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04 abril 2013

[conto] Trecho Final de Drumstorm

[Drumstorm foi um projeto que comecei em meados de 2009 e não vingou. A história era ambientada em um mundo paralelo ao nosso, como um mundo espelho (Onde tudo é ao contrário que deveria ser), e os protagonistas eram um grupo de jovens que enfrentavam o mundo medieval em que caíram, povoado de dragões, e coisas do tipo. Náh. Não deu certo!]

A pasta com suas letras de músicas, a mochila querendo cair pelo ombro direito, a irritante insistência do pé esquerdo doer enquanto caminhava rápido pela multidão de estudantes de Oxford. O final do 1° semestre era agitado e caótico, muitas salas e caminhos para decorar, muitos nomes e datas... A dor no pé acentuou-se ao sentar no fundo da sala de Literatura Anglo-Saxã, a mochila no chão, caderno na mesa e à procura da lapiseira dentro das suas coisas. Pela janela, os corredores pareciam lotados de gente escapando do frio do inverno, um inverno que para ela nada significava como os outros anos.

Sozinha em um mar de gente... 

[Projeto Feérico] Trecho nº 1 - Kittie/Kristevá

[trecho perdido do Projeto Feéricos. A personagem LabGirl Kittie foi engavetada para o melhor fluir do enredo, aqui nesse pedaço há um pouco de como ela silenciava as vozes que ouvia quando entrava em crise de realidade vs o Sonhar]

A cadeira era confortável, a coceira atrás da orelha não. As vozes iam e vinham em intervalos longos como um eco de algo que não estava ali, ou talvez estivesse. Ela apenas não conseguia mais saber o que era real ou não.
- ...Orgulhoso de você, segundo-tenente... Orgulhoso.
" - Pode me dizer o que aconteceu com a minha esposa?"
" - Quantas pessoas você atende aqui embaixo? É difícil assim?"
" - Você sabe que é especial, não pode ir lá fora ficar mostrando o que faz. Eles vão saber."
" - Eles nunca sabem."
" - Eles vão saber."
" - Quem sabe de coisa alguma. Mude, destrua, reconstrua, continue."
" - Você poderia ficar bem aqui. É melhor para todos."
" - É melhor para mim que nós não conversamos mais."
" - É melhor para o mundo se ninguém souber o que você faz."
" - Você não faz nada, menina!"
" - Quantas vezes tenho que dizer para fazer o que eu peço???"
" - Tenente, isso não é coisa que se faça..."

29 março 2013

[contos] As desaventuranças de Psique


[originalmente postado em meu perfil no Facebook no dia 5 de novembro de 2012]


(História verídica.)

Psique conheceu uma bela amiga chamada Métis. Logo travaram uma amizade duradoura e frequente. A jovem não queria deixar que a querida e tão paciente Métis pensasse que ela ainda estava atrás do travesso Eros, mesmo sendo submetida aos trabalhos árduos que Afrodite - em seu eterno rancor e inveja por ela - a havia incumbido.

Métis a apoiou em todos os labores, em cada noite solitária, a cada palavra mal usada, cada olhar atravessado e cada trilha apagada. Psique, em seu crescente desespero em saber o porquê de tantas provações, perguntou se haveria outra maneira de conquistar o respeito de Afrodite e o carinho de Eros novamente, foi então que a deusa titânica - que estava num péssimo dia de trabalho (E já havia tido conversa íntima com Baco por longas horas) - lançou a seguinte resposta sem pensar nas consequências:
- Há o Lete, e ele traz as respostas de modo mais rápido que os meios convencionais...
- Mais que as Sibilas de Apolo?
- Bem mais rápido que você possa pensar.

Então Psique esperou a deusa titânica retornar com um pouco das águas límpidas do Letes e quando o cálice foi oferecido, a jovenzinha sorveu o líquido em um gole só.

E o vício pelo Letes se tornou corriqueiro para a pobre moça.

