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26 junho 2023

a volta dos que não foram - semana dos pesadelos, ainda tenho

Pintura à óleo "The Nightmare" (1781) do pintor suíço Johann Heinrich Füssli.

Eu sei que o TEPT complexo tá instalado no meu hardware pra me proteger, para me manter a salvo, para não dar uma de australopitecos e sair na impulsividade e arrebentar algumas cabeças (inclusive a minha), mas baraleo, eu não aguento mais ter pesadelos.

Há anos venho escrevendo sobre eles na tag "sonhos estranhos, com detalhes", mas ao finalmente entender o processo do porquê ter esses pesadelos f00didos e não conseguir me livrar deles de tempos em tempos foi o estopim para epifania + frustração.

E devo dizer: ando muito frustrade com a minha frustração.

Eu estou bem, eu estou me sinto belezinha, eu me sinto bem mais melhor que achei que sentiria na vida, mas coisas acontecem e minha sensibilidade com essas coisas se tornou... Ahn... Bem sensível? Logo elas voltam com tudo quando é a questão de sentir desconforto.
(não chamo de gatilho, porque a sensação é de desconforto mesmo, na terapia comportamental dialética tem até uma tabelinha legal para a gente identificar quando o desconforto passa de suportável para insuportável. Pesadelos são nível 6 de 10 para mim)

E se estou bem, por que raios estou tendo pesadelos consecutivos há mais de 1 semana?

Eles são pequenos, esparsos, acontecem aqui e ali, implementados no meu sono, como colagens grotescas grampeadas em sonhos comuns (eu sonho demais com rotina, chego até a confundir com a realidade), e são cansativos. Voltei a ter microsonos, aqueles cochilinhos de pouco tempo e não o ciclo inteiro do sono que preciso. 

Porque evitar desconfortos foi o exercício de uma vida inteira, com ambientes específicos, gente babaca específica, situações específicas e agora... Agora não tem nada disso... Não tem perigos eminentes, não tem humilhação e ameaças de violência verbal, física e psicológica, aqui apenas tem... Paz e segurança. Como nunca senti na vida!

Então WTF, certo?

É uma sensação de cansaço e impotência que putz grila, tá phod4 continuar fazendo a carinha de coragem quando tudo o que quero é que entupam de camomila e maracujina, ajeitem um ninho com edredons fofos e me esqueçam lá por alguns dias pra eu conseguir dormir sem sentir culpa e a sensação de ser um peso morto-vivo.

Carambolas. 

01 junho 2023

stims e balanços


🔂 "Temptation - New Order (1982)

Tem uns treco que só depois de receber o diagnóstico de autismo que o terceiro olho inexistente abre e de repente muita coisa faz sentido.
Tipo stims (estereotipia). 

Eu sempre tive, sempre os senti, o problema era o mascaramento ferrando com meu funcionamento. O balançar pra frente pra trás eu disfarçava em momentos solos de companhia sozinha, nada muito na cara, afinal a gente se sacaneia desde cedo querendo caber numa caixa que não é nossa.

Até descobrir o abraço * delas *

O abraço de minha mãezinha Driel me fazia entrar nesse balanço, ela quando me abraçava era para me cobrir de carinho e segurança, então era natural ela me balançar pra frente e para trás, devagar, em silêncio, porque era esse momento que a gente expressava como se amava sem nenhuma palavra.

Words are violence, break the silence, come crash in into my little world
Enjoy the Silence - Depeche Mode (1990)

Lembro desse momento no show da Dido que vimos juntas em 2019 em que ela me abraçou enquanto tocava "Sand in my Shoes", porque aquela era uma de nossas músicas, desde que começamos a dividir a playlist de mp3 piratas baixadas no Shareaza, Limewire, Emule, Kazaa e similares. Dido era nossa ponte para muitas lembranças e essa música ainda me traz muita energia daquele tempo em 2004 em que do nada eu comentei em um blog desconhecido com template perfeeeeeeito da Cate Blanchett como Galadriel e ela respondeu na mesma tarde!

Foram 17 anos de convívio, longe e perto e altos e baixos e abraços. Eu sempre me senti segure nos braços dela. Mil vezes mais do que em abraços dados em pessoas que entreguei meu coração de mão beijada, trocentos milhões de vezes além do que a família de sangue pode me proporcionar (quando o abraço se torna obrigação e o "eu te amo" não significa mais nada depois de anos de negligência e traumas), ela me abraçava e eu voltava a me sentir como uma pessoinha normal.

Eu me sentia eu.

E não precisava falar nada para isso se concretizar.

Depois que ela se foi, pensei que não teria mais essa sensação única de abraçar alguém e me sentir um pouco em casa comigue mesme. É difícil eu me sentir como um ser humano funcional e normal por muito tempo, minha gente. Esse blog entrou em um hiatus absurdo por conta disso: descobrir que muita coisa que fazia não era eu, era um autômato no automático que não tinha muita informação do que poderia fazer pra se sentir menos violado pelas leis regentes (Só Cthulhu salva, minha gente! Só Cthulhu salva!).

Felicidade era um conceito muito estúpido para se pensar que existiria em um mundo em que eu não poderia ver/sentir a presença de minha mãezinha élfica. Eu já era infeliz pra baraleo por não conseguir me expressar como uma pessoa autista (caixas-caixas-tantas-caixas pra me encaixar aaaaaaaaah!!!) e o balanço no abraço foi perdido.

Até eu conhecer * ela*

Sei que ela entrou na minha vida por um motivo (ahem~ahem aquela que não deve ser nomeada, vlwflw) e que talvez eu tenha sido agraciade novamente por ter uma mulher tão incrível na minha vida que me abraça como se fosse um Lar verdadeiro para eu volttar ao meu eixo.

O abraço da mea Bollinhos é algo que eu considero demais, desde a forma como nos encaixamos, o nosso jeitinho de manter o abraço por mais segundos e inevitavelmente o meu balançar que às vezes se transforma em uma dancinha lenta improvisada que nos agrada.

Sem julgamentos, sem palavra alguma, apenas o abraço.


Essa minha estereotipia voltou com tudo essas semanas atrás, quando senti que não tenho mais o que esconder ou segurar aqui dentro, posso ser quem eu sou sem ter medo de gente me tratando mal. O balanço pra frente e para trás é uma forma de conseguir regular meus pensamentos acelerados (e desorganizados) demais para o momento, além de me fincar no momento atual sem eu ter aquela impressão que estou atrasade demais (isso se chama ansiedade, minha gente, a percepção de horários minha é tipo o maldito coelho da Alice se eu não me cuidar direito) e preciso correr para alcançar tudo.

O balanço também me lembra do Mar, ou como sinto as ondas batendo em mim quando estive pela última vez na praia (com a Bollinhos, aliás), são sensações que vão se misturando.

Depois de tanto tempo sem escrever aqui, acho que consegui o fôlego e o compasso para seguir esse balanço. Sem julgamentos, apenas o Lar que eu achava que tinha perdido.