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02 dezembro 2019

porque pessoas tem desejos: tenho vários



Tenho desejos. 
Intensos às vezes. 
Okay, admito, na maioria das vezes. 

E quando estou amando alguém isso intensifica de um modo que não é muito bem visto pela família tradicional brasileira. 
Estudar BDSM então? 
Nem pensar. 

E isso piora um bocadinho quando sua leitura de corpo é confundida desde criança, entre corpo masculino e feminino, em que o desejo expresso pode ou não ser válido. 

Se está entre a binarice de gênero, piora. 
Porque a reação é de que o corpo que aparenta ser algo tem X coisas de performance. 



Aliás jamais vou esquecer em ouvir atentamente sobre a vivência de uma colega de classe e a performance. Quando ela me deu a perspectiva de que tudo que fazemos não passa de performances em corpos lidos de diversas formas, a minha cabeça explodiu.

Então se você é um homem cisgenero que a sociedade obriga constantemente a ser o macho alfa, e comer as mocinhas a todo instante, performar desta forma é o que é padrão na nossa realidade. 
(mesmo que haja uma alta estatística e chance de na real você adoraaaaaar ser comido por uma travesti dominante porque né? Freud explica) 

O que eu já visualizava desde meus 16 aninhos, o de Performar para sobreviver, o colocar e trocar as máscaras, rasurar existências para validar outras, tratar o mundo como um eterno teatro de tragicomédia, no qual decido algumas máscaras a usar. Minha favorita é essa pacata, sem graça, de pijamas, fazendo cosplay de Roberto Ferreira e jogando games. 

E o desejo é além da medida costumeira da sociedade patriarcal. 
Porque "mulher" não pode demonstrar desejo.
Não pode ficar com tesão.
Deus cristão apocalíptico nos guarde se falar isso em voz alta. 

A criação cristã não ajudou em powha nenhuma, expressar desejo carnal intenso em meus relacionamentos era um dos fatores que mais me faziam ter que ouvir coisas que só percebo agora que eram slut shame fabricadas por um discurso extremamente patriarcal. Por mais feminista que seja a pessoa que me relacionava, a questão do desejar corpos (e tentar demonstrar isso de alguma forma) parecia ser o hard limit que na minha lista era o vanilla

Eu gosto de sexo, amo sentir prazer, e esqueço que pessoas que foram criadas quase da mesma maneira que eu não se sentem a vontade quando introduzo o meu segundo assunto favorito (BDSM).

Educação sexual me foi ofertada em livros e narrativas de fanfiction (not so sorry bibas!) e muita criatividade em uma mente que não regula bem das percepções de mundo, acabam traduzindo a esse desconforto absurdo de receber uma admoestação por falar de sexo além do esperado para uma branca de criação protestante e passível de ser lida como mulher lésbica. 

Aí reside o problema de usar colares discursivos (isso foi um trocadilho!): faz uma pá de tempo que não me enxergo como mulher (aliás, nunca?! Tentativas de feminilizar meu corpo foram fracassadas), um cadim em pensar o que é ser não binárie e lésbica, sendo que meu posicionamento, minha leitura sobre esse corpo que deseja é que não me considero dentro do escopo "ou é homem ou é mulher". 

E é uma viagem perigosa transitar nessas premissas que para se validar como um termo decidido academicamente ou cientificamente tem que seguir a risca. Eu sei quem sou desde meus 8 anos, mas as caixinhas não comportam muito as definições. 

O desejar é algo que pesa muito na decisão e a cada oportunidade de abraçar, a safadeza vem. Eu desejo quem amo de forma romântica, muito, muuuuuito! E isso incomoda, porque compreendo total que não é comum haver alguém que literalmente adora (do verbo adorar de venerar) o seu corpo independentemente de como ele performar para a sociedade. 

Aprendi a suprimir muita coisa na lida e estudo sobre BDSM (afinal, sucumbir a desejos é algo que uma pessoa demissexual raramente vai fazer a não ser com quem realmente quer trocar DNA), não por minha vontade, mas pelo slut shame recebido nos relacionamentos mais íntimos. E dentro dos estudos e da comunidade BDSM que mais me sinto confortável do que me enfiar em caixinhas geradas por quem nem faz essa leitura do próprio corpo (e pra que serve o corpo além de de sentir? Carregar essa carcaça energética de pensamentos, sentimentos e desejos?). 

Eu desejo muito, não nego. 
De cada 10 pensamentos na minha cabeça, digo com toda certeza que 4,8 são safadezas que quero aprontar com a pessoa que estou envolvide. Os outros 3,1 divido em 2x com ideias mirabolantes para se fazer na biblioteca e ideias para fanfics.

Isso incomoda quem não está acostumado ou não está preparado a receber essa carga imensa de adoração (coisa que na comunidade TLGBQIA parece ser outro tabu, o você ser uma pessoa submissa e apreciar intimamente adorar alguém). Tem gente que fica confusa, que se afasta o mais rápido possível, tem outras que vociferam que esse "comportamento" é monstruoso - nessas horas que se deve ter a consciência de que algumas pessoas não estão prontas para perceberem que amor romântico pode ser além do mundo heteronormativo patriarcal. 

Encontrar uma pessoa que aceita e é compatível em domar o level de submissão que tenho era impossível até uma bigorna cair na minha cabeça. Encontrar alguém igualmente curioso e interessado a explorar um relacionamento monogâmico que tenha a comunicação aberta a todo instante era um milagre. Encontrar alguém sem medo algum de mostrar o que quer, como quer e porque quer é felicidade completa. 

Alguém que entenda como me sinto com o apenas servir, o escutar, o observar, o de ter pensamentos tão pecaminosos que transparece em uma olhada vindo da pessoa. O de não se intimidar com mensagens indecorosas no meio da madrugada e não se sentir intimidada nessa forma que me expresso melhor (a escrita). Alguém que sinta prazer genuíno em me ver envergonhada e sem ação por não conseguir me concentrar direito ou ter coordenação corporal quando a pessoa me chama pelo nome inteiro na voz que apenas ela consegue fazer. Alguém que não tem medo de exaltar a própria beleza, o sex appeal, o de ser segura o bastante para me fazer cair de joelhos com apenas um comando, alguém que entenda que quando eu desejo a pessoa, é apenas esta pessoa, logo é óbvio que fantasiar sobre a pessoa faz parte do pacote e não vou me segurar e esconder isso da pessoa. 
(pelas escaminhas de Cthulhu, entrei na de me referir a pessoa que conquistou meu coração com a letra maiúscula, parabéns pra mim) 

Porque pessoas tem desejos. 
Eu tenho vários.

Provavelmente vou escrever mais sobre isso daqui pra frente.


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