Pesquisar este blog

23 março 2018

Isso sim é um desabafo.

Acho um barato quando tentam deslegitimar a forma como nos expressamos racionalmente chamando de "desabafo". Porque há toda uma argumentação envolvida, uma organização de ideias a ser colocada, todo um esforço babaca de colocar pingos nos "is", citar nomes e datas, para mesmo assim "isso foi um desabafo".

Não quando você está tratando de algo sério na continuidade saudável do seu curso, da sua carreira, da sua vida. Não é desabafo justificar todo um processo em etapas de um problema que poderia ser resolvido com (pasmem!) empatia e alteridade. Um desabafo tem um teor mais emocional e apelativo para a 1ª pessoa, não um texto de quase 1 página explicando detalhadamente como a burocracia trabalhista de certos lugares podem prejudicar o andamento de um relacionamento bacana entre uma instituição de renome com outra instituição universitária de renome.

Eu não chamaria de "desabafo" usar o bendito português cânone - aquele mesmo que odiamos tão Machadiano em suas entrelinhas e que 90% da população não usa diariamente - redigindo um email enorme para argumentar o quanto o sistema é nocivo com os alunos e que oportunidades estão sendo perdidas por conta de burocracia cega.

A universidade não ensina a gente a dialogar, argumentar, planejar falas, redigir textos, expressar nossas ideias da forma mais metodológica científica possível para as instâncias maiores aceitarem. O cientista turco de "O pequeno Príncipe" tinha uma equação incrível de uma nova descoberta sobre o asteróide que descobriu, não foi aceito por se vestir como turco e não no padrão europeu p´re-estabelecido.

Uma pessoa - no caso estagiário, graduando, identificada pelo lado de fora como "mulher" (sim, rola um sexismo na questão ideológica da palavra "desabafo") - não tem a capacidade intelectual argumentativa de defender seus direitos como estudante, trabalhador e cidadão com um texto grande, mesmo com os pormenores citados, é um "desabafo".

É bacana brincar com isso, pois faz parte da vida de hackear o sistema através da linguagem. Ou impor o padrão do sistema de forma taxada em cima da gente ao desqualificar a defesa de um ponto de vista que se propõe a levantar uma questão pertinente e urgente no meio acadêmico e simplesmente dizer: "Foi um desabafo, né?".

Não foi um desabafo.
Foram os fatos, no modo empírico que esse sistema maluco técnico científico me manda obedecer todos os dias, seguindo padrões, normas, regras, os escambau para validar o que eu digo, mesmo que seja 1 página enchendo linguiça para então ter uma conclusão objetiva daquilo que é mais importante.

Isso a universidade não ensina. Na verdade doutrina, porque a gente PRECISA aprender a hackear a linguagem dessa forma.

Há a questão do suporte também, e seus destinatários, um email para instâncias maiores que um mero estagiário explanando uma situação como essa acima não se caracteriza como desabafo. É procedimento padrão de todo estudante que se preze em defender os seus direitos. Escrever sobre a situação toda num blog (como esse) pode ser caracterizado como desabafo, aqui qualquer um lê, qualquer um pode opinar, não tenho que me resguardar na escrita (mas estou por fins de dar seriedade ao tópico) . Mas tou usando o canone, não as estratégias informais de desespero com frases apelativas, isso não é um desabafo. 

A linguagem de novo regulando como se deve se expressar pro mundo. 

Afinal de contas, é novidade pro sistema acadêmico perceber que a gente usa o cérebro e pratica as mesmas normas que eles impõem sobre a gente pra pedir respostas por situações urgentes? 

Tá parecendo. 

Usei um "tá" - Eu sei, informal. Isso aqui é um desabafo? Deve ser, porque tou escrevendo num blog. 

22 março 2018

aquela epístola do templo e o corpo

De uns dias pra cá venho percebendo que todo aquele aprendizado disciplinar em igreja protestante meio que moldou algo que pode ser (ou não) o início de toda a solução ou a problematização do final dos esquema.



