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13 julho 2020

RPG: múmia: a ressurreição

Artwork by: Igor Kieryluk



O cenário favorito meu no Mundo das Trevas (Storyteller, antiga White Wolf) sempre será Múmia: a Ressurreição. Os verdadeiros Imortais e também os mais angst over9000.
(Tá pensando que viver eternamente trocando de corpo é legal???)

Na quote que ilustra essa figura acima de Jennifer Niven, "All the Bright Places"
Não consigo pensar em algo mais deprimente do que ser um sumo sacerdote egípcio em exibição ao lado de um conjunto de rodas de carroça vintage e uma galinha de duas cabeças.

Múmia: a Ressurreição mexe com muitos temas que a galera ocidental não esteve e nem está preparada para encarar em suas vidas, como o alcançar um conjunto de preceitos e comportamentos morais que possam levar a alguma edificação de si mesmo.

Os personagens de Múmia são um misto de uma alma antiga com a missão única de consertar uma corrupção inerente do ser humano e proteger a Humanidade em um corpo mortal de alma destruída por algum tipo de moléstia do mundo moderno (Capeta-lismo? Acertaram!). É uma dualidade na essência desse novo ser que muitas das consonâncias entre o que era antes e o que se tornou agora não são ajeitadas nunca - e tá aí o papel do jogador de Múmia, ir colocando esses pingos nos "is".

O que é vida eterna? Como as antigas religiões e as atuais enxergam esse conceito? Há vida após a Morte? 

Para quem joga no Mundo das Trevas por anos sabe bem que a Morte é algo trivial e costuma ser o começo de uma outra existência, mas isso em uma ótica ocidental que percebe esse "espaço" da morte como castigo ou redenção. Em Múmia: a ressurreição a pessoa ressuscitada pelo ritual da vida (É galera, não é tão fácil assim se tornar eterno) tem um caminho longo para cumprir sua missão e ela passa longe do que estamos acostumados aqui herdeiros da cultura helênica.

Muito do livro destaca Múmias Egípcias, Sumérias, de povos do Oriente Médio, Asiáticas e uma pequena nota para as de povoados Ameríndios como Incas e Chichorros (Chile), cada uma com sua especificidade, guarda e memória de suas culturas e transição para o mundo moderno.

Temas como adaptação ao mundo moderno, luta contra preconceitos anteriores (Na vida da alma antiga, da vida anterior à Morte da pessoa), a busca pela própria identidade, se livrar de tudo aquilo que atrapalha a missão - as Leis de Maat (Deusa egípcia que personifica a Verdade e a Justiça) - para proteger a Humanidade seja lá do que seja - no Mundo das Trevas tem vampiros, lobisomens, fadas, fantasmas, demônios e gente tipo o Blade e a Buffy, logo é necessário algum ser sobrenatural pra botar essa bagunça cósmica no Equilíbrio.

O que me chamou atenção para esse cenário de RPG que amo tanto?

Transição.

De uma alma antiga para uma moderna, o se adaptar, se acrescentar, se moldar para criar essa nova pessoa disposta a se arriscar para manter um certo Equilíbrio no mundo em que habita.

E porque foi o único jogo que me deu possibilidade de mexer com os papéis de gênero com tanta aproximação a minha realidade.

A seriedade com as culturas antigas orientais também me pegou de jeito, pesquisar intensamente sobre o Egito e todo o panteão de deuses, personalidades e formas de se enxergar a Vida, a Morte e o Pós-Morte foram fundamentais para eu não ter mais parafusos soltos com algumas questões terrenas aqui da vida real.

Recomendado apenas para pessoas acima de 18 anos e com um discernimento de que é um jogo interpretativo e que pode sim levantar reflexões mais profundas - afinal é esse o papel da Literatura e da Ficção, não é meus amores?

Alguns seriados/filmes que encontrei traços dessa proposta do RPG e que recomendo:

📺 Forever, uma vida eterna - Morgan, o legista protagonista é um Imortal muito parecido com as características que o jogo coloca.

📺 Penny Dreadful - John Clare/Calibã e Dorian Gray são um dos exemplos já na cara, mas eu sempre vejo Vanessa Ives como uma sefekhi fodástica de poder inigualável.