13 janeiro 2013

Projeto sem Título - planejamentos

Uma das coisas mais belas que já presenciei em minha vida nérdica foi saber que há pessoas lá fora que tem a incrível capacidade de te entender em um piscar de olhos. Não o óbvio, mas as entrelinhas que tanto deixamos para que algum sortudo (Ou decifrador, programador, psicopata, etc) saiba que temos mais conteúdo que a superfície rasa.

Poucas pessoas com quem conversei sobre RPG conhecia o cenário de Mago - a Ascensão - ou Changeling - O Sonhar. Parecia que o Mundo das Trevas da White Wolf era reduzido a Vampiro - a Máscara - e Lobisomem - o Apocalipse. Wraith - the Oblivion? Sequer foi traduzido pela Editora Devir (Detentora dos direitos de tradução e copiões de todos os suplementos que existem do Mundo das Trevas) e dificilmente acharia algum jogador de Múmia - a Ressurreição.

Pois então deparo-me com essa formosa figura que se interessa imensamente pelo cenário de Changeling - o Sonhar - e de ter a mesma sintonia de contos/mini aventuras e cenas sobre o mundinho encantado das fadinhas do Mundo das Trevas. Antes eu só escrevia para mim mesma (Ou tentava persuadir alguém para conhecer esses cenários diferentes da WW), mas devido a linda inspiração vinda da formosa figura, estou cá eu iniciando um Projeto de longo prazo para o Mundo das Trevas. Todo ele se der.

A premissa veio de dois sonhos (As usual, os meus sonhos malucos e com detalhes me fornecem mais idéias para escrita do que qualquer outra coisa) sobre caçadores de relíquias, alguém totalmente clueless do que se passa naquele lugar e monstros do tamanho de ônibus, torneios de pretendentes em Corte Nobre de Sidhes,  lobisomens amantes de sátiros e quimeras, lots of quimeras.

O interessante de mexer com esse Universo todo do Mundo das Trevas é que alguns lores se misturam devagar na massa literária, e realmente minha intenção é explorar o máximo possível de crossovers entre os cenários. Enquanto os contos vão sendo produzidos, deixo algumas coisinhas por aqui para possíveis deliberações posteriores.

10 janeiro 2013

Projeto sem título no Planner 5D - Térreo do Hotel

Projetinho de planta baixa para ambientação de aventuras de Changeling - o Sonhar. Comecei anteontem e já está tomando forma no Planner 5D. É um hotel abandonado, sombrio e de esquina em alguma metrópole qualquer aí desse mundo nosso, tem muito espaço e coisas entulhadas nas paredes, estantes de livros everywhere!

Os protagonistas do conto vivem aí e é o quartel-general para o grupo de caçadores de Quimeras costuma ser ali na cozinha ou na sala de estar com a sinuca. Indo agora para o 1º andar com os quartos vazios ver o que sai. Mais info sobre esse conto postarei posteriormente com um perfil resumido de personagens.


Depois de um belo tempo sem escrever, finalmente consegui a inspiração perfeita e a beta incrível e paciente para indagar e aguentar longas descrições de situações xD Apreciando cada momentinho que tenho nesse projeto, mesmo que seja apenas exercício literário, quem sabe algum dia não aproveite para uma grande aventura em um compêndio como um livro, ahn? Ahn?

Não custa nada Sonhar... (Ah custa sim, custa glamour e o meu é bem temporário lolololol)

03 janeiro 2013

Conto - O Soldado Perdido

Tudo acontece em poucos minutos, como se a decisão tivesse sido feita nesse pequeno intervalo de tempo, tão urgente e apressada que mal sabia se os resultados seriam viáveis. Arrastando sua perna dilacerada por uma bala inimiga, uniforme coberto por lama, suor e sangue, rosto marcado por ferimentos e lágrimas que jamais iriam se curar, o olhar distante e marejado, nas mãos vazias apenas o lenço delicado, bordado com a inicial de seu nome em um verde tão claro que parecia ser transparente. Apesar da aparência doentia, destruída e sem esperanças, o lenço o fazia sorrir.


