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03 julho 2019

Projeto Biblioteca TLGBQIA+

Lembro de em uma das conversas francas com uma pessoa querida da Biblioteconomia, ela me dar aquele conselho-quase-puxão-de-orelha sobre eu não querer misturar público com privado (Eu sei, eu sei, herança estúpida de anos no armário de concreto e ferro, medo de ser notada e sofrer as consequências por isso) e na mesma conversa ela falar que era necessário dar voz para a gente mesma e só a gente poderia fazer isso.

Parece bem óbvio, mas na época eu morria de medo.
E ainda tenho, porque não entendo de muita coisa sobre o movimento/comunidade LGBT (só essas letras mesmo, porque vim da cultura GLS, aff), mas tou me esforçando para APENAS sacar o que eu, como pessoa trans, posso fazer para ajudar outras pessoas como eu de alguma forma.

Nem que seja com receita de bolo.
(Não garanto, não sei cozinhar, mas cês entenderam)

Aí uma pessoa abençoada por Rangs apareceu em um dos comentários do Facebook ontem de tarde e hoje à noite - cerca de 2 horas atrás exatamente - a Biblioteca TLGBQIA+ nasceu.




A intenção é não ficar no Facebook, é expandir para algo fora da rede social e também da Internet (Por que não?!), que seja de uso simples e intuitivo para qualquer pessoa que necessitar de informações sobre serviços, saúde, prevenção, segurança, educação, direitos civis, projetos sociais, ONGs, essas coisas básicas que todo mundo deveria ter por default.

Acho que vai, tá sendo feito com carinho, com afinco, com vontade.

E vivendo e aprendendo chuchus...
Um dia de cada vez <3

01 julho 2019

[contos] diablo III - quando o toque do anjo não é uma benção

Mais outro trem que escrevo e não sei se vou finalizar?
Siiiiiiiiiiim!! Da minha franquia favorita de games <3


Chapters: 1/? (Vai ter muitos, já escrevi vários)
Rating: Mature
Warnings: Graphic Depictions Of Violence
Characters: Necromancer (Diablo III), Necromancer (Diablo II), Female Witch Doctor (Diablo III), Male Necromancer (Diablo III), The Nephalem (Diablo series), Amazon (Diablo II), Rogue (Diablo II), Myriam Jahzia (Diablo III), Lyndon the Scoundrel
Additional Tags: Non-binary character, Gender Non-Conforming Character, reaper of souls expansion, westmarch, Idiots in Love, Love/Hate
Notas: contém as tropes Love/Hate - Idiots in Love - descrição detalhada de cenas violentas - pode conter cenas inapropriadas (NSFW).
Summary: Um grupo de mercenárias faz missões errantes para proteger a população das ameaças pós-conflito dos nefalens contra Diablo e os Malignos Supremos. Ganhando dinheiro que os lordes podem bancar e descobrindo segredos deixados desde os tempos de confronto contra as forças do Mal, o grupo "Rastejantes" mantém uma certa paz na cidade sitiada e destruída, capital do Reino de Hespéria (Ato V).

Sien é a líder dos "Rastejantes", estrategista e amazona exímia vinda das Ilhas Skovos. A imortal feiticeira Irina dos Vizjerei é o apoio mágico do grupo. A bruxa-doutora Zunimyi saiu de sua tribo para descobrir o mundo após a queda da estrela cadente. A jovem Kyla Haile, que presenciou sua cidade sendo devastada pelos ceifadores de Malthael. Daehir, necromante sacerdote de Rathma, a pessoa que guia o grupo nas missões. E Míriam, a mística acompanhando o grupo nas empreitadas.
Baseado na franquia Diablo da Blizzard Entertainment, Inc, focando na expansão de Diablo III - Reaper of Souls.

---xxx---

 Quer trilha sonora? Tem trilha sonora!


29 junho 2019

sobre traduções amadoras, jogos e a Era Orkut.


Aqueles textos sobre games...
É que eu amo muito a franquia Diablo e quanto mais pesquiso sobre o enredo do jogo, mais fico feliz de ter reservado metade do meu cérebro pensante em detalhes do Mundo Santuário.

Então em um CD velhaco aqui nas montoeiras de coisas que ainda guardo tem um txt imenso com a tradução fuleira de Diablo II que uma comunidade do Orkut disponibilizou na época do lançamento no Brasil, ali entre 2001/2002.
(Obrigada forévis pro meu incrível primo Oto Melo por me apresentar o jogo)

O arquivo das falas estava escondido em um diretório do programa quando você terminava de instalar e tinha umas pessoas lindas que descobriam como dar um jeito de extrair, fazer traduções livremente, mudar algumas funções, fazerem o que chamam de "mod" em jogos (É uma modificação customizada que pode ser divertida até).

