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24 agosto 2022

astrologia, arquivo e moeda - tudo farinha do mesmo saco

(Direto do Tuíter)
Vamos lá de novo:

Se você consegue compreender que sistemas de símbolos padronizados por instituições se tornam algo real (arquivos, moeda, alfabeto, emojis) vai entender que falar de signos astrológicos segue a mesma linha de raciocínio.
Só não foi levado à sério pela sociedade

Os sumérios lá na Antiguidade disseram que inventaram 2 coisas que a gente não vive sem hoje (moeda e arquivo) e aperfeiçoaram 1 que é o nosso fator civilizatório mais importante (escrita).
(Literariamente, culpe o povo de Gilgamesh por ser precursor das bases desse desastre chamado capitalismo)

Os bonitos também inventaram algo pra adivinhar eventos do passado, presente e futuro que é o antigo sistema de uso da orientação dos astros para prever a vida inteira de uma pessoa (ou colocá-la em um potinho de estereótipos), o que seria em breve a tal da Astrologia - mas não como conhecemos agora.
(Astrologia e horóscopo atuais são coisas totalmente diferentes da Antiguidade, meu polvo. Assim como os arquivos, a moeda e a escrita)

E esse trem, assim como o arquivo (possibilidade de armazenar bens/dinheiro em pedacinhos de cerâmica com um símbolo escrito e botar MUITA IMPORTÂNCIA naquilo) e na escrita foram inventados para satisfazer uma minoria que se considerava muito acima e esperta que nós, a plebe rude.
Já sabem quem são né?
Urrum, isso mesmo.

-- Pega lá a História da Educação no mundo: pobre alfabetizado institucionalmente só veio depois do século 19 e olhe lá --

Arquivo, moeda, escrita e astrologia não eram coisas pra gente ralé como a gente. Foi inventado pra rycoh ter instrumentos de nos dominar de alguma forma sem a gente perceber.
(Ou virar escravo disso)

Então quanto a Astrologia era hype lá na Antiguidade era pra direcionar a vida de gente rycah para governos, manter status social, algo místico e sobrenatural para explicar o porquê eles eram rycohs e porque deveriam continuar assim.
Que nem arquivos, moeda e escrita.
(Religião também e olha só! Religião também usa arquivos, moeda e escrita como forma suprema de dominação)

Aí vamos para a "usabilidade" do trem.

Se Astrologia foi inventada com um dos objetivos de ser instrumento de controle social (assim como arquivos, moeda e escrita) pelos rycohs, então estudar os padrões desse rolê faz sentido no ponto de vista de "ter controle do Outro".

O que os sumérios não esperavam era ter suas invenções espalhadas pelo mundo inteiro (viva os bárbaros e nômades) e alguns sentidos de como esses instrumentos de manutenção de poder seriam usados.
(assim como tudo na vida, açúcar e temperinho não eram ouro há uns 500 anos atrás nessa terra?)

E espalhou a fofoca?
A fofoquinha vira outra coisa.

Os arquivos continuaram, usamos até hoje.
Moedas evoluíram pra essa bizarrice que não existe chamada "bolsa de valores" (óia o absurdo, minha gente: um sistema financeiro global todo baseado em fofoca de grandes corporações?! Não parece similar ao absurdo da Astrologia atual?!)
A escrita tá aí conosco, nos mandando e desmandando e aí se a gente sai dessa linha de raciocínio da escrita!
Astrologia ficou pra trás no significado de se domar uma nação através da potencialidade de "divinizar" um rycoh só porque nasceu com a bunda pra uma constelação.
Mas ela não se torna obsoleta, por quê, por quê?!

Sim!

Populacho, ralé, probri, a gente aqui no andar debaixo botou OUTRO significado no que esses sistema de classificação fazem sentido pra nossa sociedade.

E botar OUTRO significado na evolução da Humanidade é algo que fazemos sem querer querendo e também contra o status quo dos rycoh.
(As criatura pira quando a gente se apropria dos trem deles e bota nosso significado dentro)

Arquivo pra gente tem outra conotação.
Moeda é usada de formas diferentes.
Escrita nóis perverte todo dia sem dó e nóis é chamado de analfabeto.

Estudar padrões na astrologia faz muito bem pra ENTENDER como esses sistemas obsoletos de controle social podem ser ridicularizados e transformados na essência. Signos astrológicos são representações de significados dentro de um sistema maior (sociedade ocidental) e eles mudaram, não tenham dúvida disso.

O sentido de Arquivo mudou tanto que se confunde com Dado e Informação. Tem teórico se estapeando por isso.
A Academia adora problematizar.
Sistema monetário? Já mudamos de sentido ao centrar a valorização da moeda no OUTRO mais forte (dólar americano).
No Brasil teve mais de 10 mudanças, você percebeu alguma delas?
Minha gente, sua grana tá guardada em arquivos na nuvem, aparecendo escrito na tela dizendo qual seu saldo atual!
Óia só a tríade "arquivo-moeda-escrita" em funcionamento aí e como isso nos prende a ACREDITAR que isso é verossímil e levado à sério.

Estudar padrões faz bem, refletir também o que leva um sistema de informação virar obsoleto também é gostoso (ui!). Faz tão bem que se apropriar dessas representações de realidades te ajuda e entender o Outro, um princípio básico nos estudos e em como ser um ser humano decente.

Então da próxima vez que for sacanear jovenzim místico new age tagarelando sobre signos e ascendentes, pare e escute: é possível que eles estejam mais perto de encontrar os padrões pra ter uma vida plena do que você gastando grana com cryptomoeda achando que vai ficar milionário.

E se esse texto floppar ou parar em algum lugar no Tribunal de causas realmente pequenas do Feicibúque, já antecipo:
Virgem com ascendente em Aquário, lua em Leão e Mercúrio em Virgem.
E O VÊNUS É EM LIBRA!!
CAOS AQUI RESIDE, MORA, HABITA E SERÁ DEFENDIDO ATÉ A PRÓXIMA TEORIA BIZARRA!

05 julho 2022

muita gente branca

Não sei se isso acontece com vocês, mas... Ao ver informativo da minha profissão, e lendo o conteúdo e me atualizando de ações e alguns projetos, aí presto atenção nas fotos em grupo e...
Muita gente branca cis, né?
MUITA!

Nenhuma representatividade indígena ou negra expressiva nesses espaços.
A exceção da regra nunca existiu e olha que entrei em 2013 pra bolha.

Sempre
branco (homicis)
heteronormativo
cisgênero

Não dá um incômodo pra vocês?

Talvez seja só eu apontando o óbvio novamente e deixando a pulga atrás da orelha procêis se questionarem mais - principalmente nós, gente branca, com privilégios demais e com cegueira social seletiva.

Por que tem mais gente branca e cis? 
Por que? 
Por que não muda nunca?

27 junho 2022

Dia Internacional Contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia 2022.

Vamos lá?
Vamos lá: Dia Internacional Contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia. Querem saber de onde veio? Vai ler a Wikipédia: Dia Internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia 
Se você trabalha em bibliotecas e precisa de uma orientação inicial sobre como tratar esse tema O ANO TODO.

Caso estejam tratando do Dia Internacional Contra a LGBTfobia em suas bibliotecas escolares, tem coisas mínimas que vocês podem fazer para assegurar que não vão fazer presepada, reproduzirem discurso batido que contribui para a violência ou omitirem informações... 

1) REVISEM seus vocabulários controlados na indexação de softwares de gestão de acervo.
<< Homossexualismo >> , << bissexualismo >> , << transexualismo >> e << hermafrodita >> são ofensas BEM FEIAS pra gente aqui do Vale Colorido.
NÃO USE DE JEITO ALGUM!

A UNESCO tem um tesauro bacana da Educação que tem termos pra tudo nessa área. Vocês deveriam já saber usar ele, eu tive que aprender na força do ódio.

2) Pessoas LGBT NÃO SÃO DOENTES MENTAIS, então nada de colocar na 616, muito menos na 150 pelamoooooor?!
Ciências sociais, sim.
Grupos de pessoas é uma boa!

Na dúvida, não sigam o Dewey nem Otlet.
Eles eram babacas.
Nossos manuais infelizmente não tiveram tantas correções desde 1997 por algum motivo burguês elitista-capitalista.
(Se você leu a página da Wikipedia, sabe o porque da data)

3) Por mais que seja noticiado, divulgado, promovido e mostrado na mídia que GAYS CIS BRANCOS sejam as pessoas-alvo desse dia, o Movimento LGBT no Brasil começou com AS TRAVESTIS, PROFISSIONAIS DO SEXO.
Então TRATA de respeitar as Monas!!
AS travestis.
No feminino, caramba!

Elas (as travestis) estavam organizadas e ativistas de mó tempão lá nos anos 90 e cobraram em Brasília por mudanças nas políticas públicas de Saúde, Assistência Social, Educação e Direitos Civis.
E conseguiram.
A "Parada Gay" (É Parada do Orgulho LGBT+ tá?) em São Paulo é consequência dessas ações.

4) Cuidem de nossa JUVENTUDE!!

A Biblioteca é um lugar onde pessoas LGBT encontram refúgio, conforto, segurança e um pouco de paz no meio de uma sociedade que todos os dias nos quer mortos, violentados, sequelados.
Empatia e ser gentil faz parte da profissão.

Galera bibliotecária praticando LGBTfobia não merece o diploma, nem registro na profissão: 

Prometemos no Juramento ao nos formarmos que iríamos cuidar de QUALQUER PESSOA que precisasse de nossas habilidades para encontrar Informação, Cidadania, Cultura e Educação.

(e se você tá achando que isso é um absurdo, recomendo que rasgue o diploma e vá ser engenheiro da produção. Lá pelo jeito tem passaporte livre pra ser escroto com as pessoas)

Um abraço procêis e fiquem de olho: LGBTfobia é crime no Brasil, na mesma Lei do Racismo (7.716/1989) - não deixem impunes quem destrói a nossa juventude dentro das escolas - informação salva muitas vidas.

02 junho 2022

junho chegou! os boletos também!


Chegamos naquela época do ano:

- JUNHO LGBT+ e a falta de noção de pessoas ao nos chamar para falar/palestrar/oferecer nossos serviços - e achar que fazemos isso de graça.

Pessoas LGBT+ tem boletos para pagar também.
Pessoas LGBT+ não conseguem se inserir no mercado formal de trabalho com tanta facilidade assim.
Pessoas LGBT+ estão mais em vulnerabilidade social do que vocês imaginam.

Quer que a gente participe de seu evento/palestra/aula?

Pergunte disponibilidade.
Seja educado ao fazer o pedido.
Não fique insistindo e usando carta de "aliado da luta" pra pressionar barganha, forçando a barra.
Combine os horários direitinho.
Pague o cachê combinado.

Se para os outros você faz isso, por que com a gente tem que ser de graça?
E galerinha LGBT+, não aceitem menos ou migalhas.
Chega de gente se aproveitar do nosso trabalho, nossas vivências e nosso tempo e não dar um centavo de volta.

(A única coisa gratuita aqui é o livro "A primavera não-binárie: protagonismos trans NB no fazer científico” publicado pelo Selo Nyota)









alguns pensamentos aleatórios

Tem uns rolês dentro da minha cabeça que só foi possível perceber na terapia quando le psicólogue me levou à sério.Ter TEPT e amnésia dissociativa no mesmo prato pra comer todos os dias me faz revisar hábitos que tive e tenho pra sobreviver às situações estressantes.

E às vezes é revisitar o passado e lembrar que toda negligência que tive é dei em relacionamentos diversos foi por ficar fazendo manutenção forçada da sanidade pra não ter apagões, esquecer metade de 1 dia inteiro, não cair no sono no meio da situação estressante.

Me é esquisito ter amigues agora que não só compreendem minhas limitações como me fazem sentir confortável o bastante para sentir o que preciso sentir pra não forçar a barra da manutenção e provocar um apagão ferrado.
Sou muito sortude por encontrar essas pessoas <3

Me é super esquisito receber afeição e empatia por essas pessoas quando estou quase beirando ao colapso, quando por anos passei sendo pressionade a "fazer o meu melhor", "aguentar o tranco" pra não demonstrar que estava quebrade por dentro.

O feeling de esquisitice me é bittersweet, tem dias que não sei se é mais confortável não demonstrar nada ("Tá tudo bem! Tudo sob controle!") ou ser vulnerável para não deixar esse trem me atropelar de supetão.
Ter amigues que me apoiam nessa caminhada ajuda pacas a entender.

Que por mais que antes o mundo me disse que meus sentimentos e minha existência não era válida, posso contar com essa galerinha linda glitterosa pra botar uma plaquinha de "Em manutenção" na minha porta quando preciso recarregar as pilhas.

Obrigadão gente boa que está sempre comigo!
Vocês sabem quem são 🤩
É Junho e como Gezuis Ruiva cantou:
"in those heavy days in June/when love became an act of defiance/Hold onto each other..."


27 abril 2022

diagnonsense

"Garota, interrompida" é meu filme favorito de todos os tempos não porque Angelina Jolie ganhou o Oscar com ele (bem merecido, aliás), mas por me fazer entender que havia algo de errado no meu modo de ver o mundo. Não "errado, errado", mas distorcido, diferente do que costuma ser usual. E morrer de medo de instituições psiquiátricas como diabo foge da cruz.

Apesar de me interessar por assuntos psicológicos - inclusive com a feitura de uma personagem por anos com problemas de TOC severo, mesmo sendo técnica de legista por anos a fio - o meu pavor por pessoas psicólogas aumentou consideravelmente após os 11 anos.

E o filme é bom, açucarado no teor Hollywood baseado na memória escrita por Susanna Kaysen, mulher cis branca, classe média alta, norte-americana que se internou em uma instituição psiquiátrica de luxo nos anos 60 quando ingeriu uma garrafa inteira de remédios contra dor e dali em diante teve um diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline que era pessimamente compreendido pela área da Medicina e Psicologia na época. Ver o filme (muitas vezes) e ler o livro me trouxe algum senso de que:
1) "tem algo errado, preciso consertar";
2) dá pra fazer isso sem ninguém perceber, afinal não quero ser internada.

Estamos falando de cidade do interior de Minas Gerais, se adaptando a uma nova política de ressocialização do SUS que não comportava a quantidade de gente com problemas psiquiátricos e em tratamento psicológico. Estamos falando de uma colônia de gente louca e leprosos instalada em um bairro distante e que recebia todo estigma da população. Estar na vizinhança de um dos hospitais psiquiátricos mais requisitado da região sudeste depois do Pinel no Rio de Janeiro também reforçava que qualquer movimento errado poderia ser desastroso.

Debaixo do link tem algumas considerações sobre o filme favorito e diagnósticos dados recentemente.

18 abril 2022

[Contos vampirescos de 2003] Como tirar uma vampira da fossa por Derek Silva Souza.

Sobrado Histórico de Anna Daniela Ruão, 01 de março de 2003, 04h15 da manhã.

Anna Daniela após conversar com Rudy, sabendo que Astrid está de olho nela, fechar a porta da mansão e escorregar dramaticamente na porta em prantos. Tocando Total eclipse of the Heart de fundo.




Derek vendo a cena enquanto está tirando um picolé vermelho de uma forminha em forma de ursinho.

 - Que qui foi aí Chefia?

Anna levando um susto enorme e se recuperando do breakdown, levantando rapidamente:

 - Derek o que você está fazendo?!
 - Pegando um picolé, uai.

Mostrando a forminha de ursinho, Anna indo para estapear a mão dele para tirar o picolé.

- Ai Chefia, quê isso????
 - Isso não é para você, seu tonto!
 - Qualé? Picolé de morango! 

