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23 novembro 2013

regras mundanas que atrapalham a evolução (e o entendimento)

Uma das coisas que mais me barra ao estudar qualquer tipo de crença religiosa é quando eles, de certa forma, discursam sobre o corpo. Yep, o corpo, esse físico, saco de ossos e tiras de carne que arrastamos por aí nessa viagem maluca cósmica de aproveitamento de disciplinas em Retorno de Graduado Espiritual - porque vivemos um ciclo em espiral, queridos, trazemos bagagem cultural até de outras vidas para podermos reaproveitar e reinventar algumas coisas aqui.

Das experiências negativas que tive ao tocar nesse assunto - o corpo físico - a questão que mais pegava era a sexualidade envolvida no processo. A eterna premissa do saber sexual, a experimentação física para se achar algum sentido no transcendental sempre feriu alguns dos meus princípios básicos de convivência em Sociedade. Motivos? Tenho vários, só de me sentir 70% culpada quase toda parte de minha vida por desejar sexualmente e emocionalmente o mesmo gênero (palavra feia, muito feia) já me rendeu uma trava psicológica que não vai ser resolvida tão cedo.

Viver em uma cultura judaica-cristã é massante, você é culturalmente engrenado para rejeitar qualquer coisa anormal e imoral da vigência estabelecida, ser homossexual é como sair da norma (Isso quando não apelam pro bom e famoso "pecado divino" que tanto gostam de pautar seus discursos nada solidários e humanitários), como ser tão subversivo ao ponto de quebrar regras que essencialmente o fisiológico deixa transparente que não deveriam ser quebradas. É estafante e se não dizer: desestimulante.



Estava a ler um livro sobre anjos cabalísticos - em um modo mais didático e informativo - e um parágrafo me chamou atenção, pois o balde de água frio foi tão intenso que me fez ser obrigada a escrever esse post sobre algo que realmente não me interesso muito em escrever sobre (Minha própria escolha padrão em ser lésbica): o corpo físico. O livro, literalmente, ligou a "magia negra" de vibração pesada, baixa e péssima com o estigma de ser homo, a comparação de que os lugares que tem mais desse tipo de energia negativa é um antro de gente gay me fez cortar toda minha empolgação com a leitura - e tava indo tão bem, tão cheio de novidades para relacionar com outros textos!

Quando eu era mórmon viviam repetindo que meu corpo era meu templo (sagrado) e eu o resguardaria da forma que fosse para ele não ser maculado - isso incluía a não ingestão de café, chá preto (Coisa que amo de paixão), bebidas alcoólicas, abusar de substâncias ilícitas ou praticar sexo promíscuo. Promíscuo dizemos: homossexual Isso porque eu nem tinha oportunidade de exercer qualquer tipo de jogo manipulador e sedutor para conseguir alguma parceira de cama, mas porque se o bendito do corpo é um templo, só quem pode tocar deve ser um homem masculino. Não, não, não e não.

Essa temática sobre corpo no sentido sexual e de inclinação para gostos na sexualidade é difícil pra caramba pra mim racionalizar, porque eu não me tornei lésbica, apenas me entendo como apreciadora máxima da anatomia feminina em todos os aspectos, desde os fisiológicos aos emocionais. Eu não sei se nasci com isso, não lembro como isso surgiu de apreciar mulheres mais que homens e creio que minhas experiências extra-curriculares não me deram muito embasamento teórico de que sim, estar sexualmente ligada a um homem masculino é realmente a minha "opção" de vida. Apenas as amo, assim como tento me amar como mulher, é algo recíproco e de admiração ancestral pelo feminino, o de respeitar mais mulheres que homens, o de relevar suas opiniões a mais que a de homens, a de lembrar exatamente a técnica do meu primeiro beijo com um carinha e ter vagas lembranças das explosões de hormônios e cabeça voando quando toquei os lábios da primeira donzela que tive o prazer de estar.

E desculpe-me a franqueza, o sexo (o ato) é mil vezes mais awesome. E pra quem gosta de pesquisar/explorar/questionar como eu, caiu como uma luva para qualquer tipo de resistência patriarcal de querer me unir ao sexo oposto. Nunca tive relações com homens, e realmente não desejo ter pela simples falta de sintonia com o aparato biológico, não me é interessante/instigador/misterioso.

Por isso mantenho um eu-lírico do outro lado (o bendito do marinheiro irlandês) para poder Equilibrar essa forma confusa de sexualidade quase resolvida - porque não acertei ainda os passos com minha mãe, a negação dela me fez querer cavar um buraco no chão ou até mesmo pensar em abandonar essa jornada aqui e encarar o julgamento em Maat com os 42 juízes e ter meu coração pesado na balança da Vida por Anúbis. Sério, às vezes penso nisso de forma puramente didática: "WTF tou fazendo aqui? Se não dou pra homem, não estarei completando minha instância quanto mulher.", não me parece legitimo viver causando tantos transtornos para mim mesma e aguentar grosserias de muitas pessoas.

Ser lésbica não me foi opção ou modinha ou qualquer outro motivo qualquer mundano para renegar a companhia de homens no meu dançar debaixo das cobertas, apenas não sinto necessidade deles, mas tenho uma extrema e imensurável vontade de ter mulheres.

A Sociedade impõe certos padrões que a gente tenta se encaixar, sócio-histórico-culturalmente e complica mais ainda com a Religião. O catolicismo mineiro me fez ter aversão de igrejas - homossexuais não são pessoas por lá - o protestantismo relativizou algumas regras, mas mesmo assim não é aceito - o espiritismo kardeciano me decepcionou ao sacar que quando você é encarnado e homossexual, a sua vida passada era o contrário (Faz parte do encontrar a alma-gêmea, yep sou romantiquinha assim) e agora está "consertando" o espírito para a próxima encarnação vir conforme o gênero sexual bipolarizado. É horrível ouvir isso, a opinião científica/religiosa tomar conta de algo que supostamente nem deveria estar sendo questionada,

A Razão me rege desde pequena (Foi algo que cultivei com a vida) e com ela pretendo morrer, mas condenar a homossexualidade e como uso meu corpo é relativamente entediante. Primeiro porque não há embasamento teórico NENHUM nesse Universo enorme que me vá fazer pensar: "Hmmm cansei de ser homo, vou ser hétero!" - pode até haver situações que me façam questionar - vide Eric Northman e a confusão mental que enfrento toda vez que vejo as fofurices do Hiddles - o que é ser atraída sexualmente e o que é ser biologicamente atraída, uma coisa não costuma se misturar muito quando estou tratando de feminino e masculino (Até porque minha curiosidade para entender a fisiologia masculina é bem pequena, beirando o tédio mesmo) e segundo porque não há lógica aqui, comigo, dentro da minha cabeça, ter realmente atração pelo sexo oposto. Não me parece lógico, não parece fazer parte de mim, eu saco de ossos e tiras de músculos sentir necessidade primal e instintiva de me sentir excitada pela fisiologia masculina.

Aí você embarca numa busca espiritual e de autoconhecimento e se depara com essas mesmas questões polarizadas de corpo físico e sexualidade e "opções". Não é correto, sério! Se você está em uma prática espiritual universalizada não deveria ditar normas de conduta sobre o corpo dos outros e classificar que lugares em que a energia mais ferrada, perversa e pesada estarão lotados de homossexuais. É ilógico, é imaturo, é leviano. Eu, por experiência própria, não sei como ser hétero, é algo que já está printado em mim sem eu nem saber de onde começou isso. Não me lembro da comunidade que eu vivia em meu tempo de criança me moldar a ser lésbica, não me lembro de escolher minhas amizades definido por esse parâmetro de "O que farei com o meu corpo físico daqui alguns anos? Vou me deitar com mulheres.", ao contrário, eu tinha reforços de MANTER o heterossexualismo como peça principal da minha formação como criança para adolescente.

O manter o comportamento feminino, os traços femininos, as escolhas em âmbito feminino, o prestar atenção aos rituais exclusivos femininos e adivinha? Tudo acabou sendo na base da experimentação do que no teórico que tanto insistem em jogar dentro da cabeça dos adultos. Eu não vivenciei o feminino quando criança, não por falta de opção, mas por emparelhamento de saberes. A convivência pouca com meu pai viajante não me afastava do masculino, mas me lembrava dos limites entre um e outro: uma das poucas conversas que me lembro de ter com ele antes de completar 11 anos foi ele me perguntando se eu havia menstruado e eu que nem sabia o que era isso, disse que não. Ele sabia que minha preferência intelectual era ficar entre meninos e pesquisar as informações que eles obtinham - e bora parar de hipocrisia, homens têm mais privilégios em conseguir informações sobre qualquer temática do que mulheres, vide as Ciências aí - ele talvez sentia que minha floração sexual tenderia para o homossexualismo, mas jamais me julgou por isso. Nessa mesma conversa ele me alertou de 2 coisas: 1 - se menstruasse, falasse com ele para me dizer o que fazer (Acabou que quem cuidou disso foi minha irmã mais velha, que também me ensinou a usar sutiã e fazer depilação); 2 - tomar cuidado com meu corpo em relação aos outros (E os outros são eles mesmos, os homens). Meu pai não foi presente em minha vida, mas me ensinou que o "outro" às vezes cobiça aquilo que não tem e ali se instaurou a pergunta que até hoje não consigo responder quando ousam em me perguntar:
" - Porque tu gosta de mulher?" - não sei mesmo, não poderia explicar nem se quisesse, apenas acontece, apenas é. Se é resolução de vidas passadas, karma cósmico sendo sintetizado, instinto primordial de homo sapiens pré-histórico, realmente não sei, apenas gosto, não consigo me ver ao contrário. Não consigo ser hétero e sendo feliz comigo mesma.

