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26 dezembro 2014

[conto] parceiros de crime

Título: Parceiros de crime (por BRMorgan)
Cenário: Original.
Classificação: PG.
Tamanho: 734 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Em uma noite improvável, dois estranhos encontram algo em comum.
Personagens: A menina e um senhor de meia idade.

===xxx===

Começa com um pequeno piscar de olhos, o foco obscurecido pela sala cheia de gente, luzes hipnóticas em todos os tons, o retumbar das caixas de som reverberando junto as batidas cardíacas, a ansiedade toma conta de suas mãos, o andar é apressado entre a massa de pessoas desconhecidas, logo não há escapatória, se isolar em um canto menos povoado é a única chance de se manter bem na saída à noite.

Muitas vezes tentar visualizar o público que a rodeava, como uma completa estranha no ninho, prestar atenção no ritmo das pessoas virara seu passatempo. Ninguém exatamente sabia o porquê de estar tão espremida a parede, bebida na mão, olhos fixos no chão. Às vezes não dá para aceitar as condições em que se vive.

Puro medo de viver? Ou medo de algo mais comum?

Um breve gole na bebida gelada talvez subisse mais rápido que a sensação conhecida de sempre. Já haviam recomendado algumas dicas para se manter em vigília, mas o relógio no celular que sempre vibrava marcava onze e dezessete. Não, não, não... o show nem tinha começado. Seus amigos de palco nem haviam chegado, não faria isso de novo, faria?

Fez um plano dentro de sua mente, esperaria até meia noite. Meia noite era a deadline. Meia noite poderia dar alguma desculpinha esfarrapada e escapulir para um táxi e ir embora o mais rápido possível. Meia noite era a hora. Checando seu celular a cada 5 minutos, o tempo não parecia passar, na verdade achava que tudo havia parado às onze e quarenta e dois. Exausta, sentindo os primeiros sintomas da fadiga, procurou um lugar para se sentar, mas não poderia fazer isso, pois obviamente cairia nas graças de algum deus menor. Praguejou internamente, virou a bebida já não mias gelada de uma vez só. Quase cuspiu parte por ver que o resultado de subir pelas suas veias e ir para a cabeça foi mais acertada desta vez.

Praguejou mais um pouco, certa de que nem deveria estar ali. A banda que prometera dez horas em ponto começar o show estava atrasada cerca de duas horas por motivos de: "Quanto mais tarde, mais enche a casa.", "Não dá tempo pra beber", "O povo precisa tá ligado quando começar, dançar e tal." e outras a mais. Ela apenas estava a lutar contra seu demônio favorito particular. Todo, santo, dia.

Ao seu lado, sentado em uma poltroninha fajuta estava um senhor, vestido para a ocasião, com uma mesma bebida como a sua na mão esquerda, o celular na outra, o olhar apreensivo para frente, o pestanejar inconfundível. O demônio favorito também gostava de aplacar outros poucos infelizes. Onze e cinquenta e três.

 - Esses caras não vão tocar não? - ele resmungou colocando um alarme para soar vibrante em seu bolso. Como uma lâmpada acendendo acima de sua cabeça (E subitamente caindo quase no mesmo segundo), ela entendeu.
 - Cê tá com sono também? - a pergunta dela não foi estranhada pelo desconhecido, mas uma confirmação triste acertou tudo.
 - Isso aqui faz acordar? - ele disse apontando para a bebida.
 - Não, não, já tomei dois desses e nada.
 - E esses caras marcaram dez, né?
 - É... - ela concordou tentando focalizar o palco, uma de suas pestanas estava cedendo pelo sono excessivo.
 - Hey, senta aqui. - ele disse apontando um lugar para ela ao lado.
 - Se eu sentar, você sabe.
 - É, eu sei... - ele retrucou afundando mais na poltrona. Ambos suspiraram ao mesmo tempo. A banda finalmente foi par ao palco, a amiga deveria estar ali na frente do palco, prestigiando os músicos, mas a troca de olhares foi única. Ela finalmente sentou-se pesadamente ao lado do senhor de meia-idade e barbudo.
 - Se um dos dois dormir... - ela sugeriu, ele completou:
 - Cutuca o outro?
 - Arram, isso aí. - os dois apertaram as mãos.

