃO [2] - SEM TÍTULO [3] - A GELADEIRA [4]
SEM TÍTULO [5] - SEM TÍTULO [6] - COMO ANDAR DE BICICLETA [7]
A CONTRABANDISTA [8] - SEM TÍTULO [9] - SEM TÍTULO [10]
SEM TÍTULO [11] - SEM TÍTULO [12]

Trilha sonora:





Abriu a geladeira com os olhos pesados, observando a quantidade de água armazenada e o pouco de comida a ser degustada. Estava com sede mesmo, abriu uma das garrafas e sorveu metade em uma golada só. A solidão iria acabar logo, logo. Se estava mesmo na linha temporal que os cálculos do maldito fizera anos atrás, estaria agora no presente que era seu.

Dá última vez que beberá água de verdade, sem ser feita em laboratório ou colhida da chuva radioativa, filtrada tantas vezes que ainda tinha perigo de estar contaminada, fora algumas horas atrás. Diziam que água não tinha gosto, mentira, aquilo sim tinha gosto de vida. Pura e incessante vida. 

Fechou a geladeira, percebeu que haviam consertado a porta (da última vez que estivera ali, tinha que subir um pouco a porta para encaixar no buraco feito improvisadamente para fechar com a corrente e o cadeado) e girou nos calcanhares para o balcão da cozinha improvisada.

[Projeto Reverso] a contrabandista

Título: A contrabandista - parte 8/12. (por BRMorgado)
Cenário: Original - Projeto Reverso.
Classificação: 18 anos (violência, linguagem imprópria).
Tamanho861 palavras.
Status: Incompleta.
Resumo: (sem resumo).
N/A: Projeto novo na área, Reverso será uma compilação de 12 contos pequenos sobre uma mesma situação, ambientada em um mundo atemporal ao nosso com um grupo de pessoas tentando escapar de alguma catástrofe eminente, o básico de sempre, sabe? E viva os universos paralelos que os sonhos nos proporcionam! Sim, a ordem dos contos está toda embaralhada \o/

SEM TÍTULO [1] - MÁ REPUTAÇÃO [2] - SEM TÍTULO [3] - A GELADEIRA [4]
SEM TÍTULO [5] - SEM TÍTULO [6] - COMO ANDAR DE BICICLETA [7]
A CONTRABANDISTA [8] - SEM TÍTULO [9] - SEM TÍTULO [10]
SEM TÍTULO [11] - SEM TÍTULO [12]

Trilha sonora:


Coçou entre os seios com certo prazer. Havia essa cicatriz chata que a incomodava, mas quando coçava do jeitinho certo, tudo ficava incrível. Os mercenários das fronteiras gostavam de se vangloriar de seus feitos mostrando as cicatrizes de batalhas, nem lembrava como ganhou aquela. Nascera daquele jeito pelo que sabia. 


Se espreguiçou para espantar a letargia da manhã, tinha que voltar a rotina com o velhote Adrian pra conseguir sintetizar uma bactéria modificada pra matar as algas venenosas que cresceram na única fonte subterrânea de água que tinham por ali (constantemente filtrada, tratada, reutilizada, testada). Aquele trabalho intelectual não era lá mil e uma maravilhas. Não tinha educação suficiente pra saber resolver as equações quilométricas do velho louco, mas sabia bem como testar os efeitos dos experimentos. Quando o velhote precisava de uma cobaia, ia mais que feliz até a colônia dos cornudos, passava horas na espreita e caçava um deles que desse mole. 

Alienígenas eram descartáveis para ela, assim como tratavam os humanos na segunda invasão. 

24 maio 2017

assim do nada, de novo progenitor dá notícias

Tenho poucas lembranças do agente progenitor que ajudou a fecundar o feto onde me criou. 

O mais engraçado é ter notícias dele de tantos em tantos e não sentir absolutamente nada pela criatura. Talvez sinta, tou aqui desperdiçando tempo escrevendo sobre ele, mas é válido devido ao objetivo desse blog - preservar a minha memória intacta até certo ponto?

Ele não foi um pai exemplar conforme minha memória relembra, nem lembro dele estar junto da família quando era em momentos decisivos. lembro de flashs assim aos 6-7 anos de algumas manifestações, uma influência que sei que ainda vou ter que correr atrás pra saber o que raios é (Tem a ver com a espiritualidade e ancestralidade da família paterna), uma caixa de Lego dada no aniversário de 6 anos - ao invés de uma boneca ou carrinho, obrigade velhote - fins de semana bem nublados na Tiago da Fonseca, nunca vi alguma demonstração de amor com a minha mãe, presenciei brigas violentas com a minha irmã mais velha.

