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18 julho 2018

[conto com angie] os dias frios

Título: os dias frios (por BRMorgan)
Cenário: Feéricos - contos para sonhar.
Classificação: PG-13.
Tamanho: 2.889 palavras.
Status: Completa.
Disclaimer: Esse conto faz parte do Projeto Feéricos "Conto com Angie" que está sendo postado aqui no AO³ [x]
Personagens: Raine, Angie, e alguém que tava perdida por aí.



Tinha dessas nos dias mais frios. O de ficar sentada na frente da janela da sala de sinuca, a algazarra do grupo discutindo a próxima missão, a vitrola tocando algo melancólico, o elevar de vozes quando alguém errava a tacada na caçapa, um suspiro qualquer pra janela meio embaçada da condensação do ar gelado e sua respiração. 

Mensagens na janela que nunca mais iria ter. 

A única herança era essa lembrança de dias frios, carpete fofo, música festiva em volume aceitável, dança espontânea no meio da sala, o rosto afogueado pelo esforço de seus passos nada ensaiados, a companhia de gatos, familiares, e um único fio prateado que a unia com a única pessoa que a salvou de um destino doentio. 

Nos dias frios ele reclamava da falta de chuva e de ficar trancafiado em casa sem poder fazer muita coisa. Sentavam então no chão, abriam as cartas de adivinhação e contavam lendas e estórias de antigamente um para o outro. Os familiares felinos se aconchegavam em seus colos, ronronantes em suas formas, escondidos de tantos olhos que os destruiriam por serem quem eram. 

Nas cartas, nada de prever o Futuro, mas o de assegurar que o Passado estava feito e ali mantido onde deveria ficar. Teve uma vez só, em uma tarde boboca de frio, em que tirou a figura do Tolo e deixou escapar que a ilustração parecia muito com ele. O sorriso cansado a deixou intrigada por dias, até entender que a única carta que puxara despretensiosamente havia predito aquilo que não deveria ser dito.

CONTINUA AQUI NESSE LINK

06 março 2016

vislumbres



Beneath the noise
Below the din
I hear a voice
It's whispering
In science and in medicine
"I was a stranger
You took me in"

The songs are in your eyes
I see them when you smile
I've had enough of romantic love
I'd give it up, yeah, I'd give it up
For a miracle, miracle drug

Às vezes te descubro em lugares onde supostamente alguém como você não deveria estar. Já é o começo do questionamento: é realmente alguém para se acreditar ou apenas uma ilusão concreta o bastante para me dar vislumbres de que essa situação tem jeito?

Às vezes é no meio de uma conversa despretensiosa, entre as palavras em um livro antigo, em uma anotação sem sentido escrita há muito tempo, às vezes é antes de dormir, ao colocar a cabeça no travesseiro, respirar fundo para imergir no Reino dos Sonhos (que pelo que tenho idéia, continua sendo sua casa), às vezes é em lembranças de outros rostos queridos, eu meio que te reconheço sem precisar de muita investigação. 

E dói. 

Porque eu me afastei e não espero voltar a me dar bem contigo. "Amor deve ter confiança!" - você uma de suas versões clássicas uma vez gritou achando que poderia dar alguma lição de moral na minha eterna ancestral. Não é porque o Amor é cego que sou obrigada a não te reconhecer. 

Talvez seja essa a maldição. Te reconhecer em outras formas ao invés da verdadeira (e aí entramos numa discussão acirrada do que é verdadeiro e falso, real e imaginário, concreto e não-tangível, forte e frágil) parece ser uma sina perpétua que mesmo me negando a voltar para dar uma espiada no caminho de pura areia branca de milhões de conchinhas dilaceradas pelo tempo, fui feita pra perseguir o fio de prata enroscado no meu calcanhar e bem preso nessa coleira de normas e leis que mantenho desde pequena. A coleira é boa, me faz me manter lúcida, ou parcialmente convencida disso.

A areia do seu caminho é gostosa debaixo dos meus pés machucados, mas guess what? O preço é muito alto (um coração em estado aproveitável para ser arrancado da normalidade) e o meu custo é bem humilde. O meu só faz o que tem que fazer e nada mais (até bacon cortei da dieta pra não prejudicar tanto), não me preocupo tanto e queria que soubesse que entulhei ele com outras caixas pesadas de valor inestimável por uma razão: é pra não enlouquecer. 

Entre ficar biruta ou virar a tia ermitã da biblioteca, prefiro ir com o que me deixa feliz da vida. Parece justo né? 

Depois de tanta gritaria, ranger de dentes, palavras que viraram ecos insistentes dentro da cachola e desencontros, creio que seja o mais justo para ambas as partes (bem, só sei da minha, você nunca foi muito de falar francamente e você sabe como sou péssima em entender sinais truncados). Mas mesmo assim sei que vou te reconhecer pro resto da minha vida de escriba. 

Talvez algum dia, atrás dos balcão cheio de tranqueiras, entre as prateleiras da vida, entre uma correria de um setor a outro, ou até mesmo na ida ou volta pra casa eu te veja ao vivo - e pode apostar cada fiozinho de cabelo desse seu cocuruto magnífico e rostinho que nunca consegui ver direito quando criança ou enquanto dormia que você não vai me ver ou reconhecer. 

E talvez eu diga olá e pergunte porque não podia esperar a hora do café ou algo do tipo, mas vamos dizer que hipoteticamente nesse cenário já hipotético, eu vá apenas me esconder. Vamos ser sinceras?

Você não precisa de mim.
Eu preciso de você.
Mas nessa vida acho que não mais, então se a relação já não está sendo igualitária nesse plano, me cobre veementemente no outro quando eu chegar. Se eu chegar, pretendo ficar aqui por um bom tempo, sabe?

E vamos conversar sobre todas as coisas que poderíamos ter criado, vivido, descoberto juntas. Me questione sobre cada dia em que duvidei que você existia, pergunte me se cada ação na minha vida não  era uma prova de que a nossa conexão nunca se foi, mas só era sublimada por esse imperativo do medo de estar ficando louca.

Não sei se você vai entender dessa forma que escrevo. Ultimamente ando tão calada para poder dar explicações ou justificativas (Calada? tou é cansada), então caso houver alguma dúvida quanto à isso que estamos passando, fica tranquila. Estarei sempre à sua disposição, como uma colaboradora, não mais como protagonista.

Cansei do Amor romântico, querida. Ultimamente desisti por uma droga milagrosa (e se chama Biblioteconomia).