E nessa comunidade rolava muita troca de traduções e termos e coisas afins sobre o jogo, porque entendam era 2001, não existia Wikipedia, o site da Blizzard era todo em inglês, os manuais que vinham nos CDs do jogo não tinham tantas informações assim e muito era definido no "tato", o de jogar, jogar, jogar, voltar e interpretar a história e ver como a narrativa se encaixava.

E estamos falando de um jogo entre 36 a 46 horas para começo e fim. Era diálogo pra caramba! 
O que a gente fazia?
Pegava dicionário fuleiro, conhecimento avançado em inglês, alguns privilegiados que sabiam mais do idioma anglo-saxão e metíamos as caras em uma tradução que sim, sabíamos que não era uma maravilha, mas que ampliava a jogatina para outras pessoas que sabíamos que não se aproximavam de jogos assim devido a barreira linguística.
(Quantas vezes em locadora, com dicionário de bolso faltando páginas, junto com a molecada pra tentar entender enredo de começo dos games que amávamos?)

E aquele pequeno esforço foi dando meio que certo, pois a cada ida e vinda de correções e tópicos sobre termos e volta e meia uma referência cruzada com outros jogos da Blizzard (THERE IS NO COW LEVEL!) me fez perceber o quanto eu me afeiçoei a uma franquia não pela sua qualidade ou jogabilidade ou essas coisas técnicas que gamers gostam de exaltar, foi pela comunidade de nerds bestas que com o mesmo problema ("não sabemos inglês, bora traduzir essa powha? bora!") consegui ter paixão por esse jogo em particular.

Tinha bastante mina na comunidade, aliás era um dos poucos lugares onde eu me identificava como pessoa do gênero feminino sem ter receio de assédio, babaquice e tudo que vem com isso. Acho que nosso foco era tão obsessivo em traduzir logo a powha do texto pra poder jogar direito (E mostrar pros amigos que davam pra jogar também) que não tinha tempo pra desqualificar ninguém por ser isso ou aquilo.

Okay rolava uns preconceitos contra necromantes (Minha classe, aliás), mas é porque depois da expansão rolou um ajustes de classes e a gente literalmente ficou overpower, acima da média das outras classes (Tá, okay! Necro era classe roubada, okay? Admito! Aff) - além disso? Não lembro de haver desrespeito durante as discussões nos tópicos.

Ninguém reclamava da robalheira das Assassinas!

O Orkut se foi, a comunidade também, o jogo tá aqui bonitinho em 3 CDs encostado bem perto na escrivaninha e esse arquivo bobo me faz ter boas lembranças de como a gente usava a Internet de uma forma tão comunitária que esquecíamos que poderia rolar uns processinhos da Blizzard se soubesse o que estávamos fazendo.
(Mas meu lema sempre foi acessível para toldos. E eu digo TODOS! Mesmo pra quem não quer)

Quando vi em 2012 que a Blizzard ia traduzir E DUBLAR o jogo todo, meu coraçãozinho foi lá nas alturas
E respeito total por todos os envolvidos no projeto aqui no Brasil em dar mais acesso para quem gosta da franquia e queria conhecer mais do Mundo Santuário.
(Estou falando de acessibilidade também, extremamente importante)

Mas também não vou esquecer daquele grupinho de pessoas com tempo de sobra em suas vidas, com modem péssimo após a meia noite da sexta pro sábado, ou em lan houses que utilizavam o pouco que sabiam de um idioma pra dar acesso pra quem não podia ou não sabia ainda.
(Aliás, o que deve ter saído de pessoas com inglês afiado daquela comunidade deve ter sido ótimo, a gente discutia muito sobre termos e eu nem sabia o que era vocabulário controlado e essas parada de linguagens documentárias da Biblio!)

E era isso, mais alguém com uma experiência gamer total fora do padrão aí pra gente assuntar? Não? Sim?

21 junho 2019

o que aconteceu meodeozis?!

Há cerca de 2 meses não escrevo nada aqui.
Caraca, o que aconteceu?

Bem...
Várias e várias coisas.
O que não me deu vontade alguma de sentar e escrever sobre.

Esse gif foi patrocinado pelo filme mais legal da Marvel
Debaixo do link aquele rambling necessário...

22 abril 2019

tudo tem seu limite

Há uns 2 anos atrás sofri ameaça direta de violência física dentro do curso que amo. Motivo? por estar dentro do movimento estudantil e por querer abraçar o mundo como dava. Sem arrependimentos aqui, mas o damage sofrido não foi recuperado, e acho que fiquei meio caolha no processo.

