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10 julho 2020

os sem-tomas

Há coisas bem interessantes que a pandemia está me fazendo refletir intensamente - acho que todo mundo nessa pandemia - e estar de cama por conta de outra moléstia, me deu sensações extras de como rever muitos aspectos da vida.

Por exemplo a palpitação constante.
(Não leia abaixo se você não quiser ter imagens gráficas. É o que eu faço quando me sinto ruim fisicamente, eu descrevo pra ver se o mal que está assolando vai embora. Vai que dá certo)

04 julho 2020

o Tempo e o tempo

Ocorreu que em algum dia nublado naquele auditório da universidade dos Stormtroopers uma aula de literatura seguia com a excelente explicação sobre tempo e narrativas. Você veja só, o Tempo dito pela capeta-lismo é uma incógnita de 24 horas, 7 dias por semana condensada em 44 horas semanais de trabalho forçado para manter a máquina pulsando e jorrando óleo pegajoso na geração seguinte. Foi-se assim que na discussão entre as diferentes narrativas entre a africana e a ocidental, descobri que o Tempo era uma convenção não tão estabelecida assim.

Eu sempre tive a percepção dele em relação ao meu corpo como um eterno jogo de coelho branco da Alice no país das maravilhas - o camarada que vivia atrasado, sabe? - então desde que me entendo por ser autômato na máquina oleosa, o Tempo significou muito pra mim, ainda mais na questão de NÃO perdê-lo.
Creepy as fuck já te isso internalizado desde meus 11 anos.

Então naquela aula, ao quebrar esse paradigma que eu defendia com unhas quebradiças e dentes molares, saía das aulas com a impressão de que a Vida era um trem tão bizarro que eu deveria parar de contabilizar ela de alguma forma. Funcionou por um tempo, até a máquina oleosa cuspidora de peças me dizer que tava errada. Ela te engana fácil.

Tempo cortando as asas do
Cupido (1694), por Pierre Mignard


O Tempo em si pode variar em vários momentos da vida, os meus tem sido perceptíveis na mudança de ritmo em tempos em que fico doente, ou quando arranco aos poucos (aos murros ou com um canivete enferrujado) uma flecha desviada que o guri estrábico e sem noção, filho daquela que não deve ser nomeada no panteão helênico - que é totalmente oposto da explicação de narrativa que me livrou de protocolos em pensar o Tempo como um ser apressado, angustiado e devorador de seus filhos. Na doença, no desamor e na medicação forçada percebo que isso tudo cessa e um novo ritmo bizarro de vida se propõe sem pedir licença alguma. Apenas chega. Eu que me vire para tentar me adaptar.

28 junho 2020

cada um com seu jeito de se remendar

Ano Novo foi uma promessa que eu já tava devendo há eras pra mim: ter mais paciência comigo mesme.
Em todos os sentidos. 
E obviamente, por último, não mais importante, meu corpo decidiu colocar a plaquinha de prioridade over9000 pra me assustar de jeito.
Conseguiu. 
Nunca fiz a proeza de chegar a uma anemia beirando profunda e um problemão interessante que tem que ser resolvido com o quê?
Hormônios. 

A vida já tava péssima, agora botar mais química no caldeirão foi o toque final para me jogar de novo naquele poço vazio, onde Samara não se encontra. 
(Minina onde se encontra?)

De cama por 14 dias, nada de esforço contínuo, ingerir alimentos que recuperem parte do sangue que ando perdendo nos últimos dois meses, decisões e situações a serem reavaliadas, conchinha do Gary.

Mas devo dizer que mesmo ruim da cabeça (tava no estágio de perturbação de raciocínio e falta de concentração) os únicos pensamentos intrusivos que adotei foram:
1) melhorar nessa bagaça pra tirar CRB logo;
2) Jolene... Jolene... Jolene... Joleeeeeene...

Yep a introdução em lá menor da famosa música de Dolly Parton (adorando demais as músicas antigas dela) está grudada na minha cabeça como pensamento constante. Eu chego a sonhar com o riff do lá menor e não sei como vou tirar ele no violão - as extremidades minhas não estão funcionais 100%.

No mais, me afastando de tudo e todos, essa é a política da conchinha de Gary, carapaça pronta pra me manter bem segura de qualquer paulada vinda de fora e não deixar uns demonho aqui dentro escaparem. 
Cada um com seu jeito de se remendar.