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27 abril 2022

diagnonsense

"Garota, interrompida" é meu filme favorito de todos os tempos não porque Angelina Jolie ganhou o Oscar com ele (bem merecido, aliás), mas por me fazer entender que havia algo de errado no meu modo de ver o mundo. Não "errado, errado", mas distorcido, diferente do que costuma ser usual. E morrer de medo de instituições psiquiátricas como diabo foge da cruz.

Apesar de me interessar por assuntos psicológicos - inclusive com a feitura de uma personagem por anos com problemas de TOC severo, mesmo sendo técnica de legista por anos a fio - o meu pavor por pessoas psicólogas aumentou consideravelmente após os 11 anos.

E o filme é bom, açucarado no teor Hollywood baseado na memória escrita por Susanna Kaysen, mulher cis branca, classe média alta, norte-americana que se internou em uma instituição psiquiátrica de luxo nos anos 60 quando ingeriu uma garrafa inteira de remédios contra dor e dali em diante teve um diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline que era pessimamente compreendido pela área da Medicina e Psicologia na época. Ver o filme (muitas vezes) e ler o livro me trouxe algum senso de que:
1) "tem algo errado, preciso consertar";
2) dá pra fazer isso sem ninguém perceber, afinal não quero ser internada.

Estamos falando de cidade do interior de Minas Gerais, se adaptando a uma nova política de ressocialização do SUS que não comportava a quantidade de gente com problemas psiquiátricos e em tratamento psicológico. Estamos falando de uma colônia de gente louca e leprosos instalada em um bairro distante e que recebia todo estigma da população. Estar na vizinhança de um dos hospitais psiquiátricos mais requisitado da região sudeste depois do Pinel no Rio de Janeiro também reforçava que qualquer movimento errado poderia ser desastroso.

Debaixo do link tem algumas considerações sobre o filme favorito e diagnósticos dados recentemente.

24 fevereiro 2022

tem um tempinho...

 

Como nossa sábia camarada comunista falaria

Este hiatus tem sido uma reviravolta na ficha de personagem da pessoa escriba que vos escreve, muita coisa aconteceu desde sempre.

O bom foi descobrir que a minha obsessão em escrever neste blog se revelou como uma fonte muito boa para o tratamento psicológico que estou me submetendo durante esses últimos meses. Yep o diagnóstico foi dado e não me surpreende que um Transtorno de Estresse Pós-Traumático com Amnésia Dissociativa tenha vindo com tanta rapidez.

E como ser neurodivergente no Brasil é mazomeno ser considerado um verme, eis a melhor forma de "sair do armário" no local que construo desde 2003/2004 para registrar passagens da minha vida que possam fazer sentido ao resgatar as postagens anteriores e botar alguns pingos nos is.

E como tem is pra botar pingos.

Para você que acompanhou essa verborragia até aqui, agradeço de coração, não precisava mesmo, esse blog era meu backup de memória - que é péssima por mais motivos de trauma do que de velhice ou genética, ufa! - e assim continuará sendo. Nada novo na real.

Os próximos posts provavelmente serão sobre como tá sendo caminhar nessa trilha tortuosa de descobrimento de diagnóstico e tratamento necessário pra ter um pouco de qualidade de vida aceitável (E ser funcional socialmente né? Afinal, minha profissão cobra isso.)

Deixo aqui então o que faço ultimamente da vida para aguentar o tranco:


23 maio 2021

gestão de sanidade é o que há

Fazer gestão de manter a sanidade é um porre, mas o que é mais tenso de fazer é gestão de preciso continuar existindo, porque tá se tornando inviável. I mean, os motivos tão minguando, as vontades acabando, os olhares estreitando. Eu pensei que tinha ido pro fundo do poço em maio do ano passado, mas tou de parabéns por aguentar a cara corajosa (fachada) por tanto tempo.

Tá foda.
Eu só quero parar de sentir dor.

E eu sei qual é a maneira mais rápida, mas não quer dizer que seja a mais acertada. Afinal de contas, agente do Caos sempre estarei/serei - e ideia errada costuma ser sufocada por ideias grandiosas de feitos aleatórios.
Desistir de tudo não é uma opção viável.
Não seria isso que você gostaria de ver seu filhote fazendo pra botar ordem em coisa alguma.
Eu quero continuar, juro!

Mas tem dias...
Tem dias que só quero ter paz.
Estar dopade ao ponto de não sentir nada.
Ser um balão vazio pra não ser preenchido com coisa alguma.
Não precisar cumprir as minhas obrigações como pessoa física normal.

E aí milagrosamente esta música começa a tocar em meus ouvidos e eu sinto que é um recadinho especial seu pra eu não me sentir tão imprestável assim... 



12 julho 2020

expectorantes

Ainda me surpreende quando pessoas tem alguma expectativa sobre minha pessoa, gente eu nem esperava chegar aos 30 direito, ultimamente só tou aqui para tirar o CRB, ir pra um interiorzão afora, ajeitar uma biblioteca escolar da vida e ser a tia Elza da referência forévis nesse lugar.