E por não poder me deslocar sem ter um ataque de ansiedade dentro do busão ou andar depressa mais do que as pernas podiam ou ficar insistentemente olhando por trás do meu ombro na vã impressão que o doido ia brotar do chão e fazer mesmo o quanto andou gritando em caps lock, eu imaginava a minha reação se isso realmente acontecesse.

E isso me rendeu cenários nada bonitos de se imaginar, gente.
Não dê munição para uma imaginação já fadada a noiar sobre pequenos detalhes da vida.
Novos limites tiveram que ser estabelecidos, pro meu bem físico e pra minha sanidade mental já fragilizada não ir pelo ralo. Ir pra conchinha foi restaurador, mas sair dela tá sendo estranhinho, pois a impressão que tou tendo é que a força empregada em manter algum controle sobre meus impulsos (E os tenho, sim, e eles são destrutivos em diversos modos) valeu a pena até certa margem de erro.

Eu sei, é sobre placas tectônicas, mas tem a ver com bordas e tals

Tive a ajuda profissional de pessoas capacitadas, tive o apoio de pessoas que me amam, mas principalmente tive que relembrar mais outra vez, novamente, de novo, que o que me alimenta é o que me mata, então dar comidinha pros monstrinhos já encarcerados beeeem lá nos fundilhos foi proibido. E é difícil, porque eles rugem bem alto junto com o bode balindo preso na perna. Às vezes eles cantam e eu sigo a cantoria, mas nesse tempinho de recuperação e sumiço de qualquer coisa aproximada ao que fazia antes foi como entrar em uma câmara suspensa com gás apático e com permissão para sair algumas vezes.

(Debaixo do link os afastamentos e os limites necessários para convívio pacífico)

31 março 2019

Aquela duvidazinha que aperta

Acho que a primeira vez que desconfiei que talvez o mundo em que vivemos poderia ser uma paródia bem tosca de um simulacro mal feito de deuses cansados foi ao fazer uma redação sobre meu melhor amigo.

Eis a questão para crianças introvertidas: a gente não costuma ter tantos amiguinhos, mas a gente observa bastante as pessoas sendo felizes tendo amigos.
Não é uma necessidade crucial de convivência social, não vou morrer de tristeza se não tiver a presença de miguxes por perto ou diariamente - ffs não sou um bloco de gelo, apenas tenho aquele trem de precisar de espaço pra recarregar as baterias por conta das interações - também até agora não arranquei meus olhos fora por não ter alguém pra dividir a cama e as contas, afinal de contas, gosto mais da minha solidão do que a ansiedade, apreensão e embaraçamento de estar na presença de pessoas.

E na redação escrevi sobre uma amiga imaginária que sempre esteve comigo até me convencerem que amigos imaginários são fases da infância pra se acostumar com a vida cruel e chata. Mas escrevi sobre ela e lembro de terminar de escrever uns dois parágrafos - minha letra horrenda era grande naquela época, então ocupou a folha inteira - e me perguntar: "Será que os outros vão entender o que tou tentando escrever aqui?"

Então escrevi sobre meu cachorro (que era companheiro de brincadeiras e a amiga imaginária também era chegada nele) e pronto, passável.

Não lembro de admoestação nisso, lembro de me preocupar se escrever sobre alguém que supostamente não existe, mas que volta e meia me ajudava nas brincadeiras e nos estudos e no entender o mundo ao meu redor (era confuso pra cacete gente, sério! Cês já fizeram esse rememoramento de como as coisas na infância, apesar de simples, os adultos babacas complicavam com trocentas regras impossíveis?!).

A amiga imaginária saiu da "materialidade" que uma mente fértil infantil pode formar - era uma moça bem bonita, aliás, às vezes reconheço a voz dela em lugares e sempre quando decido seguir o que chamam de "instintos" ou "intuição", acaba sendo batata - ou tá corretíssimo ou vai dar muito pano pra manga - e habita minha cabecinha de melão cheia de ideias despirocadas, porque eu não deixei aquela redação matar a minha criatividade. Ou qualquer outra manifestação autoritária de estrangulamento de criatividade.

Mas fazer esse esforço de esquecer que essa ideia que era externa - pergunte a qualquer criança que tem amigo imaginário, a persona "existe" em algum level de materialidade, nos sentidos principalmente, eu costumava sentir cheiro de perfume gostoso quando a amiga aparecia, ouvia pouco da voz, mas o segurar minha mão quando ficava escuro no quintal dos fundos ou de ficar do lado da cama contando alguma história que dava pra gente brincar no dia seguinte (eu já havia sido introduzida aos blocos de montar, storytelling veio cedo aqui e culpo a uma fonte externa. Eu era uma criança essencialmente sem graça e não muito empolgada com pessoas) - foi a primeira impressão que "Yep, esse é o mundo que todo mundo parece ver, então é isso que vou ter que aturar? Desafio aceito, né?"

