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20 setembro 2017

sinalizações mínimas

Fonte: Independent.co.uk

Lendo sobre as experiências do se encontrar como trans de algumas pessoas queridas aqui das imediações e uma constante no processo de se entender em certa identidade de gênero e orientação sexual foi a do banheiro.

Problemas com banheiros públicos foi uma das sinalizações que pelo jeito não pertencia a uma identificação de gênero que a normatividade constantemente me esmagava. Desde que me entendo por gente - e as filas e os olhares e os contra-ataques - o uso do banheiro com aquelas plaquinhas malditas dizendo feminino e masculino tem feito alguns episódios básicos de constrangimento. Esse que por acontecer várias vezes quando criança, não me importava mais quando adolescente e agora na vida adulta.

Quando se é criança, tem o perdão da traquinagem de "talvez errou o banheiro", mesmo que os olhares adultos sobre meu corpo fossem de estranhamento passageiro, já que uma criança que aparenta ser menino, não possui nenhum traço imediato de reconhecimento entra dentro do banheiro feminino, pulando em uma perna só e entrando em um box para um xixizinho básico (e o alívio de realizar esse ato primitivo) deve ser admoestada no mesmo momento.

Estranho porque ao serem acompanhados por mães, os meninos são aceitos em banheiros femininos de uma forma usual, mas quando se tem 12 anos, não desenvolveu peitos e quer ir ao banheiro e tem uma fila de mulheres, o olhar muda. Esse olhar de "esse corpo é alienígena nesse espaço" ou o "errou de banheiro".

Então há a contraparte de frequentar banheiros masculinos, pois quando a necessidade se torna urgente, não pouparei esforços em aliviar a bexiga - prender xixi não é comigo. O olhar é outro. Já ouvi desde palavrões a reações de intensa timidez por parte dos caras. A ameaça de violência ao corpo alienígena?

Urrum, nem precisa estar explicitado e palavras. Apenas acontece.

Apesar de ainda preferir usar o nomeado feminino para não sofrer violência maior, volta e meia recebi uns olhares de censura. E nem aparento inteiramente a leitura de corpo do "sexo oposto" a que fui designade. Enquanto ouço e leio testemunhos de pessoas trans que sofreram as piores humilhações nesse espaço privativo, me pergunto toda vez que ganho olhar de censura ao entrar em um banheiro feminino se algum dia alguém vai decidir descer a lenha em cima de mim.

Mas xixi é xixi e não prendo bexiga. É ruim, causa problemas depois.

19 setembro 2017

a novela das eleições de certo centro de certa universidade dos megazords continua


(Pegue a pipoquinha e acompanhe de perto esse circo pegando fogo...)

Peço cuidado a ler o texto a seguir, pois enchi de mensagens subliminares, nonsense e discurso passivo-agressivo pra me autossabotar, caso alguém venha tirar satisfações depois. Leia conforme sua paciência ou se quer ideias para memes. Afinal de contas, por que dar crédito e credibilidade pra textinho chinfrim de estudante raso de Biblioteconomia?

E como está a nossa novela favorita?

Alguns episódios já passaram, pra quem perdeu tem três vídeos dos debates que ocorreram aqui, aqui e aqui. No capítulo especial da semana foi o backlash mandatório de parte dos alunos e docentes quanto a decisão de apoio do centro acadêmico a uma das chapas.

Democracia é opcional nesse contexto.
Outro tijolinho na parede?




Mas o alto dessa temporada aconteceu com duas CENAS significativas:

1) graduand@s afirmando que centro acadêmico não tinha que se meter em política (???) e não deveria apoiar chapa alguma.

Ué? Será que minha miopia atingiu níveis épicos?

Detalhe: ninguém chiou quando esse centro acadêmico e mais esse centro acadêmico que fazem parte do mesmo departamento deram apoio a outra chapa, cerca de 1 mês atrás com direito a videozinho e campanha.

Hipocrisia, a gente vê por aqui sempre.

