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19 agosto 2012

De Opheliac para Fight Like a Girl.


Edit: Apagando novamente o 7º rascunho para poder ser mais objetiva.
Emilie Autumn, ou Emilie Autumn Liddell, ou até Emilie Fritzges como muitos gostariam de saber, é considerada uma vanguardista em sua própria cronologia. Violinista clássica, amante da cultura Vitoriana, poetisa carregada de influências shakeasperianas, cantora lírica de timbre forte, assumidamente bipolar, artista em todas as maneiras possíveis de se entreter uma pessoa por horas e horas. Essa estadunidense de 32 anos aos poucos chamou minha atenção não pelo seu visual gothic lolita ou pela música ligada ao EBM, mas sim pela criatividade insana que permeia sua obra.

A minha saga começa com Opheliac de 2006 - que nem eu sonhava que existia Dark Cabaret e EBM - e um Universo Paralelo rascunhado em um possível livro autobiográfico intitulado The Asylum for Wayward Victorian Girls. A primeira parte da obra relatava a decadente história da rotina de um Hospital Psiquiátrico atual e sua contra parte na Era Vitoriana. Emilie aqui em nossa época, Emily lá no século 18. O que se assemelhava a própria condição em que a cantora teve que passar durante uma internação em uma Clínica Psiquiátrica após tentativa de suícidio - e aborto envolvido nessa equação - em meados de 2005.

Garotas indefesas, hospitais psiquiátricos, gênios musicais, era vitoriana e show burlesco? Algo me diz que irei me me enveredar nesse mundinho obscuro e insano que Emilie Autumn criou para escapar de seus demônios internos...

Primeiramente falar sabre a obra dela é também dar uma bicada na vida pessoal de Emilie, já que está tudo tão atrelado com as passagens do livro e as músicas. Difícil vai ser manter uma coerência na hora de explicar tudo - yep, a não-linearidade da obra é contagiosa. Quem já viu a Emilie dando entrevista sobre qualquer coisa vai entender o quanto o discurso pode ser longo, confuso, cheio de referências e muitas entrelinhas para desvendar. Para não ter momento mindfuck no post, irei me atrelar aos álbuns Opheliac (2006) e o mais novo Fight Like a Girl (2012).

Seis anos de separação entre os álbuns fez com que a comunidade de Plague Rats - o apelido carinhoso que Emilie Autumn chama seus fãs por não apreciar o termo "fanatic" - criasse um baú de teorias estranhas para se explorar, mas nunca resolvidas por falta de provas ou de declarações. Muito bem feito, já que ao entrar nesse Universo Paralelo do Asylum - o Hospital Psiquiátrico retratado no Livro e em Opheliac e F.L.A.G. - é como imergir na toca do coelho em Alice no País das Maravilhas.

Como escritora júnior, sempre gostei de quebra-cabeças em enredos, principalmente das peças que faltam e que poderiam ser encaixadas em outros ângulos, Emilie Autumn fez exatamente isso desde que a conheci musicalmente. Um labirinto de contos e boatos, de histórias fictícias ou verídicas, letras com significados transparentes, mas de melodia fora do padrão, resgate de uma literariedade tão emaranhada de referências que ao ouvir Opheliac inteiro você pensa: Tá e daí? Resolveu ou não? Peraí! Tá resolvido?!

O eterno questionamento era sobre como esse Asylum iria se sustentar tanto no Universo Paralelo Literário - desde a construção do enredo de Wayward Victorian Girls - quanto na Realidade em que estamos nas turnês que ela aprontou com suas Bloody Crumpets. Apenas Opheliac e o livro valeriam o esforço de tecer comentários para um entendimento parcial do que se trata a cabeça estranha da Srta. Autumn? Afinal de contas, por que se entregar uma história que provavelmente não encontrará fim se não há continuação linear?