Minhas aspirações de botar fogo no putero eram altas naquela época.
E quando digo isso era de se subverter da ordem geral.
O desconforto tava ali de não encontrar lógica em algo padrão como "meninas jogam vôlei, meninos futebol e usam a quadra maior".

Não é algo pra uma criança de 8 anos já sair no bate-boca com professores do primário.
Ou de falar demais dentro da sala, não com coleguinhas, mas de perguntas e mais perguntas, de me botarem na diretoria, por causa disso, por fazerem o ERRO CRUCIAL de me mandarem dar uma voltinha na biblioteca. Essa Realidade Estática sempre me deixou intrigada com as conformidades, não as deformidades. O padrão me é enjoativo, mas passável (Assim como minha existência até agora). Mas viver de padrão pode prejudicar sua criatividade.

Cair na Biblioteconomia não foi milagre ou decisão acertada, foi como um destino emaranhado de fios de diversas cores e grossuras fossem sendo costurados lá pelas fiandeiras, até uma catar o olho da outra irmã e apontar praquela manhã de pseudo-castigo na biblioteca fosse o fator decisivo de uma vida inteira de:
1 - esconder as minhas perguntas dos outros e fazer o trabalho sujo eu mesma (descubro sozinha blergh!)
2 - encontrar a profissão que amo de paixão e ninguém vai me convencer o contrário disso
3 - saber o que raios tou fazendo nesse plano de existência e o que posso fazer pra suportar um tempinho aqui sem causar tanta destruição contra mim mesma

Porque a destruição tá bem perto, sabe?
O Caos reina em uma mente que não sossega 24/7, nem quando medicada, ou exausta, ou enquanto dormindo.
Isso irrita.
Porque voltar ao estado normal das coisas não existe desde meus 7 anos (a memória de funcionamento do meu processo de entender o mundo é nessa idade, antes são borrões, flashes e um medo insano de me aproximar de pessoas). Tentar me adequar também é um problema, sempre dá erro 404.

Voltar a caixinha não rola, porque essa caixinha não foi uma opção que pude escolher, de entrar e ser domesticada ali dentro. Em outras caixas mais apertadas e blindadas sim, nessa da padronização não.

A criatividade, que insisto que veio de parte externa do sistema - afinal ter lembranças de uma amiga imaginária continua sendo meu atestado de quase insanidade - continua povoar a cuca aqui. Nunca me atrapalhou em cumprir meus compromissos,mas às vezes me fez apressar passos daquela precaução que a criança introvertida assustada com pessoas já planejava antes de ter tino que se proteger é bom, mas se blindar é algo péssimo.

E hoje vendo duas crianças no ponto de ônibus, cada uma dançando uma música que não existia materialmente, me fez pensar no que o mundo considera como sanidade e loucura. Esses pequenos vislumbres de criatividade espontânea das crianças estão em todos os lugares e até quando elas estão se esforçando pra forçar uma passabilidade de "Hey adulto babaca, sou normal tá. Aqui meu atestado de eficiência no status quo. Continua sua vida".

Na Educação é onde vejo mais esses focos de criatividade acontecerem com mais frequência - tanto pro bem quanto pro mal - e que infelizmente a própria Educação com "e" maiúsculo sufoca e esquarteja.

Não há um dia em que eu não acorde com uma ideia nova na cabeça, que mesmo que impraticável (maioria), vai me puxar pra outros cantos, não tem uma noite que não boto a cabeça no travesseiro e não esteja pensando em algo, possível, palpável, durável ou completamente platônico. Não há algum momento durante o dia em que não passe sem viajar na maionese com algum tópico.

Porque eu alimento a criatividade com o pouco que dá em dias como esse.

Duas crianças dançando desajeitadamente em um terminal de ônibus lotado de pessoas em uma massa amorfa de corpos, em um ritmo que não existe pra gente ouvir aqui fora (será que era o Ranganathanga?!) já me fez correr pra esse bloco de notas e escrever um pedaço de conto. Tem pessoas que gostam de contar, outras de narrar, outras de escrever. Fico com a tarefa de escriba mesmo, escrevendo pra não esquecer, rememorando com o que é possível recuperar nesse músculo falho nosso chamado cérebro.

Mas entre amigas imaginárias, despertares de novas percepções, convivências com um cérebro barulhento e insuportável em algumas situações (vai lá fazer prova de processo seletivo com uma música nada a ver tocando no looping dentro da cuca e ser obrigada a pegar um rascunho, escrever a powha da letra pra ver se o treco é expelido pra poder se concentrar), todo mundo tem o potencial de não esquecer aquela criança de antes, a de ideias lokaças e jeitos mirabolantes de se ver o mundo chato.

Até lá, conservando a sanidade aos pouquinhos.

28 março 2019

sonhos estranhos com detalhes - Gão, o grogue, o caldeirão e implicações sobre isso

Disclaimer: em um AU aí sou um raccoon


Fazia tempos que não escrevia sobre "Sonhos estranhos e com detalhes" e hoje não pude me conter, foi deveras trágico e hilário ao mesmo tempo. Como uma boa peça de teatro grega. 

Então eu estava em uma floresta e trabalhava nela (???). 
Já sabia da minha rotina e o que deveria fazer, até entrar no campo de trabalho - que era uma clareira no meio da Floresta - e ver que outros animaizinhos estavam trabalhando também. 

Para muitos, hora do pesadelo, para mim um daqueles desejos reprimidos realizados: sou um guaxinim. Tenho até cauda fofuxa! E pelo reflexo da maquininha de cartão de ponto, o rosto é igualzinho. 
(olha eu com meus bigodinhos e olhos pretos e carinha de larápia!) 

Tenho meu momento de felicidade, sempre amei guaxinins, guaxinins são o máximo e ninjas e roubam coisas e são fofos. Momento de deixar a empolgação de lado e ir aonde trabalhava. 

Então vejo uma comoção no pátio dos fundos do local de trabalho - esse que ainda não sei o que é, mas que sei a rotina - e há vários funcionários comemorando sei lá o quê com um grande caldeirão de frutas sendo cozidas e um outro tacho enorme, de cheiro marcante, do lado. Yep, bichinhos da floresta produzindo grogue - festejavam. 

(Caso não saibam grogue era uma bebida que os marinheiros e piratas faziam em alto-mar quando não tinham muita coisa pra beber, era uma mistura de vinho com suco de diversas coisas, podia ir fruta, legumes, whatever, mas fermentada igualmente e com alto teor alcoólico - como eu sei disso? Eu li "A ilha do tesouro" do R.L. Stevenson, eu também já tomei grogue, não é uma das melhores coisas que já coloquei na minha boca - interpretem como quiserem) 

O que festejavam, não sei ainda. 
Até me juntar ao grupo de dançarinos bêbados, cambaleantes e confiantes em suas confidências, apoiando uns aos outros pelo trabalho prestado naquela floresta. Há muitos discursos iklclbnryerfmjandmcf balbuciantes e enrolados, eu, na minha humilde assistência, tomava alguns goles (Até que esse grogue estava bão, tinha gosto de maçã caramelada) e botava quem estava mais fora do eixo sentado em um banquinho de toco de árvore, levava um pedaço de comida e água, ouvia a confidência. 

Cês sabem, fazendo papel de bibliotecári@. 
Até o "Gão" aparecer. 

Não sei de onde o Gão surgiu, mas ele parecia ser a figura de autoridade dali. 
Sem tantas pessoas no grogue que não perceberam Gão pegar uma caneca enorme e o seu colarinho solto e a gravata no bolso, Gão e seus assistentes - que pareciam doninhas de corpo fininho e também engravatadas - celebraram moderadamente, cumprimentando alguns funcionários aqui e ali. Ele particularmente, observava os outros animaizinhos, como eu. Espectadores de espectador. 

Alguns funcionários tinham receio de Gão, outros não iam com a cara dele de jeito algum. Outros se preocupavam que aquela festa, talvez, fosse pra ficha de obediência. Eeeeeeeee foi isso que ouvi mesmo "ficha de obediência"? 

Marca isso pra depois, Sandoval! 

Travei um diálogo interessante com um bicho peludo e alto para ver os olhos - afinal eu era um guaxinim! - mas que tinha predileção por literatura clássica e fábulas. 

Momento WTF: ao olhar ao redor, concluímos que estávamos em uma fábula, afinal, éramos bichos e em algum momento iria rolar a Moral da História. Sinceramente eu esperava muito que não rolasse isso, odeio fábulas e o que elas representam na infância dentro de uma sociedade patriarcal e capitalista. 

Fuck the moral da estória, me dê reflexão altamente crítica sobre tudo! 