(Debaixo do link, os emocionantes instantes da incrível novela do SEDE)

11 setembro 2017

enjoa o silêncio


Há esse tipo de silêncio que vem me acompanhando desde criança.
É como um instante oco dentro da minha cabeça, ramificando pelos ouvidos até atingir alguma parte que se locomova e a faça se movimentar em movimento retilíneo uniforme. Esse espasmo cadavérico já é conhecido na família, - apesar de sempre gostar andar à pé desde criança - tem um caso em especial de "vontades de dar um sumiço andando por aí". Na maioria das vezes esse movimento me leva em direção ao Mar.

Essa atração pelo Mar tem sido uma novelinha meio estranha de se acompanhar aqui dentro de mim, desde criança gosto do som das ondas, da sensação da areia debaixo dos pés, dos respingos que a brisa traz, da imensidão salgada que nos leva a pensar o quanto somos finitos, e ele (o Grande Mar) não. Constantemente sonho com água corrente, mas não é o mesmo que ouvir o Mar bem perto de si. Foi nos momentos mais difíceis de decisões erradas que o Mar me acalmou, me lembrou onde era o meu chão e também da minha Sorte.

Querendo ou não, a gente sempre vai se reportar a alguém superior, mesmo quando não está muito a fim de se religar ao divino.

O silêncio ali da infância me preocupa mais que minha mente barulhenta 24 horas por dia. Aterroriza mais que os pensamentos nada legais, as crises de ego, as culpas decidindo tocar campainha e saindo correndo e principalmente as memórias.Essas são de me tirar do sério.

Era pra ter aproveitado esse dia na companhia de alguém, mas preferi me recolher a esse estado catatônico de movimento retilíneo uniforme direto ao mar e ver se alguma coisa acontecia. Qualquer coisa. Mesmo que fosse nada já me contentaria. Então fui subindo a trilha pra uma parte do morro perto da praia, prestando atenção especialmente naquilo que havia estudado sobre o tal morro (6 meses de museu fizeram tantas maravilhas que nem sei como agradecer), recapitulei o conhecimento herdado de lá, vi algumas curiosidades, li as placas, fiquei um tempinho sacando a inscrição rupestre que os Sambaquieiros talharam em pedra há 7 mil anos atrás.

E essa sensação de Nada se apossou duma maneira que fui obrigada a sentar em algum lugar para simplesmente não fazer coisa alguma. Olhar para o Mar não foi escolha, foi única salvação, eu diria.

O que me atraia nesse gigante, também me faz morrer de medo da minha própria (res)existência.

Porque quando estamos diante de algo beeeem maior que a gente, costumamos ter a mesma reação besta, no caso aqui, o silêncio deu lugar para as perguntas fundamentais de alguém que tem ansiedade excessiva e pouca motivação pra ser melhor socialmente. O que é que eu tou fazendo aqui foi a mais redundante no bloco de questões. A do Por que/quem estou fazendo isso tudo (resumo da vida) também foi a mais chatinha de não deixar martelar demais, afinal o barulho das ondas tava alto, alto demais e as perguntas ficaram só no eco.

Acontece uma coisa bem estranha quando ficamos olhando o Mar por muito tempo, você acaba percebendo que o horizonte é meio tortinho, ao invés dessa linha esquisita que a ótica nos revela, se você observar bem bem mesmo por um bom tempo vai perceber que o que era para ser uma linha reta, vai mostrar mais ondulações que supostamente deveria ter. Essa constatação afogou a pergunta estúpida que me faz querer chorar um bocado quando menos espero, mas ao entender que nem na natureza a perfeição de uma linha pode ser equivocada pela nossa ótica limitada, então é melhor concordar com o que já tá posto ali há cerca de trocentos bilhões de anos.

Uma pena não poder ficar mais, já escurecia. E há coisas nesse mundo em que pessoas que são lidas como corpos femininos não podem ficar em lugares assim sozinhas e sossegadas. Desci o morro, catei conchinhas, praguejei um bocado pela dor nas costas (Que veio comigo pelo caminho sem dar aviso de quando iria embora), subi pro asfalto, segui meu caminho pra casa. Seis quilômetros pra ir, seis pra voltar.

Se melhorou a sensação do Vazio, do Nada e tudo mais?
Em partes.
Preciso lembrar mais de deixar meus pés me levarem pra visitas assim.

09 setembro 2017

[conto com angie] o velho índio

Título: o velho índio (por BRMorgan)
Cenário: Projeto Feéricos.
Classificação: PG-13.
Tamanho: 1.083 palavras.
Status: Completa.
Disclaimer: Esse conto faz parte de algum rascunho perdido meu do Projeto Feéricos que vocês podem ver os pedaços sendo costurados aqui nesse post [x]
Personagens: Angie, o senhor índio.
Disclaimer: na vida real passo por eles todos os dias e imagino, imagino de vez em quando o que se deve passar por eles. Adivinha qual música tocou no repeat pra esse pequeno conto?!



A rotina arrastada de sair da creche comunitária do morro, no arrastar do corpo cansado de carregar criança no colo, correr pelo pátio, pular corda com a garotada, fugir da inspetora, fazer exercícios pra manter o pique dos pequenos mais energéticos, uma travada na coluna. O lugar poderia ser feito de concreto, vigas de ferro, azulejo frio e pintura medíocre sem imaginação, mas a alegria de estar naquele lugar era de partilhar o Sonhar com as crianças tão parecidas com ela. Sem passado, presente no limite, sem futuro de acordo com os educadores. Gente que nem ela, sem nada a perder. Vestidos como acidentes de carro, chinelos gastos, fome de viver intensamente com tão pouco. O descer asfalto, pedir aquele pingado no boteco que conseguiu ajudar o dono a pegar o alvará e afastar os milicos ideia errada. Entre o boteco e o terminal interminável de ônibus na rua mais movimentada da Metrópole, um calçadão. 

Percebeu no velho índio imóvel na frente de um instrumento grosseiro eletrônico de propagação da voz. Odiava microfones e caixas de som e coisas tecnológicas que reproduziam som de forma sintética. Era como matar a Musa da música ao se atrever a fazer isso. O velho índio e sua flauta exótica de vários nós de cipó, gasta pelo tempo, buracos irregulares, fissuras nas bordas. Um monumento fantasmagórico para o mundo inquieto. 

Com seu cocar plumoso de penas encardidas e sem cor, as roupas modestas, amassadas pelo tempo, a mancha de suor nos cotovelos e em volta do pescoço, um tesouro esquecido sem mapa para descobrir. Tocava uma melodia que ela conhecia como uma canção manjada de rádio de gente mais rica. Aos pés, um cartaz com erro ortográfico pedindo dinheiro e comprar um exemplar do CD velho que estava ali a mostra. 

Na primeira vez desacelerou os passos arrastados para o sinal e o observou longamente. Não sabia se tinha que fazer algo, cumprimentar, dizer que era coragem dele trazer essa ancestralidade para a selva de pedra dos mais novos. Orador dos Sonhos, era como chamavam esse tipo de prodígio, e deles morria de medo e curiosidade. 

07 setembro 2017

O maldito ego murcho

O que acontece:
(versão em gifs para ilustrar melhor minhas reações) 

Quando citam meus textos aqui do blog na sala de aula:



Quando comentam algo positivo sobre minhas ideias:



Quando reagem estranhamente a algum posicionamento que disserto:


Quando elogiam minha escrita. 



Mas na verdade eu morro de medo de feedbacks IRL sobre que escrevo.
É meio surreal.
Foram 13 anos blogando e poucos espaços de discussão através de comentários ao vivo com gente sem ser virtual. Com o advento do Orkut e Facebook essa troca mais rápida de comentários me ajudou a ter algo a falar, mas ao vivo?!

Menos crítica destrutiva ou cenários ruins de como o assunto que tratei era impertinente. Pra esse tipo de argumentação nem precisa de detratores ou críticos especializados, aqui dentro da minha cabeça já tem um compêndio infinito de "coisas horríveis que uma pessoa pode fazer para desvalorizar/deslegitimar a única coisa que te faz feliz/ter orgulho na vida".

Miguxes, autocrítica é a tradução virginiane do meu ser. Ninguém é perfeito, eu muito menos, e nem você.
(eu pelo menos tento melhorar, né? Cada um com sua leitura de mundo)

02 setembro 2017

[videos] heteronomia por scalene

Apenas a música resumindo a minha vida nessas três décadas e mais 365 dias. Já tá na hora de mudar o paradigma, né?

Heteronomia de acordo com um site da hora é:

"[...] dependência, submissão, obediência. É um sistema de ética segundo o qual as normas de conduta provêm de fora.

A palavra heteronomia é formada do radical grego “hetero” que significa “diferente”, e “momos” que significa “lei”, portanto, é a aceitação de normas que não são nossas, mas que reconhecemos como válidas para orientar a nossa consciência que vai discernir o valor moral de nossos atos.

Heteronomia é a condição de submissão de valores e tradições, é a obediência passiva aos costumes por conformismo ou por temor à reprovação da sociedade ou dos deuses.[...]"



Atento ao pudor e tentado a quebrá-lo

Do berço já veio a noção de pecar
É inevitável
É incontrolável
O peso nos ombros vai me dobrar

Se o perdão vai prevalecer
Por que a culpa está sempre aqui?
Quero existência sem dor
Sentir em liberdade e amor

Não é necessário se violentar
Constantes cobranças descomunais
Endeusam um lado
Demonizam o outro

Certo e errado não é de alguém
Para poder monopolizar
Quero existência sem dor
Sentir em liberdade e amor
Libertar

(o bem e a fé posto com sistema)
(doutrinário perde sua função)
(estamos sempre nos mesmos dilemas)
(que mais nos limitam do que nos faz ver)

31 agosto 2017

novo capítulo da novela de certa eleição de certo centro de certa universidade

Tem umas parada sinistra na Linguística que me assustava um bocado quando era tratada no processo de alfabetização ou até mesmo em análise do discurso.
Tipo: "Como é que o texto se forma dentro da sua cabeça?"
Ou: "Se houver uma repetição ou ausência de uma palavra em tal texto/fala, já dá pra sacar as nuances de um discurso?"

O que mais me assustava era a tal da expectativa do leitor, que é uma parada meio bizarra que acontece com a gente quando vamos ler/ouvir/ver alguém ou alguma coisa. Pra ter uma conversa informal se pressupõe que tem uma pancada de artifícios da nossa lingua falada pra colocar aquela conversa como informal, os famosos, "tipo assim", "né?", repetir o nome da pessoa que tá conversando contigo em sei lá, apelidos, diminutivos, o nome dela mesmo.

Enquanto em uma conversa formal ou até, vamos dizer assim, oficial em um debate político sobre direção de um centro em certa universidade -que não irei citar o nome, pois mecanismos de recuperação de informação tem em tudo quanto é canto - essas mesmas coisas sinistras podem aparecer.

"Como alguém pode formar uma fala como aquela?"
"Em que posição essa pessoa está falando o quê e para quem?" (Essa é extremamente importante até pra gente saber o que, pra quê, pra quem e porque estamos falando)
E a minha favorita:
"Será que a pessoa tem ideia do que tá falando?!"

Porque em certas falas, desconfio piamente de como o processo de construção da fala dentro da cabeça acaba sendo feito ou se é feito, ou se é assim mesmo que deve ser. E é uma bagunça, é pra ser uma bagunça, mas o buraco do acordo tácito social silencioso das pessoas para nos tornarmos toleráveis entre si e vivermos em sociedade, isso tudo aí pode desmoronar quando a fala não é produzida de acordo com a expectativa daquele que vai ouvir.
(E nada de locutor/interlocutor aqui, pega no meu Chomsky que é nele que vou)

A expectativa é um bicho asqueroso.
Porque na fala ele impacta de uma tal maneira que para uma mesma frase pode ocorrer "Ais" e "Hey!" ou "Eita" ou "Oh!". Ou silêncio. Quando o silêncio aparece é o que mais me surpreende, porque tio Fucô dava uns pitaco que o silêncio era o ato máximo de rebeldia (Rebel, rebel!) e eu concordo plenamente, enjoy the silence...

A expectativa do leitor entra aí com toda uma carga ferrada de "e se...", "poderia ser/ter sido..." e por aí vai. Quer cultivar muitos universos alternativos? Fique no plano das expectativas, é ali que todo o Caos Universal vira caldo pra ferver.

Então tendo essa premissa na cabeça e conhecimento da existência da expectativa do leitor, fui ontem pro debate com algumas palavras na cabeça que esperava e não esperava ouvir.

Esperava muito #Facepalm porque é essa a minha reação quando sinto vergonha alheia e quando a vergonha alheia acaba sendo dirigida para o curso onde eu habito e amo. É como se ofendessem o meu grande amor (Srta. Ornitorrinco Biblioteconomia, de manto roxinho, com anel de ametista no anular e segurando uma lâmpada antiga em uma mão e um livro bem pesado na outra pra tacar nas nossas cabeças?) por tabela.

E foi o que aconteceu. Mas expectativas do leitor, lembram? Nada mais assustador que intenção do discurso.

Debaixo do link, as expectativas de leitor que tive ao ir ao debate de certa eleição de certo centro de certa universidade.

27 agosto 2017

metodologia nada acertada

Esse blog funfa com tecnologia antiga de mecanismo
de relógio e muita, mas muita motivação diária.
Escrevo nas interwebs desde 2004 - foi quando Internet de banda larga chegou no vilarejo-brejeiro em que eu morava, coincidiu com o acesso fácil a universidade dos stormtroopers, já que me enfurnava nos laboratórios de informática do que ter vida social... Oh well, continuo NÃO TENDO vida social alguma... - e aprendi um bocado durante esses 13 anos de escrivinhações, desde como desenvolver um vocabulário próprio (Sim, entendo que às vezes escrevo pra mim mesme, mas é o objetivo de ter esse blog, uai), até estratégias de como falar de pessoas sem elas saberem disso...

Praticar tudo que aprendi na Letras de argumentação e construção de narrativas foi crucial pra eu continuar aqui no ambiente virtual, falando besteira, opinando controvérsias, tentando ser espertinhe em um mundo de muita opinião e poucos comentários.

Tá funfando até então.

Mas tem metodologia, sabe? Virginiane aqui, óbvio que vai ter planejamento, nem que seja no improviso de 3 nanosegundos.

Não é que eu gosto de escrever (Tá eu amo, única coisa que presto nessa vida de escriba), mas é que tenho tempo pra realizar isso. É, tempo, parece mentira em tempos como esse. Desde 2004 passo parte do meu dia dentro de ônibus, em trajetos que me obrigam a ficar sentade por cerca de 2h ou 4h por dia. Enquanto muitos se aventuram em ler dentro do busão, ou quando o sono vence, passo o tempo teclando sem parar até aparecer um rascunho de texto bem rude, precisando de mais detalhes depois. Esse processo de escrever em busão em 2004 era feito com aquele modelo de celular indestrutível, em forma de tópicos, para então fazer um rascunho mais elaborado em papel mesmo.

Na mochila sempre tinha caderno extra com anotações de coisas. Apesar de achar um absurdo escrever em livros, acabei cometendo uma heresia com meu Silmarillion durante o último ano de Letras. O pobre livro recebeu anotações nos cantos das páginas, porque bem... Não tinha lugar na hora pra escrever!! Eu escrevia também durante as aulas, quando dava, parte de um projeto que abandonei foi feito durante a monitoria de sociologia/filosofia que eu dava e esse cenário de Felicidade Adormecida começou em uma aula de Literatura Africana, dentro do auditório escuro, com Billie Holliday tocando de fundo. Era algo que eu conseguia fazer naquele tempo: prestar atenção nas aulas enquanto escrevia outra coisa.

Os tempos mudaram e a tecnologia ajudou um bocado, hoje smartphones me facilitam com a escrita em flow, autocorretores e plataforma de escrita offline/online que me ajudam a não perder o fio da meada. Google Drive me ajuda a armazenar coisas, mas não para escrever, então Evernote está sendo a minha pedida. O famoso bloco de notas do celular é que quebrava meu galho, mas não fazia compartilhamento com o Blogger, logo tive que dar uma pesquisada para isso. 

Mas como funfa o processo criativo aqui?

