(Porque eu sei que vou voltar daqui alguns anos e desconfiar de onde veio o padrão...)
SuperCorp trash, presente aqui!
Como é estar nesse calor da powha, sofrendo de intoxicação alimentar há 6 dias?
Uma aventura.
Primeiro porque há responsabilidades e ofícios que preciso deixar em segundo plano, pois o meu aparelho digestório parece não concordar com o fato de que posso ingerir comida. Na verdade ele até deixa, mas me faz pular de onde estou para correr pro banheiro.
Segundamente há os gatos. Enquanto Zé Bunito se mantém fresquinho e bem alimentado lá na varanda, fazendo poucas aparições na sala, dona Bete Balanço virou um grude incompreensível de tanta fofurice. Se estou passando mal de dor, ela pula no meu umbigo, se tou tendo crise aguda e voando pro banheiro, ela não liga se a atropelo no caminho. Está sendo uma experiência cativante.
Aí vamos aos downsides. Eu preciso trabalhar e voltar pra rotina, não posso. Eu quero comer coisas gostosas de novo, não posso. Tendo pavor de ficar na minha cama por longos períodos de tempo? Óbvio! 17 dias de tornozelo ferrado me deram uma boa ideia de que nutrir amor pela cama pode se transformar em um pesadelo quando não se pode sair dela.
(boa ideia para plot de terror...)
E há a situação incômoda de alternância de líquidos: soro, chá preto, suco de goiaba, água muita água. Não tá ajudando. Pra piorar, parece que o volume de marcações no meu nome no Facebook e Instagram que incluem desconto, sorteio, amostragem de comida pornograficamente awesome vem aumentando. Isso não é legal, isso é minha ideia pessoal de castigo pós-moderno. Isso e ficar de cama.
Em 6 dias de contemplação de minha existência ínfima nos esquemas do universo, deu para se notar:
1) são 101 azulejos inteiros dentro do meu banheiro, o que coincide com o número do meu apartamento. Uma boa coisa.
2) foram 6 dias de pedir arrego (literalmente) e perdi 2,5kg. Não é uma coisa boa.
3) maratona de Supergirl sei lá porquê (sim, eu sei, Katie McGrath!), pra emendar com Merlin da BBC (Malhação Medieval) - veredito: esperando os próximos episódios de SG, não me empolguei com Merlin.
4) a escolha de quitutes para comer!! Muita calma nessa fucking hora!! Nada com laticínios, nada com fritura, nada com muitos açúcares, preferência para coisas que hidratam. Sinceramente, já me sinto no purgatório.
5) se completar 7 dias, é porque perdi a aposta com a Samara Morgan, minha maninha dark imaginária que só as piadas internas entre Trentonildo, tio Mary e Evil D podem decifrar.
6) as crises agudas são de madrugada, logo adivinha quem está no regime de cochilos de 20-30 minutos? Adivinha qual cérebro já fritou no 2° dia ao ter os esqueminhas de vigília bagunçado? Olha só como estou feliz em não dormir direito?
Para ficar melhor, os servidores municipais de greve (e dou toda razão e apoio a todos!), logo os postos não estão funcionando como esperado. Tentei não deixar o lado hipocondríaco dar o ar das graças e só googlei sobre como fazer soro caseiro e manter repouso em crises de dor. É bem provável que essa *bleeeeep* toda se vá da mesma forma que costuma ir, pro vaso, depois descarga. Agora que dia que acaba, eu não sei mais. Tava otimista ontem, e hoje de madrugada senti as dores voltarem. É a fucking vida tirando os limões.
Tive uma dessas em 2011, longe de casa, na ocasião descobri a minha alergia a bacon de forma nada agradável. Vamos ver se agora o corpo vai dizer: "nope nope nope fucking nope!" pra alguma coisa, tá entre miojo, queijo canastra e molho de pimenta. Purgatório? Aqui estou.
Post sem gifs ululantes ou piadinhas sem graça, tou aqui na cama tentando me manter zen pra não entrar em modo rage berserker que me acomete quando estou incapacitada de alguma coisa.
Notícias dadas, soro tomado e metade de um dramin ingerido. Hora de voltar a bater cartão com patrão Morfeu.
Lado bom e ruim de chegar num ponto da vida que nada mais te surpreende:
Lado bom = evita muita fadiga e perda de tempo.
Lado ruim = nada mais te surpreende mesmo.
É só aceitar o Caos e seguir o fluxo.
Em Hackers (1994) parecia ser tão fácil #SqN |
Tem umas coisinhas que é bom manter um nível de respeitabilidade e tolerância, mesmo que não concorde. Desapegar de termos foi um dos desafios que mais me deram nó na cabeça nessa vida de escriba.
Então chuchuzinhos, mesmo que não concordem com os termos usados por um grupo específico ou ideologias ou até a questão do ponto de vista de realidades e vivências de outras pessoas, tudo bem, vocês têm todo direito de se expressarem sobre isso.
Mas apenas informando que isso não vai mudar as coisas assim no ato. Ler postagens sobre discussão de termos e conceitos e tudo ali envolvido e chegar a conclusão que nem as minorias são inclusivas (E esquece o papo de solidariedade aqui, Internet é um lugar essencialmente anarquico), as pessoas não são tolerantes e muito menos pode haver algum tipo de diálogo com quem não quer/sabe ouvir.
Humanos amam categorizar, fazemos isso o tempo todo, é uma forma estranha de se classificar quem, o que e porque as coisas são coisas, as pessoas são pessoas e todo status quo.
E a porra do status quo sabe como oprimir mais que criar entendimento.
Quando entendi logicamente que me enquadrava em um perfil de pessoa que chamam de não-binarie (Ou seja, alguém que não se compreende categorizada como feminino ou masculino, mas apenas sendo um pessoa) não foi idealismo universitário que me definiu assim. O termo sim, o enquadramento não.
E isso me deixa um bocado alerta com postagens da galera que entende bem o que é estar nesse enquadramento ou que entende que o status quo é que determina toda essa casca assimilada que tentamos mostrar pro mundo todos os dias. Se fala de corpo, de psicológico, de conceitos de gênero e anatomia, sexualidade, padrões hetero-homonormativos, de desconstrução, de reconstrução de corpos, de teorias genderqueer, de espectros e categorias dentro do ser transgênero (E aí fica mais e mais complicado de NÃO aplicar os conceitos já prontos do status quo heteronormativo, do dominador, da maioria, do socialmente aceito), nas vivências e socializações desde a infância até o ponto em que estamos. Me deixa alerta, porque leio muita babaquice, mas de babaquice estou bem acostumada desde que me entendo por gente, pessoa, pedaço de carne, nervos, ossos e fluidos que perambula por esse mundo estranho que gosta de categorizar/classificar coisas e pessoas.
Eu tou manjando das babaquices lidas, porque querendo ou não fiz/faço/farei parte desse discurso babaca em algum ponto da minha vida, querendo ou não. O importante nessa reflexão aqui é que tenho ciência de como a denominação de coisas, terminologias, conceitos, ideias e oras, postagens babacas mesmo com roupagem educativa pode causar em uma pessoa, uma realidade, uma experimentação de vivência.
Sei também que tudo é passível de múltiplas interpretações e entendimentos. Sei que se VIVER tal coisa é diferente de TEORIZAR tal coisa. Ser é diferente do estar. O separar disso também entra na forma que o status quo manda compulsóriamente pra gente fazer pra não dar tilt na cabeça. Creio que a maioria das pessoas tenha um carinho enorme por sua própria Sanidade, desafiar o status quo traz mais prejuízos que acertos.
E ler as postagens babacas (E digo aqui, nessa posição onde me encontro agora como pessoa não-binarie, ou seja lá qual termo decidam inventar para o que eu sou, não o que estou) me faz refletir até que ponto posso continuar lendo esses discursos que trazem a repressão e a contenção social que me sufoca todos os dias.
Como ninguém pode viver numa bolha blindada para não ouvir/ler/falar os discursos que podem ou não ferrar com a cabeça e as convicções que uma outra pessoa tem, o jeito é respeitar e tolerar. Não me custa nada, sinceramente.
Se o status quo ordena que haja contra ataque quando leio algo que me ofende no padrão da minha vivência (não-binarie, branca, classe média, universitária), a melhor forma de se rebelar contra esse sistema é quebrar o ciclo vicioso. Pra que entrar em discussão, se há uma marca textual discursiva clara de que a pessoa do outro lado não quer ouvir?
(Só me incomoda quando vem em forma de xingamento, não precisa xingar a mãe ou mandar bebericar em algum orifício presente na anatomia humana pra validar argumento)
É aí que pode-se inferir: não importa a militância que sigamos, as ideias, conceitos, termos, toda essa parafernalia que o status quo aprontou em milênios de convívio humano = todos somos excludentes, todos praticaremos algum ato de pura babaquice para mostrar ao mundo exterior que somos passíveis de validação.
Porque é na validação de quem sou é que estou, certo? Nossa sociedade vive inteirinha no modo cartesiano "Penso, logo existo" daquele zezinho da matemática.
(opinião pessoal: Descartes também era bem babaca, assim como todos nós. Ele só foi mais reconhecido por TEORIZAR sua babaquice em público e ser aceito pelo status quo como normativa)
Essa chatice de textão é pra me lembrar e também para quem precisa, de que você ou eu não somos obrigados a nos definirmos conforme a normativa. Mas se quiser, tudo bem, não é algo catastrófico concordar com os acordos tácitos de convívio aqui nesse plano material que estamos perambulando. Não há problema algum.
Inclusive vou ter respeito e tolerância com as postagens babacas, com os comentários beirando ao catastrófico quadro de fobia e também a agressividade já tão presente em discursos de diversas manifestações linguísticas por parte das pessoas. Esse próprio texto aqui já tá desdenhando de quem não tem ideia do que seja os conceitos e palavras que mencionei. Eu possa estar sendo babaca pra quem não concorda comigo. Infelizmente a linguagem é a arma mais eficaz e poderosa que o ser humano teve a capacidade de aperfeiçoar para controle social, dominação e retenção de vivências.
Acostume-se com isso, é inevitável.
Não quer dizer que eu vá parar de tentar hacker a linguagem e me apropriar daquilo que é meu, minha identidade, minha particularidade, minha vivência, minha realidade, minha alteridade (E usar muito pronome possessivo é algo que não me sinto confortável, assim como ler que travesti não pode/deve ser não-binarie por trocentos motivos que se peneirar cai justamente na caixinha de categorização, dominação, repressão, eliminação). E de quebra ajudar quem precisa de uma orientação mais de boas sem cair na babaquice.
2017 tá aí, bora ser um pouquinho mais compreensivos?
Eu já tou sendo demais ao ler postagem babaca atacando o direito de se expressar e se representar das pessoas lindas que interajo aqui nessas interwebs. Tá foda ver isso transpor pra fora do ambiente virtual quando os tempos pedem por mais tolerância e empatia.
Conversem uns com os outros, ouçam, dialoguem, tenham ciência na cabeça e no coração que o pedaço de carne, nervos e ossos perto de você tem o mesmo sistema de funcionamento que o seu (emoções, sentimentos, ideias, modos de ver a realidade, tudo isso), só não seja babaca.
Tá aí uma boa resolução de ano novo: ser menos babaca com as pessoas que não concordam com nossas opiniões. Parece algo louvável que o status quo aprovaria né?
Afinal, estamos todos amarrados na mesma coleira.
(e se você ainda não se atentou disso, sortudo você é!)
Minha reação exata ao fazer pesquisa exaustiva e o resultado vir de um jeito que eu não esperava ter visto |
Sabe o Grande Irmão? 1984 me ensinou tantas coisas, gente! |