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17 fevereiro 2016

[interlúdio] "cheguemo"

Créditos: ZaidoIgres
O agradecimento especial de hoje vai para essa senhorinha ao meu lado na viagem de volta do estágio para casa, em um calor infernal básico de verão florianopolitano, busão lotado, gente falando à beça e um turbilhão de coisas fervendo na minha cabeça desde cedo.

Já havia percebido nela dentro do terminal, quando ela entrou com algumas sacolas, um exame de raio-x (dava para ver a "chapa"), um sorvete colorido de casquinha segurado em uma mão de um braço imobilizado por taça de gesso. Ela parecia estar satisfeita com a vida, perdidinha em seu mundinho de sacolas ao sentar, pedir desculpas quando uma dessas bateu no meu joelho e ir sorvendo o sorvete com uma vontade linda de se ver. Ao que vi - e pelos grunhidos que ouvi durante a viagem - o tréco era no pulso, ela evitava de fazer muitos movimentos com a mão diretamente, mas o cotovelo direito estava a me acertar às vezes em uma virada mais acentuada no trajeto.

Assim como eu, ela caiu num sono ferrado após uns 10 minutos de viagem, sorvete já devorado, sacolas bem presas no chão entre as pernas, óculos de armação grossa pendendo no nariz e um leve ressonar de quem está cansadinha, mas precisa de um cochilo.

Das duas vezes que acordei durante a viagem para ver onde estava, a olhei. Olhei para o braço maculado, olhei para a janela e vi a paisagem, mas na verdade eu tava fazendo de tudo pra não ter um ataque escalafobético (Que me acomete sempre em lugares inapropriados para choradeira excessiva e vontade de simplesmente desistir de tudo) motivado por um iníciozinho de depressão já prevista. Enquanto a porrada me vem aos poucos - leves soquinhos no baço assim que chego em casa - aprecio ter esses momentos estranhos com completos estranhos.

A segunda vez que acordei - e sempre é o timing pra estar perto do terminal final do busão - olhei para os lados, a vi ainda no sono, cutuquei-a de leve, informei que havíamos chegado no terminal, não costumo esperar resposta. Os sonolentos de ônibus são meus favoritos, pois eles têm essa doçura de acordar sem espernear e da um leve sorriso - não sei de embaraço ou de agradecimento.
(BTW, sempre faça isso quando ver alguém dormindo ainda dentro do ônibus. Não deixe o cobrador fazer isso quando estiver revistando os bancos e perceber na única pessoa que ficou para trás. Seja gentil e acorde uma pessoa no busão, ela vai te agradecer muito depois.)

Ela apenas sorriu, do mesmo jeito que todo mundo, eu de fone de ouvido continuei, o costumeiro é não receber respostas. Mas aí ela me fala um: "Cheguemo", recolheu as sacolas do chão com o braço bom e levantou devagar para pegar a fila que estava na porta detrás. O meu mundinho - que não estava muito bem e já desabando por inúmeros motivos estúpidos - parou ao ouvir o singelo "cheguemo". Foi como ouvir algo mais, sei lá, mas o "cheguemo" fez diferença.

Então, você, velhinha que sentou ao meu lado no busão, o teu "cheguemo" me fez aguentar mais 40 minutos com outro busão e chegar em casa e chorar tudo que tinha que chorar de forma honrosa e silenciosa. Obrigada.

11 fevereiro 2016

os viajantes do conhecimento

Arte de Otto Arantes no Deviantart: Eshu, Changeling
Atrás do balcão de uma biblioteca pode-se ter uma experiência incrível em observar o mundo de uma maneira mais crua que o de costume. Quem está ali atendendo (E gosta de observar) percebe que há diferentes formas de vida circulando pelas imediações, em seus próprios mundinhos, afazeres e realidades constantes. Uma microscópicas, outras só notadas em equações da física quântica, mas outras bem perceptíveis.

Como foi apelidado por uma das meninas da Biblio, os viajantes do conhecimento são um caso à parte.

Reconhecemos eles logo de cara.
Brotam do nada, abrindo a porta da biblioteca, saindo atrás de uma estante, levantando de uma mesa, caindo do céu como quem não quer nada. Costumam estar em roupas simples, chinelos ou tênis surrado, rosto meio detonado do sol e pelo tempo, exalam vigor, astúcia e falam bastante. 

E como falam.

A aparição deles em bibliotecas é rara, ocasionando um atraso nas práticas biblioteconomistas, mas um avanço quase ilegal no processo de amadurecimento espiritual.
Eles falam de tudo, absolutamente tudo, desde o início do Cosmos, a poeira estelar que nos molda em carne e osso, os mistérios entre as entrelinhas, as linhas que traçam os livros, as traças que comem os livros, os dissecadores de livros até chegar em alguma teoria caótica de vida, seja ela saudável, filosofável, palpável ou alternativa.