Discutimos eu e o bicho enorme - será que era um urso, uma capivara, uma onça pançuda, quem era você de voz muito grave, sotaque do norte e super amigável? - sobre quem iria cair primeiro de tão grogue que estava. Os funcionários operacionais, que carregavam caixas pra lá e pra cá estavam firmes e fortes, já nos quitutes, comendo coisinhas aqui e ali, pãozinho quente, fruta mais carnuda, essas coisas, já o povo do administrativo (Engravatados) já se abraçavam, cantavam e alguns choravam. Gão apenas ouvia. 

Gão parecia triste. 
Queria conversar com Gão, mas ele parecia um muro imenso e o meu bloqueio interno de me aproximar de pessoas de hierarquia maior que a minha sempre foram um problema.  Nossos olhos se encontraram e Gão não estava triste, estava acabado. 

Sabe quando você olha pra uma pessoa e vê que ali não há mais nada além do fim? Não? Espero que não, porque são poucas vezes que vemos esse olhar em alguém conhecido ou querido para poder identificá-lo em outras pessoas. 
(Parei de olhar no espelho por muito tempo há eras por essa razão) 

Aquela comemoração seria a última de Gão. 
Amanhã não haveria Gão. 
E ninguém ali percebia nisso. 
Com copo de grogue na mão, cheguei perto do chefe de tudo, ofereci o banquinho para sentar, uma comida, uma informação, Gão recusou, pois ele queria beber de sua caneca e pronto. 

Gão olhava para o caldeirão atento, as chamas bruxuleando por todos os lados, ele não ouvia mais os funcionários o cumprimentando, chamando-o para dançar. Gão queria sumir no fogo. 
É o que um guaxinim poderia fazer? 
Espectador de espectador? 
Segurei a mão de Gão, aquela sem a caneca e deixei meu pedaço de pão na palma dele. Ele olhou para o pão e para o caldeirão. Não olhou para mim ou ninguém, mordiscou o pão e ficou ali durante a comemoração toda. 

Os famosos pulos de cena acontecem, e cá estou novamente entrando na clareira, minha lancheira de metal barulhenta em um braço, um cartão pesado de madeira, com furinhos, pronto para ser colocado na máquina de ponto. 

No aviso dos funcionários coisas aleatórias e uma foto do Gão. 
Morrera na noite anterior por beber demais e se jogar em um rio mais próximo. 
Gão ia ganhar um busto feito de madeira como funcionário exemplar, um banquete de despedida e condolências. Gão não deixara companheiros os filhos, apenas sua mesa organizadinha com processos documentais e uma cadeira confortável. 

Entre os funcionários, nenhuma palavra, nem boas nem ruins, Gão se fora como qualquer um. Mais uma perda na empresa, mas a máquina de ponto não para. Gão iria fazer falta por algumas semanas até ser substituído. 
Gão olhara para o fogo como se quisesse virar o grogue fervido que tomava em silêncio. 

Não vou dizer que chorei por Gão, mal o conhecia. Mas vou confessar que a falta dele seria sentida se eu me mantivesse ali no sonho. 

Acordei, 4:14, descontente e com um nó na garganta. Gão me lembrou de não olhar tanto pro fogo e desejar sumir nele. Gão se afogou no rio porque a água é curativa de muitas feridas. Dizem que você sente pouca dor quando desmaia ao se afogar, que é como dormir. Dormir e não acordar mais. Gão fez isso ao invés de desejar sumir no fogo. 

Aí sim pode dizer que perdi meu sono, minha vontade de dormir e fui escrever esse sonho até o sol raiar e ter forças o suficiente pra voltar a ser funcional pro dia seguinte.

03 março 2019

mudanças do eu-lírico/bibliotequices

A SESSÃO BIBLIOTEQUICES TÁ AQUI.
Clica nesse trem que você lerá o que raios faço na Biblioteconomia e quais são meus planos de dominação mundial via estantes e serviços de referência.

Entonces...

Resolvi dar uma repaginada nos esquemas do Bibliotequices - uma sessão que eu mantinha aqui desde outubro de 2015 - para organizar melhor as coisas.

Ha duas razões principais para isso:
1) que dividir eu-lírico do autor faz bem pra saúde.
2) que dar visibilidade ao que escrevo até que pode ser uma boa (ou não, quem sabe?).

Pra quem lia, foi mal, voltaram todos pro rascunho, estão agora lá no Minhas Bibliotequices (Porque só Bibliotequices tá ocupado, vou descobrir quem é) que fiz exatamente para isso. Pra quem lia pra fazer troça, aquele gif blergh pra vocês, tomar vergonha na cara não querem, né?
(BTW gradecide por me ensinarem as mesmas armas de proteção que vocês gostam de usar contra a gente que fala mais alto nessa gritaria que vocês adoram promover pra diminuir nossa profissão, nossas ideias, nosso pensamento e nossa liberdade)

Ai pra poder fazer esse esquema todo funfar, tá aqui todos os espaços do BIBLIOTEQUICES nas Interwebs:


Minha intenção ao criar o Bibliotequices foi de princípio catártico de descarrego de encargos, em outras palavras menos rebuscadas, era pra reclamar que nem uma velha coroca.

