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29 agosto 2016

[interlúdio] não entregar os pontos


You sure you can take me in?
cause this is where the fun begins
I'm gonna feel your heart stop
in my hands

Como gosto de manter nas encostas ali pertinho do velho Barqueiro, apenas esperando a oportunidade de saciar a sede pelas lágrimas de Letes - valha-me os deuses se algum dia tenha tal pedido aceito, mas até lá, fico na sofrência de rememorar TUDO que acontece, como um castigo constante de ter uma memória de curto prazo mais prolongada que o devido - às vezes acontece de alguém decidir me empurrar para fora do buraco que cavo a cada hora mordaz sem o brilho do cavalo de Apolo.

Quem precisa de luz do Sol quando a Escuridão é mais amigável?

De mansinho, como um feixe de luz penetrando por uma fresta de uma armadura já envelhecida pelas intensas batalhas, os duelos sem sentido, as brigas internas, as porradas do cotidiano. Mesmo com a proteção invisível daquele que peço proteção todas as noites antes de dormir (Ou tentar), o escudo não aguenta quando há poderes mais fortes que a ponta da lança ou a base sólida de um escudo espartano. E de teimosia eu sobrevivo, da discórdia ando me afeiçoando demais, mais que demasiadamente demais. Um passinho para cometer aquele delito que tanto anseio, não, não é da hybris que tanto temo desde pequena criança que me firmei fiel a jornada tola do herói. É o "outro" tipo de delito que "outros pagãos de outrora" também se mantinham longe. Tem até mandamento pra isso em algum lugar.

Sim, tou levando demais esse trem de metáforas com o imaginário da mitologia grega, porque é a única forma de conseguir me expressar sem levantar suspeitas (ops, tarde demais).

Existem almas que percorrem diversos espaços e corpos e formas e olhos e mãos e lábios que expressam um pouco da divindade sagrada e puríssima daquela que não-deve-ser-nomeada. Prometi há um tempo atrás a não mais cruzar o caminho da intrépida deusa que nasceu das ondas e que tantos artistas ocidentais amaram (~ahem~) representar em todas as pompas possíveis.

O meu santo não bate com o dela. Nossos opostos não nos atraem. Minha metodologia desafia a emoção devastadora de sua compreensão. Eu fico na minha, porque preciso me proteger, já ela envia alguns sinais de que em uma ilha solitária, mesmo no meio do oceano, eu não posso viver. E ela já está me fazendo rimar. Oh damn, tá pior do que eu previa.

Se por um momento desejo intensamente me manter na letargia que nos acomete na entrada da fila interminável dos Ínferos - pois é esse nosso lugar como ledores da civilização, meros espectadores, não-protagonistas de épicas histórias, apenas observando o desenrolar dos eventos - em outro sobe a vontade desesperada/desenfreada de sentir novamente. Qualquer coisa, alguma coisa, apenas uma coisa.

E como a Justiça foi ligeiramente varrida para fora do recinto - não é justo, não é justo, não é justo me desarmar assim - eu mantenho a teimosia, mantenho o escudo já quebrado, mantenho os olhos vidrados no feixe de luz. Porque algum dia sei que há de me atingir em cheio. Não o feixe, mas aquela maldita seta que todos tanto almejam.

Em resumo, eu preciso saciar a curiosidade que a "injustiça" da discórdia me causou. E todos nós sabemos o que acontece com aquele que se atreve a ter curiosidade demais.

Ícaro é a prova ficcional disso.

Pelos deuses que me sustentam em pé as ideias tolas, que o chão tenha flexibilidade, que as minhas asas aguentem por mais minutos que o pobre filho de Dédalo, que o meu "santo" bata com aquela que tanto evito. Nessas horas é preciso se apelar até para quem não se quer ser assistido para ter algum tipo de iluminação ou revelação. Okay, revelação. Eu tou precisando de uma faz tempo.

[post criptografado para eu voltar daqui alguns anos e perceber que nem tudo estava perdido. Ser autômato pato panaca jacu cansa. Às vezes. Só às vezes.]

Lembra da resiliência? É nela que tem que se apoiar.

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