Essas pessoas não tem raízes ou ao menos se importam em fazer algo sobre isso.

São pessoas que necessitam falar de alguma maneira, com seus pés ansiosos, mãos gesticulando seus discursos infindáveis de pura sabedoria e experiência pragmatista até a hora do expediente acabar, ou deles atrasarem para seus compromissos.

Como bibliotecária de referência que pretendo ser, um viajante do conhecimento é um prato cheio de links, ligações, acordoamentos e nós em toda a teia de conhecimento que prezo em manter acionada a todo instante. Eles dão dicas, jogam desafios, iniciam charadas, trazem o novo no velho e o velho no novo para percebemos que tudo é uma coisa só. E é. Tudo é tudo, é mais perceptível quando eles estão por perto. 

Por mais que o diálogo possa ser aberto e agradável, é impossível fazer uma retrospectiva semântica (Descobri que tenho esse pequeno probleminha de revisitar tópicos de assuntos mentalmente para não perder o fio da meada) de tudo que eles abordam em uma conversa, e pode esquecer qualquer linearidade. Eles não possuem alguma no gingado, na fala e na mente.

Essas pessoas são fora da casinha.
Elas não tem casinha.
Elas não consideram a casinha, uma casinha.
Para elas a casinha nem existe. 
E quanto menos a casinha existir melhor, porque se a casinha não existe, não há limites para o estar fora dela.

Assim como os notórios Eshus de Changeling - o Sonhar - esses viajantes do conhecimento passam pelas nossas vidas, deixam a peça de sabedoria e simplesmente desaparecem assim como apareceram. Em um passe de mágica, um respirar fundo, uma piscadela, e eles somem.

Não é à toa que o cenário de RPG que me cativa mais a escrever estórias seja uma referência para eu tentar entender essas criaturas peculiares quando surgem aqui na biblioteca (Mesmo sendo escolar! Eles aparecem, brotam do chão mesmo!). A Maria Maricotinha Ângela, minha personagem cutch-cutch do coração é uma Eshu com um destino macabro no passado, mas tem esse dom de aparecer nos lugares mais inusitados possíveis para dispersar informação e renovar energias.
(E ahem, de certa forma essa característica é emprestada da fonte primária desses personagens, o orixá Exú da mitologia Iorubá tem as mesmas "propriedades")

O que fazer nessas ocasiões?
Tudo bem atrasar um dia todo de tarefas para escutar esses seres criativos e improvisadores - lembram-me os bardos e storytellers medievais que caminhavam à esmo por aí, de taverna em taverna, cantando e contando sobre o mundo exterior para dar notícias aos que viviam em suas casinhas - tudo bem ganhar olhar feio do chefe por não cumprir a meta do dia, tudo bem mesmo não atender telefone, não responder email, etc. A oportunidade é única, os viajantes do conhecimento são raros.

Aproveitem bem quando eles aparecerem. Façam perguntas, ouçam com atenção, tenham cuidado em seus julgamentos, apenas entendam que eles estão ali para compartilhar conhecimento e informação e nada mais que isso. Se vão assim como chegam, puft! E se vão...

09 fevereiro 2016

[video] Clocks por Coldplay

Acordei do Carnaval com essa música na cabeça. 2 dias inteiros de intensa experiência com o ser humano em estado eufórico dos foliões abençoados por Loki, creio que ter uma pausa para o cérebro para depois cair uma ficha básica de normalidade faz bem pra essa escriba que vos narra.


Essa música em especial me chamou atenção - além de estar grudada na minha cabeça - por conta da letra e o andamento. Não é uma das minhas favoritas do Coldplay (E não escuto eles por motivos, because...), mas o negócio de se movimentar quando ela começa a tocar é essencial para acordar as ideias.

The lights go out and I can't be saved
Tides that I tried to swim against
Have brought me down upon my knees
Oh I beg, I beg and plead, singing

Come out of things unsaid
Shoot an apple off my head and a
Trouble that can't be named
A tiger's waiting to be tamed, singing

You are

Confusion never stops
Closing walls and ticking clocks
Gonna come back and take you home
I could not stop that you now know, singing

Come out upon my seas
Cursed missed opportunities
Am I a part of the cure?
Or am I part of the disease? Singing

You are, you are, you are
And nothing else compares
You are

Home, home where I wanted to go


04 fevereiro 2016

FYI

I still miss you dearly every fucking day and I kind hate to feel it when my heart just sinks into my belly of thinking of you. I still miss you even of all these years
posted from Bloggeroid

31 janeiro 2016

quede a paciência com matéria prima do chocolate?