Nunca levei a minha forma de escrever esse blog à sério (e vai ver que é isso que funciona tão bem pra mim nessa vida, o não se preocupar tanto com o que escrevo) e tagarelar sobre o curso e a carreira onde pretendo me instalar até os dias finais de minha existência tem se tornado um imenso prazer pra mim. Sim, porque sou humana e os 140 caracteres do Twitter não iam aguentar as besteiras que costumo proferir em nome da Ciência (da Informação, mas hey! Ciência)

Acabou que o Bibliotequices vem sendo uma forma também de ter uma reflexão indireta do que raios eu ando fazendo da minha vida e o pior, o que faço da vida dos outros — já que estar na linha de frente em uma biblioteca escolar é praticamente apontar a porta de entrada pra diversas coisas estranhas nessa vida acadêmica para pessoinhas que não fazem a mínima idéia de como ser adulto é algo sofrido. Divertido às vezes, mas sofrido.

Já havia escrito como a informalidade nos espaços acadêmicos tem me ajudado a compreender melhor quem eu atendo, esse olhar besta e de cientista idiota (id e ota) não trazem vantagens para a demanda que me aparece durante os dias. E chega uma hora que o beco sem saída aparece, e mesmo quem tem pouco tempo de estrada cansa subitamente devido à diferenças ideológicas entre aqueles que supostamente deveriam estar dando o exemplo e eu na ponta, tentando apreender (E aprender) tudo que posso nesse espaço curto de tempo.

(5 anos de graduação passam voando, acreditem)

Ter a oportunidade de conhecer pessoas que se dispõem a dedicarem suas vidas acadêmicas a estudar gente, ser humano de verdade, acaba me derretendo do modo mais meloso possível.

(Sim, os pompons sobem e descem no ritmo contagiante da lambada…)

Eu perco a minha frieza habitual quando vejo alguém competente fazendo um belo trabalho para a comunidade. Não só porque tenho esse fraco pela reforma interna da Educação aqui no Brasil, mas porque desejo ser esse agente volante de mudança. E quase um complexo de Messias, só que sem a parte de morrer de forma agonizante ou algo assim. Tá mais pra profeta de últimos dias com aquela placa alertando o que virá e o que a Humanidade deve fazer para ser salva.

Sim, megalomania está falando alto esses dias.

Creio que tod@ bibliotecári@ que converso tem um pouco desse “defeito”, o de querer ser mais do que é para conseguir atingir seu público de maneira eficiente, mesmo com os poucos recursos, a falta de apoio das instituições, colegas de trabalho, de profissão e do público, a briga eterna entre “Fazer porque dá dinheiro” versus “Fazer porque quer”. O fazer bibliotecário se torna um estilo de vida, incorporado no sujeito e tudo que a gente faz é porque faz parte de nós mesmos.

É uma viagem mó lôka essas coisas se for parar pra pensar.

A Biblioteconomia tem me proporcionado feelings de profundo desgosto e admiração em espaços de poucos segundos. É como apreciar um prato perfeito e perceber no paladar que o gosto está horrível. Às vezes a vontade de levantar da cama é zero, de chegar ao balcão, de abrir o sorriso, de se empolgar com o que faz. A academia come muito do nosso eu-lírico, da nossa inspiração querendo ou não, a docência (in)doscente arruína com muitas idéias, muitos sonhos, muitas ações. Aquela vontadezinha de mudar o mundo murcha a cada palavra ou atitude absurda vinda da hierarquia maior. O gosto de se querer fazer algo para mudar a vida das pessoas não se torna fardo (Antes fosse!), mas sim daqueles cafézinhos adoçados com o pior tipo de aspartame do mercado. Cê sabe que não vai ter problemas de saúde com poucas calorias, mas por Odin de saias! Como é horrendo aquele gosto que sobe.

Aí saio de uma palestra incrível com apresentações de trabalhos maravilhosos que tentam desvendar as nossas incertezas como profissionais. Gente que se importa com o que fazemos, como fazemos, porque fazemos. Gente que vê nas dificuldades de cada um de nós atrás do balcão, ou entre as estantes, ou no processamento técnico ou até mesmo em lugares inusitados de atendimento e dizer no tom mais amigável possível: “Eu, você importa. Sua voz também tem importância. Você gostaria de falar comigo?”

Isso é extremamente válido. Essa escuta produz profissionais e estagiários mais aptos a aguentarem o tranco mesmo com tantos problemas. Esse esforço de nos colocar como protagonistas de algo maior (e é gente, como é!), faz todo sentido pra gentinha sem noção, tagarela, com imaginação fértil como eu se sentir bem com o que faz. De ver futuro para o que tá fazendo, de não parar mesmo com as adversidades.

Eu me sinto honrade por conhece essas pessoas mais de perto, além dos muros invisíveis da universidade, além dos referenciais teóricos, as cátedras imaginárias, os títulos pomposos, os discursos furados querendo nos convencer que somos invencíveis. Não somos, somos invisíveis e é isso que a Academia deveria estar tentando reverter enquanto é tempo.

(E há pessoas fazendo esse trabalho lindo de nos colocar no protagonismo, isso é ótimo!)

Aos trancos e barrancos, a esses profissionais queridos, docentes, amigos, futuros orientadores de uma galerinha do barulho que vai aprontar mil e uma confusões, vão meus créditos para essa coluna que comecei do nada por uma demanda interna (Pseudo-bibliotecária de referência é fogo viu?).

O Bibliotequices tá aí há 5 anos, mas já vislumbro vários posts sobre a área que possivelmente possam fazer alguma diferença na vida de alguém.

(Nem que seja para traduzir em palavras a reclamação de alguém, nem que seja por isso!)

28 fevereiro 2019

[contos] fanfiction: I must stop time traveling, you're always on my mind


Eva Green como Miss Alma LeFay Peregrine (2016)
Faz um bom tempo que não me meto a escrever fanfiction, mas aí descobri algo extremamente divertido de ler que é fanfics em que tem personagem "Reader" no meio. É tipo self-insert (Essa tradução é péssima, vou deixar assim), mas ao mesmo tempo faz a escrita ser um bocado complicada em adequar.

Muita hora nessa calma, tenho que recuperar as skills de fanfiquêre, mas graças Ao³ tinha fanfics bacanas de Kanene Rose como esses aqui [x] [x] [x] [x] [x] [x] e esse que me inspirou a voltar a escrever em cenários que já existem [x].

Como já queria fazer um tempo, inclusão de personagem não-binárie na área, brincando com o uso de pronomes neutros, muita dificuldade em 2ª pessoa do singular, passando por algumas questões do livro III "Biblioteca de Almas" que ficaram no ar. Provavelmente tem crossover com uns cenários originais meus - porque se desligar totalmente de Feéricos é algo que não consegui ainda. E aquele filme do Tim Burton que já vi trocentas vezes?
Pode levantar os pompons e fazer dancinha?
Bora lá então...


(5465 words) by brmorgan
Chapters: 2/?
Rating: Mature
Warnings: Graphic Depictions Of Violence
Relationships: Alma LeFay Peregrine/Original Character(s), Alma LeFay Peregrine/Reader, Miss Peregrine/Reader
Characters: Alma LeFay Peregrine, Original Non-Human Character(s), Sharon (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children), Millard Nullings, Horace Somnusson, Emma Bloom, Olive Elephanta, Bronwyn Bruntley, The Twins (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children), Miss Avocet (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children), Original Female Character(s), Jacob Portman, Abraham Portman, Enoch O'Connor, Hugh Apiston, Fiona Frauenfeld, Claire Densmore, Miss Nightjar, Madame Fabulária (Original), Reader (Original), Giuseppe (Original).
Additional Tags: Reader-Insert, Gender-Neutral Pronouns, Time Travel, Time Loop, Alternate Universe - Library, Post-Library of Souls, Childhood Sweethearts, Nonbinary Character, lycanthropy, Werewolf Peculiarity, Slow Burn, Memory Loss
Summary: (Português - brasileiro)
Entre o enredo de Biblioteca de Almas e Mapa dos Dias.
Enquanto o mundo Peculiar anda ruindo com os acontecimentos na Biblioteca das Almas, uma pessoa do passado de Alma Peregrine volta para ajudar na reconstrução de um lar seguro e rememorar um amor antigo que parece ter sobrevivido ao tempo, espaço e perdas de memória.

Título inspirado na música "Wish you were here" de Florence and the Machine, trilha sonora do filme "O lar das crianças peculiares" (2016) de Tim Burton. Trilho sonora? Óbvio que é Gezuis Ruiva.



19 fevereiro 2019

[video] give you up por Dido

Era para estar elaborando planos maléficos de dominação mundial via bloco de notas - ou o que gosto de disfarçar que seja um planejamento de estágio obrigatório, mas...






Minha única reação possível nesse exato momento:





(E carai, essa letra!! Olha essa fucking letra!!)