A primeira música estava já no fim, a plateia entoava o coro de músicas já bem conhecidas, o vozerio de conversas altas, a potência dos instrumentos, as luzes. Sentados, um ao lado do outro, um casal de completo estranhos, em sono alto, sem defesa ou tempo de se cutucarem para salvarem a noite.

O demônio favorito ganhara novamente.

Mas antes de seguir para o profundo sonho, a moça deliberou entre muitas imagens entre seus olhos e pálpebras fechadas: parceiros de crime

Sim, encontrara um parceiro de crime.


25 dezembro 2014

[Feéricos - contos para sonhar] os escorregadios: Kristevá Todd

Título: Feéricos - contos para sonhar os escorregadios: Kristevá Todd (por BRMorgan)
Cenário: Original - Projeto Feéricos.
Classificação: PG.
Tamanho: 471 palavras.
Status: Completa.
Resumo: Diálogo entre alguém e a Morte de triciclo.
N/A: Um pequeno rascunho que veio e acabei deixando de lado. Mas aí depois ao pensar nele, fiquei: hmmmmm acho que vai me servir para a posteridade. [Editando: Atualizado 11/09/2016]
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Eis um corredor extenso de uma instituição qualquer.
Poderia ser de uma escola, universidade, hospital, escritório, o que for.
Antigo é o prédio, velhas são as edificações, enferrujadas são suas portas e janelas, há muita areia acumulada em muitos cantos e rastros por todo chão.
Nesse corredor extenso há uma única porta aberta.

Atrás dessa porta há um armário de limpeza qualquer, com estantes improvisadas com produtos de limpeza, algumas vassouras, esfregões e rodos já desgastados pelo Tempo. Uma enceradeira velha e descascada, galões de desinfetante de cheiro forte de limão, luvas de plástico amarelas penduradas em alguma estante. Sentada ao chão está uma pessoa que podemos identificar como "Visitante".

Do lado de fora desse espaço pequeno, no corredor sem porta alguma a não ser essa, está a Morte, personificada como a famosa ceifadora, vestida de grosso manto escuro, o capuz cobrindo a caveira angular, de protuberantes ossos em alguns lugares da bochecha e mandíbula projetada para frente com grossos caninos, não como uma caveira humana, mas de animal exótico. Sem olhos, ela observa, com sua foice pendurada nas costas, sentadinha em um triciclo infantil de cor rosa choque, encarando a porta como se estivesse ouvindo atentamente a pessoa visitante.
 - Você colocando dessa maneira parece bem mais fácil de entender... - continuou a pessoa visitante para a Morte de triciclo. Sua voz estava abafada por estar no fundo do closet de limpeza, mas isso não impedia do diálogo seguir normalmente. - Desculpe-me, mesmo... Tá tudo bem... O importante é que sei agora, né? - a Morte concordou com o seu capuz movendo para cima e para baixo no rosto cadavérico. - Agora sei o que fazer com o restante do meu tempo.
 - Apenas não se precipite. - avisou a companheira das últimas horas.
 - Não, não irei. Quero fazer direito, eles confiam em mim.
 - Não quer nem pensar em uma escapatória?
 - E por quê eu faria isso? Tem jeito? - a Morte de triciclo deu de ombros, a foice pendurada em suas costas mexeu um pouco.
 - Talvez dê certo. Alguns tentaram.
 - E foram felizes?
 - Infelizmente não sei. Apenas sei que tentaram.
 - Difíceis de pegar?
 - Escorregadios.
 - Não quero te dar trabalho. - um fio prateado escorregou do cabo da foice e foi serpenteando devagar até o fundo do armário, enlaçando calmamente a perna da pessoa visitante. Ela estremeceu sem entender o porquê ter tal laço frio.
 - Nem eu. - estremeceu a pessoa visitante sem saber o que falar. Suas memórias estavam ficando falhas novamente. Tinha pouco tempo agora. A Morte pega impulso em seu triciclo rosa-choque e pneus de plástico desgastados, mas antes que pudesse arrancar, a menina se moveu dentro do armário de limpeza no corredor de extenso de uma única porta.
 - O que acontece se um dos escorregadios conseguir?
 - Fica difícil de prever. Muitas coisas mudam, novos horários, pouco tempo para adaptar a carga-horária.
 - Se precisar de alguém... - a pessoa visitante deu de ombros ao dizer isso.
 - Com certeza não irei te chamar. - respondeu a morte de triciclo, apertou bem as mãos no guidão do triciclo, pedalando algumas vezes no extenso corredor de uma única porta. A menina colocou a cabeça para fora da porta, assistindo a ceifadora ir esvoaçante pelo corredor. Suspirou de cansaço, de tristeza, de impaciência.

Olhou para aquela porta que dava acesso ao corredor. Tudo parecia tão diferente agora que sabia o que fazer. Poderia tentar mais uma vez, não é?

Ser um escorregadio não estava nos planos dela.

Fez uma lista mental do que deveria fazer ao acordar:
Encontrar a bruxa solitária.
Conversar com a ninfa das árvores.
Socar o rosto do marinheiro.

Ia colocar algo a mais na lista, muito importante, não poderia esquecer, algo a ver com alguém que vinha das cavernas geladas quando sentiu a fisgada leve. O fio prateado em sua perna era puxado aos poucos, apertando seu tornozelo, aquilo estava certo? Era para ser... assim?

Seu corpo foi derrubado ao chão com violência e bruscamente, o fio prateado estrangulando o que tinha por dentro, levando o que tinha que levar, deixando apenas um invólucro vazio e sem memórias do passado, de sua missão e de seu futuro.

...

Kristevá Todd teve sua admissão no Hospital da Metrópole aos 9 anos de idade com um diagnóstico inconclusivo entre amnésia retrógrada e forte trauma infantil. A dosagem de remédios aumentou quando completou 13 anos de idade.

Esqueceu da lista.
Esqueceu da companheira das últimas horas.
Esqueceu de saber quem era.

Não sonhava mais.

21 coisas que ainda não fiz (reprise)

Lembro de ter postado isso no dia 24/04/2014, mas vamos ver como ficou até então:



Copiando e colando do Danger Diary:

"Here are my uncomfortable things no one should miss out on….


  • Start a blog and write your uncensored, honest views. - Bem... já estamos nele e não é que o bichinho está crescendo?
  • Take yourself out to dinner alone. - Queria ter me levado pra beber, mas...
  • Stand up for something you believe in even when you might risk disapproval. - Ainda lésbica e o desejo de ser professora universitária está de pé.
  • Go and see live music in a genre you don’t normally listen to. - fui no Tom Zé em março, só isso.
  • Introduce yourself to someone you would like to know but have felt too intimated by. - Algumas vezes dentro do ônibus e depois não me senti mais confiante pra isso não...
  • Learn a new language - aprendi a xingar com palavrões mesmo. Já é um avanço.
  • Travel to the country where they speak that language and try it with locals. - Nope, ainda não.
  • Dress opposite for your comfort level. - oh well, pois é.
  • Write a heartfelt poem and share it with someone.
  • Volunteer to help someone who is very different from you.
  • Give a compliment to a complete stranger.
  • Go on a polar bear swim (jump in a cold lake). - Ainda querendo.
  • Make a “free hugs” sign, go out in a public place with your friends and go for it.
  • Order a strange new dish at a restaurant.
  • Explore an abandoned building or area that’s unfamiliar to you.
  • Go on a road trip without a destination. - Ainda não, mas logo.
  • Get naked in front of an audience (whether that’s burlesque or telling a personal story or sharing personal art that you created). não fiquei pelada, mas já me expus demais em público, não gostei, não quero voltar praquele lugar.
  • Learn a new skill (take a dance class, learn a new musical instrument). - aprendi a cozinhar algumas coisas e uns truques para ajudar na biblioteca.
  • Initiate a conversation with someone far younger or much older than you. - O highlight desse final de ano foi a pedagoga, contadora de estórias com dor crônica e sofrendo de insônia que passei horas conversando na fila do HU pra Clínica do Sono Ela me ensinou muitas coisas..
  • Figure out something you really want to do that you feel timid about doing. -e não deu certo, muito obrigada, não tentarei mais. Aquela cavidade miocárdia localizada no centro da caixa toráxica tá de recesso.
  • What are some things that you have heard your friends or acquaintances talk about and you think – i’d never have the guts to do that….But it would be awesome. - bem havia falado tatuagens, piercings e ficar com alguém sem ter compromisso. Nope. Nada ainda. (E pelo jeito nem vai)


Feliz Natal

Essa é a época mais propícia de relembrar todos os erros, maus entendidos, falta de sensibilidade e compreensão que você praticou ou recebeu durante toda sua vida.
E também esperar quase sadicamente que esse maldito ano acabe logo.

