Pesquisar este blog

23 novembro 2009

rosenrot - u.soldier

O desenho na Tv era o matinal Alvin e os Esquilos, alguma musiquinha sobre um exótico doutor vindo dos vilarejos selvagens da África. A sra. Hott cantarolava lavando os pratos, seu irmãozinho Francesco na cadeirinha aproveitando o gosto de brinquedo de borracha favorito. Tudo estava normal e quieto para uma manhã de segunda-feira no distrito de Curtea de Arges.
O amigo cantor fracassado dos esquilos explicava que não conseguia ficar com a garota que tanto gostava, então foi a um doutor-bruxo para ver se ele o ajudava.
Como a vidinha era inocente.

Francesco fez um som engraçado como brinquedo de borracha, ela riu para o irmãozinho, gostava quando ele não chorava, mas ficava rindo à toa. Gostava também de ouvir a sra. Hott cantando enquanto lavava pratos, ou fazendo a comida ou limpando a casa. Gostava mais quando a sra. Hott a deixava com o esfregão e o balde para ajudar ali no corredor principal da casa. A menininha de 5 anos se sentia a verdadeira dona-de-casa quando estava sob o comando do corredor.

E sempre ganhava elogios de sra. Hott e de seu pai quando ele chegava das viagens. Do quanto ela era responsável e sabia cuidar bem de tudo enquanto ele estava fora.
A menininha gostava muito de servir para qualquer coisa.

A musiquinha continuava na TV e ela balançava a cabeça no mesmo ritmo que os Esquilos. Queria até ter uma caixa de papelão e giz de cera para fazer uma máscara de doutor-bruxo, isso sim seria legal. Mas depois pensou em como Francesco iria chorar pelo desenho de carranca na caixa de papelão, então desistiu da idéia para não se empolgar demais e acabar fazendo seu irmãozinho chorar.

Por um breve instante ela sentiu os olhos turvarem (Ou seria a imagem da Tv velha?), esfregou-os com rapidez e voltou a olhar para a tela, nada. Era a recepção mesmo. Se inclicou um pouquinho para frente e bateu na carapaça de madeira da velha TV preto e branco. A antena chegou a desabar com seu tapa, mas ela foi paciente e puxou a antena para cima novamente. O barulhinho engraçado do brinquedo de Francesco não atrapalhou sua inspeção a Tv, ela pegaria o brinquedo, mas a TV deveria ser arrumada antes. Ela estranhou por Francesco não resmungar pelo brinquedo caído, mas vai ver que ele estava aprendendo a perceber que nem tudo se resumia em um brinquedo de borracha em formato de polvo amarelado.
Com mais uma batida ela percebeu que a imagem havia voltado ao normal. Sentou-se no carpete e deu um sorriso satisfeita pelo seu bom trabalho. Era boa com a Tv, sabia mexer no aparelho e consertava toda vez que ele pifava.

O brinquedinho de borracha pousava ali perto de sua mão agora. Ela lembrou que deveria pegá-lo e entregar ao irmão que já abriria o berreiro a qualquer momento. Francesco estava ereto na cadeirinha, um ponto enegrecido em sua testa. Um filete de sangue saía pela sua boquinha aberta e os bracinhos gordinhos relaxados ao lado do corpo. O olhar azul-bebê estava vidrado nela naquele momento.
- Sra. Hott...? - a velha mulher foi até ela.
- Sim, meu bem?
- Por que o Cesco tem esse ponto na cabeça? Será que mosquito mordeu ele? - ela disse apontando para a cabeça do irmão. A velha senhora puxou o bebê rapidamente da cadeirinha e começou a gritar por socorro.
A menininha de 5 anos não entendeu bem o motivo da gritaria e quis chorar. Não gostava de gritaria. Antes de mamãe ir embora havia muita gritaria em casa e sempre havia pessoas gritando por todo o lugar. Ela ia começar a chorar pela gritaria da babá, mas algo dentro de seu coração disse que ela deveria fazer a pobre senhora desesperada se abaixar ao chão.
- Sra. Hott!!! - ela gritou e puxou as vestes floridas da velha. O corpo do irmão de menos de 1 ano caiu desfalecido no chão com um baque surdo. Os mesmos olhos azuis-bebê a encaravam e sangue espirrou em seu tênis.

Naquele mesmo instante tiros ecoaram por todas as janelas e atingiram o assoalho, os móveis, as paredes e a Tv. A menininha fechou os olhos bem forte e pediu para Deus a proteger, a acolher, e se fosse demais castigar o malvado que estaria fazendo isso.
os tiros pararam, o silêncio reinou no recinto. Sra. Hott jazia em uma poça de sangue abaixo de seu corpo. Seu irmãozinho estava da mesma forma, ao chão com o pescocinho virado para a TV como se estivesse assistindo Alvin e os Esquilos como sempre fazia. Apesar de um tiro ter feito o vidro do monitor trincar, a musiquinha com o refrão: "Oo-ee, oo-ah-ah, ting-tang, walla-walla, bing-bang" ainda ecoava nas caixas de som.
- Sra. Hott...? - ela perguntou receosa de não ouvir uma resposta. Ao tentar ir ao seu irmãozinho, o telefone tocou inesperadamente. Ela não sabia o que fazer: Chorar, gritar, espernear, pedir ajuda, arrumar a Tv quebrada, tentar acordar a Sra. Hott, aceitar que todos ali estavam mortos, que não voltariam mais, que seu irmãozinho não faria mais o barulho engraçado com o polvo de borracha, correr.
Correr.

===xxx===

the_fin://[vc ñ deveria ficar aí dando banderia.]
unkn0wn_s0ldier://[tô só olhando a paisagem.]
the_fin://[irina vc sabe q...]
unkn0wn_s0ldier://[yadayadayada, sr vai me deixar paranóica desse jeito.]
the_fin://[deixo pq ñ é td dia q tenho a sorte de ver um alvo grudado na kbça da minha filha/]
unkn0wn_s0ldier://[eles deveriam inovar. alvo na kbça é mancada.oq eles jogam hein?cs é?]
the_fin://[ñ brink c/ isso irina]
unkn0wn_s0ldier://[é unknown soldier kk? acho q ñ gosta de ser chamado de antonino ¬¬]
the_fin://[blé,odeio esse nome]
unkn0wn_s0ldier://[ñ reclame do meu nick enton]
the_fin://[k.u.soldier.]
unkn0wn_s0ldier://[bem melhor o/]
the_fin://[qm vc tá peskisando?]
unkn0wn_s0ldier://[eleanor_rigby. nopes ñ é dos beatles.]
the_fin://[e oq ela tem de tão importante?]
unkn0wn_s0ldier://[é minah músika favorita dos beatles!!]
the_fin://[irina]
unkn0wn_s0ldier://[antonino?]
the_fin://[me respeite, sou seu pai!!]
unkn0wn_s0ldier://[FYA as info aki continuarem limpas,vc nunca existiu so am I]
the_fin://[bom mesmo]
unkn0wn_s0ldier://[posso apagar esse log aki?]
the_fin://[não]
unkn0wn_s0ldier://[pq ñ?]
the_fin://[p/ saberem com qm tão mexendo]
unkn0wn_s0ldier://[p/ saberem e continuarem a colocar alvos na minha kbça?!]
the_fin://[vc sabe pq!]
unkn0wn_s0ldier://[td bem, me sinto bem c/ alvo na kbça.]
the_fin://[irina...]
unkn0wn_s0ldier://[nheeeeeeeeeeeeew! resposta errada!! bad bad server!]
the_fin://[deletando log por segurança]
unkn0wn_s0ldier://[e trata de me chamar pelo nick certo!]
the_fin://[se cuida fedelha]

===xxx===

Ela desligou o telefone e sua calculadora de bolso, fechou a cabine telefônica situada em uma estação de metrô abandonada. Sentou-se pesadamente no banco de concreto e ficou contemplando o nada do túnel.
- Tenho que ler Trainspotting de novo... - ela comentou novamente e com uma canetinha vermelha marcou um alvo na parede atrás dela. levantou-se calmamente e se afastou do ponto marcado, esperou alguns segundos e logo o estampido de um tiro furava o azulejo e sujo da parede para se alojar do outro lado do túnel. Ela olhou para o buraco alguns minutos e verificou o estrago na parede. - É... tá ficando cada vez mais tedioso... - e sentou-se novamente no lugar em que estava. O telefone tocou novamente e ela deixou ele tocar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário