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07 julho 2013

Odeio, mas escuto: Oasis.

Post "basiquinho" sobre algo na vertente do "tenho vergonha, mas escuto".

Não gosto de Oasis, mas escuto. Esse é o ponto a se tratar.

Quando a MTV era MTV mesmo - com vídeos de música que se chamavam "clipes" - e o ano era de 1997, eu em meus 11 anos e meio gostava de me concentrar em Literatura e música, juntar as duas coisas era rotina e acabei fazendo isso um hábito para exercitar a memória conforme a leitura progredia.

Os melhores livros lidos naquela época em que eu só devia me preocupar em qual era a merenda da escola (Estava na 6ª série do Ensino Fundamental no estilo antigo tá? Sei lá que ciclo que é agora), quais livros iria conseguir terminar até o final da semana e passar nas provas bimestrais. Também tinha essa preocupação sobre manter minha sanidade em estado perfeito, mas isso é para outro post.

Foi nessa época que descobri três autores que me influenciaram pacas em minha escrita pro resto de minha vida:

1 - Agatha Christie: a Rainha do mistério engendrado, manipuladora de leitores.
2 - Edgarzinho Allan Poe: oh Lenore! Lenore, te cortaram da tradução! Fernando Pessoa fiodazunha!
3 - Sir Arthur Conan Doyle: Sherlock Holmes foi o melhor detetive ever!

Quando você vive em uma cidadezinha de interior em que pouco da adolescência latente te interessa e você não consegue extravasar coisa alguma, é melhor descontar nos livros e na escrita, né? Por anos pensei dessa forma: escrita é terapia e assim sempre será, amém!




Se a escrita era o catalisador de emoções, a música era o veículo condutor, pois para cada livro que eu devorava em menos de uma tarde em casa, tinha algo tocando no rádio que ficava no quarto de minha irmã - ela é bem culpada de meu gosto musical atual e também por contribuir com a raivinha pelo Oasis - 6 anos mais velha, devota adepta do culto de "Escutarei a música tantas vezes no REPEAT que o cd irá furar, se isso for possível". Ela fazia isso demais e era com:

1 - Oasis "Be Here Now": bandinha britrock que tava bombando na época na MTV. Músicas muito bem orquestradas, melodias fodásticas, letras übber awesome, mas com um par de irmãos chatonildos que mal conseguia suportar ver/ouvir por muito tempo.

2 - Rolling Stones "Bridges of Babylon": depois de trocentos anos sem lançar album algum, a banda mais velha do mundo voltava com "Anybody seem my baby?" em um vídeo que me fez ganhar a beeeeeshice que muito me orgulho hoje (Hello? Angelina Jolie?! Para tudo, para tudo que eu quero descer?!). Foi o 1º cd que minha irmã comprou com o próprio dinheiro que ganhava trabalhando, o 1º cd que colocamos para escutar no Micro System da Toshiba que ela tinha, 1ª vez que eu conhecia mesmo o som dos Stones sem ser "Satisfaction".

Com essas muitas opções de entretenimento no rádio, lembro de dividir o quarto com a minha irmã e ouvir esses cds exaustivamente até ela desistir e deixar na rádio local. "Be Here Now" era quase um mantra todos os dias. Nisso quando ela não trazia cds emprestados de amigas e me torturava com Legião Urbana e Cazuza de madrugada. Cranberries, U2, The Doors, Janis Joplin e The Cure faziam parte da playlist das noites quando ela chegava da escola com fones de ouvido, mas que vazavam o som todo pra minha cama. Até conseguia dormir, mas pelo amor dos Aesir! Meu trauma com MPB é JUSTAMENTE por isso!

Eu estudava de manhã, ela acordava mais tarde por estudar de noite, ajeitava o almoço para nós duas (Na época minha mãe trabalhava na capital), se aprontava para trabalhar de tarde com toda a animação que tinha e me deixava em casa com os cachorros, uma avó que não gostava de ser incomodada e os únicos companheiros eram os livros, os cadernos e o rádio. Como a minha irmã gostava de ouvir apenas algumas faixas, eu ouvia o cd todo, sem pular nada e deixar no repeat de álbum todo para poder embarcar na experiência de leitura com mais vontade.

Mas então, Oasis... Era eles que eu ia escutar né? Porque eu não sabia nada de Stones, Mick Jagger me assustava e havia a rixa psicológica entre Beatles (banda que minha mãe religiosamente nos educou desde fetos a amar Beatles acima de qualquer coisa!) e Stones lá em casa, então Oasis, né? Yep, Oasis. Era isso ou a rádio 98FM ou a Jovem Pan 99,9FM. as opções eram poucas pela falta de cds a mais, Oasis era a única que parecia apreciável.