Bem simples: a ideia vem, tenho que escrever. Quando não dá, eu remoo o trem até conseguir escrever, mas sempre deixando pistas em tópicos ou links com outras coisas.
(Peço desculpas para quem acha que pego o celular do nada, é pra anotar ideias. Meu cérebro não é expansível)

Com o rascunho rude feito, quando tou dentro do busão dá para ir desenvolvendo parágrafos. E ali é um ambiente perfeito porque tem muito barulho e eu só me concentro bem com o caos ao meu redor. (Por isso odeio fazer provas, ou peço pra usar os fones de ouvido ou acabo me dando mal por perder a concentração.)

Para os Contos é mais fácil, matuto muitas possibilidades de estórias durante o dia inteiro, logo colocar anotado fica mais fácil - mas eles me dão trabalho em desenvolver o final, tenho essa tendência besta de começar a narrativa e não terminar ¬¬''. O tempo de escrever um conto completo é de poucas horas, mais do 4 horas pra mim é pedir arrego. Ter trilha sonora de fundo sempre ajuda também, pois como o cérebro aqui é movido a música, o andamento do enredo vai conforme o que tou ouvindo.

Para ouvir algumas playlists que já fiz para alguns cenários que escrevo, aqui nos links abaixo:

Procuro assistir diversas coisas que me ajudem a montar um enredo, logo se um filme/seriado é ruim de doer (Liga Extraordinário sic) é porque não consegui de jeito algum tirar qualquer coisa ali daquela narrativa para a minha. Deus já disse que todo artista é canibal e todo poeta é ladrão, logo...
(FFS fui obrigade a resgatar algo la´do fundo do baú, meu perfil no NYAH!Fanficion)

Para os pensamentos soltos que é a maioria desse blog são essas ideias que preciso anotar na hora senão perco. Já me deram a ideia de gravar em voz, mas aprendi desde 2007 que tenho aversão a ouvir minha voz, pois acho que é alienígena (Yep yep, issues, lots of issues...). Não demora muito tempo escrevendo não, só de editar no PC.

Já para o Bibliotequices é que tem sido o desafio mais delicioso de se cumprir quase semanalmente. Porque SEMPRE tem algo para discutir nessa profissão onde fui me enfiar, tem muito absurdo e muito acerto e muita nonsense e cês sabem que vivo por esses momentos de pura falta de noção do serumaninho. A preparação pro Bibliotequices me exige mais tempo e mais pesquisa também. O rascunho bruto é dentro do busão mesmo, às vezes acabei de sair da aula/estágio e já começo a rascunhar algo no Evernote. O assunto tem que estar bem fresco na cuca, senão esqueço, e cês sabem o que a nossa mente faz quando esquecemos nacos de experimentações da realidade né?
(Oh mesmo? Parte de qualquer coisa que escrevemos é ficção?! Como é que cê tem certeza que está respirando oxigênio nesse mesmo instante, bateria para as máquinas?!)

O que mais me incomoda no Bibliotequices é a parte em que preciso estar em casa, no PC, com diversas abas abertas e catando fontes que corroborem o que tou escrevendo, mesmo que seja a bobagem-mor e opinião própria sobre determinado assunto. Na minha área é conhecida a ação dum bando de advogado de regras que adora apontar os nossos deslizes como pecados mortais e como não me sinto inclinade a tr0llar com esse povo sendo, bem... tr0ll de internet, prefiro usar da tática de Pernalonga e a luvinha.


Para cada postagem no Bibliotequices demora cerca de 1 dia e meio ou mais conforme a pesquisa a ser feita. Como sei que nunca vão me pagar para escrever esse tipo de conteúdo em sites consagrados, perco meu tempo mesmo com gosto e certo prazer sádico em fritar meus neurônios com isso. Para escrivinhar com mais segurança, aprendi a usar eufemismo, além do mais, usar figuras de linguagem sempre é divertido para sentidos ambíguos, faz as pessoas pensarem, questionarem, não apenas lendo passivamente (O que é impossível, tio Saussure!).

Mas produzo assim fora daqui?
Não.

Porque não gosto de escrita técnica, mesmo sendo obrigade a produzir nesse estilo.
Fiquei meio desleixade com esse tipo de produção por estar sempre em contato, há poucos blogs que vejo (Maioria Tumblrs) que tem uma escrita menos preocupada com cliques, likes, comentários. E como não vejo gente da área produzindo coisas do tipo que escapem da mesmice acadêmica, resolvo escrever esses textões.

E é isso.
Pra esse post aqui demorei cerca de 1h e 43 minutos com as pausas para apaziguar briga de gatos, prestar atenção na máquina de lavar e uma crise nostalgia de 2009 ao achar meu perfil do Nyah!Fanfiction ainda intacto xD

Ah! E uso o artifício de programar os posts para 03:00 da manhã por 2 razões principais: o IFTTT (app de compartilhamento que uso para redes sociais) dá uns piripacos e tem um delay de 2h a 3h, logo no Facebook é possível aparecer postagem entre às 5h e 6h da manhã, mas vai ser a primeira coisa a aparecer. E também por ter sido escandalizade por uma professora de Literatura que afirmava que a maioria das pessoas em hospital morria após às 3h da manhã. Talvez seja ali, simbolicamente, a morte do meu eu-lírico. Tem a opção que talvez eu queira que ninguém leia o que tou escrevendo aqui, logo essa hora absurda. Mas aí é algo que deixo baixo...

18 agosto 2017

[conto] conversações no meio da noite


Título: conversações no meio da noite (por BRMorgan)
Cenário: Original/Cotidiano.
Classificação: PG-13.
Tamanho: 1.118 palavras.
Status: Incompleta.
Personagens:
Resumo:

O mesmo horário na madrugada, mesmo toque. Mesmo gesto mecânico de quem atende no involuntário. Mesmo silêncio do outro lado da linha. Mesmo arfar.
Desliga.
Nos dias em que esquecia de colocar o celular no silencioso, acontecia a rotina da está ligação, número privado, sem ID, o silêncio, a mínima troca de palavras.

- Alô? Quem é?

O clique de desliga, o sono interrompido. Não sabia porque acordava mesmo assim. Força de hábito.
Em uma noite realmente estressante, mente ocupada com milhares de ideias e nenhuma das mãos hábeis para realizar o difícil esmero de escrever. O celular vibrou insistentemente em intervalos pausados. Esperou.

Talvez o outro lado desistisse dessa besteira.

Mais algumas tentativas, o raso lago onde sua paciência nadava, a quentura subindo pelas orelhas, as mãos trêmulas ao pegar o celular e atender de supetão:

- Hey, quer parar de ligar que tou no meio de uma coisa aqui? - O mesmo arfar, a impressão pegajosa que poderia estar travando diálogo com desconhecido pervertido. Logo a ideia subiu, assim como sua raiva pela tecnologia maldita: - Já que cê tá aí: Onde é que escondo o cadáver? Não cabe no meu porta-malas, sabe?

O silêncio que reinou beirou ao desesperador. Talvez alguém tenha se assustado no decorrer dos 3 segundos. Uma voz conhecida em tom baixo e apavorado deu o mistério por completo.

- E-eu só queria saber se você estava dormindo direito...?

Toda a vergonha do mundo trancou sua garganta, não não não não podia ser!! Todo mundo menos essa pessoa!! Não era justo, universo!! Tanta gente pra ligar e justamente...

