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24 outubro 2017

Crises Literárias

Tem umas coisas que não dá pra escapar, a crise após terminar livro foi por alguns instantes, ao abrir  novamente o livro Carol (Ou The Price of Salt como era conhecido antes) em um capítulo particularmente doído. Carol deixa a Therese com a promessa de que na próxima semana iria encontrá-la e isso se transforma em 3 meses de pura angústia, decepção e vazio apático. Damn Therese!!

A quote acima foi feita para o filme de 2015, mas é bem
parecida com o conteúdo da carta no livro. De cortar o s2
A Literatura é meu ponto fraco, com certeza. Palavras escritas são como um tormento pra minha mente obsessiva em detalhes e minúcias, se tiver escrito pior ainda. Eu vou lembrar, eu vou sentir, vou imergir e aceitar. Estava a respirar com mais calma entre as horas de perder a compostura e o entender que não posso me deixar cair (de novo), a mesma Literatura que me derruba me salvou várias vezes na minha vida de escriba. Até mesmo criança quando nada fazia muito sentido por meu cérebro não estar lotado de doutrinas, discursos e visões de mundo, até hoje.

Me sinto um bocado vulnerável quando estou empolgade com a narrativa de um livro, algo que resgatei lá de 2008, o que os Stormtroopers roubaram de mim (hello dissecadores de livros?!), consegui usar a Força: ler histórias é vida.

O que me leva a esse post.
Pois grande parte do crédito de estar cursando Biblioteconomia e preferindo atuar em bibliotecas escolares/públicas é esse desejo da leitura, do ouvir e contar histórias, é ver esse brilhinhu no olhar das pessoas que respondem com orgulho o quanto gostaram de tal livro e como a narrativa de outro mudou o curso de sua vida. O de dizer na cara dura que odiou o livro, que achou cansativo, isso tudo faz com que o sentido de estar ali atrás do balcão ou entre as estantes faça mais sentido. Me identifico com essas pessoas, me sinto mais confortável comigo mesme, não há espaço para destruição quando se há aceitação e entendimento.

E ler trouxe isso pra mim.

17 outubro 2017

a prova-ação da senhora escrita

Sou contra avaliações da forma que se configuram desde forévis. 

Avaliação, prova, teste não prova com exatidão a quantidade de conhecimento retido no cérebro de uma pessoa, nem como mensurar o que uma criatura aprendeu ou não. A linguagem é algo incrível de ser estudada, mas causa muitos problemas de interpretação. Tentar decifrar isso em uma folha de papel com questões aleatórias sem um propósito, aí sim teremos o grande problema.

Hoje fiz a prova que mais me fez escrever e pensar no curso. Yep. A última vez que fiz isso foi em 2007, com cerca de 9 páginas, frente e verso pra olhar pra cara do professor, pra prova e ter aquela revelação instantânea: yep, é pra isso mesmo que vim fazer nesse mundo. Escrever.
 
O que muitos acham que é repetecos do looping, para mim se torna mais árduo de encarar e refletir sobre a profissão quando se encara uma disciplina dessas. A disciplina já na reta final para quem vai caminhar pro TCC e tudo mais, a união de quatro ou cinco disciplinas em uma só para verificar o quanto nós entendemos o que raios viemos fazer aqui.

A subjetividade de uma prova objetiva me apavora. V ou F pra mim é entregar uma sentença de afogamento de nota. Marcar a correta e a incorreta me dá calafrios intensos em agonia e sofrimento. Por favor, não vamos falar sobre marque a alternativa incorreta, correta nesse contexto: é pedir para enfiar a caneta no meu globo ocular e girar algumas vezes até meu cérebro começar a funcionar adequadamente.

E aí há questão de que pessoas são diferentes para assimilar dados que se tornam informações quando você dá significância naquilo para então na síntese ter essa surpresa que se tornou conhecimento. E conhecimento pesa em nossos cérebros.

É por isso que a gente precisa de livros e suportes tecnológicos pra botar essa tralha toda, nossos cérebros não foram feitos pra isso. Mas com um certo treino e rotina dá pra se aguçar algumas habilidades. Por isso existem bibliotecários de perfis diversificados, porque essa galera se especializa em algo pra poder ajudar a gente com aquilo que não compreendemos pesquisar muito bem. Pra isso existem professores, pois são eles que usam ferramentas institucionalizadas, testadas e legalizadas pra reter parte do conhecimento que precisamos aprender para viver. Pra isso nosso cérebro serve, adaptação, assimilação, reinterpretação e execução.