E ao mirar o pedaço de pano de textura fina, ele sorriu mais uma vez, entre o pesar, o desespero e a alegria fugaz que a lembrança trazia ao ver que um pouco de sua antiga vida sobrevivera ao massacre de milhares de almas naquele campo de batalha vazio.

O soldado se arrastou mais alguns metros, sentindo a dor na perna se tornar nada além de um estímulo distante, ali no meio daquele campo vazio, ele se endireitou, face virada para a névoa que cobria os corpos de seus companheiros e inimigos, cobria a vergonha e a insensatez, cobria principalmente suas esperanças de voltar para casa. O Sol não existia naquele pedaço de Inferno na Terra, apenas o frio da manhã que engelerava seus ossos, o pestilento ar úmido dos cadáveres pútridos sendo consumidos pela terra em que pisavam, o vento que assoviava tão alto que era difícil manter uma conversa com qualquer um. Mas afinal de contas: Quem gostaria de conversar em cenário tão deplorável?

14 novembro 2012

Conto - Intrusão

O breve roçar nos joelhos fez com que a brincadeira iniciasse.

O tempo era curto e precioso demais para se desperdiçar em papo furado (Certo de que o papo furado também servia como pretexto para o jogo, mas esse não era o caso agora.), um joelho no outro, como se fosse apenas uma cutucada para acordar a pessoa do lado. E assim começou a intrusão.

A brincadeira inocente, não trouxe a disputa de quem tinha mais forças de empurrar o joelho de quem, mas forçou a aproximação entre as duas pessoas, como uma conexão imediata, logo ombros e quadris estavam no mesmo alinhamento e grudados um ao outro. Até então, nada era arriscado, nada era tão impossível e definitivamente nada era tão divertido quanto estar ali, sentada ao lado da pessoa que mais admirava em uma briguinha silenciosa iniciada por um breve roçar de joelhos.

Suspirou, não iria ganhar muita coisa demonstrando apenas isso, mas preferiu deixar a brincadeira seguir as regras da outra pessoa, sem se importar se conseguiria mais que o toque breve nas pernas, no quadril ou no ombro. Realmente não importava muito ter qualquer outra demonstração mais ávida de afeto, contando que aquele corpo ali não se afastasse do seu. Aí sim seria angustiante.

Suspirou novamente, a troca de olhares foi inevitável, assim como o risinho nervoso e sem graça. O joelho desafiado agora balançava na sua direção, batendo de vez em quando na sua cartilagem e produzindo um ritmo estável no seu corpo, estavam dançando e nem sabiam que música que tocava.

Os campos de proteção e vigilância para qualquer limite ultrapassado estavam ligados, armadilhas de ferro em volta, nenhum movimento brusco para não dissipar esse pequeno momento de movimento bobo de uma perna para outra, duradouro era o toque quando o joelho se encontrava com a coxa e ali ficava por alguns segundos antes de voltar a fazer o ritmo viciante de ninar. Queria estar com sono, mas não poderia, não daquele jeito.

Outra troca de sorrisos, mais timidez ainda, uma formiga intrometida circulando a mão fria da outra pessoa, sem pensar em consequência alguma, avançou o espaço pessoal dela e tentou enxotar o inseto. Conseguiu, mas percebera a intrusão tarde demais. 

07 outubro 2012

[contos] Dizia a lenda certa vez


[Dizia a lenda certa vez] por: BRMorgado.
Cenário: Mitologia Grega e imaginário grego-romano.
Classificação: 14 anos.
Tamanho: 1.412 palavras.
Status: Incompleta.
Resumo: Psiquê não saberia o que é pior: Ter seus segredos desvendados ou eles serem deixados de lado.
N/A: Baseado na alegoria/mito de Cupido e Psiquê.