E como a semana tá muito dolorida, literalmente, bora assuntar sobre...
Debaixo do link tem aqueles assuntos que deixo sempre debaixo do link, porque bem... É pra isso que serve o "debaixo do link"...

19 março 2018

interlúdio: só pra não esquecer que como vai?


[...] Pois eu vou bem, consigo ver beleza em nós. Nesse astral eu vivo bem. 
É natural ficar assim tão feliz?! (Eu não sei)
Será o tal do rivotril que me deixou tão calmo assim? Eu não sei, não tô bem.
Logo a gravidade me encontrou mais uma vez desligou a chave que mantém minha lucidez
Seu doutor eu não tô bem, faça um favor? Me deixa zen pr’eu me aguentar
“Por favor, meu filho não inventa de roubar, a paz que procura não é química”
Logo a gravidade me encontrou mais uma vez desligou a chave que mantém minha lucidez
Logo a lucidez me desligou mais uma vez, minha gravidade é a chave que mantém (Nada me encontrou)

06 março 2018

insira a sigla aqui

O que tem me surpreendido nesse meio tempo entre descobrimento da coisa mais óbvia da minha vida de escriba e verificar como funciona as maquinações acadêmicas de sustentação da verdade absoluta (Fucô-Fucô-Fucô, na cabeça com Fucô) é como certos termos são apropriados por outras vertentes sociais.
(pessoas cis gênero, heteronormativas, de bem, pagadores de imposto, da família tradicional brasileira e por aí vai)



Sem pretensiosismo ou protecionismo, mas me é confuso ouvir alguém, que por padrão não daria a mínima sobre o que a comunidade LGBTQ+ sente ou se expressa, se direcionar a esse público com mais afeição.

I mean, tem uma boa parcela que sofre de violência verbal, física e psicológica todo santo dia desde criança por estar com o grupo, por se sentir parte do grupo, por manter esse acordo tácito de vias de comunicação interna que são marginalizadas pelo restante do mundo. A minha surpresa vai no sentido de: "Eu ouvi isso mesmo ou há algum outro discurso permeando esse direcionamento de fala?"

Debaixo do link a constatação e spoiler alert: sim, era discurso acadêmico de produtivismo inflacionário.

01 março 2018

[eu não sei fazer poesia] máquina de lavar



O processo do esquecimento é como uma máquina de lavar bem usada
E que as roupas novas são batidas demais e acabam perdendo a tonalidade
Aquele jeans que encaixava direitinho pode encolher ou alargar
A camiseta favorita manchar por culpa de outra colocada indevidamente
Rasgos, torces, aquela meia que some misteriosamente



Aliás péssima hora de comparar memórias com roupas, mas fazer o qué?



O cheiro do amaciante fica até determinado instante
Bem breve
Na primeira saída se vai e mistura com
Os odores da vida terrena coberta
De poeira, sujeira, fuligem
Assim como as memórias, dependendo do sabão usado
Memórias somem, dão lugar a esse borrão alvejado
Um alvejante errado



O ritmo constante da batida do motor até engana
Assim memórias construídas e alimentadas diariamente pela rotina
O zumbido, ruído, rangido se torna o mesmo
Aí desanda com o erro crucial do uso concomitante de alvejante
Ou aqueles produtos mais chiques
Tira-manchas
Tem como tirar manchas de uma memória?



A mancha é maquiada em algo que a química resolve,
mas não o que o tecido tece
O tecido, aliás, é o mais prejudicado



Esse tecido roto que achamos o mais potente
Tem mais manchas maquiadas que o costumeiro
Alvejantes memoriais
Começa por pequenos detalhes, uma data
Apagando aos poucos uma impressão que deveria durar mais um pouco
(mais outra lavagem e retrolavagem)
Um toque, um cheiro, um sabor, o grunhido do motor?
Persistente, até se tornar algo ambiente
Faz parte do seu sistema, mas é alienígena pro seu corpo



O som da voz se esvai por último
Como se desse o ultimato do botão de enxaguar
E das memórias lavadas nessa máquina de lavar
É quase certo que não recupere mais a elasticidade das lembranças
A voz é a última
Dissipando qualquer outra lembrança produzida em bolhas de sabão e cheiro inebriante de amaciante
Memória centrifugada
Uma pena, viu?



O tecido retirado da máquina
Estendido amarrotado no varal da vida



Péssima ideia comparar memórias e pessoas com roupas a lavar

28 fevereiro 2018

[eu não sei fazer poesia] trabalho não nos dignifica, nos autentica

O que seria de nós metros de músculo,
nervo, ossos e sinapses, embalados em quilômetro de pele rasa,
eriça, fraca, falha em poucos segundos destroçada
sem o menor esforço...?

Faço das minhas palavras as últimas a ouvir,
tampem os ouvidos se assim querer,
querido eu,
antes eu,
anteriormente eu,
cúmplice eu.

"Aprenda com os erros dos outros,
aperfeiçoe onde não acertaram,
conserte isso e aquilo!",

O simples clamor do labor a cada segundo de uma vida erroneamente eterna quando se coloca coração demais no trabalho e pouco onde ele acha que pertence - e é sempre onde os Outros acham que deve pertencer.
O trabalho não nos dignifica, nos autentica.

Como um preço de supermercado,
estampado em nossas testas,
prontos para sermos consumidos,
o valor de cada troca é diretamente proporcional
ao esforço exigido,
tantos esforços por tantas etiquetas,
olhe só isso,
hoje,
meu amigo terreno,
hoje estou em promoção.

27 fevereiro 2018

mais um semestre a começar

Hey céleblo feladapoooota, como vai?
Pois eu vou bem.
Não consigo ver beleza em nada ainda, mas tamos aí pra entender o que raios vai ser desse semestre.

Ataques de ansiedade são bem-vindos, até porque eles sempre estão por aqui rodeando um estômago cheio de suco gástrico sem ser afetado por cafeína há 2 meses e um fator de não ter algo substancial como distraimento.

Ando lendo livros.
A Divina Comédia tá encaixando direitinho com a vida, principalmente aquele trem de ficar se apoiando em poeta morto, dando uns rolê em círculos e a única possibilidade de ter alguma redenção é conferindo na íntegra o que o mal-mal como pica-pau tem reservado para o coração fraco e pecador de um cristão relapso, logo consigo me identificar com a narrativa.

Fonte: Comics by R.E. Parrish


Não que eu seja cristão.
Mas o rolêzim tá bem parecido com a vida real.

Voltar para faculdade cada semestre tem um misto de apropriações emocionais - porque negar é o princípio para a aceitação né? Bora - em que a ansiedade tá ali, maratonando junto, dando tchauzinho a cada 3 minutos e voltando pra dar aquele abraço só pra garantir que estará ao seu lado, no que der e vier.

É bom personificar os medos, já meio caminho andado para querer chutá-los em sonhos ou devaneios mesmo. Sinceramente? Colocar massa corpórea nessas quimeras é mais fácil de lidar do que tentar pegar com a mão uma cortina de fumaça.

Então o misto vem com todo o repertório da frustração, em quase todos os sentidos, em quando uma situação que não sei se saiu do controle vai me atingir com mais força por eu não ter controle nenhum. Pra ter uma ideia, quis ficar grudade no busão na hora de ir pra aula, ficar na cadeira e voltar de onde eu vim. Lá é seguro, é calmo, nada acontece, é um depósito de poucas lembranças.

Graças.

Mas ser adulto é encarar a realidade, e para percepções que me são salientes, a realidade não é nada legal.

A realidade nos faz pensar que durante uma aula qualquer sobre assunto diverso vai abrir uma porta de (im)possibilidades incríveis de se explorar, para um segundo depois ter a bigorna esmagadora de que não, ali não é lugar para se abstrair para isso. Aliás, esse sufocamento primário de pensamentos é que me fez chegar a esse ponto no começo da conversa.

É a vida.
Ela é nada feliz.