Repete tudo de novo.
Tô simplificando os esquema tá? Tem mais coisa no meio. Muito mais. Galera que estuda isso fica biruta ou vira psicolinguista, mas fé na Ciência povo, explicação pros esquema existe. 

Então quando recebo uma prova de dez questões dissertativas com uma folha branca para respostas, o bicho miserável dentro de mim que cultivei com muitoooooo desgosto na Letras resolve acordar. E ele acorda rugindo, tão alto que a única coisa que consigo pensar é: "Bom trabalho professor."

Porque vai me fazer escrever textão e assim como meus colegas. Vai fazer nós remoermos os confins de nossas massas cinzentas para produzir um texto e todo o processo dolorido de externar aquilo que parece pertencer apenas ao interno. Vai mesmo me fazer PENSAR na minha escrita, nas escolhas da minha vida, nas habilidades que adquiri durante esses anos nesse curso. Vai botar em cheque TUDO que eu lembro até agora de todas as disciplinas em forma de quê? De texto. De puro e socialmente aceito instrumento de manipulação intelectual: o texto escrito.

Conseguem entender a dimensão dessa ação de pegar papel, caneta e arcabouço teórico que você construiu em cima de algo e botar pra fora? Escrever dói. Tão mais que pensar em escrever. Pessoas desistem de escrever antes de pensar em começar. Essa ferramenta segregadora inventada para impor dominância sob algo ou alguém é a Dominatrix de todo seu escrevente, pobres nós escravos intelectuais dessa Senhora tão cruel.

Ali na prova dissertativa é onde tenho o real controle da minha vida de escriba. 
E sério, pra quem costuma não ter controle algum da maioria das coisas que acontecem - chame de acaso, caos, blá-blá-blá destino é outra piada sem graça que os deuses inventaram pra curtir com a nossa cara, assim como o Amor (e essa piada é a mais engraçada, pra eles, não pra nós)

Mesmo que saia tudo errado. Mesmo se tenha erro de concordância, falta coerência entre parágrafos, não siga o enunciado, não importa: ali, eu, papel e prova, rascunho (porque eu preciso ter certeza que produzi aquele texto e foi manuscrito, não digitado) me entrego de corpo e alma pra essa função tão dolorida. 

Escrever dói.
Meus dedos pararam de funcionar depois da sétima questão e faltava três pra passar a limpo. 

Eu fiz a melhor prova de todo curso, com certeza. 
Não porque domino satisfatoriamente a Domina Escrita, não, ela ainda me controla 24/7, em cada pensamento não externalizado, em cada ideia que não consigo colocar em prática, no bendito projeto que possivelmente vai mudar minha forma de ver o mundo e de retribuir onde queria tanto ajudar a crescer (bibliotecas escolares). Ela me ensinou a olhar o mundo de uma forma que não consigo mais desver. 

Dez questões para responder em 1h40m. 
Garranchos em três folhas A5, frente e verso, os rascunhos são rápidos, porque a letra é trêmula, apressada, sem regra alguma de acentuação ou ortográfica. Já o passar limpo? Aí começa a sessão masoquista. 

Porque passar a limpo é te obrigar a ler aquilo que você produziu, é jogar na sua cara o que pode ou não ser o resumo de sua história dentro de uma instituição. 

Quantos alunos não vi desistirem de um simples parágrafo por verem que são incapazes de lidar com a situação? Já vi doutores entrarem em crise existencial por não encontrarem a palavra certa para o parágrafo certo. Já li escritores que sangravam, choravam, esperneavam, colocavam pedras dos bolsos dos casacos e se afundavam em rios no meio do nada. 

E é isso que a melhor prova que já fiz no curso me fez sentir depois de tanto tempo. 

Foram 1h40m de exercício mental sobre a escolha que fiz há quatro anos atrás. O que terapia, esportes radicais, drogas, futebol causa em muitos, a escrita me proporciona em experiências catárticas como essa. 