Dizia a lenda que quando o menino tão estabanado de passos apressados e coração dolorido na garganta a viu, sua primeira reação foi cair em completo desespero. Não por estar desarmado e nenhum de seus artifícios anteriores funcionarem direito: É porque havia bebido do mesmo veneno que produzia.

O garoto, tão jovem, mas tão sábio em sua Arte de enfeitar a Realidade de seus semelhantes, era tão travesso quanto uma criança de 6 anos, inconsequente de seus atos tão inocentes, mas terrivelmente ameaçadores. Sua mãe não o continha por momento algum, seu pai aprendera a não admoesta-lo e assim se seguiu por anos a fio, preso naquela forma de rapazola encantador, charmoso e irresistível.

Seu nome não era tão importante, na verdade ninguém sabia pronunciá-lo direito e muitos apenas se importavam com as fofocas das suas irmãs, ela cresceu assim, fiando uma jaula transparente contra qualquer um que tentasse chegar muito perto. Quase foi bem sucedida, apenas nessa única vez em que o Destino (Ou será que eram aquelas irmãs fiadeiras que sempre a acompanhavam desde criança?) decidiu que seria diferente. E foi.

O que importava no entanto era sua beleza inigualável, tanto que muitos a invejavam por sua fisionomia perfeitamente simétrica e sua beldade jovial tão bem colocada. Um presente dos deuses! Muitos diziam, poucos sabiam o quanto era uma tortura para a bela jovem, ser reconhecida por sua beleza não era bem o que imaginava para si desde criança. E assim foi. Por anos a fio ela mostrava que não era apenas a beleza em seus traços que fazia jus ao seu nome nada importante, era sua astúcia. E ela mantinha esses sentimentos e palavras lacrados em um pedaço de pergaminho entre seus dedos, enquanto dormir. Deixava o segredo de sua beleza ali, para que qualquer um se sentisse tentado retirar o pequeno pedaço de conhecimento, abrir e espiar o que ela tanto exprimia tão bem em palavras do que para os outros, mas principalmente o segurava bem perto de seu peito para ver quem se atrevia a querer saber mais além de seu belo rosto de moça quase mulher. Alguém que se importasse com o que ela sabia e não o que ela sentia. Isso era reconfortante quando colocava a cabeça no travesseiro e se entregava a Morfeu para a imensa noite a levar.

E muitos tentaram e muitos tentaram, poucos conseguiram chegar a um passo da cama, um palmo do pergaminho, uma palavra do segredo, mas ninguém realmente conseguia compreender o porque se arriscar por acordá-la dos sonhos ao tentar pegar o pequeno pergaminho se não significava tanto assim. A maioria estava contente apenas com sua Beleza e apenas isso. Uma pena poucos perceberem.

Era noite e estava quente, era noite e nenhuma estrela ao Céu anunciou a sua chegada, nenhum passo a ecoar em seu quarto, nenhum intruso a ameaçar seu sono. Era assim que Psiquê se preparava para dormir em seu leito de pura aventura Onírica. Era justamente essa noite, em que seus sonhos estavam além de qualquer coisa imaginada por deuses e homens, em que o Amor apareceu. Não o menino travesso com as setas envenenadas de sua essência mortal, era a Própria em pessoa.

Enciumada e cheia de ódio por outra mortal ser mais interessante que Ela, a Deusa do Amor decidiu investigar o que tanto a jovem possuía para enlouquecer mentes com o poder avassalador de uma paixão efêmera pelo Belo. Com mil planos em sua mente, a Deusa do Amor teria sua vingança, ninguém poderia se comparar a ela, ninguém poderia disputar o seu lugar, ninguém...

"Oh uma carta secreta... O que será que há escrita? E por quê ela a segura tão forte assim? Seria o segredo de sua Beleza e Juventude? Seria a resolução de meus problemas?"

E como qualquer deus ou humano, a Curiosidade - Deusa de todas as Dúvidas - chamou mais alto o seu nome. Afrodite se aproximou da bela jovem de longos cabelos escuros, mirou bem a mão em que levava o pergaminho e com uma delicadeza surreal puxou o pergaminho de entre os dedos da garota. A cada momento de resgate do pergaminho, Afrodite sentia seu coração ressoar com a incrível sensação de descoberta e curiosidade, quase um contentamento maior que receber a notícia de qual era o segredo da Beleza de Psiquê Sempre atenta aos movimentos da jovem em sono pesado, Afrodite abriu o pergaminho com cuidado, apurando seus olhos divinos para ler a letra miúda e uniforme da jovem no papel tão amassado e de má qualidade.

Escrito estava uma simples frase que talvez fosse direcionada a ela, ou a qualquer um que se atrevesse a querer o segredo do coração de Psiquê. "Eu esperava você ler esta frase mais do que imaginas.".

Indignada com sua habilidade furtiva ser desperdiçada em uma carta sem sentido algum, Afrodite desapareceu, se recolhendo a ignorância pela charada na carta. Disposta a deixar a Vaidade comandar mais que sua Consciência, Afrodite ordenou ao filho que se executasse sua vingança: Faria com que Eros a atingisse com uma das setas envenenadas com o Puro Amor Avassalador, enviaria um bicho asqueroso e horrível para que ela caísse em apuros de paixão e todos sairiam ganhando nessa equação.

Por muitas noites Afrodite voltara perto da cama de Psiquê para encontrar um animal perfeito para executar sua fria vingança - e havia escolhido muitos, desde insetos e mamíferos, mas nunca um que pudesse igualar ao ciúmes sentido pela Deusa. Nessas noites ao divagar sobre qual seria a punição adequada a quem ameaçava seus dotes, Afrodite releu a carta tão secreta protegida perto do coração de Psiquê se surpreendera pelo conteúdo mudar a cada noite com uma mensagem singela, tudo isso atraía a Curiosidade da Deusa do Amor. A ameaça ainda estava bem acesa, mas a Gloriosa Deusa se intrigava cada vez mais com a troca de confidências noturnas. Confusa e impulsiva, Afrodite respondeu as missivas que encontrava com a jovem toda noite que a visitava: Uma maldição "Teu Destino és casar com a mais horrenda criatura do mundo e se assim recusares a se deixar levar, permanecerás solitária até teu envelhecer."

As visitas cessaram quando a ordem invejosa foi acatada, o filho estabanado obedeceu a mãe e tentou usar sua seta envenenada com o viscoso e escuro poder da Poção do Amor perto da garota, ignorando a carta, o segredo e a Curiosidade, Eros entrou no quarto, apontou uma das setas bem no rosto da jovem que afligia ciúmes na mãe. Com cuidado ele se aproximou e tentou espetar o belo rosto, com o esforço da acuidade ele produziu ruído e assim Psiquê acordou, sendo espetada pelo deus travesso e infligindo dano nele igualmente.

Diz a lenda que Eros percebeu que Psiquê o olhara diretamente nos olhos - apesar de sua invisibilidade - quando ele a atingiu, assim que sentiu a afiada ponta raspar seus dedos, o Cupido teve certeza que aquela era a mulher de toda sua vida. Psiquê era a sua amada e nada nesse mundo poderia interferir com esse Destino. Ou pelo menos era assim que ele queria que as fiandeiras tecessem.

Claro que decisões tiveram que ser feitas, choro e ranger de dentes, mas Psiquê permanecia apática a maldição, ao Amor desenfreado e aos apelos de Eros para que ela não casasse com ninguém além dele. E assim se foi por meses, em que ela viu a terra minguar, as flores murcharem e o Amor tão impregnado no detalhe das coisas morrer aos poucos pela exigência boba de um deus travesso. No final das contas a jovem percebeu que as pequenas cartas que segurava nas mãos antes de dormir eram retiradas dali e pousadas no chão, como se fossem apenas pedaços de pergaminho inúteis. O lado efêmero conquistara Eros. Jamais sua essência.