É um espetáculo bonito isso de ser visitante em seu próprio corpo, analisando cada molécula arrasada por culpa daquilo que não fez e daquilo que deveria ter feito (na maior parte das vezes é ter coragem pra fazer as coisas, tá difícil), se chega à conclusão que se cuidar é a melhor maneira de não surtar. E não surtar no sentido romântico, explícito, altamente catártico da palavra, é o fermentar pequenas porções de ansiedade e torções de realidade e angústia e medo de não ser suficiente em um bolo imaginário que estaciona nas dependências do abdômen. E subir pela garganta. E trancar a respiração. E ter que fingir que tá tudo bem, porque hey tá tudo bem! Não tá bem? Por que não deveria estar? 

O surtar aos poucos e com doses homeopáticas é uma das habilidades que vem de berço, eu sei. Engolir o bolo até ele se digerir em algo diferente foi o que aprendi até então.
(Dá pra mudar? Dá. Se eu quero? Nem sei mais.)

Por que não tentar de novo, seu disgramento? Penso eu com meu músculo que não sente dor. Porque tentar de novo vai ser a mesma coisa que expor a tudo que não é necessário se absorver. 

Até onde investiguei, não sou uma esponja.

Então até essas miudezas não serem extraídas do sistema neural e principalmente do estomacal (a fermentação dos sucos é acessível com um olhar, faz parte) não partir, essa é a minha vida de escriba nesse bendito curso que continua sendo minha paixão, mas assim como o moleque estrábico rancoroso, minha Psique não está muito a fim de ficar casada com uma entidade que é invisível.

Mas prossegue a rotina, tem um diploma pra pegar, mais outra epopeia estomacal para cultivar e rever prioridades novamente pra não surtar. 

Muito poético isso, né?
Tava achando que tinha perdido essa veia de disfarçar meus problemas emocionais com metáforas e referências e afins. Faz parte.

26 fevereiro 2018

regrinhas de viajantes

É sempre bom lembrar algumas regrinhas aprendidas enquanto viajantes dessa realidade:

1) tempo não cura powha nenhuma, amnésia sim.
2) nunca diga nunca para aquilo que não afeta seus valores pessoais, seu conceito de moralidade e suas ruminações éticas.
3) pessoas são pessoas e elas provavelmente irão te decepcionar em um certo grau de intensidade. Você também é uma pessoa, logo também entra nessa roda.

Item 2 de com força pra esse começo de semestre letivo e fase nova de vida meio antiga.

23 fevereiro 2018

erros de interpreta-direção


Desde criança gosto de direções.
A Rosa dos ventos é fascinante pra mim desde que consegui mexer numa régua direito.
Mapas, bússolas, continuo sendo a pessoa loka que cata todo guia turístico vagabundo printado em rodoviária.

Antes de escrever algo substancial faço rascunho de mapas, plantas baixas, lugares que existem, lugares que não existem (ou não), direções.

18 fevereiro 2018

waddahell is embuste?

Oi sincronicidade, 

Tudo bem? 
Rememorando uma pergunta que de certo jeito que já estava esperando vir de alguma forma (não da pessoa que fez), e que de vez em quando me pergunto no meio do dia quando a dúvida sobre o que tou fazendo nessa existência vale a pena.

A questão tratava sobre principalmente a forma que enxergamos as outras pessoas nessa lente graduada que temos nos globos oculares.

Engraçado em perceber que na ótica da pessoa querida a questão foi dirigida quanto a qualidade de um relacionamento que tava fadado a muito desgaste emocional por conta de outros e sacrifícios pessoais. Na minha ótica empirista, analisei a questão de duas formas, com visão utilitária (e perdoe-me se uma lente que uso pode ser tão fria, dura e grossa) e a outra a gente tríplice do bom, bonito e barato.

O que podemos trocar por:
Bom = maturidade 
Bonito = distância 
Barato = tempo

Nessa tríplice deu para responder com mais veemência. Até porque a pergunta não era para estabelecer exatamente o que eu achava da outra pessoa - isso aí foge um bocado de como nos enxergamos pelos olhos dos outros - era para reafirmar algo que todo dia levanto da cama com a cara amassada no travesseiro.

O que é embuste afinal?
O que é valer a pena para outrem?
O que é exatamente o se esforçar para um relacionamento funcionar?