No livro a distinção entre as épocas é mais visível, temos a protagonista Emilie ou "M" narrando seus infortúnios e suas conquistas, e temos Emily, uma garotinha sozinha da Era Vitoriana, trancafiada em um Hospício, mas nas mesmas condições que Emilie no Hospital Psiquiátrico chique e renomeado de nossa época. Como separar essas duas linhas de tempo sem perder o fio da meada? Para onde vai o final dessa história se não parece haver final algum?

Ao explorar ao máximo esse potencial do Asylum, Emilie Autumn demonstrou que não é só apenas suas letras caústicas que fazem diferença no cenário musical underground, a insana criatividade é que traz todos os admiradores no laço. Apesar de me manter em uma distância segura de qualquer partido nessa "guerra" entre fantástico e realidade - não vamos esquecer que o Livro e os álbuns são de certa forma autobiografias da mocinha - havia outros motivos para me manter bem perto e acompanhar onde isso tudo iria dar. Não, não estou falando de Veronica Varlow, isso é oooooutro assunto para oooooutro post sem vergonha alguma xDDD

Okay, Opheliac, meados de 2006, dark, bizarro, sarcástico ao último nível, quase um diário de denúncias contra a Sociedade em que vivemos e a Sociedade Vitoriana. nada mudou, nada se perdeu, só mudou o cenário e a oportunidade. Por Odin de saias! Lisa Howe em "Garota, Interrompida." estava absolutamente certa!

Violinos, harpsichord e coisas tão antigas que chamam aquele seu lado escondido que você jamais iria mostrar ou discutir sobre, aí sim tem algo errado ou certo. As músicas de Opheliac me pegaram pela sensualidade e o lirismo das letras, e bem, as performances ao vivo da Emilie também são um espetáculo a parte. Thank God I'm Pretty foi meu primeiro vídeo assistido (Esse mesmo aí abaixo!) e não, não prestei nem um pouco atenção no burlesque striptease da Emilie... Por que eu prestaria, oh!

Vamos ao que interessa então? Um review bem pessoal sobre Opheliac - que em minha opinião é o Disco 1 da trilha sonora de The Asylum for Wayward Victorian Girls - algumas músicas não serão citadas por não ter muito o que opinar.

Opheliac, música título do álbum foi a mais repercutida nos shows e entre os fãs. O título me era familiar, ainda mais quando você é obrigada a ler Hamlet na Graduação e fazer uma comparação entre esse clássico shakeasperiano, Dom Quixote de La Mancha e Metamorfose de Kafka. É, hardcore né? Coisas que só a PUC poderiam oferecer aos estudantes inocentes de Letras.
Ofélia, a musa de Hamlet, o princípe maluquete da Dinamarca, aquela mesma que pirou na soda ao saber que ao entregar seu corpo e alma ao "herói" do livro, não ganhara nada a não ser desonra e uma baita culpa. Bem sucedida no suicídio ao se jogar em um rio congelado, a sua história triste termina quase na metade do livro e não mais citada em local algum - ou ao menos chorada por ninguém. Típica donzela medieval entregue ao pecado? Morte é a solução. Mas Emilie vai mais fundo nessa questão. Opheliac é como um diagnóstico de como a mulher moderna continua na mesma sina desde os primórdios, desacreditada pela Ciência e subestimada/subjugada. Não chega a ser o prelúdio para o que seria a obra de Wayward, mas se pensarmos lá no começo da problemática, sim, o suicídio de Ofélia pode muito bem significar a tentativa de suicídio da cantora.
A melodia é confusa, frenética e tem os altos e baixos que ela gosta de usar para incluir mais um texto referência. Ao final um monólogo/diálogo entre o eu-lírico e ela mesma traz exatamente aquela sensação de "É, há mais de uma pessoa falando por ela mesmo. E uma delas poderia ser eu."

Liar é o prelúdio da agressão verbal. Mais obscura do álbum e traz todo o clima pesado em que alguém preso em seus próprios pesadelos pode fazer. A performance ao vivo reflete esse lado selvagem do ID livre, leve e solto, armada de um bastão e suas crumpets, Emilie mostra o quanto dói confiar nas pessoas. A catáfrase mais usada pelos Plague Rats é a famosa: "Are you suffering?" por diversos motivos. Tanto no modo depressivo de ser, também quanto ao jocosos.

Sinceramente prefiro sacanear com essa frase, pois deveras ela me assusta muito gritando as palavras. Essa sim poderia ser a primeira música do álbum por conter um pano de fundo para o background do livro, mas bem...

I want my innocence back segue na mesma linha com toda a revolta que estar presa em um mundo em que foi obrigada a viver.

Sabe o que é escutar a música mais linda do mundo, com a melodia mais fofa do mundo e depois descobrir que a letra é extremamente macabra? Pois é, chegamos a parte alta de Opheliac. The Art of Suicide é como dar uma passeada na mente de Emilie Autumn no máximo da crise maníaca: Apesar de estar tocando meu violino lindamente em uma melodia suave, hipnótica e jovial, estou cantando sobre métodos e razões bem fundamentadas de como se matar.

Por que não? Se estou presa em um hospício por tanto tempo que mal sei distinguir realidade de delírios para quê viver então? Há alguma razão em especial? É realmente necessário se manter vivo com tanta coisa ruim acontecendo? Vazio existencial completo! Continua sendo minha favorita nesse álbum e com certeza a mais perfeita melodia que a Emilie já compôs. Eis ali uma referência a querida Billie Holliday com a letra de Gloomy Sunday inserida no final. Emilie já fez uma cover dela em alguns projetos paralelos e tem uma veia de jazz pulsando ali na parte melancólica.

Em 306 há a evocação de Opheliac novamente, possivelmente a vida anterior de Emily (A interna da Era Vitoriana), mas nada prova que o restante do álbum, com músicas variadas e de temática parecida, estão diretamente ligadas ao enredo do que seria o insano mundo do Asylum.
O EP de 4 O' Clock também deve ser citado nessa confusão toda, é ele que dá o prelúdio - além de 306 - para o começo dos shows da Emilie, além de ser a parte ritualística de transição entre o modo passivo de denunciar a vida na cela do Hospício para a tão esperada vingança/redenção.

Temos então esse intervalo enorme de tempo para elaboração de uma conclusão ou não, apenas uma sequência talvez. Srta. Autumn jamais informou sobre o que fará após F.L.A.G. por estar disposta a vivenciar essa experiência de liberdade conquistada por um bom tempo. Seis anos entre Opheliac e Fight like a Girl. Seis anos para armar plots, para ligar enredos, para retratar musicalmente o que o livro tentou descrever, mas mesmo asism não me é o bastante!

Em Fight Like a Girl, o álbum se torna a trilha sonora de uma peça teatral orquestrada milimetricamente para ser encenada nos conformes das faixas. Não tem como escutar o CD colocando na opção aleatória, não há como fazer isso na primeira vez que se ouve F.L.A.G.! Eu tentei ouvir uma aqui, outra ali, mas a experiência de deixar o álbum rolando é como estar vendo um filme sendo produzido através das letras. Mas como tradição de Emilie Autumn, há a complicação em compreender o que se passa quando uma música atropela a outra, interlúdios com vagas menções as músicas de Opheliac, a repetição de alguns motes já usados.

Muitos Plague Rats ficaram desapontados com essas coisinhas, mas são de extrema importância para entender o panorama todo do que já foi montado.

Desde ao desespero de ainda estar presa de Emilie e Emily, de não ter mais esperanças, de finalmente a oportunidade de fugir do hospício, das consequências de seus atos, da paixão platônica de um funcionário do Asylum (Thompson, o querido fotógrafo), da servidão aos médicos nada éticos, do medo da noite, da amizade com os ratos Sir Basil e Sir Edward, de adotar uma sanguessuga como melhor amiga - o tratamento para algumas enfermidades psicológicas no século 18 era feito com sanguessugas pregadas nos membros das pessoas para "limpar" o sangue doente - o de retratar os perfis das Bloody Crumpets - igualmente presas no hospício desde o começo - a vingança nada sutil, mas muito elaborada, a conclusão trágica, a mensagem de esperança e a epifania com a linda "Goodnight, sweet ladies".

O coro no final com 4 O'Clock, The Art of Suicide, Shallot e outras músicas já conhecidas foi meu momento alto.

A tela azul da Morte que costuma acontecer em situações mais... ahn... pervertidas, veio com uma tonalidade levemente esverdeada e uma brisa de maresia após a chuva (Sério, eu estava na Beira-Mar Norte quando ouvi essa música pela primeira vez), sem possibilidades ou mais questionamentos. Era como ter a resposta da Vida, do Universo e tudo mais, só que sem numerais como resposta. Ouvir essa música foi como ligar aquela lâmpadazinha esquecida lá no fundo da cabeça - e consequentemente algo em meu coração deu aval para a cabeça achar que sim, tudo fazia sentido! Absolutamente tudo nesse pouco tempo que acompanho a Emilie Autumn fazer sentido.

O mistério ainda está lá, os segredos, as entrelinhas, as referências de inúmeras fontes, mas agora sim há algo que eu não conseguia sentir faz um bom tempo: Minhas expectativas não foram minadas pelo óbvio. Se essa era a intenção dela ao fazer essa obra, o de iluminar lâmpadas nas cabeças de muitas pessoas ao mesmo tempo, bem, missão cumprida Srta. E.A. Você jogou uma bela charada por anos a fio e nos deixou participar desse mundo bizarro do Asylum. Se antes eu me sentia retraída em não fazer parte do fandom por não entender se havia lugar para apenas uma observadora, após ouvir F.L.A.G. a dúvida foi resolvida.

Yep, é fangirling mesmo. Admito, ficar meia hora pulando em círculos só porque apertou o botão de purchase no Asylum Emporium é um sintoma de pompons extras. Passar um dia todo sorrindo bobamente e em otimismo 100% também é sinal de que algo está regulando obsessivamente errado no meu organismo. Seratonina para quê te quiero?!

Por muito tempo eu esperei algo para ver a Revelação, sabe? A amostra de que felizmente há pessoas empenhadas em nos desafiar literariamente em todos os sentidos e agora que aconteceu me sinto um bocado além do feliz, realizada seria a palavra, mas creio que ao chegar o dia 16 de setembro haverá mais que isso - e por tudo que me é sagrado que seja mais que uma placa de neón, mais do que uma constatação racional, mais que um impulso elétrico no miocárdio.
Que seja algo que eu acredite que seja Real, não duvidoso - o que é na maioria das vezes. Epifania era a palavra. É, ocorreu uma epifania literária e pessoal ao ouvir FLAG da Emilie Autumn.
Isso só aconteceu duas vezes comigo nesses 25 anos de vida: Uma ao ler o capítulo VI do Livro II de Sociedade do Anel (J.R.R. Tolkien) e a outra foi essa.

É, o saldo de coisas boas estão aumentando aqui na balança virtual que mantenho dentro da minha cabeça. E se você não conhece a música de Emilie Autumn, peço que me envie um comentário rápido que ofertarei com muita satisfação o passaporte para esse Universo Insano dela!
Emilie Autumn fará única apresentação no Brasil no dia 16 de setembro de 2012 02 de dezembro de 2012 no Clube Inferno localizado na Rua Augusta, Consolação - São Paulo. Mais informações https://ticketbrasil.com.br/show/emilieautumn-sp/ ou pelo telefone (11) 4901-1165.
E eu estarei lá! *rebola*
[edit] A apresentação do dia 16 de setembro foi cancelada devido problemas de saúde da Emilie, logo toda a Tour na América Latina foi remarcada para novembro e dezembro.

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