Condenada ela era a passar os dias ouvindo elogios por sua Beleza, nunca sua Essência, pacientemente ela ouvia sussurros nas noites, a agradar seus ouvidos, mas jamais perguntar sobre as cartas. Uma pena, a jovem deliberava com um suspiro insatisfeito (Fruto da Dúvida e da Curiosidade), ninguém desperdiçaria tanto tempo investigando além de seu atrativo físico.

E assim se foi quando o Oráculo alertou aos familiares da maldição da pobre moça, o exílio foi o seu castigo, algum outro deus dos ventos a levou para longe do Destino Pior (E esses, nem as fiandeiras poderiam se recusar a fiar), alguma grande história de Amor inventado. Todos sabemos então, a seta de Eros é que causou toda a confusão, mas jamais trouxe a Verdade à tona. Uma pena, a jovem deliberava antes de cair ao sono no imenso palácio ornado de pétalas de rosas e mimos românticos do Deus do Amor, ninguém sequer queria mais saber de suas cartas.

20 janeiro 2012

Contos Espalhados - Vozes

[originalmente escrito em 14:39 25/10/2007]

Vozes.
Vozes por todos os lados, vozes de poucos que contém meu coração
Vozes de muitos que sequer não estão mais
Vozes de alguns que me lembro
Vozes ao longe, ao léu, do além
Vozes.

Difícil explicar o que se assucede.
Vozes por todos os cantos.
Como acreditar em santo que não existe
Santo vivo que festeja o nosso dia
Prece mal resolvida mais atendida
Vozes de anjos que não tem asas
Não são querubins, não pretendem te levar ao Céu
Apenas anjos de carne e osso
Que fazem o dia melhorar sem trombetas
Que fazem sua vida melhorar sem promessas

Vozes
Vozes do além de Deus de Eru
Vozes que não vou escutar tão cedo
Vozes de quem não está por perto
Telefone
Vozes

Já tenho esse costume de dizer que mal sei escrever poesia, e não sei. Poesia é coisa abstrata de coisas mais abstratas ainda. Pode falar do real, mas sempre será no imaginário. Textos são de minha preferência, eles explicam bastante coisa com muita enrolação. O que se compara ao que eu faço da vida, escrever. É complicado viver de escrever e escrever do viver, ainda mais quando não se sabe fazer poesia. Tudo vira real, concreto, mecanizado. Posso culpar a sociedade, posso falar que é o sujeito fragmentado, posso dizer que é outra manifestação artística, mas tudo que sobra são vozes. Como no pseudo-poema ali em cima.
Como a minha vida continua seguindo.
Por vozes e apenas vozes.

Você nasce, cresce, reproduz e morre, postulou alguém aí. Eu acredito piamente no que ele diz, eu vivo o que ele diz. Você nasce e tem alguém que está do seu lado ensinando o que fazer ao crescer. Você pode culpar a sociedade, falar do sujeito fragmentado, dizer que é manifestação corporal ativa de algum ser parecido com você, mas tudo acaba em vozes.
A 1ª voz que você ouve ao nascer. A 1ª voz que te ordena. A 1ª voz  que te diz "eu te amo", mesmo você não sabendo do significado das palavras, você algum dia tentará acompanhar o mesmo caminho, tentará seguir a mesma corrente, mas como aquele famoso filósofo falou, nunca somos os mesmos ao passar por um fio d'água duas vezes.

Ida e volta. Coisas que não retornam, sentimentos que ficam ali trancados até uma voz desprender o que você gostaria de sentir. Porque sentir são exercícios de voz. Cada vez que você fala uma coisa, você está demonstrando os seus sentimentos.

Vozes.
Começa e termina nela.
Você nasce, cresce e esquece que ela existia antes mesmo de você. A voz que te guia para os caminhos corretos, a voz que te mostra o teu erro, a voz que te acalma numa noite de quarta-feira, a voz que parece cansada e admite que esteja cansada, mas que ao mesmo tempo vai retirando todo o seu cansaço. A voz de quem você ama.
Você sente porque você fala, não pelo que você sente.