Não tô nem aí se tirei dez ou zero ou meio, o que me interessa é que pela primeira vez em quatro anos senti de verdade o que significa ter o peso das escolhas nas costas. E apreciar. E estar feliz. E saber que mesmo se não for corrigida totalmente (como já vi docentes já praticando esse delito de nos obrigar a escrever e não dar valor algum para aquilo produzido - gente já fui obrigado a fazer resumo de manual de instruções. Isso sim é desperdício de tempo e de intencionalidade do exercício da escrita), tô feliz, tô sorridente, quero apertar a mão da docente e dizer que "Bom trabalho. Você me lembrou o que vim fazer aqui.

Avaliações, testes e provas não conseguem dizer exatamente a profundidade de conhecimento retido e mantido. Já o exercício de escrita, quiriduns? Ah, isso nos ensina lições tão inquietantes que o único jeito de me livrar dessa sensação de dever cumprido é escrevendo. E era isso que tinha que escrever. Sempre sob o chicote da Senhora Escrita, sempre mandando e desmandando na minha vida desde que me conheço como gente.
(Tem gente que vive, a maioria só existe, lembra Oscarito?) 

15 outubro 2017

Desafio Musical U2 - parte 7 de 10

Continuando o desafio musical do U2, 3 músicas por dia.
(3 vezes 10 dias igual 30 músicas)


19. Uma música do U2 que faz você pensar sobre a vida = I'll go crazy if I don't go crazy tonight



O processo de escrever a letra foi inusitado, tio Bono começou a escrever coisas aleatórias e foi juntando até rimar. É mazomeno como é a minha vida, não sei rimar, poesia não é minha praia e então o caos tudo define. E toda beldade tem que sair com um idiota. Como você estar perto da Verdade e não ver?!

20. Uma música do U2 que tem muitos significados para você = Miracle Drug



Essa música na época não me chamava atenção, até eu entender a letra anos depois. Já fiz uma postagem sobre o tema aqui [x] e creio que essa seja a minha filosofia agora: não tem dessa de Amor romântico, mas sim eu desisto de tudo por uma droga milagrosa. Vai ver que é isso que ando fazendo até então. A música foi escrita para um colega de turma do Bono chamado Christopher Nolan que teve paralisia cerebral ainda bebê e depois de um "milagre" médico conseguiu mover um pouco do pescoço e assim começou a escrever poemas.

21. Uma música favorita do U2 com o nome de uma pessoa no título = Iris (Hold me close)



Eles tem quatro músicas com nome de pessoas, Iris é a que mais gosto. Essa foi escrita para a mãe do Bono - a história é bem triste tá? Ela morreu quando ele tinha 14 anos.

14 outubro 2017

Desafio Musical U2 - parte 6 de 10

Continuando o desafio musical do U2, 3 músicas por dia.
(3 vezes 10 dias igual 30 músicas)


16. Uma das suas músicas clássicas do U2 que é favorita = Even better than the real thing



O phoda de escolher uma música do Achtung Baby é que TODAS as músicas são awesome... Bem, eu já citei 3 delas aqui, e Even better é tipo hino pra sedução xDDD E The Fly we praise!!

17. Uma música do U2 que cantaria um dueto com karaoke = All because of you



Eu adoro os versos dessa música, porque encaixam tão bem na língua? É sério, acabei de ver o vídeo aqui de novo e chorei, foi uma das que decorei tão rápido em 2005 e de salvar uma alma torturada do angst PUC.

18. Uma música do U2 do ano em que você nasceu = I still haven't found what I'm looking for



O ano de 1986 foi quando eles gravaram The Joshua Tree!!!!!! E essa música no cover do Damien Rice é de quebrar o coração </3

13 outubro 2017

Desafio Musical U2 - parte 5 de 10

Continuando o desafio musical do U2, 3 músicas por dia.
(3 vezes 10 dias igual 30 músicas)


13. Uma das suas músicas do U2 favoritas dos anos 80 = Bad.




Essa música o Bono escreveu para o amigo dele que acabou morrendo por overdose de heroína. E é clássicão gritar a parte final e desafinar. Essa letra me chamou atenção pra um projeto que eu escrevia na época, "Felicidade Adormecida".

14. Uma música do U2 que você gostaria de tocar no seu casamento = All I want is you


Wants! Please! Pelamooooooor! Porque tio Bono não escreve muitas músicas românticas se não estiver bêbado. E adivinha quem fez cover dessa música que quase me fulminou em cheio no meio da caixa torácica?

15. Uma música do U2 que é uma cover de outro artista = Sattelite of Love


Aquele caso de "Músicas que NÃO SE DEVE tocar em casamentos", então? 

[Felicidade Adormecida]

Título: Felicidade Adormecida (por BRMorgan)
Cenário: Original/Nova Orleans.
Classificação: 18+.
Tamanho: ??? palavras.
Status: Completa.
Disclaimer: Essa fanfiction foi feita sob o desafio "Escreva sobre sua bisneta" e acabei indo para um enredo totalmente diferente. Depois de quase 2 anos enfurnando as páginas na minha gaveta, resolvi mostrar. Ps: Leiam Trainspotting de Irving Welsh caso se interessem pelo tema.
Personagens: Sarah Irina
Resumo: Felicidade adormecida. Heroína é o nome nas ruas. Felicidade adormecida é o que diz o meu coração.

Apaixonada por algo infantil.

Um singelo piscar de olhos que enlouquece qualquer criatura, é tudo que você precisa e menos o que você quer. Devo estar aqui há 2 dias, gastei o dinheiro todo de um mês de trabalho forçado. Consegui mais que queria, 50 gramas a mais da dosagem permitida que meu corpo agüenta. Um belo jeito de se começar um feriado. A música lá embaixo, muito distante. As batidas de meu coração, incrivelmente perto. Me sufoca, entope meu nariz e faz minha garganta arder, mas depois a sensação de prazer absoluto. Nem preciso mais de tentar ou me forçar a fazer algo que talvez elas gostassem. Heroína é o nome nas ruas. Felicidade adormecida é o que diz o meu coração.

A música continua e me dá vontade de dançar para sempre, até meus pés doerem, mas é minha cabeça de novo. E eu quero aliviar essa dor, preciso de mais. Não muito, pois sei que mais um pouco do desejado, eu morro. Como seria bom...

Então me deito na cama e estico o braço. Não sei como a agulha consegue achar o lugar confortável, levar o meu encanto secreto direto para meu coração, veias, sangue, água, ossos... Minha cabeça dói. Repito o processo e o pacote parece diminuir, o quarto está vazio e eu não estou mais aqui...


– Você precisa parar... – diz alguém e eu balanço a cabeça desaprovando a sugestão absurda.
– Pra quê? – alguém fica em silêncio
– Isso ta te destruindo... Olha só pra você...
– Pra quê?
– Porque essa porcaria corrói teu cérebro e você nem ta vendo! Não me olha assim!
– Seu nome tem jeito de música...
– Ta delirando? Essa porcaria ainda ta agindo!
– Sei lá... Foi uma idéia, é legal o seu nome... Um compasso de ¾...
– Interna essa guria...?
– Pra quê? – mesmo silêncio, mesma negligencia...
– Vai ser melhor, ela melhora e sem problema pra gente, que tal? – aponto para algum lugar no meu cérebro e minha querida bisnetinha responde:
– Nietzsche acabou com sua vida, não é?

– Você tá me ouvindo...? – diz alguém na rua movimentada. Estou sentada. Realmente meu corpo está sentado, mas meus olhos dançam nas ruas movimentadas da maior festa de Nova Orleans. Vejo marchinhas de 4/4, ¾ e às vezes 6/6 quando estão correndo atrás do moleque trombadinha, ouço Dó sustenidos em vozes de homens e Fá maiores em mulheres, crianças são Lãs desafinados e velhos casais cansados da vida são como um quarteto de cordas de Jazz... Aqueles que ouviam em cada esquina da Seventy Street em Nova Orleans. Sentia falta de minha vida na cidade velha... – Hey, guria! Acorda!
– Não tou legal... – e meu corpo tomba no colo de alguém.

– Já pensou em morrer...? – diz alguém nos fundos do barzinho famoso do bairro chique dos franceses. Eu respondo que não, mas minha língua está enorme em minha boca. Mordi-a ao errar a mira da colher na vela. Foda-se, vai na perna mesmo...
– Tá doidona, a guria... Legal...
– Vai lá e mexe com ela... – diz alguém malicioso e meu alerta sonoro ressoa na minha mente. Sinto alguém me apalpando asquerosamente. Pego a primeira coisa ao meu alcance e bato em sua cabeça. Cano de ferro de velho encanamento. Sangue fresco em meu casaco surrado, um dente quebrado no meu tênis, um grito agonizante no meio de uma noite de sábado na velha cidade...

– Sarah Irina... ahn... que porra de nome é esse...?
– É húngaro... – respondo para o delegado da noite.
– Por que bateu no pobre garoto, menina?
– Ele não é pobre, senhor delegado...
– Você entendeu!
– Ele não é pobre... – sono nas pálpebras, falta de mais alegria, meu sangue quer dizer “olá” para alguém.
– Olha aqui, criança. Vou te manter aqui essa noite pra não arranjar mais confusão com os franceses, okay?
– Aqui tem comida boa?
– Deve ter, te mando alguma coisa no final do expediente.
– Pode me arranjar um absorvente? – silêncio do velho delegado tão dedicado a ficar sentado em sua cadeira fofa. - Ele não era pobre, delegado... – sendo arrastada para uma cela escura, alguém está ali dentro na mesma sina.

– Tá chapada...? – diz alguém na cela.
– Ahn...? – respondo sem certeza, acho que não.
– Crack? – nego com a cabeça – Cocaína...?
– Não uso essas porcarias...
– Heroína...? – e meu sorriso abre em meu rosto inchado e pálido. – Uma viciada em heroína... Parabéns... Quantos anos tem guria?
– 16 anos e 6 meses e meio e... umas horas aí...
– Que merda você andou fazendo hoje pra parar aqui?
– Mandei Johnny Stenfield pro Hospital, acho...
– O safado queria te agarrar, certo?
– Sei lá... Fiquei com raiva porque atrapalhou minha música...
– Música...? – ouvi uma risada debochada.
– Fá sustenido...
– O quê...?
– Nada... – e me escondo para não mostrar que estou chorando.


Tudo começou naquela tarde estranha de setembro.

Cercou o gringo atrás dos becos da French Street e catou logo a mochila do riquinho. Quis espancar o coitado, ver ele sangrando e implorando por misericórdia, mas a raiva era deixada de lado ao lembrar do sofrimento do irmão mais novo em algum lugarzinho medíocre do bairro mais abastado, lavando roupa, secando chão, servindo aqueles que os deixavam com os restos do jantar.

O guri fugiu assustado com a força de sua mão, sempre disseram isso pra você, a sua pegada forte de direita, as mãos firmes no bastão, a bola certeira para bem longe da demarcação do campo de jogo, os dedos calosos de tanto ajudar a namorada do pai a lavar as roupas dos irmãos mais novos. Maggie passava muito tempo no Hospital com o velho beberrão, e Dylan sujava mais meias que ela própria. Jogava futebol nas segundas-feiras.

O rapaz recém-chegado na cidade fugiu assustado porque não tava acostumado com a vida normal da periferia de Nova Orleans, só estava prevendo as festas tradicionais, a bebedeira, a facilidade e o abuso de substâncias ilícitas. Roubo, morte e sobrevivência, isso ele não estaria acostumado.

– Hmmm, chocolate! - sorriu com satisfação e engoliu o doce com vontade, revirou o conteúdo da mochila cara e espaçosa, daria pra guardar as roupas do irmão Timothy ali, ou talvez ajudar Dyan levar seu material escolar.

Pegou a carteira e riu com a quantidade de dinheiro do estrangeiro. Bastante pra botar carne de verdade na mesa, nada de restos mal passados dos ricos, nem as sobras do açougue comunitário na Quarter Street, hoje jantaria como uma realeza e deixaria o pai orgulhoso.

– Caramba... - assoviou baixinho ao ver que um celular moderno estava cintilando na palma da sua mão. Venderia pro penhor e conseguiria uma bela grana pra pagar os remédios de Maggie, já as carteiras de habilitação, identidade e passaporte foram pro bueiro. Ah foda-se que vá entupir o ralo, eles jogam mesmo os dejetos em cima de vocês, não?

Desceu a rua de pedras esfolantes para o tênis barato e rasgado na sola, cruzou a avenida principal sem se preocupar se algum carro atropelasse seu corpo miúdo e entrou nos domínios do bairro negro e pobre da mística Nova Orleans. Pulou a cerca que separava os pobres do resto do mundo e viu que o céu daquela tarde estava meio diferente do normal... Sem nuvens e aquela calmaria estranha que só a cidade do Jazz tem às vezes. Os prédios Habitacionais imponentes na decadência do cinza-amarelado do tempo.

Tinha medo desse silêncio, talvez fosse por estar em constante movimento e a gritaria e o choro e a dor, mas mesmo assim o silêncio era algo que parecia perturbar sua consciência.