Sei que ao ler meu primeiro livro da Agatha Christie - Assassinato no Campo de Golfe, aliás meu favorito por ter a mocinha tão formosa que o Capitão Hastings (Meu personagem favorito! Era britânico todo contido e puritano, mas caiu de amores pela bela Dulcie Duveen, uma atriz americana bem descolada para a Era Vitoriana em que viviam) iria se casar anos depois em Cai o Pano, o livro sobre a última aventura de Hercule Poirot (Seu belga fofuxo, me ensinou a colocar um tablete de chocolate ao leite dentro do chá preto e a também usar as minhas células cinzentas!) - a trilha sonora toda foi "Be Here Now", dando destaques para os singles que foram lançados na época como "D'you know what I mean?", "Don't go away" e "Stand by me".


Deixe-me elucidar o cenário musical de 1997 na MTV?
Ou era boybands - eu caí nessa de com força, quiançada! Backstreet Boys e N'Sync eram minha vida. E a Britnah e a Christina Aguilera e sim fica pior, bem mais pior... - rock nacional promissor - Pato Fu, Skank, Raimundos principalmente - ou britrock com o Oasis, Radiohead, Blur e alguma coisa aqui e ali de rock americano. Hip Hop era só no Yo MTV ou no Top 10 USA e olhe lá. O que você escutava nas rádios, passava na MTV, era batata!

E como todo mundo era bonzinho e talz, os irmãos Gallagher eram os manés malucos metidos a doido que gostavam de trollar com tudo e todos, inclusive com eles mesmos. O comportamento rocker dos dois me deixava com birra desnecessária, mas acabou migrando para a voz de Liam Gallagher - que me é tão irritante depois de algumas escutadas, mas meus ouvidos são seletivos, dá pra separar vocal da melodia nesses casos - e para a cara de nabo do Noel. O desgosto musical estava instalado, justamente com a banda que era a ÚNICA opção a escutar quando minha irmã saía para o trabalho (Ela sempre levava o do Stones sei lá porquê). Mas os vídeos descabidos do Oasis faziam maravilhas para minha mente criativa já pendendo para a literatura amadora - nem sabia o que era fanfiction, mas havia visto uma matéria na extinta revista juvenil Anime-Do sobre isso e me interessei imediatamente - e acabou selando o compromisso de estímulo visual e auditivo.


"Don't go away" foi minha 1ª experiência de referência gráfica distorcida de realidade nonsense. Já viram o vídeo? Pois então... Muita referência beatlemaníaca ali e eu ficava catando os pedacinhos e juntando para colocar algum sentido bom no vídeo e na letra (Nessa época eu me forçava a aprender inglês sozinha), resultado: Loki tomou conta do meu Destino e segurou na minha mão e fomos caminhar por esse mundão afora com o Caos reinando. Isso e descobrir H.P. Lovecraft através de H.G. Wells. É, bem caótico desse jeitinho mesmo...

A baladinha é uma cópia perfeita de alguma música dos Beatles - aquele solinho ali não me engana Noel, sei que você copiou George Harrison sem dó nem piedade! - me fazia viajar longe nos capítulos em que Capitão Hastings tentava em vão converter a futura esposa - em Assassinato no Campo de Golfe - a largar a vida de falsária, estelionatária e de ser americana (Porque esse é o segredo mais desejado pelos britânicos da Era Vitoriana e começo de século XX, né? Tentar converter os americanos para os padrões sociais da Rainha Vitória).

Muito angst bobo - vó Agatha não era boa ao descrever romances entre personagens, acaba sendo realista demais - muito mimimi, muita dor-de-cotovelo de meu personagem ex-integrante da Marinha da Rainha, condecorado por trocentas coisas, mas vazio de qualquer vida social e com sérios problemas em se relacionar com mulheres #liamfeelings



Já "Stand by me" era a declarado pelos irmãos Gallagher uma homenagem a música de mesmo nome de John Lennon, além de darem uma passeada em All the Young Dudes do Patrono David Bowie. O capítulo final de Assassinado no Campo de Golfe foi alimentado com essa música, tendo todo o desfecho no repeat com ela e o vídeo na MTV passando de fundo (Era hora do Disk MTV com a Sabrina e o Oasis sempre tava entre os 3 primeiros colocados), o que me leva a acreditar que era cerca de 18h45 a hora em que fechei o livro após ler a última página, respirar fundo, olhar para a Tv, ver o motociclista do vídeo quebrar a vidraça e bater violentamente contra os televisores de dentro da loja.

Isso tudo juntou com a vontade enorme de reescrever o final do livro que eu acabara de ler - porque o Hastings ficou na mão (Forévis alone), a americana deu um belo fora nele e prometeu não voltar jamais e nem adiantava insistir - e o coitado teve que passar cerca de 2 décadas na companhia do Poirot, auxiliando na resolução de crimes magníficos e apenas ter a mulher que tanto desejava por perto quando tava velhaco. Angst, puro angst. Mas ali nascia a sementinha da escrita como terapia na minha vidinha.

Oasis alimentou um pouco do meu processo criativo que uso atualmente - jamais sento para escrever sem ter trilha sonora determinada - e também por me dar lembranças como essa que citei aí acima. Então com esse post confuso, posso afirmar que ODEIO o Oasis, mas continuo escutando por alguma razão literária.

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