📺 American Gods - deuses antigos interagindo com o mundo moderno? Tudo que Múmia se propõe para discutir Imortalidade, relevância e poder.

📺 Daredevil - Sim, consigo ver um tiquim dessa dualidade gritante, as duas almas, as duas convicções do que é "certo e correto a fazer" no diabão da Hell's Kitchen.

📺 Doctor Who - preciso dizer algo? TODOS os protagonistas do seriado REGENERAM o tempo todo!! 

📺 Wynonna Earp - o personagem Doc Holliday é um exemplo bom de múmia em transição 

🎥 Assassin's Creed - ao conceito do game TODO passa por memória, lembranças escondidas no DNA dos descendentes de pessoas lá das antigas (Grécia Antiga, Egito, Itália Renascentista, Caribe Pirata), coo não matutar que o cenário de AC é um imenso e virtualizado mundo de Múmia encontrando Mago: a Ascensão (Outro título do Mundo das Trevas que é fooooooda!!). Aquele aviso básico: Fazzie é um ator awesome, mas a adaptação é péssima. 

🎥 O Corvo (1994) - eu tenho total certeza que a equipe que escreveu o livro de RPG de Múmia: a ressurreição terminou de ver esse filme e "OMFANÚBIS PRECISAMOS ESCREVER UM CENÁRIO SOBRE ESSE FILME!!" - é o mais perfeito exemplo para o cenário e é isso. 

🎥 Highlander  - Eis aí a explicação para o verdadeiro Imortal do McLeod e aquela contenta com o carinha lá. Só pode haver um? Sei não, tio, acho que é preterimento demais querer ser a única Múmia da Escócia e achar que tá bem na fita.

🎥 Múmia (1999) me faça um favor e esqueça dos outros filmes, esqueça da única múmia que aparece (Imotep, sua gloriosa história toda ferrada em um único filme) e apenas fique atento à ambientação de um Egito da década de 20/30. 

12 julho 2020

expectorantes

Ainda me surpreende quando pessoas tem alguma expectativa sobre minha pessoa, gente eu nem esperava chegar aos 30 direito, ultimamente só tou aqui para tirar o CRB, ir pra um interiorzão afora, ajeitar uma biblioteca escolar da vida e ser a tia Elza da referência forévis nesse lugar.

Não tenho grandes aspirações ou expectativas justamente por não corresponder a maioria das vezes quando alguém demonstra interesse em saber o que quero fazer da vida. Sou bem lugar-comum e monótono nesses tréco, então já pra deixar bem óbvio, é isso aí em cima.

Ah! E manter meus pontos de sanidade no 1d20 que tirei desde que nasci. Minha saúde mental não troco por nenhum sonho, expectativa ou projeto aí não.

Teje dito.
Voltemos a programação normal.

10 julho 2020

os sem-tomas

Há coisas bem interessantes que a pandemia está me fazendo refletir intensamente - acho que todo mundo nessa pandemia - e estar de cama por conta de outra moléstia, me deu sensações extras de como rever muitos aspectos da vida.

Por exemplo a palpitação constante.
(Não leia abaixo se você não quiser ter imagens gráficas. É o que eu faço quando me sinto ruim fisicamente, eu descrevo pra ver se o mal que está assolando vai embora. Vai que dá certo)

04 julho 2020

o Tempo e o tempo

Ocorreu que em algum dia nublado naquele auditório da universidade dos Stormtroopers uma aula de literatura seguia com a excelente explicação sobre tempo e narrativas. Você veja só, o Tempo dito pela capeta-lismo é uma incógnita de 24 horas, 7 dias por semana condensada em 44 horas semanais de trabalho forçado para manter a máquina pulsando e jorrando óleo pegajoso na geração seguinte. Foi-se assim que na discussão entre as diferentes narrativas entre a africana e a ocidental, descobri que o Tempo era uma convenção não tão estabelecida assim.

