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14 março 2013

Seriado: Elementary - Sherlock Holmes Nova Iorquino

[ Essa é uma versão preliminar que rascunhei aqui antes de publicar nblog Nerdivinas. Reprodução total do conteúdo com permissão da autora]



Então, não gosto quando mexem com personagens canônicos que fizeram parte da minha lista estimável de construtores de caráter (o meu) em minha adolescência regada a música pop-trash e vivendo numa roça.

Sherlock Holmes é um deles.
Tipo, podem mexer com todo mundo, menos com *ele*. Tanto que odiei a versão Robert Downey Jr. e tou relutante em assistir o seriado britânico pelo ator ser novinho demais para o incrível detetive de Sir Arthur Connan Doyle.

Ler Um Estudo em Vermelho foi o ponto alto da minha pesquisa literária na 7ª série e o grande detetive era uma figura tão próxima pra mim do que qualquer outra pessoa que vivi na época. Me aventurar na ficção tão realística de um velhaco aficionado em resolver crimes por prazer e não por senso de Justiça ou qualquer besteira moralista, me deixava impressionada.




Mas o que mais me impressionava em Sherlock Holmes não era a mente brilhante, o infalível instinto de estar sempre certo ou as caçadas que ele promovia para manter os ideais da sociedade vitoriana intactos (Porque convenhamos, um cara velhaco, sentado em sua poltrona o dia todo ser MAIS capaz de resolver um crime do que a inteira Scotland Yard é humilhante né?), mas era seus defeitos que mais me chamavam a atenção.

O Dr. Watson sempre dava sermão sobre a vida sedentária de Holmes, sobre o uso extensivo de um certo pózinho branco pra conter certas crises de genialidade exacerbada, sobre ele demonstrar o quanto estava frágil e vulnerável enquanto tocava incessantemente seu violino, sobre ele não ser mais o jovem vigoroso e atlético de antes e ter que se conformar com o corpo em constante decrepitude devido ao avanço da idade. Era isso que me chamava a atenção. O cara pode ser o gênio da Criminalística, mas sabe de sua completude. Sabe que seu cérebro é um sótão de paredes elásticas, mas não infinitas, que se colocar móveis antigos demais lá em cima, algum dia as paredes não irão suportar, logo móveis terão que ser substituídos por outros.

Escolher quais móveis que entram e que saem é a grande chave dos contos sobre Sherlock Holmes. Ele não fazia idéia que a Terra girava em volta do Sol e em volta de si mesma ou leis matemáticas, mas sabia distinguir o aroma de centenas de coisas e a textura de mais dezenas. Entendia a mente humana em toda sua mesquinhez, embriaguez, passionalidade, monstruosidade, mas não fazia idéia qual era a cotação da libra esterlina no dia.


Holmes: Attic theory. I've always believed the human brain is like an attic: storage space, facts, but because that space is finite, it must be filled only with things one needs to be the best version of oneself. It's important, therefore, not to have useless facts: the natterings that comprised your support meeting, for example, crowding out useful ones.


Isso sim me impressionava. A tentativa de não falhar mediante ao erro aproximado. saber que o sótão está tão lotado, mas mesmo assim escolher os móveis que devem descer e subir. Saber que algum dia, bem em breve o sótão vai ter a porta trancada e nunca mais nenhum móvel vai subir e descer. O Sherlock humano é que me impressionava, o feio, o sujo, o drogado, o sem perspectiva de vida ou morte, aquele que se disfarçava de mendigo e saía na noite em lugares feios de uma Londres decadente para conseguir pistas para satisfazer uma curiosidade dele sobre os casos. Não era o gênio, o austero, o lorde inglês, o de maneiras polidas com as damas que me chamavam atenção, era o Holmes destruído que bem ao final de seus dias como investigador admitiu que seu corpo não iria aguentar mais o ritmo da vida incansável investigando a psiquê humana.

E esse Holmes é o que vi em Elementary, seriado da CBS americana, com a premissa básica de reviver na modernidade a lenda que Sir Conan Doyle montou sua vida toda. Muitos chiaram por ser uma imitação barata de Sherlock - o seriado britânico que não ouso chegar perto - outros dizem que não há nada de novo em mais outro seriado de investigação. Mas dude, duuuuuuuude!! Holmes defeituoso!! Esse é o Holmes que eu amo!!


E quem iria imaginar Drª Watson? Hein? Hein? Lucy Liu convence tanto no papel do famoso médico (Que não era assim tão médico) imortalizado por ser o sidekick do detetive genioso que até esqueço como era a descrição do Watson em si (típico lorde inglês tradicionalista, impaciente, extremamente científico e homem). Esse roteirista de Elementary deve ser muito abraçado!!

Jonny Lee Miller como Holmes é um show à parte. O cara já tem cara de destruído psicológicamente e sabe interpretar isso como ninguém (Alguém lembra de Sick Boy de Trainspotting? Dade de Hackers? Ex-marido da Angelina Jolie?!), ele é a tradução de um Holmes ferrado pelas drogas que acalmavam as tempestuosas crises e no caminho da redenção de fantasmas do passado (Jornada do herói, hello?!).


Tou no 3º episódio e tou amando imensamente. Quando a teoria do sótão foi citada de forma cômica, a minha cabeça não só explodiu como verti lágrimas ao ouvir novamente a passagem mais interessante da maluquice que deve ser dentro da cachola de Sherlock Holmes. Se você não tiver problemas com adaptações de clássicos, vá em frente: Elementary é a pedida.

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