Derek dá uma lambida e se arrepende amargamente do feito. O picolé não é de frutas e não tem gosto doce algum. Ferroso, viscoso. Nada bom. Ele arregala os olhos e olha para Anna, ela dá de ombros.

 - Uma garota precisa variar a dieta, oras!
 - Porra Chefia, que treco horrível!!

Derek dá outra lambida sem perceber. Anna vai até ele imediatamente e rouba o picolé de sangue das mãos dele.

 - Derek, me dá isso aqui!!
 - Cê colocou do Reino ou Dedo de moça?

Anna toda envergonhada, indo abraçar o Espaguete.

 - Aquela que estava no armário... Era a única que tinha!
- Pô Chefia, aquela é rombuda é malagueta! Coragem sua, hein?
 - Para de ficar fuçando na geladeira por comida que não é sua!
 - Tá, Chefia... Relaxa! Peraê que vou ver se tem pimenta preta e experimentar com ela, ok? Não, pera, você experimentar. Eu não.
 - Bom mesmo.

Derek indo pra cozinha e se vira para a Chefe antes de entrar:

 - Quer que eu deixe tocando a música de sofrência, aí?

Algumas horinhas depois, Derek está no telefone da cozinha, passando manteiga no pão e segurando o gancho no ombro e cabeça.

 - Ah Môzi, sei lá, sabe? Ela tá jururu desde ontem à noite, não sei o que fazer... Sim, já tentei conversar com ela. Esses papo de mulher, né? Não Môzi, não tô dizendo que... Não, não! Ela não gosta de falar dessas coisa... Essas coisa do coração, do coração, sabe? É... Mó ruim isso aí... Ficou lá, chorando as pitanga, tadinha... Sei lá... Môzi o Joberto já tá acordado? Já? Deixa eu falar com meu sabichão? Sim? OH JOBERTO QUERIDÃO, BÃO DIA FILHÃO!! Quê esso rapá, tem dessa de corpo mole não, estudar pra ficar sabido, meu velho, cê sabe? Isso aí, come direitinho, obedece mamãe que logo papai tá chegando em casa e ajeito o DVD do Chiréqui. Urrum... Isso aí, nada de sono, papai tá aqui no trabalho, acordadão pra chegar em casa e cuidar das coisas. Quê? Ahn? Peraê, oh Joberto meu filho, beijo nocê e boa aula, tá ouvindo? Escuta a fessora direito! Nada de malandrear! Escuta ela e brinca com seus amigo na hora do recreio... É, isso isso... Da hora, da hora, filhão! Se cuida. Oi Maricotinha Môzi do meu coração... Digue... Também te amo... Já vou voltar pra casa, só esperando ela terminar de arrumar as coisas pra dormir... Não Môzi, já te falei... A dotôra aqui, ela... * suspiro cansado * Ela tá ruim tá? Assim, ruim da cabeça e do coração também... Alguém tem que cuidar dela, ver a casa... Ela paga bem, dá as coisas pra nóis... Eu sei, eu sei... Também sinto sordade suas... Ficar de conchinha e talz... Mas ela... Ela chegou chorando ontem. Ela nunca chora. A bicha é fortuda e seca, não chora, aí chega chorando, o que vou fazer? Conversar com ela? Sim, Minha Vida, já fiz isso... Dona Anna trata bem a gente, dá as coisas, sabe? A kombi, a escola do Joberto, os médico da Maria Tonha... Sim, sim, vou pegar os remédios quando sair daqui, lá no postinho... Pego sim, sim... Cê quer patinho ou chuleta? Beleeeeeezzz, dá-lhe ensopadinho de Môzi! Hehehehehehehe, te amo também Môzi... Mas cê entende né? Dona Anna precisa de nóis... Manda um mimo pra ela depois, ela gostou dos seus bordado... Sim! Sim! Tá tudo aqui na cozinha e lá no escritório dela... O bordadinho de marcar página de livro? Uuuuuuh ela só sabe falar dele pros colega da biblioteca lá... É Maricotinha a gente ajuda quem precisa, porque as pessoa precisa de ajuda né? E a gente ajuda. Tá bom... Batatas também... Cenoura... Peraê, xô anotar aqui, mulhé!

Cessando os barulhos de passos no andar de cima, Derek olha pro teto da cozinha, enquanto pega caneta e papel.

 - Batata, cenoura, beterraba... Qual nome daquele trem verdinho... CHUCHU!! Isso, chuchu... Vou pegar uns abacate na casa do Seu Manél pra vitamina... Patinho... Que mais? Ovo! Isso, ovo! Açúcar... Os remédio de Tonhinha... Belezzzzz... Môzi, vou desligar cá, Chefia tá descendo pra querer alguma coisa. Tá, te amo também, bejo, tchau. OH DONA ANNA DANIELA?
 - O QUE FOI DEREK?! Caramba me deu um susto!!
 - Cê tá muito assustada hoje, que couve, hein?

Anna desvia da pergunta com um gesto amplo e aponta pro telefone.

 - Era Teodora?
 - Sim, sim. Perguntou se você tava bem. Tá fazendo uns crochê novo, vai querer Chefia?

Anna apenas concorda e senta na mesinha de canto da cozinha. Solta um suspiro (Mesmo não precisando, afinal está morta) e bota a cabeça entre as mãos.

 - Derek, era hoje a consulta de Maria Antônia?
 - Não, não, é amanhã. Hoje é os remédio. Vou buscar lá no postinho daqui a pouco.

Anna vai até sua bolsa de trabalho no quartinho ao lado da cozinha e coloca um envelope na mesinha para Derek.

 - Compra os remédios a mais. Pega no postinho também, não deixa faltar. Dentro tem uma carta de recomendação pro Instituto Neurológico de Alto dos Juncos, lá tem especialista pra ela.
 - Oh Chefia, não precisava fazer isso não. Ela tá sendo cuidada no SUS, mó firmeza!
 - Eu sei, Derek, e o SUS é a melhor coisa que surgiu nesse mundo, acredite. Mas Maria Antônia precisa de acompanhamento, de diagnóstico, de mais cuidados. Vai lá hoje, ou amanhã, o dia da semana que você quiser, só me falar antes que eu me ajeito por aqui.
 - Quero deixar você sozinha não, Chefia. Mó vibe ruim aí que cê veio...

Anna olhando para ele com cara de "OH REALLY?!". Derek levanta as mãos, desistindo do argumento.

 - Okay, okay, sem um pio... Levo ela amanhã, vou deixar um lanchinho extra hoje de noite procê. E pra menina Chacal também... Criança precisa de sustança.
 - Derek...
 - Que couve.
 - Como é que você aguenta?
 - Aguento o quê?
 - Isso tudo... Comigo...
 - Sei lá, Chefia, você me paga bem.
 - Era um picolé de sangue de porco, Derek.
 - Com pimenta malagueta. Trágico.
 - Será que você pode... levar isso à sério...? Por um minutinho só?
 - E eu levo! Você é você e você é isso aí agora. Desde que te conheci lá no Hospital! Cumé que posso não ver que você tá ruim aí?
 - É complicado...
 - E eu imagino que seja. Mó nóia pesada, patroa! Cê não dorme direito, come esses tréco aqui.
 - Eu só quero um minuto de paz.
 - Beleza. Eu garanto.
 - Garante o quê, Derek?
 - Seu 1 minuto de paz. Tá precisando, cê parece uma morta-viva com essa cara aí.

Anna ri com tristeza e se encaminha para as escadas.

 - Fecha as janelas e as cortinas, tá?
 - Beleeeeezzzzzz.
 - Deixa comida pro Espaguete.
 - Beleeeeezzzzzz.
 - Me diz de noite como tá a Maria Antônia e Joberto.
 - Sim, chefia, tudo na ordem.
 - Pede pra Teodora fazer mais daqueles marcadores de página? Pessoal da biblioteca amou.
 - Bom dia Chefia.
 - Bom dia Derek e... obrigada por tudo.