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12 maio 2016

esquecer/rememorar

Já avisando que essa postagem vai ser bem intimista, criptografada e provavelmente só para eu lembrar  (o tópico abordado) do que eu preciso realmente esquecer.

Ou o que já foi esquecido, tá muito nas gray areas que não consigo muito identificar de onde vai e para onde vai. O cerne todo tá na porcaria daquela memória de longo prazo, que transformou pequenos detalhes vivenciados em um turbilhão de coisas que chamam de lembranças.

Às vezes eu odeio ter que lembrar delas.
Mas paciência, não é como se eu pudesse dar um reset no cartucho, assoprar a placa interna e achar que tudo vai melhorar. Porque talvez melhorou, só não tou conseguindo me lembrar de esquecer. E é exatamente isso que tá doendo.

Não tenho coragem de chegar perto, ou de me comunicar, parece que tem uma tonelada de diversas coisas que me emperram em quebrar um pouco o orgulho, a choradeira nos dias mais estranhos possíveis, o dissolver um pouco das lembranças. Queria muito isso, você não sabe o quanto.

Eu lembro de muita coisa, mas tudo em fragmentos, coisas que pensando melhor agora nem deveriam estar aqui dentro da minha cabeça, porque elas vêm aleatórias como se abrisse um livro em página aleatória e pulasse um pop-up me acertando no meio da testa: algo sempre vai acabar me remetendo à você.

Que sina.

Eu sinto falta da sua voz, mal me lembro como é ela agora.
Isso dói.
Bem mais do que eu queria, bem mais que eu achava que poderia ainda doer. Não me lembro mais das suas palavras faladas, eu lembro de como você getsiculava ou como me olhava quando estávamos em uma conversa absortas em nosso mundinho cheio de possibilidades incríveis de histórias mirabolantes. Essas histórias eu não me recordo mais, anotei poucas coisas, entenda: eu mal tocava nos cadernos e nos textos, porque eu sabia que cedo ou tarde não lembraria de como era estar ao seu lado.
E aconteceu: eu não lembro mais.
E dói. Porque mesmo com a dor ferrando com tudo aqui dentro, ainda sinto sua falta.

Não sei exatamente o que foi arrancado de mim nesse caminho, tentaram arrancar um tornozelo no meio tempo, talvez um pouco do juízo que eu mantinha, talvez aquela fagulha estúpida de que havia um futuro mesmo. Eu ainda sinto sua falta.

Porque lembro de quase tudo, mas também fui capaz de me esquecer muita coisa, pelo bem da minha sanidade, sei lá. Estava indo bem até então, continua indo, mas sabe? Ainda sinto a sua falta.

Lembro de decorar cada gesto de suas mãos, cada linha entre os nós dos dedos, como era quando você segurava o garfo e a faca, o lápis para se preparar para desenhar ou escrever algo que me surpreendia, como era a sensação de ter suas mãos bem perto de mim, fosse num abraço (como eu tinha medo de te abraçar! Parecia que tava para acontecer aquele último abraço, nunca mais olho direito praquele terminal velho como antes, passo correndo por ali, porque não quero lembrar, a memória não me deixa esquecer e isso não é legal). 

Acho que o processo de desmemoriamento foi tanto que há lembranças que persistem em me dizer que aconteceu de verdade, eu suspeito às vezes de que o destino tenha feito algo bem caprichado para que parecesse tão perfeito para mim - o movimento de desmemoriamento deveria partir dessa constante: se lembro tanto de você depois de tantos anos sem nem saber quem você é mais (talvez nem vá saber), provavelmente alguma coisa resistiu.

E deve ter sido as histórias.
Elas estão paradas, intocadas, sem um rascunho sequer daquilo que planejamos em longas conversas, outras ideias vieram e estão tomando conta delas, como no processo de esquecimento mesmo, em que há uma rasura da memória, dilatando ou contraindo as cenas, as palavras, as lembranças em algo compacto, ou como um filme mudo bem arranhado. Eu mal lembro do seu rosto.

E ainda continuo sentindo a sua falta.
(Se está confuso agora, imagina nesses últimos anos?)

Mas as histórias, yep, estão aqui. Não esperando que eu ou você as retome, acho que isso não seja possível, não nesse século. Não com esse esquecimento que tomou conta da minha memória, não com tudo que pude fazer para não lembrar. Foi uma tarefa mais difícil do que imaginava e a ironia é que fazer esse apagamento de algo que te lembre uma coisa boa, acaba deixando uns espaços vagos no esquecimento. Há buracos ali, e eu sei que eles pertencem às coisas em que você estava envolvida, mas não há mais lembranças inteiras. Eu não lembro mais da sua voz, ou do contorno do seu rosto, nem sei mais o seu jeito de andar. É frustrante, porque parece que eu não prestava atenção - e o fazia com uma disciplina que você não faz ideia.

Mesmo com esses fragmentos, acabo lembrando-esquecendo ao mesmo tempo.
É um bocado angustiante, mas aprendi a não forçar demais o pensamento e tentar lembrar de algo que precisa ser esquecido, não é? 4 fucking years para se esquecer devidamente, mas cá estou eu escrevendo esse post que ninguém vai entender e dizendo que você faz falta na minha vida. De um jeito ou de outro. Esquecendo ou não, lembrando ou não.

Queria não lembrar dos fragmentos, queria esquecer de vez, queria uma porção de coisa, só consegui escrever essa postagem e entender finalmente uma letra de música que estava me assombrando desde o começo da semana. Talvez aí seja o meu fechamento para essa questão que eu achei que iria esquecer com o tempo.

O tempo não cura nada, a falha no aparelho neurológico com memórias de longo e curto prazo é que nos salvam. No meu caso, me contento com as poucas lembranças, mas há algumas que gezuis-marinho-dos-céus, queria que não doessem tanto.

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