- Eeeeeeentão, eu tava brincando, hehehehehehehe é que recebo ligação chata todas as noites a essa hora... Aí... 
- D-desculpa, era eu... Você disse que estava com problemas pra dormir e... 
- Falei isso no começo do semestre... 
- Eu sei! E... E não tá dormindo! 
- Porque você tá me ligando! É você mesmo me ligando? 
- Por que você esconderia um cadáver em um porta-malas? 
- Eu nem tenho carro! 
- Mas é horroroso falar assim, ainda mais no telefone! E se eu fosse policial? 
- Bem, com certeza estaria metendo pé na minha porta agora, mas não vem ao caso! Por que tá me ligando a essa hora? 
- Porque... Porque... Porque... - silêncio novamente, estava se acostumando com essa dinâmica de conversa. - Você tá conseguindo fazer suas coisas? Não caiu no sono em... 
- Não, não, tá tranquilo agora... Aliás, obrigada pela dica do exercício. Dá um up quando vejo que... 
- E-eu vou desligar, você deveria estar dormindo e vou parar de ligar, então... 
- Então era você ligando?! 
- Por que falar sobre um cadáver no porta-malas?! 
- Você não me deu outra opção! Queria que eu falasse o quê?! Que terminei o serviço, só falta limpar a cena do crime? 
- Não fala essas coisas... 
- Que tenho que esperar o cimento secar? 
- Oi?! Cimento? 
- Cê nunca viu filme de mafioso não? Sapatos de cimento? 
- Isso é tão anos 30...
- Ooooooh mas era legal os esquemas, viu? Nem gastava muito e... 
- Vamos combinar uma coisa? 
- Depende, você vai parar de ligar no meio da noite pra saber se eu tou dormindo? 
- Tá, não foi a melhor ideia que tive esses dias... 
- 17 dias pra ser exato. 
- Aaaaaaaaaaw você contou os dias...? 
- Tá me zoando?! Você me acordou por 17 dias seguidos! Me acordou de um ótimo sono! 
- Então não ligo mais... Bom saber que você tá dormindo e permanecendo na cama. 
- Tou altamente confusa agora... 
- Com o quê?! 
- Primeiro você me liga pra me acordar pra saber se eu tou dormindo, me zoa por conta de eu ter contado os dias e agora... 
- Eu só sinto falta de ouvir sua voz, é isso. 
- Oh! 
- É... - O silêncio esmagador vai mastigando todas as arestas entre um arfar e outro. 
- Cê tava chorando quando me ligava? 
-... talvez? 
- Porque parecia outra coisa. 
- Como você é perver... 
- Olá?! Não sou eu ligando com número privado de madrugada pra... 
- Como tá suas notas? 
- Razoavelmente desesperadoras. Nada que eu não consiga dar um jeito... 
- Então, queria falar isso contigo... 
- Cê vai mesmo entrar nessa conversa a essa hora da manhã? 
- A gente tá acordada mesmo... 


Deixou seu corpo cair no colchão mole da cama improvisada e enterrar o rosto no travesseiro, grunhiu por conta da situação maluca em que se encontrava. 

- São quantas horas aí? 
- É cedo... 
- Tipo, cedo, cedo o quê? 
- Acabou de dar o sinal pro primeiro intervalo aqui... 
- Oh trem bão. Tá gostando daí? 
- É... Mais ou menos... 
- Mais pra mais ou menas pro menas hahahahahahaha 
- Muito engraçado, muito mesmo... 
- Vandalizar a gramática, é nóis... 
- Você acabou de me lembrar o porquê eu não estar mais contigo... 
- É por conta do meu fascinante modo de assassinar a língua materna? Adoro o perigo, mooooona... 

A troca de risadas deixou o clima menos árido, as gargalhadas faziam parte da rotina entre as duas, não mais.
- Então cê tá com saudades de mim. 
- Não, não estou. 
- Essa não é uma pergunta retórica, é constatação. 
- Terei que discordar de... 
- Sabe quantas horas são aqui? 3:27. Quem liga pra alguém a essa hora se não for pra dizer que tá com saudades? 
- Ou que matou alguém e não sabe onde esconder o cadáver...? 
- Na próxima invento algo assim bem mais macabro... 
- Vai ter próxima? 
- Se você quiser... Tem. - mordiscou o lábio inferior já machucado pela aflição das últimas provas. - Você quer? 
- Apenas não atenda mais o telefone dizendo que matou alguém, é horrível... 
- Eu lá tenho naipe de matar alguém? 
- Você quase me matou... 
- Tá, naquela vez foi acidental e eu não sabia que você tinha alergia a Dipirona! A culpa não foi minha... 
- Promete que vai estudar mais? 
- Tou fazendo o máximo que posso. Cê sabe como funciono...
- Tenta dormir mais cedo, coloca sachê de erva doce debaixo do travesseiro, ajuda... 
- Você segue os conselhos que dá? 
-... Não... 
- Viu? 
- Senão nem teria aceito essa bolsa pra cá e estaria aí contigo... 
- Okaaaaay, conversa indo para um lugar onde eu não sei ir... Podemos trocar de... 
- Só quero que você seja feliz, mais do que tudo... 
- Vou conseguir se você não me acordar toda madrugada ligando... 
- Você não ligava pra isso antes, quando estávamos... 
- É, é, situação diferente, tá? Cê gosta de mudar de...