===xxx===
Ah! E meu progenitor entrou em contato para entrar em contato comigo: agora sei da onde veio tanta precaução besta de se aproximar dos outros.
Tou esperando, velhaco. O movimento não tem que ser meu hoje.

21 dezembro 2014

Citações em sonhos

Nisso que dá dormir na casa da Entesposa-mãe. Sempre rola bizarrice na hora do estágio noturno - aposto que não tem filtro nenhum de sintonia com outras frequências...

*se afunda no travesseiro*
Para fins de averiguação da posteridade, o sonho maluco com detalhes de hoje foi organizado da seguinte maneira caótica:
 
  • Pipas em forma de fênix;
  • Subidas em ladeiras de ângulos impossíveis;
  • Arrumar modem defeituoso;
  • Escrever em fichas de Catalogação;
  • Ver um rosto familiar em uma multidão de gente;
  • Tomar banho solitário em uma casa inundada com água azul;
  • Citar Santo Agostinho falando sobre a prática do claustro para uma mãe-de-santo. 
Esse foi o resumo das viagens oníricas de hoje.

Eu nem sabia que Santo Agostinho tinha texto sobre claustro e talz, vou ter que pesquisar. Porque se esse trem veio da biblioteca onírica e eu acabei citando ("De acordo com Santo Agostinho, lalalalalala"), vou precisar de um exorcismo filosófico... RÁPIDO!!

20 dezembro 2014

Aquele momento

Sabe aquele momento em que o olhar procura pelo rosto certo, a respiração entrecortada cessar por alguns segundos, o coração pular bem na garganta e de repente a certeza estar ali bem estampada no vazio e no silêncio?
Foi o que acabei de presenciar a minha sobrinha fazer ao procurar o pai na platéia.
E não encontrar...
I know the feeling, kiddo. Também procurei pelo meu todos esses anos.
*hugs*

17 dezembro 2014

Projeto 1 praia por semana - Santo Antônio de Lisboa



Santo Antônio de Lisboa.

Aqui começou a "história" catarinense literalmente, pois quando ainda se chamava Desterro, foi o primeiro lugar onde o Imperador Dom Pedro II deu um pulinho quando veio ao solo sulista. Ninguém, é claro, entendeu wtpowha um cara cercado de guardinhas imperiais e dando tchauzinho pra todo mundo fazia tanto sucesso, até que ele mandou pavimentar a primeira rua da Ilha.

Até hoje a praça tá lá, e os casarões da época açoriana (Aquela ilhazinha perto da África que os portugueses também colonizaram) e as ruas de pedra e o pôr-do-sol mais lindo de toda cidade.

Fui particularmente abençoada em poder trabalhar bem no centro histórico, a escola onde estagio fica há poucos metros da primeira Igreja açoriana - Nossa Senhora das Necessidades - e dessa praça citada aí em cima. Da janela da biblioteca dá para ver o Grande Mar, dá para sentir a maresia em dias mais úmidos, dá pra ouvir a brisa vindo do Mar e assoviando entre as árvores, e durante o almoço, quando dá tempo, desço em passadas rápidas para a orla, sento perto do banco de areia de poucos metros e observo as gaivotas malucas bicando coisas que estão ali: barcos de pescadores, redes de pesca, barcos maiores, etc.

O pôr-do-sol aqui é lindo, lindo, lindo!

É um lugar de muitas lembranças também. Muitas que prefiro segurar bem bem bem bem guardadinhas aqui comigo e deixá-las morninhas enquanto posso. Há também outras de momentos pavorosos como abstinência de Pepsi, frio de congelar os ossos, calor do baraleo, cafés-da-manhã que resumiriam o dia todo e um balanço no parquinho que iria testemunhar lágrimas e muitos silêncios meus.

Aqui é um pedacinho de mim que sei que estou cultivando bem, em menos de 5 meses consegui ver Santo Antônio como uma extensão do meu lar particular, aquele pedacinho de terra no qual sinto meus pés pisando e toda a sensação de alívio me alcançar por completo.

A praia que mais me sinto perto de algo chamado lar - noldorin feelings - tá aí.