Cenário: Projeto Feéricos.
Classificação: 16 anos (morte, distorção de convenções morais, violência)
Resumo: Uma estação de metrô abandonada, não afetada pelo tempo, ou talvez sim, há poeira e limo por toda parte, mofo acumulando aqui e ali, mas é impecável o estado de seus ladrilhos, milhares e milhões deles ornando todos os lugares por onde posso deixar meus olhos correrem.
Disclaimer: Não terminei esse, mas já postando, porque gostei da levada do enredo.
Aquele lugar continuava insuportável.
Não me leva a mal, mas tem pouca ventilação aqui, goteira pra tudo quanto é canto e o cheiro é desagradável. Parece um cemitério... Bem... é um cemitério... de locomotivas.
Quando eu tava meio fora do ar, evitava de ficar rondando essas quebrada, metal faz mal pra saúde das fadinhas aqui, valeu? Não quero me meter em enrascada, ser obrigada a sair vazada e tropeçar numa coisa dessas e me cortar. Metal frio dá problema, tipo gangrena, arranca pedaço maior, te mata. Eu não tou pronta pra morrer. Não hoje! Hahahahahahahah, okay, certo, parar de rir tão alto, esse lugar dá eco... Eeeeecooooo...
- Ai! Não precisa me beliscar! - digo pro lazarento do meu lado, óbvio que ter guia aqui embaixo é tipo, pedir pra ser coisa ruim. Desde que encontramos aquela quimera-busão, as coisas aqui embaixo andam, bem... ahn... como dizer? Peculiares.
E pra completar bruxas. Oh ótimo! Como se não fosse o bastante!
- Eu posso te ouvir pensando.
- Grandes coisa, e eu consigo teleportar. Quem ganha nessa? Você? - digo de volta pro guia. Não dá pra saber quem é, nem me importo o que seja, o importante é que firmou os esquemas, desço sem ser ludibriada, na volta damos um jeito. Certo? Belezura.
- Estamos perto.
- Cê falou isso há uns 15 minutos atrás.
- Você pensa demais. Distrai.
- Uai Zé Povinho, trata de manter a telepatia guardada, oras! Que intrometido.
- Sua insolência será registrada no... - sério que isso é uma gravação de voz? Onde raios estamos indo?
- Véi, era alguém nos auto-falantes?
- O que é auto-falante?
- Cê é véi, né véi?
- Hein?
- Esquece. guia aê que o tempo tá acabando. Preciso chegar antes das 6 pra jantar direito. Muita coisa rolando pra amanhã... - dando desculpinha pra fingir uma vidinha normal, essa sou eu. Essa é a minha vidinha. Sozinha, na escuridão, no meio de um túnel cercada de lodo e goteiras, sendo guiada por uma criatura invisível e lamurienta para o meio do nada. O cheiro de metal é forte. Muito.
- Lembre-se que quando chegar até lá, não há volta a não ser pelo viajante de aço.
- Ah tá, arram, senta lá Cláudia.
- Meu nome não é Claudia, é Liriam.
- É um bonito nome! - me surpreendo com a interação. - Whoa Liriam! Cê é tipo aquele povo dos espremidos e talz?
- Nós temos um nome, menina, não precisa ofender. - a voz de gravação de áudio aparece de novo.
- Okay, da onde vem essa voz?!
- É um dos nossos.
- Não é aqueles dentuços não né? - minhas mãos tremem ao lembrar do último encontro com um "deles". Urrum, eles existem, estão no meio de nós. Não deveriam estar, mas hey! Se o Drácula aparecer na minha frente e buzinar três vezes, é óbvio que irei acreditar em vampiros! Nota para a posteridade: vampiros são mortos-vivos e eles machucam pra cacete. Eu e meu cano de ferro que o fale.
- Somos antigos, raça antes nobre, hoje fadada a solidão.
- É triste isso véi, ops Liriam... - eu entro na confissão de terapia de debaixo de metrô. Parece apropriado para o momento. - Cês não encontram mais de vocês pra trocar umas ideias, fazer uns debates, sei lá, jogar pingue-pongue?
- O que é pingue-pongue?
- É um esp... ah esquece... demora muito ainda?
- Mais esse corredor.
- Isso é um corredor? Parece um túnel!
- Menina, não se esqueça que no escuro, você parece maior do que é. O seu verdadeiro eu.
- Oh locutor de meia-tigela! Vai se catar! - odeio quando me vêm com essa de "ser maior", tenho só um e sessenta de altura, pô! Tá tirando com a minha... MINHA NOSSA CENOURA DO CACHORRO RUIVO!! Que p**** é essa?!
- Por favor, não grite. Pode assustar o viajante de aço.
- Como é que vou assustar um vagão de metrô, oh locutor pirado? - eu indago de volta para o nada, mas o nada toma forma.
É imenso. É confinado. É tudo ao mesmo tempo.
Uma estação de metrô abandonada, não afetada pelo tempo, ou talvez sim, há poeira e limo por toda parte, mofo acumulando aqui e ali, mas é impecável o estado de seus ladrilhos, milhares e milhões deles ornando todos os lugares por onde posso deixar meus olhos correrem.
- Aqui é o local. Não posso mais que isso. - diz meu guia com nome bonito, viro-me para o túnel escuro e apenas vejo uma figura alta, esbelta, espremida em uma das paredes do túnel de acesso a essa estação. Não vejo seu rosto direito, há uma cortina grande de cabelos escorridos cobrindo o que parece ser uma face humanóide. Gente boa, Liriam.
- E pra sair?
- Apenas pelo viajante de aço. - disse apenas, sendo engolida pela escuridão.
- Obrigadão Liriam! Cê é jóinha! Passa lá na Raine pra gente tomar um chá... - e vendo que a criatura não iria me ouvir mesmo, eu continuo disfarçando o meu pavor de estar ali. A missão não era nada feliz. - Comer uns biscoitinhos, fazer um tricô, talvez umas miçangas e vender a Arte na praia... Essas coisas... - enquanto caminho percebo nos detalhes dos ladrilhos, tão bem colocados em um imenso mosaico colorido nas paredes, teto e além. O vitral azul acima de minha cabeça mostra as estrelas pálidas. Ufa, pelo menos aqui estou sendo assistida, não dá para me perder.