Não foi por falta de homem na minha vida que me tornei lésbica, foi exatamente o contrário, o contato com ambas as partes me fez ter a visualização precoce de que todos somos iguais, mesmo em suas particularidades. O sistema patriarcal tenta rotular e taxar essas particularidades para te colocar em um determinado tipo de linha social "aceitável", porque é mais conveniente, porque é mais comum, porque é mais cômodo. A escola piora isso, trazendo toda essa miscelânea de opiniões ainda não formuladas e fragmentadas para um âmbito mais cruel: quantas vezes não fui chamada de moleque, machorra ou mulher-macho por preferir estar na rodinha de conversa dos meninos ou participar de suas atividades?

Não era o apreciar ser masculino - não havia nada de interessante nas atividades essencialmente masculinas, como se comportar como um garoto, ou pensar como um e muito menos agir como - era o apreciar estar vivenciando o outro sem ter que me preocupar com toda a questão da cobiça trazia. Eu não queria ser vista como outro menino, queria ser vista como igual. Claro que chega o ponto que você não quer nem mais ser vista, mas isso só veio depois quando tentei ingressar no Cristianismo. O ser igual é o ser alinhado com as realidades que eles partilhavam, as informações que obtinham, os saberes que eles compartilhavam, isso sim me animava a ficar horas decorando tabelas do Campeonato Brasileiro, saber como funcionava um carro de corrida de Fórmula 1, o de entender que eles também se sentem incomodados com todas as mudanças físicas que ocorrem na adolescência, mas que a Sociedade em que vivem pega menos pesado com eles do que com as meninas.

Demorou um bocadinho para me aceitar publicamente como sou, lésbica, de tendência caoticista, anárquica, questionadora, por ter medo de me colocar em um lugar socialmente (Problema de nômade é justamente esse, a gente NÃO SABE onde pode se encaixar, porque não há lugar ainda), eu não queria estar em um ponto A e ser classificada como B só porque desconhecia as regras do C, é ridículo isso, é ser egoísta e irracional em não pensar em experimentar o outro - não no sentido físico sexual, mas o de alteridade psicológica/sócio-cultural. Não costumo falar que sou homossexual por saber muito bem as consequências disso - o lugar onde morei 17 anos era intensamente tradicional, católico, bucólico, hipócrita, dizer esse tipo de coisa te trazia tantos problemas quando uma ser parteira em Inquisição no século 15 - mas caso alguém demonstrar interesse na rotulação, irei informar que sim: aprecio a anatomia feminina de um jeito tão visceral que não consigo pensar em ser ativa sexualmente sem esse elemento feminino na equação.

Não tenho obrigação alguma também de advogar/militar sobre a comunidade LGBT, porque meu espírito - independente do gênero que vim pro Mundo Real - é de pesquisador, e pesquisador quer saber de tudo, sempre mais e mais até não saber mais o que pesquisar (E por todos os deuses anciões, se eu pudesse descrever todas as descobertas e hipóteses que tenho para desvendar no feminino e seu corpo físico! A pesquisa teórica científica é necessária, mas a experimentação prática me foi sublime, independente com quer que tenha sido, apenas sublime e por mais romântico/babaca que possa ser: me deu completude e amplitude como ser humano.

Então galeris que escreve livros de cunho espiritualista ou universalista, de qualquer credo ou religião que seja, jamais ditem regras sobre condutas de inclinação sexual do corpo físico hétero ou homossexual, isso não está na nossa esfera de prioridades - tem muita coisa para se preocupar, homofobia é uma delas e discursos de ódio perpetuados na fala de muitos cidadãos. Não somos "anormais", somos todos iguais independente do bilau ou não que tiver pendurado pra fora, ao nascermos choramos da mesma forma pra anunciar o quanto tá doendo pra cacete. Experimentar o outro não quer dizer se tornar o outro, é ter o consentimento irrestrito para usufruir das informações disponibilizadas para eles (E como disse anteriormente,. são muitas! Oh como são!).

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