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19 setembro 2018

bode balindo e altamente funcional

Fonte: Tumblr - Viagem de Chiriro - No Face

Existe isso?
Existe pessoa depressiva altamente funcional?
Pegando emprestado o termo de um episódio de Sherlock (que não vi e nem sinto vontade), essa é a questão pra hoje.

Será possível que se possa se manter funcionando de forma satisfatória para o mundo externo e ainda assim poder dizer que está nada bem dentro de você?

Porque a percepção que o senso comum costuma ter é de um ser doente e de cama, impossibilitado de fazer coisa alguma ou entulhado de remédios - e quase disfuncional (do prefixo dis "não estar mais").

Hoje no cardápio da ruminação houve troca de palavras nada bonitas entre eu e uma pessoa que tento internalizar que pode ser minha amiga novamente e não apenas mãe. A falácia de quem tem depressão precisa de algo pra fazer - pegue seu predileto, lavar roupas, louças, cuidar da casa, sair mais, ter mais Deus no coração... - não passou pelo escudo costumeiro de ignorar total e seguir o bonde do eu, eu mesme e tudo mais.

Tentei explicar que para as pessoas que tinham depressão as coisas não eram assim, o mundo gira de um modo diferente e se ela conseguiu viver tanto tempo de maneira saudável mentalmente, parabéns, seja lá qual mecanismo de aguentar o tranco você tenha feito valeu a pena. Só não desvalida o que pessoas depressivas tão passando no pior de seus momentos. Inclusive a pessoa que você divide o teto e as contas.

Percebi naquele momento que todo trabalho feito para que ela compreendesse que é esse tipo de discurso que assusta e afasta as pessoas que ela gosta ou tem alguma consideração. Em outros casos é o que faz eu nem querer sair da cama, porque ela não é a única a me dar essa certeza verbal de que gente como eu não estaria tão ruim da cabeça se estivesse "fazendo algo",

Acho que informar a ela que há outros "fazeres algos" que pessoas instáveis psicologicamente podem cometer após terem um belo empurrãozinho familiar seria uma boa. Só para título de disseminação de informação, meu trabalho né?

Aí voltemos ao depressivo altamente funcional.

Porque não parece que estou, mas tô. São dias e dias. Tem dias que esse tipo de fala não passa pelo filtro auditivo (obrigadão fones de ouvido) e há dias que só não cava um buraco, como me dá a pá pra eu fazer isso eu mesme. E eu sei muito como cavar uma cova emocional que é uma beleza. Pessoas já elogiaram como consigo manter bem as caixas separadas. Outras me odiaram por saber tão bem, estranho que na ridícula comparação com outros desastres emocionais, até que manter a fachada de inacessível continua sendo mais rentável do que transparecer e entregar as caixas etiquetadas pra quem seria da rede se apoio local. 

Entendo quando alguém não quer falar de suas experiências e muito menos de sua rotina. Eu entendo completamente. Já eu preciso fazer isso para que o controle social padrão saiba que continuo funcional, que pode sim me manter na coleira, que vou cumprir minhas obrigações até o humanamente possível, que dou aviso prévio quando estiver realmente ruim. Eu sei quando está e quando vai piorar, é questão de treino e perceber os padrões (o que mais me mata é o que me salva também) e desespero. 

Agradeça ao treinamento intensivo de sobrevivência em cidadezinha vilarejo brejeiro preconceituoso e extremamente tóxico. É de lá que aprendi a separar quantas caixas fossem possíveis pra não cair tudo de uma vez só. Não espero pelo dia em que tudo vai desmoronar novamente, muito agradecide, mas pelo menos até lá tenho preparação pra não arruinar com tudo. 

A questão da rede - que me parece um conceito muito válido e o empirismo ajudou a entender que pedir arrego é necessário às vezes - também tá abalada. Porque dessa vez encontrei um jeito de me manter em um esconderijo que me dá a vantagem de rememorar o que NÃO DEVO fazer e acabar fazendo besteira. Na outra casa não tinha tempo pra sentar e pensar, mesmo minha cabeça não parando o dia inteiro. E é nessas horas entre o não pensar e o simplesmente fazer que me são mais alarmantes. 

A rede era mais presente, mas me afastei por conta de não conseguir mais suportar ficar muito tempo com pessoas em volta. Os horários também não me ajudam mais a socializar com o mínimo de esforço e às vezes quando consigo reunir a coragem de estar presente, ainda assim vou pedir pra sair Capitão, porque a barrinha de mana já fritou faz tempo. A de HP tá muito boa, e quero que permaneça assim. 

Teve essa hora ao sair pra ser funcional na sociedade e tive que voltar pra abraçar a mãe sem noção e dizer pra ela que não tinha mais tempo pra ficar guardando mágoa. E realmente não tenho mais. Não sei o dia de amanhã. Me envolver em atropelamento também não ajudou com essa percepção de durabilidade. E chegar aos 32 também tá ajudando na paranoia estatística. E o clima em alguns lugares onde frequento também não tá ajudando eu ligar o modo "seja feliz e faça piada". E desculpas, desculpas, desculpas, mais desculpas para não me aproximar de qualquer motivo que faça minhas caixas desmontarem. 

Tá na hora de voltar pro divã né?
Pelo jeito sim, agora é trabalhar pra pagar minha solução de pontos de sanidade já bem baixos.

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