Viu o negro Bishop ajeitando as calças pra atender alguns clientes, não podia entrar na loja dele porque era proibido pra menores, mas bem se a namorada do pai entrava sem problemas pra pegar aquele pacotinho todo final de semana pra vender pros seus colegas de sala, então ela poderia...

– Tá fazendo o que aqui? - Bishop já pegava a vassoura pra enxotar a menina miúda.
– Quero um pacotinho que nem o da Fabian.
– Pra quê guria? - ele disse olhando pro celular reluzente e absurdamente caro na mão dela. - Tá afim de ficar como teu pai é? Já não basta ele ter sido preso?
– Quero o pacotinho pra vender, ajudar nos remédios da Maggie. - ela disse com firmeza, olhou o mostruário nas estantes, armas de todos os calibres, munição e facas artesanais. Bishop vendia de tudo. Ele estendeu o pacotinho e pediu o celular.
– Isso dá uns 20g... E esse dinheiro aqui guria, é pro remédio da pequena. É muita grana, falou? Não seja estúpida e não vá gastar com outra coisa...
– S-sim senhor. - Ela respeitava mais Bishop do que o próprio pai.
– E vê se passa essa branquinha aí longe dos olhos dos otários do Distrito. Quase pegaram teu irmão daquela vez...
– Sim, senhor.
– E pára de me chamar de senhor, porra... - ele sorriu para a menina fragilizada a sua frente. - Vai cuidar da tua vida e volta aqui depois com o lucro disso aê, falou? - ela concordou mal sabendo como funcionava o esquema de tráfico do Bishop. A namorada do pai Fabian já sabia, estava nessa desde pequena, e não era entregando ou repassando dinheiro, mas Sarah achava que era outra coisa. Um pózinho branco sem significado, mas que nas mãos da namorada do pai parecia que era algo muito importante e ajudava muito nas despesas da família.

Sentou no parquinho da última esquina até o Ferro-velho dos Drennan ocupar o resto do terreno. Não havia muita gente ali, uns rapazes lá curtindo suas namoradas, uma delas com um pacotinho igual ao seu e ao invés de esperar alguém pra poder vender, ela simplesmente abriu e espalhou o conteúdo na mão. Riu um pouco e apertou a narina direita e inalou o pó profundamente. A rodinha riu novamente e continuou com o ritual. Então era assim? Era assim que deveria fazer e depois vender? 'Que coisa mais idiota' ela pensou aos seus 12 anos e 7 meses de vida. Repetiu os mesmos gestos, cheirou um pouco o pózinho pra ver se podia mesmo, tinha um gosto adocicado no paladar quando inalou pela 1ª vez. Gostou. Corrigindo: Amou. Deleitou-se na 2ª inalação. Na 3ª e última sentiu que suas pernas tremiam. Não de frio ou de temor, era diferente e deitou-se ali na areia do parquinho enferrujado, peito arfando como se estivesse correndo por quase 5 quarteirões sem parar. Sensação boa e amedrontadora ao mesmo tempo. Tinha medo de não sentir mais ela e não ter como conseguir mais daquele pó açucarado.

Lembrou da música nova do neto do Bronx, falava de uma donzela adormecida que ao acordar viu que o mundo todo era belo e maravilhoso, com paisagens paradisíacas e emoções fortes de felicidade. Lembrou também que essa música era difícil de tocar no cello quando não se tinha um arco de 1,20m e quando não se sabia muito bem a clava de Fá.

Sorriu e gemeu. Mal percebera que entrara na adolescência.

12 outubro 2017

Desafio Musical U2 - parte 4 de 10

Continuando o desafio musical do U2, 3 músicas por dia.
(3 vezes 10 dias igual 30 músicas)


10. Uma música do U2 que te deixa triste = Sometimes you can't make it (On your own)



A letra é pro pai falecido do Bono. Os dois não se entendiam bem. Aliás, One, o classicão é pra ele também. Essa música em especial tem um significado beeeeeem </3 pra mim, então...

11. Uma música do U2 com a qual você nunca se cansa = LIMÃO!! Lemon.



MACPHISTO É PURO GLAM E AMOR!!

