Pesquisar este blog

28 dezembro 2019

sistemas de culpa

Venho pensado muito em sistemas de culpa.

E não dormindo direito há 7 dias.

Tendo o desprazer de tomar banho (uma das atividades que mais gosto, de me limpar, de estar em contato com água, de aliviar a cabeça por um período) porque o som do chuveiro ecoando no banheiro, dentro da minha cabeça, se torna insuportável depois de 2 minutos. Comer? Até pouco tempo achava interessante como a minha mandíbula fazia os movimentos mais encaixados para poder mastigar qualquer coisa, agora ou engulo a comida o mais rápido possível e passo mal ou vou devagar e aprecio o tormento de estar na fileira da frente, ouvindo o doce som de muitos ruídos altos dentro da minha cabeça



Tendo que me esforçar além do limite para ser paciente. Exaustivo.

Fingindo não me assustar com barulhos corriqueiros, tentando não me inclinar demais para ouvir uma pessoa falando, aumentar o volume do celular ou da ligação mesmo sabendo que aquilo também tá prejudicando o quadro todo, tentando evitar de estar em lugares em que vai haver muita bagunça, sendo obrigada a falar mais alto, repetidamente, porque do lado de fora tou falando baixo, mas dentro da cachola parece que tou no volume máximo com acréscimos.

Digitar esse texto tá sendo tenso, porque o bater nas teclas tá ecoando no nicho onde me meti para colocar o PC.

Ouvir o ventilador tá sendo um treino de não me desesperar com o calor e com a possibilidade remota de que não vou mais ouvir direito do jeito que era antes. O ruído das pás antes me deixava sonolenta, agora isso me incomoda terrivelmente.

O zumbido que é o mais assustador.
Ele aparece fraquinho, depois de um longo período em algum lugar onde tenha muito barulho (ônibus por exemplo) e vai aumentando em uma frequência devagar e irritante como se fosse um raio laser bizarro passando pelo ouvido direito e sem previsão de parar.  Em alguns casos, como estar dentro de uma biblioteca por muito tempo, realizando um trabalho chato burocrático, o som vai aumentando, até eu sentir náuseas e um pouco de desequilíbrio.

Nessas horas peço para qualquer deus pagão aí ouvindo (haha!) que ninguém me veja pedindo arrego.

Eu quero pedir arrego, mas não dá.
as contas não vão se pagar sozinhas, o diploma não vai ser feito sem antes terminar o TCC, definitivamente desistir de tudo não é uma opção.
(Não quando agora, finalmente agora tenho muita coisa a perder)

Mas há esse período no meio da madrugada, em que não consigo distinguir se tou caindo ou saindo do sono ou ainda noiando com o zumbido que não vai embora tão cedo, que meu corpo meio que dá uma trégua e tranca o ouvido de vez. Nadinha passa por ali.

Aí na exaustão e de algumas sessões de pensamentos fazendo manutenção dos sistemas de culpa, consigo dormir.

E os sonhos estão já fabricando formas bem criativas de me apresentar esse problema.
Os sistemas de culpa. Carregados de um ódio tão guardado que em meus pesadelos, estou me tornando quem eu mais gostaria que nem tivesse passado na minha vida. Quem sou obrigada a conviver.

Em uma das noites mal dormidas tive terror noturno.
Enquanto o episódio se desenrolou, eu paralisada na cama, olhos fixos na porta do quarto, alguém que eu não queria ver já faz uma pá de tempo me encarando de volta, só consegui espremer um "tudo sua culpa".

Transferir emoções nunca foi meu forte, ainda mais as culpas que mantenho em meu sistema.

Um comentário:

  1. A culpa é um saco de lixo que você carrega nas costas, cuja carga aumenta à cada dia. Solte-o, e tudo ficará mais leve.

    ResponderExcluir