Para alguns demora a perceber o quanto a voz é importante. A voz que te cala, que te repreende, que te humilha, que te amaldiçoa, que te prende ao círculo vicioso da vida. Nascer, crescer, reproduzir e morrer.
Última coisa que vai ouvir e primeira coisa que irá escutar ao acordar.

Forma mínima e medíocre de falar: "Escrever"
Escrever é simplório perto da voz. Escrever é tentar expressar com pares de coisinhas escritas em papel vagabundo o quanto se sente. Na maioria das vezes, culpar a sociedade, falar do sujeito fragmentado, dizer que é manifestação apostólica de alguma entidade divina. Ela tem voz, você não.
Então você escreve, eu faço isso também. E sou exatamente medíocre por essa razão. Eu escrevo pra não admitir que sinto, que falo, que quero ter razão de viver.
Eu escrevo. E faço isso bem. e vou fazer isso sempre quando puder para o resto da minha vida.
Nascer, crescer, escrever, reproduzir o que escrevo e morrer escrevendo.
Ponha os meus livros e escritos no meu caixão, feche e beije.  Daqui pra eternidade morrerei com livros debaixo da terra.
(E eu desisto de poesia, mas ainda desistirei de escrever.)

Vozes dos sonhos que me dizem como agir.
Foi meu subconsciente inconsciente em estado de semi-servidão. Posso culpar a sociedade, posso dizer que é o sujeito fragmentado, posso até dizer que é manifestação de Nienna em meus sonhos, mas não irei ouvir a voz dela em meus sonhos.
A 1ª voz que você acorda, a última voz que você pensa ao dormir.
(A música chega perto, mas agora prefiro que as notas falem por si só, elas sim falam de verdade, parecido com as vozes que ouço quase todos os dias da minha quase vida.)

De todas que escutei apenas poucas deram importância ao meu silêncio, ao meu escrever, a minha mediocridade de escrever tão escondida do sentir. Poucas que nem ouviram o que eu escrevia, mas leram e acharam que seria bom eu falar mais delas. Mas ainda tenho vergonha e provavelmente morrerei com elas só escritas.

A voz.
A sua voz principalmente.
A voz que me obriga a admitir quando estou errada, quando sou fraca, quando tenho medo. A sua voz e a de mais ninguém. Até a de quem eu achava que conseguiria extrair o meu eu de mim mesma não consegue chegar perto da sua entonação.
A sua voz. A de mais ninguém.
As palavras escritas complicam muito a nossa vida não é?
Olha só o que escrevi em menos de 20 minutos. Para falar eu demoraria uns 20 anos no mínimo.
Escrever é um ato vil contra os sentimentos. Palavras não sentem, elas incitam o sentimento, mas nunca a vontade.

Vozes.
De todas a sua eu prefiro anteriormente da gente se conhecer.
A sua voz que está cansada em uma noite de quarta-feira em algum canto do seu quarto e eu aqui no meu exercício de sentir.
Queria ter palavras escritas para definir o que é sentir a sua voz, mas ainda não inventaram algumas palavras para essa finalidade. Eu posso culpar a sociedade, falar que é o meu sujeito fragmentado, dizer que é uma manifestação de Mandos vingativo sobre minha vidinha de escrever, posso escrever sobre tudo isso, mas a cada dia que passa eu percebo o quanto é difícil falar a frase mais singela do mundo.

Não, não é a famosa: "Eu te amo"
É "Ammë" mesmo...

Aliás... A 1ª fala que a gente tem depois de nascer e provavelmente a última que ficará no fundo da nossa mente quando morrermos.
(E cada dia que passa é mais dificil ainda dizer a outra frase, mesmo que seja o que a gente sente de verdade, mas não tem coragem de dizer.)