Então entre tantos fragmentos, tenho as recordações que o cérebro cata do exterior para formar alguma opinião sólida do cara. Em um post do ano passado o encontrei no centro da cidade para conversar sobre umas pendências, não tem como não ter isso, o cara tá velhaco, eu tou ficando também, às vezes tentar entender o que se passa na cabeça do ser humaninho que financiou sua vida ao mundo faz bem, mas o cara é uma incógnita.
O que incomoda, e aí o motivo da postagem, é o não lembrar. Não ter uma memória sequer construída nem que ficcionalmente para encaixar o caboclo na minha timeline. Tudo quase se resumia a estar com minha mãe ou irmã, ou sozinhe mesmo, por que não? O não lembrar te dá liberdades com certas atitudes, como a de não dar a mínima de como o próprio pai se encontra de saúde. Ou de querer mais notícias dele quando aparecem. Sinceramente ao passar pelo centro histórico e observar a quantidade de gente sem teto, não sinto aquele friozinho na barriga alertando que algum dia ele teve que ficar dessa forma, não conheço o cara, as motivações, as ideias (Tá, Jesus é nosso Rei e Salvador, isso não conta!), os sonhos, só os fracassos dele com a gente. E os silêncios. E o que NÃO fazer quando virasse adulta.

Incomoda o fato de não haver lembrança suficiente até para não gostar da presença dele ou sei lá, ter algum tipo de afeto - mesmo que ruim - pelo camarada. Não sei se queria que fosse diferente, até porque o diferente parece piada ou fatalista demais.

Tudo bem encontrar um sentido de viver que seja para fazer o bem, ótimo, lindo, maravilhoso, encontrar Jesus, ver a luz azul, insistir nos mesmos erros, continuar magoando as pessoas que supostamente devem amar ele, isso não tá coerente. Parte da minha vida de adolescente foi negar que ele existia - ele não tava mesmo ali, o que que iria fazer? - na adultice fazer o esforço de entender o mecanismo de funcionamento, nada até agora. Essa ausência de explicações ou de respostas afetou muito o modo de ver o mundo (Não tenho respeito algum por figura paterna) e de praticar aquela velha amiga chamada alteridade.

Tem hora que não dá.

(Oh flash news: Jesus não salva das burradas feitas na vida, pode ter certeza disso.)

20 maio 2017

os altos e os baixos


Que maravilha, a euforia de volta! 
É um puta ciclo infernal de altos e baixos


Para melhorar a situação, minha cabeça tá funcionando no overdrive, maaaaaaaas produzindo melhor e com mais sociabilidade. E por que por que por que?

Porque Platão era um babaca e externou a teoria que rege minha vida. Seria mais suportável se eu não soubesse de nada e que ficar na ignorância é mais válido que ter os instantes de euforia maravilhada para então balançar a cabeça em um momento de racionalidade fatalista e dizer:
"Que m****. De novo não."


Mas como a sorte foi inventada pelos loucos e os poetas são sortudos por conseguirem ficar nessa euforia por mais tempo que meros pragmáticos idiotas, lá vem de novo. E se tou cantando música pop dos anos 90 não é só por nostalgia. É cômico, deprimente, trágico e deveras desnecessário, mas hey Platão querido, cê não era o piorzinho do rolê não, tá? 

Tinha aquele teu aluninho ordinário. 
E ele tinha uma visão de mundo bem pior.






[contos] exaustividade

Título: exaustividade (por BRMorgan)
Cenário: Original/Cotidiano, Nova Orleans.
Classificação: PG-13.
Tamanho: 1.350 palavras.
Status: Incompleta.
Personagens: Joanne Ulhoa.
Resumo: Sem resumo. (editando um rascunho velho aqui, a ideia veio no busão, tou botando tudo na fila...)
Disclaimer: Mais sobre Forgiven Jojo Ulhoa tá aqui nesses links [x] [x] [x] [x]

Abriu a geladeira. 
Abriu novamente. 
Mais outra vez para ter certeza. 
Gelatina, mingau no pote, a janta de horas atrás, um suco de caixinha pela metade. 
Atacou o suco e o purê da janta. 
Não botou no micro-ondas, recolheu um talher na gaveta, lavou o objeto 3 vezes (pra ter certeza mesmo que estava limpo), enxugou com folha de papel, não o pano de prato imaculado ali perto. 
Enfiou o garfo devagar na pasta fria. 
Mastigou sem emoção alguma. 
Engoliu. Repetiu o processo. 

No sofá a figura encolhida de uma criança com grossas cobertas em volta do corpo, cabelos escapando por um buraco onde também saía um braço. Ao alcance da mãozinha, um gato igualmente ferrado no sono estava ali de prontidão, apenas esperando um movimento da mão para receber carinho da dona.

Piscou algumas vezes. 
Hoje era quarta-feira. Pelo que o relógio dizia era um começo de quarta que não gostaria de ter começado. 


19 maio 2017

aqueles assuntos pra fazer chorar


Acompanhava o AfterEllen quando era bom, bem escrito e feito por um staff inteiramente queer. Hoje fico com o Autostraddle porque é a única opção viável de informação LGBT lá de fora que possa me ajudar com algumas coisas. Poliamor é uma delas. 

Toda vez que leio um bendito artigo, eu tenho uma vontade danada de abrir um buraco, bem fundo, e me enterrar de baixo pra cima, em um ritual sistemático. A experiência inaugural não foi tão boa assim e óbvio que me deixou com impressões ruins do que poderia ser.

A concepção de um relacionamento em que pessoas pensam como indivíduos e não como casais, buscando intimidade e vivência com outras pessoas além do tradicional é algo tentador pro meu projeto anarquista de observar o mundo, maaaaaaaas infelizmente a vida real também me mostrou que pedras me ensinaram a voar. Isso mesmo.

Mesmo que o Poliamor seja de certa forma o mais razoável que entendo para pessoas se conectarem sem a cobrança bizarra da sociedade monogâmica, ainda travo com trocentas coisas, a comunicação por exemplo. O sistema de gestão da informação. A cisma dos papéis bem definidos e categorizados.

Creio que para chegar a um nível de decidir ser/estar em um relacionamento poliamoroso deve haver um entendimento bem mais elevado do que possuo - ou que construí socialmente nesse corpo em que habito - talvez na próxima vida consiga me encaixar nessa. Ou não.

Então na lista de assuntos que me fazem chorar amargamente, acrescenta aí não compreender bem Poliamor. E parar de ler artigos com essa temática, pelamoooooor.







15 maio 2017

le petit muerte

O problema não é a causa disso tudo. 
O problema são as pequenas coisinhas que matam.
Pequenas mortes.

O que mata é não poder ter seus dedos ficar entrelaçados nos outros dedos, em público não pode.
O que mata é não poder sentar ao lado de quem ama porque vão perceber, em público, que não deveria amar aquela pessoa.
O que mata é não ter escolha de palavras quando perguntam o estado civil, mesmo após anos de vivência, de rotina conjunta, de vidas entrelaçadas (como os dedos lá de cima).
Não é o grande problema que mata, mas são os pequenos, todos os dias, se repetindo em uma espiral de não-expectativas.

O que mata é a olhada de cima abaixo em como você se sente confortável sendo você mesmo. 
O que mata é a recusa de emprego por ser quem você quer ser, mas em público não pode
O que mata é a vergonha da família, do não poder falar
O que mata é o silêncio de quem tá junto e sofrendo o mesmo assassinato todos os dias. É o ninguém falar
O que mata é cada "Eu gosto muito de você, mas não posso ficar contigo", porque em público não podemos
O que mata é não esperar por mais nada, porque esperou tanto por algo inesperado na vida e ter nenhuma expectativa de viver aquilo novamente. 
O que mata são as contas das soluções paliativas médicas, dos atestados de sanidade, das terapias, dos medicamentos, das taxas a mais, da burocracia. Isso pode ir à público.

Isso que vai matando um pouco a cada dia. 

O que mata é outra vez não poder contar com ninguém quando a coisa aperta. Em público não posso.
O que mata é quando se convence disso é de que em público não pode
O que mata mesmo é ter um termo científico pra isso só esperando o momento oportuno - entre um diagnóstico caseiro, paranoico, atestado por autoridades e outros - para aparecer. 
O que mata é colocarem uma categoria em que não se quer ou se imagina encaixar. 
O que mata é aquela foda muito boa na noite anterior e se sentir sem vida pro resto do dia. Porque entre quatro paredes tudo pode, mas demonstrar carinho em público não pode
O que mata é saber que a foda não vai acontecer novamente, porque não vai haver mais do que aquilo.
O que mata é ver que ainda estão matando gente como a gente, porque em público não pode.
(mas matar pode, em público tá virando moda) 
O que mata é dizerem que é invenção da cabeça, modinha de intelectual, que é fase, que vai passar quando achar um padrão decente pra colocar no lugar. Essas coisas em público não pode
O que mata é não se ver em lugar algum. 
O que mata é ver que a mídia mata quem você acha que pode representar um pouco daquilo que você sente na maior parte do tempo. 
O que mata é não ter a ilusão de conto de fadas, nem de final feliz. É não sonhar mais.
O que mata é não poder passar os dedos nos cabelos de quem ama, nem que seja discretamente, em público não pode.

O que mata mesmo é ver isso acontecer há poucos bancos no ônibus para um lugar onde supostamente deveria (e se proclama) dar segurança de viver como sou. 
O que mata é ver isso acontecer enquanto um casal padrão normativo fazer isso e muito mais, bancos a frente, sem ser admoestado. Em público não pode. Eles podem.
O que mata é ver aquela fagulha ínfima de cumplicidade, de carinho, se tornar um olhar desconfiado ao redor e um sorriso amarelo para se explicar. Em público não pode.
O que mata mesmo é ainda ser obrigado a se explicar por querer dar carinho a alguém que amo.


O problema não é a causa disso tudo. 

O problema são as pequenas coisinhas que matam.
Pequenas mortes.

E como elas vão silenciando a gente, aos poucos, conta-gota, até a normalização ser habitual, o controle imediato, as ações de sobrevivência mais automáticas.

O que mata mesmo é isso. 
E em público não pode
Pro resto da sua existência miserável nesse planeta: em público não pode.

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N/A: Le petit mort é uma expressão francesa para conotar o orgasmo "a pequena morte", já muerte é uma alusão a Santa Muerte, a padroeira dos pobres, dos comerciantes ilegais e traficantes, e não tem nada a ver com prazeres.