12. Uma música do U2 de seus anos de adolescente = Stay (Faraway, so close)


Eu descobri que era fã ao ver esse vídeo em 1996. Curiosidade: esse video aí acima tá cortado, a versão original nem no U2Vevo tem, muito muuuuuito estranho... (E eu ligava para a rádio local de Betinópolis pedindo essa música, eles nunca tocaram)

11 outubro 2017

Desafio Musical U2 - parte 3 de 10

Continuando o desafio musical do U2, 3 músicas por dia.
(3 vezes 10 dias igual 30 músicas)

7. Uma música do U2 para dirigir = Fast Cars?


Nem carro tenho, mas acho que seria irônico ouvir essa xD

8. Uma música do U2 sobre drogas ou álcool = Zoo Station


Curiosidade: Zoo Station é uma estação de metrô de Verlin e é citada no livro e filme Christiane F.

9. Uma música do U2 que faz você feliz = Beautiful Day <3


Quando essa foi lançada, era 1999 e foi um ano bem importante pra mim. Ouvir essa tocando no rádio era um alívio pra alma inquieta e ansiosa.

[Forgiven] 2 Jojo Ulhoa

Título: Forgiven 2 Jojo Ulhoa (por BRMorgan)
Cenário: Original/Cotidiano, Nova Orleans..
Classificação: PG-13.
Tamanho: ??? palavras.
Status: Incompleta.
Disclaimer: Esse conto faz parte de uma epopeia que comecei na época da Graduação:  Teve uma continuação não terminada e não prestou muito para continuar, mas não custa nada postar por aqui. Mais sobre Forgiven Jojo Ulhoa tá aqui nesses links [x] [x] [x] [x] - vou postar tudo aqui.
Personagens: Joanne Ulhoa, Erin Cassidy.
Resumo: Forgiven Jojo Ulhoa conta a história de uma assistente de medicina legal, residente em um Hospital de uma cidadezinha chamada Morgan no distrito de Parish na Lousiana. Ela tem alguns probleminhas existenciais.


When I thought I was so proud, you shoot me down...

A frase foi rabiscada na porta de algum box de banheiro de alguma escola de alguma cidadezinha qualquer por aí. Feita com compasso das aulas de álgebra que nunca assistia direito e enfeitada com vários “x”s por todos os lados. Era como desenhar um mapa do tesouro, só que não havia nenhum para se encontrar. A surpresa fingida ao terminar o próprio vandalismo, o ajeitar da saia apertada nos quadris, a insatisfação de ter feito a coisa certa naquele momento, mas não estar totalmente certa para mostrar a alguém. Essa seria sua sina para o resto de sua vida, se ela pensasse um pouquinho melhor sobre o que fazia como tempo que Deus lhe dera naquela Terra.

A cidade de Morgan era tão enfadonha quanto o pseudo-convento que era obrigada a viver, a menina tão comum quanto qualquer menina da Louisiana só queria fazer algo que se sobressaísse as outras meninas, mas até então apenas uma frase mal entalhada na porta do banheiro era o melhor que poderia pensar. Parou por um momento em sua euforia matutina de uma noite cheia de aventuras e subindo na tampa do vaso sanitário, espiou o movimento nulo do banheiro do 2º andar. Saiu vagarosamente e fitou seu rosto nada novo no espelho limpíssimo, abriu a boca e verificou alguma coisa em sua língua, soprou na mão para cheirar o odor do hálito matutino, checou bem os olhos e as pálpebras. Por último, a pulsação que continuava imperceptível para ela, mas que os médicos que já fora diziam que era devida sua compleição física e sua pressão baixa.

Que fosse, não iria parar de fazer a checagem da manhã porque um cara de jaleco com diploma prometera com suas chapas de raio-x e exames periódicos que ela estava bem. Não estava, só precisava de um pouco mais de prática para continuar vivendo.

O ano era de 1996, o bairro era notável pelas construções antigas da colonização dos franceses naquela parte da Louisiana, a cidadezinha se firmava como dormitório de muitos trabalhadores e estudantes da Capital que achavam ali o sossego para as vidas apressadas. Cidadezinha pequena no meio de um provinciano estado em um país moralista. A cidadezinha marcada por boatos e mexericos, todos inventados pela maioria de seus habitantes e aumentados pelos mesmos.

Todos tinham seus papéis marcados, todos com seus dias contados. Dali, só para a eternidade, pois não havia nada naquela cidadezinha que levasse alguém para frente. O que muitos achavam que era tranquilidade, passividade e nenhuma surpresa, a minoria jovem e agitada se perdia nas ruas de Nova Orleans.

Debaixo do link, Forgiven 2 Jojo Ulhoa.