Certa vez já me falaram que quem questiona demais a vida morre mais cedo - a preocupação, o estresse, a frustração, a infinitude de mais perguntas a serem feitas, o medo de não ser compreendido no processo, a rejeição - e quando se é mulher essa premissa já é de berço com aquela pitadinha gostosa de "meninas não podem fazer tantas perguntas porque não é educado."

O nosso sistema de ensino é virado para isso de certa forma, normatizando o que aprendemos nas escolas e quais perguntas devem ser feitas. Devido a isso, meu destino parece ser fadado a famosa música do The Who em que prefiro morrer antes de ficar véia, irei continuar a questionar tudo que acontece na minha vida de escriba.

O comichão científico veio com tudo essa semana com a seguinte coluna de famoso comentarista florianopolitano que tem a chata mania de dar pitaco em assuntos sem necessariamente pesquisar mais a fundo. E assuntos polêmicos é com ele mesmo! A quantidade de pessoas que relevam a o opinião do dito jornalista é admirável, mas assim como qualquer pessoa que mantém um nível alto de glamour no ambiente, ele acaba delirando às vezes.

Não que ele seja um Changeling, mas se fosse ia trazer um puta dum Choque de Retorno nas minhas fucas.

O jornalista com pseudônimo de matéria-prima de choclate posta esse pequeno texto, enfatizando o desgosto por ver obra tão conhecida e palavras dele "reconhecida como valor de status" direcionada a 20 tomos da Enciclopédia Barsa deixadas em um local de despejo para o descarte para o reciclável.


Gente, não deu.Tive que escrever um comentário enorme naquela coluna do senhor de opiniões deveras sem noção sobre...


Embaixo do link, a resposta TL;DR; algumas considerações e mais implicações sobre o caso.

posted from Bloggeroid


18 janeiro 2016

os embalos da adolescência nos anos 90

Voltando a fazer a listinha das 20 coisas para se escrever quando estiver em um bloqueio de escrita e adivinham o que apareceu nos itens que não havia feito ainda?

Write about the highlights of your adolescence.
Escreva sobre os altos de sua adolescência.

Aumenta o som aí que o pop-trash-anos 90 vai começar a tocar!!



Se você é criada em uma cidade que é um ovo, com uma cultura extremamente tradicionalista, recheada de preconceitos, cobertura de família de roça com direito a coronelismo, pode ter certeza que vai ser uma pessoa revoltada com o sistema vigente de alguma maneira.
(Yoooooooooooo feck dah system!!)

A cidade era Betinópolis, região metropolitana de Belzonte em General Chicks, o ano era 1995 e tudo mudou quando fui morar nesse vilarejo-brejeiro durante 17 anos de minha vida. Passar o resto da infância, pré-adolescência, adolescência hardcore e começo da adultice foi como um pesadelo bem longo e refinado de coisas interessantes. Minha capacidade de tolerância com cidades pequenas foi pro brejo (Com a vaquinha e o mato sem cachorro) ao viver tanto tempo por lá.

Maaaaaaaaaaaaaaaaaas a minha adolescência foi um tanto habitada por muitas coisas boas e ruins. Só vou falar das tosqueiras aqui na postagem.

Debaixo do link: música dos anos 90, muita coisa tosca, muita frustração, hormônios dentro do armário aaaaaaaand coisas estranhas acontecendo.

14 janeiro 2016

sonhos estranhos com detalhes - Sandman de recorde

Então.
Sou estagiária vitalícia do Senhor do Sono. Cês já devem saber disso faz tempo - se não, hey! Sim, tenho um contrato permanente com a entidade e dormir facilmente é algo que faz parte da minha vida de escriba - então qual há eventos especiais lá na Morada dele, há sonhos estranhos com detalhes.

Creio que os 6 dias de sonhos envolvendo pessoas que não gostaria de ver deve ser uma demonstração básica do poder chatinho dele de dizer que preciso voltar a lavar a louça ou limpar o lustre antes das raves que ele dá por lá no Sonho. Não que eu seja uma funcionária preguiçosa, até sou dedicada, o problema é que se pudesse eu dormiria o mínimo pedido no curriculo - tipo de 4 ou 5 créditos, sabe? - e ocuparia o resto do meu dia com algo produtivo (Como escrever por exemplo!). Aí ele coloca uma cereja no topo dos sonhos esquisitos com o enredo horroroso relatado abaixo de sua contraparte revisitada nos quadrinhos.

Uma coisa que percebi também: se o sonho é felizinho e cutch-cutch só vou lembrar pedaços, se o sonho é uber-creepy e cheio de bizarrice vou lembrar fielmente cada detalhe. #PowhaMorfeu!

Tudo começa com uma notícia sobre certa emissora de televisão que costuma fazer adaptações épicas de livros bíblicos para novelas com mais de 200 capítulos. Com esse background fantástico da certa emissora de televisão que também é governada por um cara muito esquisito que diz que tem a arca da Aliança de Salomão lá dentro do templo de mais de 680 milhões de reaux, a notícia era que os direitos de adaptação para TV de Sandman eram da certa emissora que não falaremos o nome..

Okay.

Sim, era o Sandman do Gaiman.



Eu, no sonho, fiquei estática, porque ler a notícia pelo celular pode ser um hoax lindo de seguidores de Loki - mas tenho imunidade para spells desse tipo, sorry bros! - então deixei para lá. Deveria ser um simples fato que aconteceu dentro de sonho que eu nem ia prestar atenção depois, SÓ QUE NÃO!

A sequência do sonho foi de como a bendita novela - agora intitulada "Oneiros" - estava sendo televisionada pela certa emissora e como era ruim pra cacete!

Nem eu sei porque estava vendo TV na hora - não era aqui em casa, com certeza - mas só sei que fiz questão de manter meu traseiro grudado na poltrona vendo o diálogo mais tosco possível se desenrolar na telinha. Eu tinha companhia, eram os gatos de um lado me ouvindo ter pseudos-ataques de "WTF ROTEIRISTA?! WTF?!" ou gritando algo aleatório quando via algo realmente absurdo nada a ver com a mitologia grega OU o universo de Sandman. Já a turminha do barulho que estava comigo na poltrona também estava revoltada com a adaptação mal feita. As usual, gente que não lembro ou não vi o rosto, mas revoltados.



O senhor "Oneiros" era o Marcos Palmeira (urrum urrum) com uma maquiagem branca na cara, muito delineador, sombra e talz, os cabelos bagunçados à la Robert Smith, roupa gótica clássica e uma voz de pobre coitado. Era aquela cena inicial clássica do 1º arco em que a maninha Morte vai lá conversar com ele, enquanto estão jogando pãozinho pros pombos e vendo a mulecada jogando bola perto da avenida. A Morte eu não sei quem era, mas estava bem no cosplay (Pena não ser a versão que formei da Muerte no meu subconsciente). O roteiro estava péssimo e não seguia muito bem o que era canon, isso já foi me deu o hint que a zoeira seria épica.

Certo, os pombos, a conversa nada a ver entre os irmãos, o mimimi básico do protagonista (Isso o Palmeiras conseguiu pegar bem) e entãããão a cena do guri indo conversar com a Morte? E depois? Então... "Oneiros" salva o guri... Urrum, o roteirista sem noção dessa adaptação fictícia fez o senhor do Sono virar HERÓI e salvar TODO MUNDO que estava em perigo. Tipo herói em redenção? Com toda a firula de "preciso fazer o bem e ajudar as pessoas" com "Oh como estou sofrendo com essa jornada de herói, porque tenho o peso do mundo nas costas!" - daí pra frente eu já tava grudada em um gato e pedindo pelamooooooooooooooooor pra bendita novela terminar.



Sei que o sonho foi intercalando com os possíveis episódios, muita coisa que não tinha nada a ver com o universo de Sandman tava no meio, muita coisa ficou PG-13 e cenas importantes foram estendidas mais que o necessário. Uma coisa que me deixou particularmente puta foi que cortaram o Coríntio (Pelo jeito, muito hardcore, neaw?) e fizeram o Matthew virar um Diego da vida como o corvo da Malévola. O bicho fazia piadas muito toscas como alívio cômico e os efeitos especiais...? Pois então, virar corvo para homem e vice-versa é uma coisa linda com o baixo orçamento.

Lembro de ter a Biblioteca dos Sonhos - até aí tudo bem, fiquei satisfeita em como haviam retratado essa parte TÃO IMPORTANTE do reino - mas a jornada chata de herói continuava. E véi, de Bowie, sei que terminou um dos capítulos e eu estava com a cara enterrada nas mãos, back and forth, exclamando: "Nooooooooouz nouz nope nope nope!"



E foi assim que o sonho estranho com detalhes continuou, porque patrão não é nada piedoso e me fez rever todos os conceitos que tenho dos quadrinhos do Gaiman após me fazer revisitar a história dessa forma. Assim, não, sabe? Apenas não. Tem um limite pra tudo e adaptar esse trem pra novela brasileira não dá certo, tá? Esquece esse memorando de sonho bem, mas bem escondido lá na biblioteca dos Sonhos.

E que jamais saia de lá!