Não tenho grandes aspirações ou expectativas justamente por não corresponder a maioria das vezes quando alguém demonstra interesse em saber o que quero fazer da vida. Sou bem lugar-comum e monótono nesses tréco, então já pra deixar bem óbvio, é isso aí em cima.

Ah! E manter meus pontos de sanidade no 1d20 que tirei desde que nasci. Minha saúde mental não troco por nenhum sonho, expectativa ou projeto aí não.

Teje dito.
Voltemos a programação normal.

31 março 2019

Aquela duvidazinha que aperta

Acho que a primeira vez que desconfiei que talvez o mundo em que vivemos poderia ser uma paródia bem tosca de um simulacro mal feito de deuses cansados foi ao fazer uma redação sobre meu melhor amigo.

Eis a questão para crianças introvertidas: a gente não costuma ter tantos amiguinhos, mas a gente observa bastante as pessoas sendo felizes tendo amigos.
Não é uma necessidade crucial de convivência social, não vou morrer de tristeza se não tiver a presença de miguxes por perto ou diariamente - ffs não sou um bloco de gelo, apenas tenho aquele trem de precisar de espaço pra recarregar as baterias por conta das interações - também até agora não arranquei meus olhos fora por não ter alguém pra dividir a cama e as contas, afinal de contas, gosto mais da minha solidão do que a ansiedade, apreensão e embaraçamento de estar na presença de pessoas.

E na redação escrevi sobre uma amiga imaginária que sempre esteve comigo até me convencerem que amigos imaginários são fases da infância pra se acostumar com a vida cruel e chata. Mas escrevi sobre ela e lembro de terminar de escrever uns dois parágrafos - minha letra horrenda era grande naquela época, então ocupou a folha inteira - e me perguntar: "Será que os outros vão entender o que tou tentando escrever aqui?"

Então escrevi sobre meu cachorro (que era companheiro de brincadeiras e a amiga imaginária também era chegada nele) e pronto, passável.

Não lembro de admoestação nisso, lembro de me preocupar se escrever sobre alguém que supostamente não existe, mas que volta e meia me ajudava nas brincadeiras e nos estudos e no entender o mundo ao meu redor (era confuso pra cacete gente, sério! Cês já fizeram esse rememoramento de como as coisas na infância, apesar de simples, os adultos babacas complicavam com trocentas regras impossíveis?!).

A amiga imaginária saiu da "materialidade" que uma mente fértil infantil pode formar - era uma moça bem bonita, aliás, às vezes reconheço a voz dela em lugares e sempre quando decido seguir o que chamam de "instintos" ou "intuição", acaba sendo batata - ou tá corretíssimo ou vai dar muito pano pra manga - e habita minha cabecinha de melão cheia de ideias despirocadas, porque eu não deixei aquela redação matar a minha criatividade. Ou qualquer outra manifestação autoritária de estrangulamento de criatividade.

Mas fazer esse esforço de esquecer que essa ideia que era externa - pergunte a qualquer criança que tem amigo imaginário, a persona "existe" em algum level de materialidade, nos sentidos principalmente, eu costumava sentir cheiro de perfume gostoso quando a amiga aparecia, ouvia pouco da voz, mas o segurar minha mão quando ficava escuro no quintal dos fundos ou de ficar do lado da cama contando alguma história que dava pra gente brincar no dia seguinte (eu já havia sido introduzida aos blocos de montar, storytelling veio cedo aqui e culpo a uma fonte externa. Eu era uma criança essencialmente sem graça e não muito empolgada com pessoas) - foi a primeira impressão que "Yep, esse é o mundo que todo mundo parece ver, então é isso que vou ter que aturar? Desafio aceito, né?"

Minhas aspirações de botar fogo no putero eram altas naquela época.
E quando digo isso era de se subverter da ordem geral.
O desconforto tava ali de não encontrar lógica em algo padrão como "meninas jogam vôlei, meninos futebol e usam a quadra maior".

Não é algo pra uma criança de 8 anos já sair no bate-boca com professores do primário.
Ou de falar demais dentro da sala, não com coleguinhas, mas de perguntas e mais perguntas, de me botarem na diretoria, por causa disso, por fazerem o ERRO CRUCIAL de me mandarem dar uma voltinha na biblioteca. Essa Realidade Estática sempre me deixou intrigada com as conformidades, não as deformidades. O padrão me é enjoativo, mas passável (Assim como minha existência até agora). Mas viver de padrão pode prejudicar sua criatividade.

Cair na Biblioteconomia não foi milagre ou decisão acertada, foi como um destino emaranhado de fios de diversas cores e grossuras fossem sendo costurados lá pelas fiandeiras, até uma catar o olho da outra irmã e apontar praquela manhã de pseudo-castigo na biblioteca fosse o fator decisivo de uma vida inteira de:
1 - esconder as minhas perguntas dos outros e fazer o trabalho sujo eu mesma (descubro sozinha blergh!)
2 - encontrar a profissão que amo de paixão e ninguém vai me convencer o contrário disso
3 - saber o que raios tou fazendo nesse plano de existência e o que posso fazer pra suportar um tempinho aqui sem causar tanta destruição contra mim mesma

Porque a destruição tá bem perto, sabe?
O Caos reina em uma mente que não sossega 24/7, nem quando medicada, ou exausta, ou enquanto dormindo.
Isso irrita.
Porque voltar ao estado normal das coisas não existe desde meus 7 anos (a memória de funcionamento do meu processo de entender o mundo é nessa idade, antes são borrões, flashes e um medo insano de me aproximar de pessoas). Tentar me adequar também é um problema, sempre dá erro 404.

Voltar a caixinha não rola, porque essa caixinha não foi uma opção que pude escolher, de entrar e ser domesticada ali dentro. Em outras caixas mais apertadas e blindadas sim, nessa da padronização não.

A criatividade, que insisto que veio de parte externa do sistema - afinal ter lembranças de uma amiga imaginária continua sendo meu atestado de quase insanidade - continua povoar a cuca aqui. Nunca me atrapalhou em cumprir meus compromissos,mas às vezes me fez apressar passos daquela precaução que a criança introvertida assustada com pessoas já planejava antes de ter tino que se proteger é bom, mas se blindar é algo péssimo.

E hoje vendo duas crianças no ponto de ônibus, cada uma dançando uma música que não existia materialmente, me fez pensar no que o mundo considera como sanidade e loucura. Esses pequenos vislumbres de criatividade espontânea das crianças estão em todos os lugares e até quando elas estão se esforçando pra forçar uma passabilidade de "Hey adulto babaca, sou normal tá. Aqui meu atestado de eficiência no status quo. Continua sua vida".

Na Educação é onde vejo mais esses focos de criatividade acontecerem com mais frequência - tanto pro bem quanto pro mal - e que infelizmente a própria Educação com "e" maiúsculo sufoca e esquarteja.

Não há um dia em que eu não acorde com uma ideia nova na cabeça, que mesmo que impraticável (maioria), vai me puxar pra outros cantos, não tem uma noite que não boto a cabeça no travesseiro e não esteja pensando em algo, possível, palpável, durável ou completamente platônico. Não há algum momento durante o dia em que não passe sem viajar na maionese com algum tópico.

Porque eu alimento a criatividade com o pouco que dá em dias como esse.

Duas crianças dançando desajeitadamente em um terminal de ônibus lotado de pessoas em uma massa amorfa de corpos, em um ritmo que não existe pra gente ouvir aqui fora (será que era o Ranganathanga?!) já me fez correr pra esse bloco de notas e escrever um pedaço de conto. Tem pessoas que gostam de contar, outras de narrar, outras de escrever. Fico com a tarefa de escriba mesmo, escrevendo pra não esquecer, rememorando com o que é possível recuperar nesse músculo falho nosso chamado cérebro.

Mas entre amigas imaginárias, despertares de novas percepções, convivências com um cérebro barulhento e insuportável em algumas situações (vai lá fazer prova de processo seletivo com uma música nada a ver tocando no looping dentro da cuca e ser obrigada a pegar um rascunho, escrever a powha da letra pra ver se o treco é expelido pra poder se concentrar), todo mundo tem o potencial de não esquecer aquela criança de antes, a de ideias lokaças e jeitos mirabolantes de se ver o mundo chato.

Até lá, conservando a sanidade aos pouquinhos.

07 junho 2017

sumiço

Não era Amor.
Não era.
Não era Amor era
Um número na CID que começa com M54. uns quebrado. No caso a minha lombar.

Traduzindo: de cama, sem movimentos bruscos, nada de PC até domingo,nqda de pegar busão.

Isso porque tenho 1 prova, 2 projetos de pesquisa, 1 relatório e 3 apresentações de seminário para preparar.
(sem contar estágio, revisão de revista AND minha sanidade)

Era cilada!
Cilada, pampampampampanananan.

Ps: médico receitou Tramadon. Voltei pra fila e fiz ele refazer a ficha de medicação. Tava lá no meu effing prontuário o que exatamente Tramadol e qualquer medicamento do tipo fez comigo da última vez. Tou num outro que não é narcótico, mas não sei não. Assim como bibliotecários, médicos não leem os prontuários pelo jeito.


08 outubro 2013

interlúdio entre manter promessa e manter a sanidade


Verdade seja dita, não consigo manter promessas.
A mesma força impulsionadora para que eu as faça é a mesma proporcional para o desinteresse da causa prometida. E se o desinteresse for altamente questionável, aí sim pode apostar que a promessa antes feita com todo carinho e amor será deixada de lado no limbo cósmico para talvez ser resgatada algum dia depois para averiguação.

É amargo ter consciência disso e não poder fazer muita coisa.
Mecanismos de auto-defesa é uma coisa, já auto-preservação é outra.