Eu sempre tive a percepção dele em relação ao meu corpo como um eterno jogo de coelho branco da Alice no país das maravilhas - o camarada que vivia atrasado, sabe? - então desde que me entendo por ser autômato na máquina oleosa, o Tempo significou muito pra mim, ainda mais na questão de NÃO perdê-lo.
Creepy as fuck já te isso internalizado desde meus 11 anos.

Então naquela aula, ao quebrar esse paradigma que eu defendia com unhas quebradiças e dentes molares, saía das aulas com a impressão de que a Vida era um trem tão bizarro que eu deveria parar de contabilizar ela de alguma forma. Funcionou por um tempo, até a máquina oleosa cuspidora de peças me dizer que tava errada. Ela te engana fácil.

Tempo cortando as asas do
Cupido (1694), por Pierre Mignard


O Tempo em si pode variar em vários momentos da vida, os meus tem sido perceptíveis na mudança de ritmo em tempos em que fico doente, ou quando arranco aos poucos (aos murros ou com um canivete enferrujado) uma flecha desviada que o guri estrábico e sem noção, filho daquela que não deve ser nomeada no panteão helênico - que é totalmente oposto da explicação de narrativa que me livrou de protocolos em pensar o Tempo como um ser apressado, angustiado e devorador de seus filhos. Na doença, no desamor e na medicação forçada percebo que isso tudo cessa e um novo ritmo bizarro de vida se propõe sem pedir licença alguma. Apenas chega. Eu que me vire para tentar me adaptar.

28 junho 2020

cada um com seu jeito de se remendar

Ano Novo foi uma promessa que eu já tava devendo há eras pra mim: ter mais paciência comigo mesme.
Em todos os sentidos. 
E obviamente, por último, não mais importante, meu corpo decidiu colocar a plaquinha de prioridade over9000 pra me assustar de jeito.
Conseguiu. 
Nunca fiz a proeza de chegar a uma anemia beirando profunda e um problemão interessante que tem que ser resolvido com o quê?
Hormônios. 

A vida já tava péssima, agora botar mais química no caldeirão foi o toque final para me jogar de novo naquele poço vazio, onde Samara não se encontra. 
(Minina onde se encontra?)

De cama por 14 dias, nada de esforço contínuo, ingerir alimentos que recuperem parte do sangue que ando perdendo nos últimos dois meses, decisões e situações a serem reavaliadas, conchinha do Gary.

Mas devo dizer que mesmo ruim da cabeça (tava no estágio de perturbação de raciocínio e falta de concentração) os únicos pensamentos intrusivos que adotei foram:
1) melhorar nessa bagaça pra tirar CRB logo;
2) Jolene... Jolene... Jolene... Joleeeeeene...

Yep a introdução em lá menor da famosa música de Dolly Parton (adorando demais as músicas antigas dela) está grudada na minha cabeça como pensamento constante. Eu chego a sonhar com o riff do lá menor e não sei como vou tirar ele no violão - as extremidades minhas não estão funcionais 100%.

No mais, me afastando de tudo e todos, essa é a política da conchinha de Gary, carapaça pronta pra me manter bem segura de qualquer paulada vinda de fora e não deixar uns demonho aqui dentro escaparem. 
Cada um com seu jeito de se remendar.

15 junho 2020

como andar de bicicreta - de novo


Voltando a trilhar os caminhos escondidos/ocultos?
É que nem andar de bicicleta após anos sem saber.
Na hora do 1º tombo você reconhece o lugar onde parou.
(E dói, dói pra cacete)


06 junho 2020

interlúdio virado ao avesso

Como se não bastasse uma pandemia bizarra anunciando algo pior que o que o meu headcanon de apocalipses a se enfrentar., ainda preciso lidar com saúde mental e física de forma ostensiva agora.

Já que tá tudo virado ao avesso, inclusive o meu próprio corpo, deixo só o aviso que o hiatus vai continuar um bocado. Tou concentrando minhas forças em realizar o negócio do "por mais 1 dia" ou o tal do "1 dia após o outro".

Sinceramente estou mais pro "Menos 1 dia.", porque aí me dá uma sensação de alívio esquisita. Me faz lembrar de 2014, não foi um bom ano.

Quem quiser acompanhar a mobilização/movimentação na área biblioteconômica, reservei uma partezinha da minha mana pra lá: é o que anda me sustentando como ser humano útil.

Sim, agora tem site oficial. Tá uma porcaria, mas tou arrumando ainda. O que vale é a intenção (E mecanismos de enfrentamento para me impulsionar a continuar a ser produtiva em coisas que realmente adoro).

Ah! Espero que todes que leem esse muquifo aqui estejam bem, saudáveis e seguros. Aurora Nealand pra vocês conhecerem um pouco da trilha sonora do avesso.


23 maio 2020

dissidente, subversivo, indecente

No ensino fundamental em MG durante os anos 90 havia uma disciplina nos currículos de escolas públicas chamada "Práticas agrícolas e comerciais" que eram aulas rombudas (4 na faixa), dividas em 2 partes entre "práticas de agrícolas" e "práticas comerciais".

Ao chegar em Betim-MG em 1994 (De Itajaí-SC), me deparei com esse currículo e essa forma de ensinar aos pequenos objetos de perpetuação da Educação Pública tucaneira da época foi um marco em minha vida de estudante. A gente ia mexer com terra, pegar em enxada, fazer coisas crescerem da terra (Eu tinha esperanças com batatas e abóboras).

E mesmo aos meus 9 anos de idade, recém-transferida para outro estado, com outra cultura, outros costumes, outra visão de realidade, em uma turma que não conhecia ninguém e bem no meio do ano, alimentei um ódio profundo por essa tal disciplina. 

(Debaixo do link, mais alguns atos de subversão velados e mão na enxada)

12 abril 2020

Considerações sobre os livros d'O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares

Famoso TL;DR:

Acompanho os livros de Ransom Riggs - O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares desde 2015 (Quando anunciaram que a Eva Green estaria em uma adaptação do Tim Burton, eba!) e muitas coisas me foram apresentadas enquanto folheava os 3 livros que consegui durante os anos que passaram até o lançamento do filme (2016), como sempre, atenta na classificação dos livros como "Infanto-juvenil" ou "Young Adult" lá pros gringos e que nem sei como traduzir isso pro português.

São duas classificações diferentes por assim dizer.
"Infantojuvenil" é para a galerinha pré-adolescente e adolescentes pelo jeito que verifico em algumas livrarias e bibliotecas. "Young Adult" já estaria na prateleira ao lado de outros títulos consagrados da ficção que já passaram pela gente.

Enredo principal: Jacob descobre depois da morte do avô que tem um poder especial de ver monstros. Pais nada sensíveis mandam ele pra uma ilha no meio do nada em Gales para ele "descansar a cabeça", Jacob descobre uma Fenda Temporal que está datada em 03 de setembro de 1943, 1 dia antes de um ataque aéreo da Alemanha Nazista contra a Inglaterra.
(Estranhamente não há nada histórico datado nesse dia que chegue perto de Gales, MAS HEY! Meu aniversário foi no dia anterior, então yey!)

A Fenda Temporal é feita e protegida por uma ymbrine chamada Miss Peregrine, que mantém um orfanato de crianças peculiares, com poderes diferentões assim como Jacob. Ela protege a criançada do mundo frio cruel lá fora e também ensina cada um a dominar sua peculiaridade.

Essa é ela no filme (Uia!)
A mulher é tão foderosa que consegue manter aquele dia rodando no looping por décadas (Cerca de 60 anos) e pode se transformar em um falcão peregrino - um dos seres vivos mais rápidos do mundo. E ela se veste como se estivesse indo a um funeral vitoriano e há razões para isso. Prefiro a personalidade dela no livro, pois é aquela pessoa dominadora sem ser estranguladora. A Eva conseguiu pegar essa parte do maternal e esquisita, mas o visual ficou nos anos 40.

E essa é ela no livro.
Coisas acontecem.
Coisas ruins.
Jornada do herói, procura e resgate, um romancezinho adolescente no meio, descobertas sobre a história secreta da família Portman, coisas que eu esperaria de um livro para pessoas entre 13 a 17 anos.

Só que não.

Algumas considerações que me chamaram atenção ao ler os livros: