Sendo inspirada na minha peça favorita da tragédia grega Oresteia - falamos de Destino Irônico, Vingança e problemas com pais e mães - Orestes do A Perfect Circle se encaixa direitinho com o estado de espírito recorrente:
Quanto mais escuto essa música, mais a tempestade aqui abaixo dos pulmões vai silenciando (Mesmo que eu tenha dado mais 1 semana para ela poder trovejar para onde fosse e expelisse alguns raios e granizos se desse), mas desta vez sinto que vai deixar resquícios de uma coisinha que eu menos gosto: a lição sarcástica do Destino.
Recapitulando as peças de Ésquilo e Sófocles, os versos de Homero e alguns livros clássicos a mais, se nota que a história de Orestes não começou bem e ia terminar pior ainda. Sendo o filho do meio do rei Agamemnom e Clitemnestra antes mesmo da Guerra de Tróia, Orestes foi abandonado para morrer, pois como sempre, alguém havia predito que ele ia causar muito estrago. Mas era apenas a ponta do iceberg grego, já que a linhagem dos Atritas - filhos de Atreu, avô de Orestes - tinha feito caquinha no passado por ter como um de seus parentes o infame Tântalo, aquele carinha que tem fome e sede eterna e quando tenta pegar uma maçã em uma árvore plantada bem ao seu lado lá nos Ínferos, a árvore foge dele, ou quando vai beber água, o rio seca...
Como o começo desse currículo, a ascendência de Orestes foi de puro azar e cretinagem, incesto, fraticídio, usurpação de reinos, e destruidores de nações e lares (Vide Odisséia, nham?). A coisa ficou mais feia quando Atreu decidiu matar os irmãos para não ter que dividir reino algum, assim provocando a cólera de Tieste (Seu irmão gêmeo) e envolvendo o seu filho Egisto na bagunça toda. Depois que Egisto matou Atreu, a raivinha continuou com os filhos do mané, Menelau (Sim, o da Helena) e Agamemnom, que já não tinha uma fama boa por ser autoritário e um guerreiro sanguinolento.
Quando a Guerra de Tróia foi declarada, os dois irmãos foram atrás de Helena - nem preciso resumir o fracasso de 10 anos, né? E conta o fato do Agamemnom ter sacrificado a filha primogênita Ifigênia para a deusa Ártemis só para os barcos dos gregos poderem ter vento para ir para Tróia? - e quando ele voltou para casa, com Cassandra (sibila do deus Apolo, espólio de guerra, já estava grávida do general), foi vítima de uma emboscada pelo seu tio Egisto e sua própria mulher. Oh peninha!
Indignada com o acontecido, a mais nova, Electra - sim, ela do complexo! - apelou para os deuses que ouviram a sua prece de vingança e deram uma ajudinha no retorno de Orestes para Esparta. Planejaram mais outra bobagem do Destino e o rapaz matou Egisto e Clitemnestra finalmente fechando o ciclo de coisas bizarras e ruins. Ou não, porque nos próximos meses após o ocorrido, as Fúrias vieram furiosas (ba-tun-dss!!) dos Ínferos para atormentar o cara porque matou a própria mãe - ofensa maior para as Fúrias é um filho matar os pais sem motivo aparente (Mas se esqueceram do sacrifício de Ifigênia, por algum motivo...)
Isolado do mundo e escapulindo da punição das Fúrias, Orestes se deu mal até o final da peça - e Electra choramingando porque teve a vingança do papito, mas deixou o irmão na mão - quando finalmente a história fica esclarecida pro camarada: a culpa toda era de Agamemnom pela burrice de sacrificar a filha mais velha para Ártemis, Clitemnestra tinha o direito a se vingar do marido e Egisto entrou no rolo porque o vôzinho Atreu matou seus antepassados.
Resumo! Novela mexicana! Mas proveitosa quando você vê pelo ponto de vista filosófico. Quem não tinha nada a ver com a coisa toda é que mais levou porrada. O tormento das Fúrias fez Orestes pirar na batatinha - e Electra também tava tãntãn por conta dos anos sozinha se torturando pela traição da mãe - e a Casa de Atreu foi pro saco. Para ser honesta, acho que a música do APC é mais virada aos sentimentos de Electra sobre a mãe do que o Orestes, o refrão, principalmente, traz toda a carga negativa emocional que a guria tinha pelos "traidores", mas nem fazia idéia do que seu pai foi capaz para poder embarcar para Tróia. Os irmãos se encontraram momentos depois em escritos de Ésquilo, mas o final não foi assim felizes para sempre, e palminhas de pé para o dramalhama familiar mais explorado no universo.
A linda Ifigênia virou sacerdotisa de Ártemis ou de acordo com outras versões, morreu mesmo e foi resgatada pelos deuses por tanta injustiça feita pela família. E tudo isso para poder mastigar bem o que essa música significa para mim - e minha cretina fascinação pela mitologia greco-romana.
Ps: Fãs alegam que a música é sobre o estado terminal da mãe do Maynard Keenan (vocalista do APC), maaaaaas como já disse: dramalhama familiar mais explorado do Universo.
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