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08 agosto 2016

bola de canhão



Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannonball
(Lisa Hannigan cantando Cannonball do Damien Rice)

Crescer é uma coisa bizarra que acontece com cada criatura desse universo, não tem como escapar mesmo com síndrome de Peter Pan que seja. O trem das células e elasticidade dos tecidos? Bem isso.
Sobreviver ao processo é legal se encontrar uma lógica nesse negócio todo, alguém tão centrada na powha do funcionamento total das engrenagens como eu fico feliz de ter essas pequenas demonstrações do Universo de "Hey amontoado de átomos insignificante que acha que tem crânio propenso para abrigar um órgão primitivo com capacidades únicas de raciocínio, você é um amontoado não tão idiota assim!".

A descrição da fala do Universo é linda, porque dentro da minha cabeça soa como o Morgan Freeman, logo precisa ser mais longa.

Perder meu tempo na adolescência trancadx no meu quarto, escrevendo incessantemente sobre personagens que encaravam a Dona Muerte como algo trivial anda me ajudando em muitas coisas que estão seguindo um rumo inesperado.


Talvez ter esse interesse especial na famigerada tenha me dado mais forças pra entender o mundo do que qualquer outra coisa - e longe de ser mórbida no sentido pior da expressão - isso também ajuda a não ser mais negativa do que consigo ser (e não é de propósito, autossabotagem é um padrão destrutivo que tou eliminando aos poucos da minha rotina).

Queria muito poder sentar com alguém que conhece essa afinidade mais de perto e discutir por horas o quão babacas somos em temer algo que nos faz crescer, organicamente quanto psicológicamente. A Morte nos traz uma compreensão melhor da Vida, mesmo em meio de lágrimas, ranger de dentes e estado catatônico.

Fazer 30 anos tem pesado nas minhas deliberações diárias do "um fucking dia de cada vez pra não pirar na soda", até porque desde que experimentei a visita da Dona Muerte de perto - figuradamente e literalmente - a polaridade de questões bases na minha vida mudaram. Tem gente que muda com nascimento de filho, tendo epifania emotiva, se apaixonando, na inspiração criativa, já eu meio que transito ali naquele lugar em que não se deve falar muito pelo probleminha do tabu do corpo, é ali que vejo que o crescimento pessoal é traumatizante, mas te obriga a tomar atitudes.

Fazer 30 anos tem me relembrado que o que não consegui fazer ainda não é necessariamente urgente, dramático ou pré-requisito pra outras ações, tudo bem que a experiência vem com o Tempo, mas a danada ceifadora me lembra de como isso possivelmente irá acabar: num imenso vazio solitário. Porque todo mundo morre sozinho, todo mundo experimenta o vazio antes disso acontecer, e quem sobrevive pra contar a história vai crescer - querendo ou não. Pra quê então se angustiar pelo que não fez ou deixou de fazer? Me provaram por A + B que Carpe Diem existe e me obrigou a reavaliar absolutamente tudo que perco ao ficar me martirizando demais, ao botar expectativa demais, ao focar obsessivamente em um ponto.

Ficar velhacx também me traz essa noção que aquilo que se decompõe na verdade alimenta o ciclo, a roda continua a girar mesmo se as engrenagens estiverem enferrujadas. Não ver a vida em cor de rosa pode ser uma bênção, mas também uma porcaria. Queria que fosse mais fácil, mas crescer com essa definição de que tudo é temporário no sentido de durabilidade (exceto o esplêndido Amor, oh o perigoso sentimento que nos dá ilusão que somos eternos quando não somos) moldou muito mais do meu caráter que o restante dos fatores diversos que fazem isso.  

A bola de canhão que eu tenho levado nas costas finalmente deu lugar a uma sensação que eu já sabia desde criança que só viria quando estivesse bem mais velha. Tinha duas certezas antes de fazer 13 anos: 76% do meus ganhos particulares seriam revertidos para gastar em impostos (Hello Benjamin Franklin?) e que me sentir constantemente com mais idade que aparentava ia me ajudar quando chegasse aos 40.

A iluminação parcial veio 10 anos antes, mas tá valendo. Bem besta desse jeito, sem muito sentido na primeira olhada, mas que agora recapitulando todos os momentos da minha vida de escriba, os trem encaixou nessas engrenagens enferrujadas que chamo de "adultice". Não encontrei gzuis, não vi a luz azul, nem aquela luz em fim do túnel, só percebi que a tia que ninguém gosta muito de citar por superstição, mau agouro ou educação, foi ela que ajudou a me encontrar aqui nesse lugar terreno.

E para aqueles que se vão, que estejam em paz com essa constatação - a bola de canhão? - para os que ficam, aprendam com o peso que ela traz e alivia.

Texto criptografado para posteridade, porque como disse antes, algumas coisas na minha vida agora estão me fazendo ter mais discernimento sobre o que e quem valorizar. 

(E beeeeeeesha, se a dita cuja te visitar em sonhos, de capuz preto, foice, mochilinha rosa e triciclo mais de uma noite é porque aviso sério do inconsciente)

















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